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Território: das origens geográficas aos novos olhares conceituais

Mapa 06 Distribuição espacial territórios da cidadania no Ceará

3. O TERRITÓRIO COMO IMPERATIVO DA PRÁTICA INTERVENCIONISTA DO MDA

3.1 Território: das origens geográficas aos novos olhares conceituais

Perpassando desde o pensamento clássico desta área do conhecimento, relacionada à geografia do Estado-nação até às temporalidades mais recentes, sob o jugo do capitalismo financeiro e suas nuances fluidas de territorialidades. Essa linha de tempo nos conduz, minimamente, ao intuito de sintetizar elementos constitutivos da dimensão política do território – lido como contradição, produção e reprodução das relações conflitivas em sociedade.

Sendo assim, seguindo esta orientação de resgate espaço-temporal em relação ao território e o desenvolvimento, temos em Friedrich Ratzel o grande responsável pela divisão da geografia em três grandes campos de investigação – geografia política, biogeografia e antropogeografia. Dedicou-se à leitura espacial à geografia humana, buscando explicar como as influências das circunstâncias naturais contribuíam no desenvolvimento da sociedade. O resultado desses estudos foi a elaboração dos conceitos de território e de espaço vital.

Recuperando o posicionamento de Ratzel, Moraes (1990: p.73-74), apresenta a Geografia Política, ligada à leitura do território e vinculada à natureza de sua relação com as fronteiras e o Estado. Porém, ressalta que

[...] embora mesmo a ciência política tenha freqüentemente ignorado as relações de espaço e a posição geográfica, uma teoria de Estado que fizesse abstração do território não poderia, contudo ter qualquer fundamento seguro. [...] não se pode considerar mesmo o Estado mais simples sem o seu território, assim também a sociedade mais simples só pode ser concebida junto com o território que lhe pertence.

A leitura da visão ratzeliana pode ser dita como descritiva e empirista. A concepção que a geografia tradicional, do início do século XX, tinha sobre o território privilegiava a

visão de um espaço com limites claros de fronteiras bem definidas, onde uma população estaria aí enraizada.

O espaço era visto como um dado prévio, anterior à história. Não havia, portanto, a necessidade de explicação ou questionamentos. O território seria meramente um receptáculo dos conflitos sociais e não um produto social, dinâmico.

Para o MDA (2005 a; 2005 b), possuem peso similar como fundamento teórico- conceitual, os conceitos de território e de identidade.

Nessa perspectiva, o território expressa a conjugação de um povo (vivo) e de uma terra (estática), ou, como Moraes (1990) destacou, o território seria configurado em determinada porção da superfície do globo, apropriado por um grupo humano. Esse território se convergiria em espaço vital, demonstrando a necessidade territorial de uma dada sociedade, com seus equipamentos tecnológicos, sua demografia e seus recursos disponíveis. Essa leitura propiciou com que o território constituísse uma expressão que justificava legal e moralmente, a defesa e a busca pela conquista de novos territórios.

A partir da década de 1970, o conceito de território recebe acepções em torno do controle espacial ou simbólico de determinadas áreas. O conceito clássico de território relacionado ao nível nacional e limitado às fronteiras, com o estado foco unilateral, é deixado, em parte, de lado.

A revalorização dos estudos sobre o território pode ser atribuída ao fim da Velha Ordem Mundial (guerra fria), bem como à saída do regime de acumulação fordista para o regime da acumulação flexível. Outro motivo seria a tendência de descentralização do estado, mediante as economias transnacionais.

Nessa linha de análise interpretativa, propondo a renovação do conceito de território, o geógrafo suíço Claude Raffestin, na obra “Por uma Geografia do Poder” (1986) critica a unidimensionalidade que a geografia sempre atribuía ao território, quando da sua limitação à função do estado. Raffestin faz menção aos conflitos e divisões que ocorriam dentro dos estados-nação e que eram negligenciados pelos estudos pautados na noção de território nacional.

