• Nenhum resultado encontrado

Sobre atores e contextos em inova¸c˜ ao

No documento Uma proposta de Arquitetura da Informa¸c˜ (páginas 112-119)

3 Revis˜ ao da literatura Inova¸c˜ ao

3.4.3 Sobre atores e contextos em inova¸c˜ ao

A empresa n˜ao inova em isolamento (EDQUIST, 2005;FAGERBERG, 2005;SILVA, 2005). Segundo Silva (2005, p. 1258) “´e a empresa que inova”, mas o faz inserida em m´ultiplos relacionamentos com seu ambiente para realizar processos de inova¸c˜ao, conformando um

ambiente institucional sistˆemico de alta complexidade (EDQUIST, 2005; LEYDESDORFF;

MEYER, 2003; LUNDVALL, 1992; NELSON, 1993). Realiza-se nesse ambiente sistˆemico as atividades fundamentais de gera¸c˜ao de conhecimento e troca de informa¸c˜oes que perfazem importante papel na redu¸c˜ao de incerteza. Constitui, tamb´em, o ambiente competitivo

locus das transa¸c˜oes comerciais e networking (EDQUIST, 2005), em que se configuram a complexa teia de inter-relacionamentos na qual inovar tem importante papel evolucion´ario.

3.4.3.1 Contexto institucional

Essa teia complexa ´e capturado no Manual de Oslo por meio do arcabou¸co complexo mostrado na figura 12 (p. 80), que representa o contexto institucional no qual uma organiza¸c˜ao atua quando se relaciona com inova¸c˜ao.

O termo intistucional ainda possui diferentes conota¸c˜oes na literatura. Em (JOHN- SON, 1992, p. 27/28), (LUNDVALL, 1992, p. 10) e (EDQUIST, 2005, p. 188), institui¸c˜ao representa o conjunto de h´abitos comuns, rotinas, pr´aticas estabelecidas, regras, normas e leis que regulam as rela¸c˜oes e intera¸c˜oes entre indiv´ıduos, grupos e organiza¸c˜oes, re- sultando em diminui¸c˜ao de incerteza, coordena¸c˜ao do uso de informa¸c˜ao necess´aria para realiza¸c˜ao de a¸c˜oes, subs´ıdios para media¸c˜ao conflitos, e sistema de incetivos. S˜ao produ- tos da cultura e do momento hist´orico de uma localidade, regi˜ao ou pa´ıs. Essa fun¸c˜ao de estabiliza¸c˜ao social gera uma estrutura de que imp˜oe a sua pr´opria existˆencia, e por con- seguinte tem como consequˆencia o estabelecimento de limites na capacidade de absor¸c˜ao de mudan¸ca sem causar disrup¸c˜oes sociais. Exemplos de institui¸c˜ao na acep¸c˜ao desses autores s˜ao: leis (legisla¸c˜ao de patentes), normas inferiores (regras de relacionamento universidade-empresa), valores (organizacionais, culturais). Nesse caso, institui¸c˜oes par- ticipam do sistema de inova¸c˜ao promovendo incentivos ou interpondo obst´aculos, e desta

forma moldam o comportamento inovativo das organiza¸c˜oes. J´a em (NELSON; ROSEN-

BERG, 1993), institui¸c˜ao ´e o conjunto de diferentes tipos de organiza¸c˜ao atuantes no

contexto em foco, em cujas rela¸c˜oes se estabelecem a estrutura estabilizadora econˆomica e social.

A figura 12 (p. 80) representa a vis˜ao do Manual de Oslo do contexto institucional onde se manifesta os sistemas de inova¸c˜ao (como visto na se¸c˜ao 3.5, p. 94), sistema esse que ´e por sua vez moldado pelas manifesta¸c˜oes do contexto institucional, em uma rela¸c˜ao bi-direcional. Segue uma descri¸c˜ao dos elementos do contexto institucional apresentado graficamente na figura.

Infraestructure and institutional framewok Infraestrutura e arcabou¸co institucio- nal : Conjunto de fatores que conforma a aptid˜ao ambiental para inova¸c˜ao. Com- porta a infraestrutura social do local onde a empresa atua, as institui¸c˜oes de finan- ciamento, o mercado e as regras de atua¸c˜ao social e econˆomicas estabelecidas pela

Figura 12: The innovation measurement framework. Fonte: Manual de Oslo (OCDE,

2005, p. 34)

cultura e normatiza¸c˜ao do contexto. Por sua amplitude e complexidade em rela¸c˜ao ao fenˆomeno da inova¸c˜ao, constitui amplo campo de pesquisa.

