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SOBRE AS FONTES SONORAS

No documento Investigando a experiência musical (páginas 123-130)

CAPÍTULO 5 ANÁLISE NOMOTÉTICA DOS ELEMENTOS DO CONTEXTO

5.3 SOBRE AS FONTES SONORAS

As fontes sonoras encontradas nos relatos dos sujeitos de pesquisa foram divididas em três tipos: (1) sonoridades (não musicais) resultantes do ambiente, (2) sonoridades resultantes de equipamentos eletrônicos de reprodução musical mídias diversas e (3) sonoridades musicais produzidas por instrumentos musicais ou canto, resultantes do ambiente ou produzidas pelos próprios sujeitos de pesquisa.

FONTES SONORAS DO AMBIENTE (ESCUTA)

RENATA CARLOS JOÃO

1ª in fâ nc ia - Sons de passarinhos - Sons de natureza

- Brigas na vizinhança (relatado pela mãe)

- Crianças brincando - Carros e caminhões - Sons de sirene de fábrica

- Sonoridades do ambiente: “Sempre tranquila, orgânica, e leve.” - Sinos dos chocalhos do gado - Som da madeira sendo transformada em cinzas pelo fogo - Som do carro-de-bois

- Rádio (música dos pais em casa e no carro)

-Televisão (Programa da Xuxa)

- Rádio, fita K7(música dos pais e irmãos)

- Televisão (música dos irmãos)

- Não relatado

- Voz cantada (centro espírita) - Música ao Vivo (restaurantes, teatro e bailinhos de carnaval) - Piano, sanfona e flauta (tocado pelos familiares).

- Voz cantada (mãe) - Sanfona e Viola (visita de

sanfoneiros e violeiros na casa dele)

2ª in fâ nc ia

- Rua um pouco mais movimentada

que a anterior. - Crianças brincando (muito barulho) - Carros e caminhões - Sons de sirene de fábrica

- Sons de gado

- Sons de vaca comendo e mugindo. - Carros de boi

- Gansos (conversar com os gansos)

- Gravador com microfone, fitas k7 - Fita K7 (músicas que gostava de ouvir)

- Aparelho de som (música da mãe e dos irmãos)

- Televisão (primeira vez que vê uma)

- Som muito alto (casas da cidade)

- Brinquedos educativos musicais e xilofone

- Pandeiro e tambor (época de fanfarra do pai)

- Música ao Vivo (restaurantes, teatro e bailinhos de carnaval

- Chocalhos de lata (imitar sons de gado)

- Sanfona e pandeiro (almoços na casa dos vizinhos)

3ª in fâ nc ia

- Casa silenciosa - Muitas crianças brincando - Carros e caminhões - Som do vento (tinha medo) - Não indicado no relato - Aparelho de som (música da mãe e

dos irmãos) - Aparelho de som (músicas que se ouvia em casa) - Voz cantada (aulas de música,

alemão e catequese)

- Piano (ver o avô tocando e tocar) - Flauta-Doce e piano (aulas de música)

- Flauta-Doce, violão, guitarra e teclado (o irmão tocava em casa)

- Violão (outras pessoas tocando) - Canto (outras pessoas) - Sons guitarrinha de brinquedo (quatro cordas de nylon)

- Sons de panela, latas com função de bateria

- Bandas de frevo (Carnaval) - Instrumentos musicais (vizinhos músicos)

A d

- Carros

- Televisão (assistir Sabadão Sertanejo)

- Karaokê - Aparelho de Som

- Sons de rádio e TV - Aparelho de som (quarto)

- Voz cantada (cantar no karaokê e paródias)

- Instrumentos de percussão: caixa, tamborim, repinique, surdo (tocar) - Bateria de Samba

- Música ao vivo (shows, escola de samba)

- Violão, baixo, bateria e diversos instrumentos musicais (casa dos tios e conservatório)

- Violão, baixo elétrico e violino - Voz cantada (paródias) - Sons de cordas (preferência) - Sons de músicas e de passos de dança (conservatório)