O autor se fundamenta nas formulações de Foucault (1979), o qual analisa o poder para além da estrutura social apropriada por alguém em particular, mas como fenômeno social que está distribuído no espaço. É exercido em diversos níveis da cadeia social. Não se restringe apenas aos que fazem parte do estado. As micro-realidades também seriam cenário para a “microfísica do poder”.

Assim, se pode falar na ocorrência de múltiplos poderes. Os quais expressam diferentes formas de ocupação dos espaços regionais e locais. Desse modo, Raffestin aborda o território a partir da projeção do trabalho humano sobre determinado espaço físico. Para ele, o território seria definido enquanto espaço onde o trabalho é projetado, considerando desde a energia e a informação, e, pelos quais se verifica relações marcadas pelo poder.

No entanto, vale salientar que o território apoia-se no espaço, mas não é o espaço. Ele (o território) constitui produção em si a partir do espaço. Esta produção é realizada por todas as relações que envolvem e que se inserem no campo do poder, construindo as materialidades sobre o espaço. Nesse momento, o autor enfatiza que se faz salutar a compreensão de que o espaço antecede o território. Recupera, portanto, a significância do espaço no seio da noção de totalidade.

Durante o período que ficou conhecido como corrente clássica ou tradicional do pensamento geográfico, temos a definição de conceitos fundamentais para a construção geográfica da leitura sobre a relação sociedade-natureza, bem como nos vínculos e ações entre os grupos humanos entre si em sociedade.

Conforme Corrêa (2000) o espaço, nesse sentido, seria o conceito-chave para a Ciência Geográfica. O autor trata a abordagem do conceito, realizando um passeio teórico- metodológico sobre a produção do pensamento geográfico ao longo das escolas de geografia. Compreendendo que o espaço seria o conceito primordial para a leitura interpretativa da sociedade, e que o mesmo antecede as demais conceituações, apresenta as abordagens em torno dos conceitos a este relacionados.

Território e paisagem encontraram campo fértil de análise na Geografia Alemã. Região e paisagem na Geografia Francesa (a região é sempre um recorte). Com forte embasamento no positivismo clássico das ciências naturais, ainda no Século XIX, surgem as conceituações de região natural e região geográfica, nas escolas alemã e francesa. Além disso, destaca o construto metodológico significativo da escola vidalina sobre o método regional.

Desse modo, as formulações de Ratzel (escola alemã), passaram influenciar o pensamento e a prática geográfica, como em sua Geografia do Homem (Antropogeografia). O território era visto pela tradicional geografia política como um espaço que é apropriado por um grupo social. A identidade sociocultural desse grupo somente pode ser reconhecida se estiver ligada a um espaço concreto. Sem essa correlação não haveria possibilidade para existir raízes e identidade ao Estado.

Havia, portanto, um forte laço entre Estado e espaço, definindo o primeiro como um agente articulador da sociedade com o seu território, estabelecendo a partir daí uma unidade nacional-territorial.

O espaço ganharia mais corpo em evidência somente a partir do movimento que ficou conhecido como “nova geografia”. Em meados do Século XX, sob a orientação epistemológica do neopositivismo ou positivismo lógico, a escola pragmática de geografia lança a noção de planície isotrópica e de representação matricial. O espaço passa a receber importância como referência ao planejamento do Estado e nas formulações de teoria das localizações e distribuição espacial das atividades produtivas e setores econômicos.

Mais tarde, dentro do contexto sócio-histórico da Guerra Fria, durante as décadas de 1970 e 1980 se inicia um processo de construção renovadora para a Ciência Geográfica. Tal movimento se argumenta a partir da crítica às concepções e práticas das escolas clássicas e da pragmática. Assume fundamento na Teoria Social Crítica. Passa a influenciar fortemente a produção geográfica em todo mundo, em especial, correntes como a Geografia Crítica Radical.

Espaço e território tomam ares de renovação, segundo a visão que se pretende adentrar em relação à produção espacial da sociedade, a partir da leitura das contradições e desigualdades advindas das forças produtivas do capital. Nesse campo, a dimensão política do território recebe primazia salutar.