No Brasil o arcabou¸co institucional ´e dominado prioritariamente por programas e instrumentos governamentais e a maioria das institui¸c˜oes do sistema nacional de ciˆencia e tecnologia s˜ao pessoas jur´ıdicas pertencentes `a administra¸c˜ao p´ublica direta e indireta (RAUPP, 2011). Nesse arcabou¸co destacam-se os elementos abaixo (n˜ao ´e inten¸c˜ao a discuss˜ao sobre cada elemento, uma vez que isso constitui por si um estudo volumoso e est´a fora do objetivo desta tese):

– ´Org˜aos de governo: uma vis˜ao abrangente dos ´org˜aos de governo que atuam na infraestrutura brasileira de inova¸c˜ao est´a dispon´ıvel em (CGEE, 2010c).

– Conselho Nacional de Ciˆencia e Tecnologia - CCT - institu´ıdo pela lei 9.257, de 09/01/1996. O CCT ´e ´org˜ao de assessoramento superior do Presidente da Rep´ublica para a formula¸c˜ao e implementa¸c˜ao da pol´ıtica nacional de desenvolvimento cient´ıfico e tecnol´ogico.

– Fundo Nacional de Ciˆencia e Tecnologia - Decreto-Lei 719, de 31/07/1969, Leis 8.172, de 18/01/1991, 11.540, de 12/11/2007.

– Fundos Setoriais: Os Fundos Setoriais de Ciˆencia e Tecnologia, cria- dos a partir de 1999, s˜ao instrumentos de financiamento de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inova¸c˜ao no Pa´ıs, mais detalhes podem ser encontrados na p´agina web da Financiadora de Estudos e Pesquisas -

FINEP 1.

– Lei de Inform´atica - Leis 8.248, de 23/10/1991, 8.387, de 30/12/1991, 10.176, de 11/01/2001 e 11.077, de 30/12/2004 - que disp˜oem sobre a capacita¸c˜ao e competitividade do setor de inform´atica e automa¸c˜ao. – Lei 10.168/2000, de 30/12/2000, que institui a Contribui¸c˜ao sobre Inter-

ven¸c˜ao no Dom´ınio Econˆomico - CIDE para financiamento do Programa de Est´ımulo `a Intera¸c˜ao Universidade - Empresa para apoio `a Inova¸c˜ao, cujo objetivo principal ´e estimular o desenvolvimento tecnol´ogico brasi- leiro, mediante programas de pesquisa cient´ıfica e tecnol´ogica cooperativa entre universidades, centros de pesquisa e o setor produtivo.

– Lei de Inova¸c˜ao - Lei 10.973, de 2/12/2004 - que disp˜oe sobre incentivos `a inova¸c˜ao e `a pesquisa cient´ıfica e tecnol´ogica no ambiente produtivo, com objetivo de capacita¸c˜ao e alcance da autonomia tecnol´ogica e desen- volvimento industrial do Brasil.

Um quadro extensivo dos atores no contexto de inova¸c˜ao brasileiro pode ser encon- trado em (CGEE, 2010b).

Other firms Outras empresas: Fornecedores, competidores, ou empresas com as quais trabalha em projetos de desenvolvimento e implementa¸c˜ao de inova¸c˜oes.

Education and public research system Educa¸c˜ao e sistema p´ublico de pesquisa: O

sistema geral de educa¸c˜ao do contexto institucional tem m´ultiplas e fundamentais implica¸c˜oes em rela¸c˜ao `a inova¸c˜ao. O sistema de educa¸c˜ao geral da popula¸c˜ao de- termina padr˜oes educacionais m´ınimos de trabalhadores e consumidores. A uni- versidade, ator fundamental na produ¸c˜ao de inova¸c˜oes. Sistemas especializados de capacita¸c˜ao t´ecnica, fundamentais para a provimento de for¸ca de trabalho melhor capacitada. Inclui tamb´em as institui¸c˜oes p´ublicas que realizam ou financiam pes- quisa e desenvolvimento.

Innovation policies Pol´ıticas de inova¸c˜ao: Pol´ıticas governamentais que influenciam inova¸c˜oes.

1

Demand Demanda: As necessidades, os interesses e os fatores limitantes de clientes e usu´arios, os quais influenciam as empresas em rela¸c˜ao a realiza¸c˜ao de inova¸c˜oes.

Neste contexto institucional, o fenˆomeno da inova¸c˜ao tem sua ocorrˆencia determinada pelos fatores abaixo relacionados.

Capital social ´E definido como o conjunto de institui¸c˜oes formais e informais, normas sociais, h´abitos e costumes que afetam os n´ıveis de confian¸ca, solidariedade e coo- pera¸c˜ao em um grupo ou sistema social (ALBAGLI; MACIEL, 2004, p. 12). O capital social ´e fator de estabiliza¸c˜ao de sistemas sociais e de redu¸c˜ao de incerteza no mundo econˆomico, representando a maturidade cultural, econˆomica e tecnol´ogica do ambi- ente conferindo elementos concretos necess´arios aos esfor¸cos inovadores (LUNDVALL,

1992, p. 10).