- Música ao vivo/ festas populares (na rua) V id a A du lta

- Sons de crianças (em escolas) - Sons de máquinas (empresas em que trabalhou)

- Barulhos de carro

- Som da rua em dia de carnaval - Barulho ruído (cidade)

- CDs, iPod, YouTube e Rádio - Rádio (carro) - aparelho de som - Voz cantada (aulas de canto,

intervenção com pacientes, paródias)

- Instrumentos de percussão (tocar) - Cavaquinho e violão (tocar e fazer aula)

- Acordeom (intervenção com paciente)

- Instrumentos musicais e caixas de música (comprar em viagens) - Música ao vivo (shows, lugares de samba tradicional e MPB)

- Sons de instrumentos musicais

- Sons de fanfarras - música ao vivo.

Q ua dr o de P re fe rê nc ia s GOSTA Sons da natureza: mar, cachoeira, vento, pássaros

NÃO GOSTA GOSTA

Chuva Água Vento NÃO GOSTA -Ruídos estridentes GOSTA Ventilador Pau de chuva Chuva Trovão Grilo Sapo Cigarra Casco de cavalo NÃO GOSTA Cortando ferro Freio de metrô Liquidificador Maquina de lavar Lâmpada Gota d’água Secador de cabelo Cortando Isopor

- Rádio (todos os dias) - CDs, DVDs, YouTube, iPod (semanalmente)

- Rádio (todos os dias) - CDs, DVDs, (semanalmente) - YouTube, (não apontou frequência)

- Rádio, CDs, YouTube (todos os dias)

GOSTA Violão Cavaquinho Pandeiro Surdo Tamborim Repinique Caixa Sanfona Gaita Piano Teclado Violino NÃO GOSTA Guitarra e voz agudas do rock GOSTA - Timbre de voz “rouca” (Bryan Adams) - Flauta - Cordas friccionadas, principalmente as graves NÃO GOSTA - Vozes muito agudas

GOSTA NÃO GOSTA

Instrumentos que toca:

Percussão (caixa, tamborim, repinique, surdo), Cavaquinho, Violão.

Instrumentos que toca:

Violão, Teclado, Baixo Elétrico, Flauta Doce e Violino.

Instrumentos que toca:

Percussão (Pandeiro Surdo, alfaia, caixa, berimbau), Viola (clássica), e aprendendo acordeom.

Quadro 8 – Fontes sonoras presentes no relatos dos sujeitos de pesquisa

Em relação as fontes sonoras (não musicais) presentes nos ambientes dos sujeitos de pesquisa, pode-se dizer que variaram bastante, bem como a forma de apresentação dos mesmos no relato.

Informações sobre o ambiente sonoro de Renata, no que diz respeito a sons não musicais, apareceram espontaneamente em suas descrições, apenas quando indagado diretamente, como na questão “como eram as sonoridades dos ambientes que você vivia ou frequentava?” contida em cada etapa da História Sonoro-Musical ou no Quadro de Preferências e Recusas Sonoro-Musicais quando é pedido para que se aponte os sons, ruídos e timbres que gosta ou não gosta.

Os fenômenos sonoros não parecem ter um lugar de destaque para a constituição da experiência musical de Renata, aparecendo apenas na infância ao dizer que a rua de casa era tranquila ou movimentada ou que em casa era “razoavelmente silencioso”, e a presença de sonoridades da natureza nos lugares de natureza que seus pais a levavam.

É importante ressaltar que os sons da infância embora descritos no trabalho, podem ter sido inseridos no histórico não a partir de sua memória, mas através do relato de familiares (pais e avó materna) que ela entrevistou para realização do seu histórico, principalmente para coleta de informações a respeito de descendência familiar e histórico sonoro-musical da infância, conforme apontado por ela no item sobre metodologia utilizada para confecção do trabalho.