Em relação ao denominado political process, Claval (2005: p. 15) assinala que

There are two ways to conceive the organization of political geography: to start from the observation of States or other forms of polities; to explore the political processes in order to discover how they are structuring space and building territories. In my opinion, the second solution is more rewarding.

Segundo a assertiva clavalina, frente ao desafio da problemática do processo político, há duas maneiras de conceber a organização da geografia política: uma que deve iniciar a partir da observação dos Estados enquanto corpo político-institucional, até outras formas de organizações políticas. Estas como forma de explorar os processos políticos, a fim de descobrir como eles são estruturantes no espaço e como engendram a composição de sua produção e reprodução social.

Estudos sobre a produção do espaço, como por exemplo, Santos (1996) em “A Natureza do Espaço”, em crítica à corrente clássica, define que a noção de crescimento se

traduz como matriz biológica para explicar a evolução da vida; o progresso seria resultado de um ideário ideológico positivista, enquanto o desenvolvimento, nos moldes como vem sendo pensado e aplicado, corresponderia às Teorias Econômicas para o avanço técnico.

Outros trabalhos enfocaram a dinâmica dos processos sociais e sua relação na articulação de práticas espaciais também merecem menção. Reflexões acerca das contradições que compõem a sociedade capitalista se encontravam na ordem da vez. Sob a fundamentação epistêmica e metodológica do materialismo histórico e dialético, importantes trabalhos contribuíram na configuração desta perspectiva de investigação geográfica.

Nesse mesmo período, surgia também outra abordagem acadêmico-científica que se portava contrária às correntes tradicionais anteriores. Contemporânea da geografia crítica, a denominada Geografia Humanista e Cultural fazia opção pelas filosofias do significado e o existencialismo, a partir de métodos como a fenomenologia e a hermenêutica, o conceito de espaço passa a receber aferição espaço vivido, na sua concepção relativa à vivência da região, como em Fremònt (1980). Além disso, lugar ganha relevo como conceito motriz e suas implicações ao espaço perfazem a contribuição de autores, como Tuan (1980).

O território, nessa corrente, significaria a segurança (a materialidade da concretude) e a identidade (o universo da abstração). Mas, de acordo com Haesbaert (2002), também seria cenário da tensão e do conflito em torno de uma Geografia da Ação, repensando o dado cultural como elemento constitutivo do jogo intrínseco entre materialidade/idealismo.

O espaço, no entanto, assumiria a expressão da dúvida e do desconhecimento, recebendo a conotação da dimensão do experiencial e do vivido, que, através do método da percepção, seriam registrados por intermédio do campo sensorial. Essas impressões sobre o vivido também podem ser vistas em incursões pelo território, nos itinerários e caminhos teórico-metodológicos de Bonnemaison (2002).

O caráter matricial do espaço residiria nas formas que lhe são justificadas pelos processos sociais. O lar, por exemplo, vai além da casa como materialidade física, concebe ainda a dimensão do subjetivo - o colo materno como lar, em Tuan (1980): “espaço e lugar” - onde, na perspectiva da experiência, enquanto espaço significa movimento, lugar é, essencialmente pausa no movimento: encontro. Os conceitos geográficos não são exteriores ao homem; este é e faz parte dos próprios conceitos. Assim, lugar é uma categoria de análise/conceito de percepção da subjetividade. A paisagem na geografia clássica assumia papel de descrição dos elementos constitutivos da natureza. A biodiversidade macro, portanto, já foi descrita. Hoje, a micro realidade e suas nuances precisam ser analisadas.

Dentro do construto teórico-metodológico pelo qual passou e ainda passa a Geografia, o conceito de território teve presença considerável, desde os primórdios da sistematização desta referida área do conhecimento científico.

Ainda na corrente clássica alemã, retomando Ratzel constrói-se as concepções de território e espaço vital. No contexto da consolidação do Estado alemão, durante a segunda metade do Século XIX, as teorizações ratzelianas serviram de base para orientar a necessidade de conquista de novos espaços para compor o território do Estado-nação alemão.

Assim, se teve o início da herança política unilateral do Estado, a qual só irá encontrar renovação mais à frente, durante a diferenciação multilateral contemporânea, em tempos de globalização econômica.

