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Mapa 06 Distribuição espacial territórios da cidadania no Ceará

2. CONFIGURAÇÕES DO CAMPO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO:

2.1. Situando os estudos agrários

A Geografia Agrária possui um histórico importante e particular no que diz respeito, inicialmente, aos estudos que se pautavam em conhecer a superfície da terra e detectar as formas de exploração, que se traduziam como as primeiras formas de analisar a agricultura.

Até a década de 1930, a literatura de interesse geográfico pode ser enquadrada em quatro fases, de acordo com Andrade (1994). A primeira, até a metade do século XVIII, é representada por trabalhos de cunho não científicos efetuados por cronistas, aventureiros e comerciantes que, em crônicas e relatórios, se preocupavam com a descrição dos homens e de suas atividades sobre a terra.

A segunda fase, que compreende a primeira metade do século XIX, foi marcada pela vinda de viajantes estrangeiros, os quais objetivavam conhecer diferentes áreas do país, observando e colhendo informações e material para estudos.

Compreendendo o período Imperial e a Primeira República, na terceira fase diferentes cientistas visitaram ou viveram ao Brasil,

[...] realizando trabalhos de campo, levantamentos em áreas em que o governo pretendia investir nos mais diversos misteres [...] Eram, porém estudos esparsos, específicos sobre determinadas áreas ou sobre determinados problemas e não faziam convergir para uma reflexão científica mais ampla, mais pura (...)” (Andrade, 1994, p. 68).

Já em fins do século XIX e início do XX, na quarta fase, alguns trabalhos de cunho literário demonstraram a preocupação em estudar o processo de conquista e ocupação do território brasileiro. São autores como Capistrano de Abreu, Euclides da Cunha e Joaquim Nabuco, que escreveram demonstrando compromisso com a Geografia como ciência, Andrade (1994).

Em princípio, a Geografia Agrária era desenvolvida como “parte” da Geografia Econômica, e os estudos econômicos em Geografia tinham, na agricultura, seu foco principal. Apesar disso, a denominação Geografia Agrária não era adequada, considerando-se que o conteúdo destes estudos voltava-se, prioritariamente, para: a análise da produção agrícola, da distribuição dos cultivos e pouca importância era dedicada às questões sociais. Em suma, essa era a característica dos estudos agrários, segundo Ferreira (2001).

Do ponto de vista da análise dos pressupostos conceituais, o produtor agrícola, nesse momento, era considerado um elemento da paisagem, o qual era devidamente estudado em seu

hábitat e em seus gêneros de vida, assumindo claramente uma perspectiva de investigação geográfica vidalina.

Desse modo, nesses termos, a denominação mais apropriada para classificar os estudos deste ramo da Geografia, teve origem em diferentes pontos de vista: agrário, agrícola, rural, da agricultura. Todas essas denominações serviam, de uma maneira geral, para nomear os estudos sobre o agro no Brasil, pautando cada tempo histórico de análise.

Assim, seguindo a necessidade de pensar as diferentes abordagens teóricas6, Pierre George (1978) define o objeto da Geografia Agrícola a partir da prioridade dada à descrição e à distribuição dos diferentes fatos agrícolas que ocorrem no mundo. No entanto, o autor nos apresenta três perspectivas de estudo: 1) A Geografia Agrícola, preocupada com a descrição e a distribuição dos eventos agrícolas; a 2) Geografia Econômica, com a produção e o transporte dos cultivos; e a Geografia Social, com o tratamento dos agrupamentos humanos e das civilizações envolvidas com o trabalho da terra – sem, contudo, indicar qualquer sinalização no sentido de considerar o espaço rural como produto da ação humana numa sociedade calcada pelo conflito de classes.

As colocações de Otremba (1955) revelam dois aspectos importantes: primeiro, a função determinista, que o autor estabelece para o meio físico com relação à agricultura. Em seguida, a análise comparativa que traça entre a Geografia Agrária e a Industrial, buscando definir o papel de cada uma. E propôs a seguinte categorização.

Em suma, os trabalhos geográficos sobre agricultura até a década de 1950 podem ser enquadrados em três categorias de análise:

a) estudos econômicos, referentes à avaliação da produção e da comercialização de produtos

agrícolas, examinados sob a forma de dados estatísticos;

b) estudos ecológico-físicos nos quais há análise dos condicionantes físicos: forma do terreno, clima, tipos de solo, importantes para explicar a localização dos cultivos e o uso de recursos;

c) estudos sobre as formas espaciais da agricultura, ou melhor, da paisagem, como resultado da ação humana.