N´ıvel tecnol´ogico no contexto O desenvolvimento tecnol´ogico alcan¸cado em determi-

nado contexto institucional manifesta sua propens˜ao inovadora.

Financiamento Ainda que desde os prim´ordios do estudo sobre inova¸c˜ao seja clara a

necessidade de investimento para sua realiza¸c˜ao (SCHUMPETER, 1961), o trata-

mento do contexto de financiamento de inova¸c˜ao ´e ainda muito pouco conhecido (O’SULLIVAN, 2005). As quest˜oes que se colocam v˜ao desde o comportamento da demanda e o atendimento dos requisitos de financiamento de inova¸c˜ao, quais s˜ao os padr˜oes de demanda e atendimento de financiamento de curto, m´edio e longo prazo, at´e como tais padr˜oes influenciam o desenvolvimento tecnol´ogico e social. A identifica¸c˜ao de parcerias para realiza¸c˜ao de inova¸c˜ao e de oportunidades constituem fatores de base para o financiamento a inova¸c˜ao (COELHO, 2008). Dentre os compo-

nentes desse subsistema o autor destaca a aten¸c˜ao para a rede pol´ıtico-institucional que estabelece as caracter´ısticas de incentivos a inova¸c˜ao no sistema (local, regional ou nacional); a rede t´ecnica-cient´ıfica onde se trabalha e gera conhecimento; e para a rede de financiadores onde se disponibilizam recursos financeiros para aplica¸c˜ao em inova¸c˜oes.

3.4.3.2 Contexto organizacional

Como visto acima, inova¸c˜ao ´e realizada por empresas (OCDE, 2005; IBGE, 2010),

adotando uma atua¸c˜ao pr´o-ativa, criando o evento inovador, em projetos pr´oprios ou em parceria com outras organiza¸c˜oes. A conceitua¸c˜ao de organiza¸c˜ao segue as proposi¸c˜oes da

teoria organizacional, a saber, organiza¸c˜oes s˜ao definidas como estruturas sociais formais

criadas conscientemente e com prop´ositos expl´ıcitos (THOMPSON, 2006). Podem ser do

tipo empresariais, como por exemplo empresa, clientes, competidores; ou n˜ao empresariais, por exemplo: universidades, escolas, institui¸c˜oes de governo.

Sobre o pano de fundo organizacional o fenˆomeno da inova¸c˜ao ´e delimitado por meio dos processos de inova¸c˜ao, visto na se¸c˜ao 3.6 (p. 101). Esses processos s˜ao moldados pelos elementos:

Cultura e cadeias normativa elementos organizacionais que conformam “a regra do jogo” interno.

As cadeias normativas s˜ao entendidas aqui conforme (LORENS, 2007, p. 76-80), a

cadeia hier´arquica de proposi¸c˜oes de miss˜ao, valores, pol´ıticas, estrat´egias, diretrizes e normas que estabelecem a identidade organizacional e proposta oficial da organiza¸c˜ao de conforma¸c˜ao cultural e estrat´egica para a defini¸c˜ao dos espa¸cos de a¸c˜ao, informa¸c˜ao e comportamentos esperados. Esses elementos culturais e estrat´egicos da organiza¸c˜ao, especialmente aqueles aspectos voltados para aprendizado, moldam a forma como inova¸c˜ao ´e executada na organiza¸c˜ao, promovendo-a ou dificultando-a (ZUBOFF, 1988). As regras identificadas na literatura que produzem efeitos ben´eficos para inova¸c˜ao s˜ao exemplificadas abaixo:

– postura uniforme e clara sobre incerteza resultante de propostas inovadoras (SCH ¨ON, 1967);

– apoio `a criatividade e participa¸c˜ao ativa dos trabalhadores (CORAL; GEISLER, 2008);

– planejamento e prioriza¸c˜ao de mobiliza¸c˜ao de recursos consistente com postura inovadora (CORAL; GEISLER, 2008);

– tratamento de conflitos entre grupos (alta gerˆencia ou grupos t´ecnicos) especi- alizados, de um lado a posi¸c˜ao empreendedora, de outro a posi¸c˜ao estabelecida,

competente nas tecnologias de sucesso passado (DOUGHERTY, 2004; PAVITT,

2005) ).

Postura inovativa Pr´aticas realizadas pela organiza¸c˜ao que promovem ou dificultam a inova¸c˜ao.