O Estado, de início, não possuía poder próprio. A sociedade é que construía os elementos constitutivos da sua estrutura de poder. Nesse tocante, o espaço, enquanto forma de apropriação de espaço vital para o desenvolvimento da sociedade, passava a receber uma conotação política: o território. O espaço político do Estado traduzia-se na leitura do território da nação.

O território e sua dimensão política

A discussão acerca do território, desde as acepções etimológicas do próprio termo, possui origem no latim territorium. Adjetivo que deriva da palavra territorialis. O significado traduz-se em “pedaço de terra apropriada”. A acepção lhe foi atribuída ainda antes do século XVIII e por volta dos anos 1920, os termos território e territorialidade são transferidos do domínio político-administrativo unilateral do Estado, para serem utilizados com sentido científico na etologia. A qualificação jurídico-política tradicional era posta um pouco de lado, para servir como referencial à análise do sistema de comportamento dos animais.

Na etologia, o território passa a ser relacionado à demarcação e dominação de lugar. Representa a extensão e os limites de um dado domínio ecológico. A territorialidade, por sua vez, é definida como a ação de um organismo para tomar posse de seu território.

Na Geografia, Milton Santos refere-se ao território, como sendo

“(...) o chão da população, isto é, sua identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais e da vida, sobre os quais ele influi.” (SANTOS, 2000, p. 96).

Nessa abordagem a formação do território é compreendida a partir do espaço. É resultado da ação que é conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. O ator, ao apropriar-se do espaço, de forma concreta ou abstrata, o territorializa.

Outros autores, assim como o geógrafo norte-americano Robert David Sack Apud Galvão; França & Braga (2009), também buscam examinar o território a partir da perspectiva das motivações humanas. Segundo Sack, o território constituiria uma expressão de um espaço dominado por um grupo de pessoas. O domínio geraria uma ação de controle e influenciaria o comportamento de outros grupos, portanto, exerceria relações de poder entre indivíduos e entre territórios entre si.

Atualmente, ao contrário, o território assume diferentes interpretações nas Ciências Humanas e Sociais. Há autores que privilegiam sua base materialista, com base na Teoria Social Crítica, para explicar a organização social, como em Santos (1978; 1979). Alguns buscam compreender a dinâmica idealista. Mas Haesbaert (2002), por outro lado, defende a busca pela superação da dicotomia materialismo x idealismo. Segundo o autor, o território envolveria, ao mesmo tempo, a dimensão espacial das ações concretas, fruto das relações sociais, e ainda as representações subjetivas sobre o espaço. As quais também moveriam as relações em sociedade.

Desde as origens da abordagem territorial em geografia, o debate em torno do território circula vinculado ao Estado-Nação e a sua aplicação ao controle jurídico-político. Esta visão acabou por limitá-lo, contudo, serviu como suporte à organização do mundo de então, com base na conquista do espaço vital.

Entretanto, conforme Hobsbawn (1995), o Século XX, comporia uma “Era de Extremos”. Trazendo consigo uma gama de transformações socioespaciais que vão demandar novas formas de conceber o território. Por exemplo, segundo Santos (1994, p.16), “hoje, o território possui novos recortes em função do seu novo funcionamento, sendo chamado de horizontalidades e verticalidades16”.

16 Segundo Santos (1994, p.16), hoje, o território possui novos recortes em função do seu novo funcionamento, sendo chamados de horizontalidades e verticalidades. “As horizontalidades serão os domínios da contiguidade, daqueles lugares vizinhos reunidos por uma continuidade territorial, enquanto as verticalidades seriam formadas por pontos distantes uns dos outros, ligados por todas as formas e processos sociais”. Ver SANTOS, Milton. O Retorno do Território. In: SANTOS, Milton et al.(Org.). Território, Globalização e Fragmentação. São Paulo: Hucitec, 1994, p.15-21.

O conjunto das mudanças advindas com o progresso técnico-científico, em especial nos setores de transportes e comunicações, contribui de forma substancial para tornar o território mais fluido e transnacionalizado. Ao mesmo tempo, mais difícil de delimitar. Os novos contornos dessa abertura interpretativa modificam as relações que ora regiam os territórios dos países, além de redefinir as relações internacionais.

