• Nenhum resultado encontrado

Sobre como os entrevistados avaliam o sistema de cotas

No documento biancamachadoconcolatovieira (páginas 104-107)

CAPÍTULO 3. COTAS COMO SISTEMA DE INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO.

3.5. O universo dos alunos negros cotistas

3.5.6. Sobre como os entrevistados avaliam o sistema de cotas

Mesmo relatando perceber a existência de preconceito contra as cotas raciais no ambiente

acadêmico, os alunos entrevistados afirmaram que não tiveram nenhum problema em se

identificar como cotista no espaço acadêmico.

(...) nunca tive problema em me identificar como cotista. Apesar de tudo acho que é uma necessidade para o nosso país, porque o negro de baixa renda tem dificuldades para entrar na universidade. (E1)

(...) nenhum problema em me identificar como cotistas, eu tenho uma identidade negra, (...) tenho orgulho por esta na condição de cotista porque entendo que é uma conquista. (E2)

(...) eu tenho pra mim que a base do ensino público é muito precária, e que se não fosse o sistema de cotas eu não estaria aqui na Universidade, tendo oportunidade de aprimorar meus conhecimentos e também lutar pra que outras pessoas possam também ter essa oportunidade. (E7)

Apenas uma das alunas relatou a experiência da dificuldade de se identificar como cotista.

(...) no início eu tinha dificuldade de falar que era cotista, na verdade eu ficava com receio de que as pessoas não me aceitassem, hoje no final do curso tenho outro pensamento, estou fazendo minha monografia sobre as cotas, não tenho mais vergonha de falar. (E4)

Fator que chamou a atenção na fala dos alunos que afirmaram não terem sofrido nenhum tipo de preconceito diz respeito à tendência a negação do preconceito no Brasil, deixando clara a noção da miscigenação existente entre o povo brasileiro, e a ideia de que não somos um país que discrimina, que racializa.

(...) eu nunca percebi não, que eu me lembre não. Acho que é porque minha família não é toda composta por negra, casei com uma pessoa que a família é misturada, meu marido é filho de italiano com negro, minha família tem alemão, italiano, português, então essa coisa aqui é muita mistura. Essa questão de preconceito, de raça, é muito particular, nunca senti não, nem na rua nunca percebi. (E5).

(...) nunca sofri nenhum tipo de preconceito não, acho que isso é pra gente vazia né? Aqui a gente nunca percebeu não. (E7)

A negação do preconceito foi e sempre será conivente no Brasil, o que acaba por manter o privilegio da elite branca e ainda desresponsabiliza o governo em relação à situação de pobreza vivenciada pelos negros. No entanto, a negação do preconceito se revela na forma mais cruel de manter a distancia que opõem negros e brancos no plano social e econômico, pois, como pensar políticas públicas para um problema que não é reconhecido.

Esta afirmação coaduna com a opinião de dois dos alunos entrevistados quando falam a respeito do sistema de cotas, mesmo se beneficiando do sistema, apontam que este é preconceituoso e falho na medida que poderia haver outras possibilidades de inserção dos negros e pobres na universidade pública.

(...) acho que o sistema de cotas camufla o ensino ruim que o Brasil oferece, deveria mudar o ensino e não ter cotas. (E3)

(...) acredito que as cotas serviram como estratégia para o governo não ter que investir em um ensino de qualidade, acho que não deveriam existir, se somos todos iguais. Tinha que dar condição pra todo mundo entrar né? (E10)

A este respeito Domingues (2005) afirma:

Os defensores das políticas de cotas não são contrários à melhoria do ensino na rede pública. Uma proposta não é conflitante com a outra. As cotas são uma alternativa emergencial, provisória, ao passo que a melhoria da rede pública de ensino exige um esforço de médio a longo prazo, ciclo de uma geração, no mínimo. Até lá, os negros vão continuar sendo destituídos do sonho de cursar uma universidade pública e de qualidade? (Domingues, 2005, p.170).

No entanto, podemos perceber que a maioria dos alunos acredita que o sistema de cotas é necessário e emergente se considerarmos a atual situação do negro frente ao ensino superior. Mesmo apontando que deveria não haver necessidade, ou ainda, que o sistema precisa melhorar em alguns sentidos, acreditam que o sistema de cotas é um direito dos alunos negros e pobres, que de alguma forma foram prejudicados e desfavorecidos frente à elite branca brasileira, e que, portanto, se faz necessário uma reparação a fim de tornar mais igualitária a porta de acesso ao ensino superior público.

(...) acho que o sistema de cotas é um direito que foi alcançado, uma forma de tornar o acesso na universidade pública mais igualitário, mas, eu acredito que ainda são poucas vagas, tem que ampliar o numero de vagas. (E2)

(...) as cotas são necessárias para incluir o negro na universidade, considerando a realidade que estamos. (E4)

(...) por uma questão imediata acho necessário sim, porque se não a gente vai continuar vendo só as pessoas que tem condições de estudar em escola particular entrar na universidade federal e os pobres e negros ficarem de fora. Pois o ensino público esta cada vez mais degradado. Não existe igualdade de acesso, os alunos da escola pública não tem os mesmos conteúdos que os das escolas privadas. Então essa “igualdade de oportunidade” que se fala, porque é a mesma prova, ignora toda a trajetória histórica da pessoa, a questão social, as condições de vida dela. Geralmente o aluno de escola privada não precisa trabalhar, o pai paga os estudos. O da escola pública além de ter a condição de ensino precário )ainda tem que trabalhar muitas vezes. Então essa questão de cotas é extremamente necessária. Mas, é uma questão imediata, porque temos que lutar pra que não tenha necessidade de haver cotas, que os alunos recebam ensino de qualidade e tenham as mesmas condições de ingressar no ensino público. (E7)

(...) é um avanço, uma conquista do movimento negro (sistema de cotas), mas, ainda acho pouco, deveria haver mais vagas e ser mais divulgado, melhor informado e discutido (E8)

(...) eu acredito que o sistema de cotas é um bom caminho para tornar o acesso mais justo. (E9)

3.5.7. Sobre como os entrevistados avaliam a relação que a UFJF mantém com os

No documento biancamachadoconcolatovieira (páginas 104-107)