2.4 RECURSOS HÍDRICOS – BRASIL
2.4.1 Situação dos recursos hídricos no Brasil e no Paraná
O Brasil abriga 12% de toda a água superficial doce do planeta, contando
com uma vazão média anual dos rios em território brasileiro equivalente a 179.000
m³/s (SHIKLOMANOV, 1998 apud ANA, 2009). Levando-se em consideração as
vazões oriundas de territórios estrangeiros que entram no país (Amazônica – 86.321
m³/s, Uruguai – 878 m³/s e Paraguai – 595 m³/s), essa disponibilidade hídrica total
atinge valores da ordem de 267.000 m³/s, correspondendo a 18% da disponibilidade
hídrica superficial mundial (ANA, 2009).
As vazões retiradas e outorgadas total consomem cerca de somente 6% da
disponibilidade hídrica total brasileira (ANA, 2009).
Segundo ainda ANA (2010), deste total retirado no Brasil (1.841 m³/s), 47%
são para irrigação, 26% para usos urbanos, 17% para usos industriais e 10% para
fins animais e rurais. Em termos de consumo total no Brasil (986,4 m³/s), a
distribuição dessas porcentagens se altera para: 69% são consumidas pela
irrigação, 12% pelos animais, 10% pelos usos urbanos, 7% por indústrias e 2% rural.
Em torno de 73,6% dos recursos hídricos superficiais nacionais está
concentrada na pouca habitada região hidrográfica Amazônica. A vazão média desta
região é quase três vezes maior que a soma das vazões de todas as demais regiões
hidrográficas brasileiras (ANA, 2009).
As regiões Sul e Sudeste do Brasil apresentam recursos hídricos
abundantes, porém devido ao alto grau de urbanização, à densidade populacional e
aos usos múltiplos dos recursos hídricos estão acarretando em escassez de água
em termos qualitativos em algumas localidades, pois com a presença de maiores
interferências antrópicas nas águas, compromete a sua disponibilidade qualitativa,
como também eleva os seus custos de tratamento (TUNDISI, 2005 apud CLARKE;
KING, 2005).
No que se refere ao uso irrigação, segundo Palácios (2009), a área irrigada
em todo o país é de 4,6 milhões de hectares. Segundo censo do IBGE de 1996, esta
área era equivalente a 3,1 milhões de hectares. Isto significa que em pouco mais de
uma década, a área irrigada aumentou em quase 50% — uma taxa de cerca de
150.000 hectares por ano. O Brasil está em 16º lugar no ranking mundial, detendo
pouco mais de 1% da área total irrigada no mundo, que é de 277 milhões de
hectares (dados de 2002).
Com relação à qualidade dos recursos hídricos superficiais brasileiros, o
Índice de Qualidade das Águas (IQA) foi classificado em sua maior porcentagem
como boa para cerca de 70% desses recursos hídricos, considerando os dados de
1.812 pontos de monitoramento distribuídos pelo país referentes ao ano 2008. Em
torno de 10% foi apontado um IQA ótimo, 12% regular, 6% ruim e 2% péssimo
(ANA, 2010).
Aproximadamente 78% dos rios brasileiros, segundo ANA (2009),
apresentam uma ótima capacidade de assimilação de cargas orgânicas, enquanto
que 6% dos rios enquadram-se como ruim a péssima. Os rios mais próximos ou
inseridos nas regiões metropolitanas brasileiras encontram-se, geralmente,
classificados como ruim a péssima capacidade de assimilação de cargas orgânicas.
Nessas regiões fica claro que a associação entre as ruins ou péssimas capacidades
de assimilação de cargas orgânicas dos rios com alta demanda de água (próprias de
locais com alta concentração populacional), para os mais diversos usos, resulta em
criticidades sejam elas qualitativas como quantitativas, tornando o gerenciamento
dos recursos hídricos uma tarefa bastante complexa.
Através do balanço quali-quantitativo dos recursos hídricos brasileiros,
constata-se que há uma criticidade quantitativa nos rios da região Nordeste que
conta com uma baixa disponibilidade hídrica para atender a demanda de água para
usos em geral e nos rios do Sul do estado do Rio Grande do Sul, para irrigação de
áreas de cultivo de arroz. Em contrapartida em rios concentrados nas grandes
regiões metropolitanas do país, como os de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, Porto Alegre e Curitiba, apresentam uma criticidade quali-quantitativa,
pois contam com uma grande demanda de água e, simultaneamente, com elevadas
contribuições de esgoto sejam tratados ou não nos rios presentes nessas regiões
(ANA, 2010).
A existência da degradação dos recursos hídricos brasileiros são por duas
razões principais (YASSUDA, 1989 apud FRANK, 1995):
- A transição de uma sociedade agrícola para urbana;
Quando comparado a outros países, o Brasil apresenta uma preocupação
mais expressiva com a qualidade dos recursos hídricos do que com sua escassez
(PERES, 2010), pois conforme foi descrito, o Brasil é dotada de boa disponibilidade
hídrica, porém a sua distribuição não é uniforme e homogênea, além do que a maior
parte da população se concentra em regiões com menor disponibilidade de água
(quando comparada à região amazônica) e somando-se a isso, nessas regiões mais
urbanizadas, os problemas com saneamento básico e lançamentos de esgotos não
tratados são intensamente perceptíveis.
Portanto, a disponibilidade hídrica brasileira, principalmente, em termos
qualitativos, está ameaçada por fatores socioeconômicos diversos (CLARKE; KING,
2005).
Segundo Palácios (2009), as áreas mais críticas no Brasil, com relação às
contribuições de esgotos, se localizam nas bacias do Nordeste, rios Tietê e
Piracicaba (São Paulo), Rio das Velhas e Rio Verde Grande (Minas Gerais), Rio
Iguaçu (Paraná), Rio Meia Ponte (Goiás), Rio dos Sinos (Rio Grande do Sul) e Rio
Anhanduí (Mato Grosso do Sul).
No Paraná
39, local integrante do estudo de caso deste trabalho, segundo
diagnóstico para elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos (PLERH) do
estado, os problemas ambientais na área urbana referentes aos usos dos recursos
hídricos estão relacionados (PARANÁ, 2010b):
- À deterioração das águas superficiais e subterrâneas, devido às contribuições
de esgotos sanitários e industriais;
- Ao impacto na ecologia aquática por meio das cargas poluidoras e da redução
da cobertura vegetal;
- À variação dos mecanismos de evapotranspiração;
- À variação das vazões de base dos rios e de recarga dos aquíferos
subterrâneos;
- À deterioração das paisagens ribeirinhas;
- À ocupação ilegal de áreas sujeitas à inundação.
Na capital paranaense (Curitiba) e sua Região Metropolitana (RMC), por
exemplo, apresentam algumas áreas com saneamento básico insuficiente e,
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