– a organiza¸c˜ao pode adotar postura ativa (geradora de inova¸c˜ao) ou passiva (assimiladora de inova¸c˜ao) em momentos distintos ou em campos de atua¸c˜ao distintas. Essa distin¸c˜ao ´e estuda em (DAMANPOUR; WISCHNEVSKY, 2006) que analisam os perfis empresariais geradores de inova¸c˜ao (innovation-generating organizations) e empresas que adotam inova¸c˜oes (innovation-adopting organi- zations). Na caracteriza¸c˜ao de cada perfil de organiza¸c˜ao, os autores acima (p. 274-276) consideram que a natureza da inova¸c˜ao para o caso das organi- za¸c˜oes geradoras ´e de atividade fim da organiza¸c˜ao, implicando que a empresa se estrutura e funciona em prol da introdu¸c˜ao de artefatos novos ou substan- cialmente melhorados no mercado, ou seja, realizar inova¸c˜oes de produtos e processos. De outro lado, os mesmos autores consideram que as organiza¸c˜oes cujo perfil ´e de ado¸c˜ao de inova¸c˜ao tem como foco exclusivo a atividade meio, ou seja, inova¸c˜oes organizacionais, a assimila¸c˜ao de novos artefatos pela orga- niza¸c˜ao, para uso por seus trabalhadores e decisores, como meio para alcance de suas metas. Dessa forma, as organiza¸c˜oes que adotam inova¸c˜oes assim o fazem para se adaptar `as novas condi¸c˜oes externas, introduzindo mudan¸cas de comportamento. Cada uma das posturas resulta em diferentes relacionamentos com o ambiente circundante;

– sistema de recompensas associado a resultados (CORAL; GEISLER, 2008; GAL-

BRAITH, 1997);

– capacidade de liga¸c˜ao mercado e tecnologias compreendida pela organiza¸c˜ao de

forma consistente (CORAL; GEISLER, 2008;DOUGHERTY, 2004;PAVITT, 2005);

– comprometimento com inova¸c˜ao por meio de aceita¸c˜ao e compartilhamento de responsabilidade e legitima¸c˜ao de iniciativas internas (DOUGHERTY, 2004);

– gerenciamento de portif´olio de iniciativas de inova¸c˜ao (CORAL; GEISLER, 2008).

Estrutura organizacional A estrutura¸c˜ao das unidades organizacionais imp˜oe quest˜oes de autonomia e responsabilidade, as quais influenciam a fluidez de tomada de de- cis˜ao. Essas, por sua vez resultam em influˆencias sobre a postura inovadora das unidades e do todo empresarial. Cita-se os seguintes formatos que propiciam inova- ¸c˜ao:

– estruturas para gera¸c˜ao de ideias, para diferencia¸c˜ao em rela¸c˜ao aos processos estabelecidos, e para mobiliza¸c˜ao de recursos (GALBRAITH, 1997);

– organiza¸c˜ao orientada a processos, fator habilitador e catalisador da inova¸c˜ao (ZUBOFF, 1988; DAVENPORT, 1993; PRAHALAD; KRISHNAN, 2008);

– organiza¸c˜ao voltada para solu¸c˜ao criativa de problemas (DOUGHERTY, 2004;

GALBRAITH, 1997);

– sistema de comunica¸c˜ao voltado para mobiliza¸c˜ao e inclus˜ao de trabalhadores e grupos (CORAL; GEISLER, 2008);

Paralelamente, os seguintes determinantes organizacionais estabelecem sua capacidade em realizar processos de inova¸c˜ao, por serem a base da caracteriza¸c˜ao da capacidade de absor¸c˜ao, elemento fundamental no fenˆomeno de inova¸c˜ao:

Competˆencias vigentes A organiza¸c˜ao possui um conjunto estabelecido e funcional de

tecnologias – processos e recursos materiais – que resultam na suas capacidades

vigentes. (PAVITT, 2005; DOSI, 2006) manifestam que o comportamento futuro

da organiza¸c˜ao em rela¸c˜ao `as inova¸c˜oes ´e definido por essa caracter´ıstica vigente, ou seja, processos de inova¸c˜ao s˜ao determinados pelo hist´orico organizacional na constru¸c˜ao de sua capacita¸c˜ao.

Processos de aprendizado O potencial da organiza¸c˜ao em evoluir suas capacidades

e de inovar ´e portanto residente em seus processos de aprendizado (DOSI, 2006;

BEMFICA; BORGES, 1999; MOORE; TUSHMAN, 1982).

Investimento e aloca¸c˜ao de recursos J´a desde a introdu¸c˜ao do conceito de inova¸c˜ao, (SCHUMPETER, 1961, p. 96-102) manifesta a preocupa¸c˜ao primeira de aloca¸c˜ao de

novos recursos para a realiza¸c˜ao de inova¸c˜ao, uma vez que ´e natural que a capacidade instalada de uma organiza¸c˜ao j´a esteja alocada para a sua manuten¸c˜ao.

No documento Uma proposta de Arquitetura da Informa¸c˜ (páginas 112-119)