Os estudos que antes se centravam nas concepções de território sob a ótica da natureza política do Estado-nação, agora têm de encarar o desafio da renovação da leitura do território no cenário global. A tecnologia e a informação, nesse sentido, mudam a velocidade das ações humanas, através dos sistemas de objetos e sistemas de ações, Santos (1997).

Logo, no sentido do avanço acelerado nos tempos globalizantes. As mudanças tornam o tempo instantâneo e o espaço simultâneo. Provocam uma verdadeira revolução científico-tecnológica e informacional, Santos (1994). A emergência e organização das redes técnicas imateriais contribuem para redefinição do território. Constroem outra natureza à concepção política sobre o território, isto é, o conjunto complexo das artificialidades sobre o espaço.

Nesse olhar analítico o processo de construção do território é visto como simultaneamente construção/destruição/manutenção/transformação, conforme o pensamento de Oliveira (2005). E, de acordo com Badie (1995) não se pode mais restringir a concepção de território à dimensão jurídico-política. Esta noção tem sido destruída juntamente com as identidades culturais e o controle estatal sobre o espaço. Haveria então uma espécie de “onda” desterritorializante que vem esvaziando de sentido as fronteiras e, consequentemente, estaria enfraquecendo o Estado-nação. Na oportunidade, também o território e sua vinculação unilateral ao Estado estaria posta em xeque, isto é, o território que normalmente era vinculado ao Estado, como: pátria, bandeira, defesa de fronteiras, segurança frente a grupos terroristas e ao narcotráfico. Os governos no tempo e o Estado como gestor (nesse caso, não tão ativo, já que a globalização vem pondo em “xeque” essa atividade), acabam sendo desafiados a questionar seu papel perante as novas configurações que o território assume na atualidade, Braga (2005).

Não obstante, o território continua estabelecendo relação com o Estado. Mas não deve ser compreendido numa visão reducionista. O vínculo que outrora era praticamente exclusivo, e que denunciava as ações entre o território e o poder político, agora se rompeu consideravelmente. O caminho de análise interpretativa deve ir além. Encarando a tênue delimitação das espacialidades e territorialidades fluidas dos tempos do capitalismo

financeiro. Das redes técnico-científicas e informacionais. O reino das imaterialidades no comando da vida concreta e na reprodução das relações sociais.

O cenário global traz consigo um espaço diverso e dinâmico. Novas instituições internacionais e transnacionais vêm, demasiadamente, relativizando o papel dos Estados modernos. Ao passo que muitas contingentes populacionais lutam por soberania, mas não possuem território como chão (território-nação). Como nos aponta Appadurai (1997) no estudo sobre povos expatriados, territórios e territorialidades em seu ensaio sobre Soberania sem territorialidade - notas para uma geografia pós-nacional, considerando os grandes fluxos migratórios em escala mundial entre o final do Século XX e início do Século XXI.

Os governos nacionais estão, cada vez mais, atados por um sistema de relações internacionais de ordem multiescalar – local, nacional, regional e global – e mal conseguem monitorá-lo. Muito menos permanecer no comando. Os organismos internacionais e as empresas multi e transnacionais, localizadas em cidades globais, passam a exercer o comando dos territórios fluidos, muito mais que os governos dos estados-nação, Dowbor (1998).

O espaço-tempo da globalização preconiza a redefinição do próprio papel do Estado, que, ao encarar o desafio dessa reconstrução, encontra no território caminhos para a se redefinir perante a crise. Vive-se um período de crise dos estados nacionais, como sugere Corsi (1999). O território, nesse cenário, acaba por possibilitar à Ciência Geográfica caminhos possíveis para a renovação de suas compreensões, a partir da aceleração contemporânea (tempo-mundo e espaço-mundo voláteis), Santos (1993).

A percepção destas leituras interpretativas sobre a realidade contemporânea, bem como os enlaces que se nos revelam, serve como uma espécie de pano de fundo para lançar