Em se tratando de contribuição à investigação científica em Geografia Agrária, não se pode olvidar, dentre outros, a obra de Orlando Valverde. Dentre os principais trabalhos, destaca-se o livro “Geografia Agrária do Brasil”, onde autor estuda diferentes aspectos desse ramo da Geografia, possibilitando um rico ensaio metodológico, além de abordar a história da Geografia Agrária no Brasil, sua denominação, definição e metodologia.

Além disso, vale destacar, dentre outros, o trabalho de investigação do pesquisador José Alexandre Filizola Diniz, a respeito das tendências do espaço agrário e as questões políticas nos estudos em Geografia Agrária, tendo como evidência a sua “Geografia da agricultura” (1984). Além da contribuição da vasta obra do professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira, destacando “A Geografia das Lutas no Campo” (1988); “Modo Capitalista de Produção e agricultura” (1990); agricultura camponesa no Brasil (1991), no resgate da ideia de desenvolvimento contraditório e desigual na agricultura brasileira, na tomada de temas subsequentes, como: relações de trabalho, reprodução da vida camponesa, reforma agrária e conflitos no campo.

Também Diniz (1984) nos possibilita uma visão síntese dos períodos da Geografia Agrária. Algumas obras já trabalharam com a divisão e periodização dos momentos teórico-metodológicos na geografia agrária nacional. De forma geral, há uma separação que predomina na maioria dos trabalhos, entre Escola Clássica, Teorética e Crítica.

Conforme Alves & Ferreira (2009: pp. 01-02), esse esforço classificatório vem contribuir para fins didáticos e explicativos das correntes de pensamento e doutrinas filosóficas. Todavia, “[...] existem sobreposições de correntes filosóficas, autores que mudam de perspectiva teórica, métodos que sobrepujam a produção científica entre outros aspectos que não separam fielmente uma escola da outra”.

Analisando, de um modo geral, a obra de Diniz (1984) percebe-se considerações a respeito de um processo histórico acerca do pensamento geográfico, em especial relacionado à geografia agrária. Diniz propõe uma divisão da evolução dos conceitos geográficos nos estudos da agricultura. Trabalha a visão geral destes estudos numa divisão teórico-metodológica, considerando o enquadramento dos estudos da geografia rural até meados de 1984, de acordo com escola geográfica e o tipo de estudo em ordem cronológica. Assim, veja-se:

 Geografia Clássica

1º Estudo da paisagem rural;

2º Distribuição e comercialização dos produtos agrícolas; 3º Teoria da combinação agrícola-estruturalista (transição).

 Geografia Nova

4º União Geográfica Internacional; 5º Geografia nomotética-sistêmica.  Geografia Crítica

6º Estudos sobre o Desenvolvimento rural.

O esquema teórico-metodológico apresentado por Diniz (1984) revela uma divisão em algumas vertentes, que perpassam sinteticamente desde os clássicos, pautados na observação e descrição dos fenômenos relacionados à “paisagem rural”, bem como à distribuição espacial e à comercialização dos produtos agrícolas. Os estudos eram de caráter regional e buscavam uma síntese geográfica do mundo. Considerando as diferentes formas de habitat rural e os modos de vida. Também são retratadas as pesquisas relacionadas à compreensão de André Cholley, o qual defendia a ideia força da auto-regulação das estruturas no movimento de combinação dos elementos – uma espécie de imbricação entre o método clássico e da escola nova. Na sequência temos a matematização da geografia e a influência do pragmatismo neopositivista nos estudos denominados como nomotéticos e sistêmicos sobre o agro. Por fim, mais precisamente na década de 1970 e, principalmente, nos anos 1980, urge o temário do desenvolvimento rural na geografia agrária.

Por sua vez, o quadro histórico sobre os estudos em geografia agrária no Brasil, sintetizado por Ferreira (2001), em linhas gerais, apresenta as seguintes temáticas: estrutura fundiária e reforma agrária; agricultura familiar e agricultura camponesa; produção agrícola e modernização da agricultura; agronegócio e reestruturação produtiva; questão ambiental e agricultura; relação campo-cidade e; questões relativas ao desenvolvimento rural.

O conjunto dos estudos teóricos e empíricos sobre o campo brasileiro pode - sem a pretensão de aprofundar tais abordagens, mas no intuito de considerá-los dentro de um breve panorama histórico da produção geográfica sobre o campo – ser mais bem visualizados no quadro a seguir.

PÁGINA REFERENTE AO

QUADRO 01 – SÍNTESE DA

GEOGRAFIA AGRÁRIA

BRASILEIRA