Desta forma, os fenômenos sonoros dos ambientes não pareceram ser relevantes para a experiência musical de Renata, já nos relatos de Carlos encontraram-se bastante presentes, perpassando todas as fases de seu histórico sonoro.

As fontes sonoras que compuseram a Paisagem Sonora de Carlos em seu relato foram as sonoridades que vinham da rua de casa: sons de crianças brincando, carros e caminhos e sirenes de fábrica até a adolescência. Na Vida Adula, já não houve mais distinção dos lugares específicos de onde vinham os sons, mas uma apresentação geral dele que se resumiu a sons de crianças em escolas, fanfarras, sons de máquinas das empresas em que trabalhou (única referência no relato, não é dito quais empresas ou de que ramo), barulhos de carros, rádio e sons de instrumentos musicais.

Para Carlos, algumas sonoridades pareceram ser significativas, como, por exemplo, o som de crianças que apareceu no relato de quase todas os períodos, provindos da rua de casa e dos ambientes escolares, primeiro nas escolas onde estudou e posteriormente nas escolas que lecionou.

Não parece que houve para Carlos, no entanto, uma passagem direta de um interesse de um som para o interesse por uma música, como ocorre no caso de João, em que o interesse por fenômenos sonoros foi substituído por fenômenos musicais numa relação de continuidade, devido aos lugares de convivência sonora ou musical.

Diversas fontes sonoras apareceram no relato de João, destacando-se principalmente aquelas que eram produzidas naturalmente no ambiente de convívio. As sonoridades do ambiente, e as músicas se fundiram na história de João, e num primeiro momento a vivência sonora veio do contato com o meio ambiente e os animais da fazenda e dos músicos que iam até a sua casa. Este contato foi ampliado para outras situações coletivas em que a música estava presente, como os almoços na casa dos vizinhos, e festas populares como o Carnaval de rua e São João. Com o passar do tempo as preferências pelos fenômenos musicais foram sendo estabelecidas, e referências as sonoridades não musicais sumiram de seu relato.

Sintetizando, pode-se dizer que para Renata os sons do ambiente não misturaram-se com as suas experiências musicais. Para Carlos, os sons estavam

bastante presentes no relato, alguns até pareceram significativos, mas não se misturaram diretamente com as experiências musicais. Já para João, os sons do ambiente se fundiram com sons musicais numa continuidade de interesse, havendo em um primeiro momento um interesse por sons do ambiente, sendo este substituído depois pelos sons musicais.

Em relação aos meios de reprodução musical todos os sujeitos tiveram contato tanto com música ao vivo como por meios de reprodução eletrônica, porém houve diferenças no contato de cada um deles.

Renata, conviveu desde pequena com músicas ao vivo em ambientes sociais, artísticos ou de entretenimento, como, por exemplo, restaurantes com música ao vivo, bailinhos de carnaval e peças de teatro com música. A música ao vivo foi intercalada com a vivência de música via aparelhos de reprodução musical, como rádio e televisão em casa, seja vivenciando as músicas das pessoas do entorno, ou escolhendo suas próprias músicas. Também conviveu com instrumentos musicais através de seu avô, tios, pai e irmão, e ela própria às vezes manipulou instrumentos musicais (o piano de seu avô, os instrumentos de fanfarra da época do pai, o xilofone de brinquedo e a flauta-doce e o piano nas aulas de música), também tinha brinquedos musicais eletrônicos, como o gravadorzinho vermelho com o microfone no qual ela cantava e ouvia fitas k7 com músicas infantis.

Mais tarde, esse intercâmbio entre música ao vivo e música por meios de reprodução eletrônica continuou, ela por vontade própria passou a frequentar lugares com música ao vivo, tais como casas noturnas, shows, locais de samba tradicional e MPB, escolas de samba e sambódromo e também começou a tocar instrumentos de percussão, cavaquinho e violão. Passou a vivenciar a música ao vivo tocando em apresentações com a Fisiobateria e fazendo intervenções musicais com seus pacientes. Em relação aos meios de reprodução musical, na adolescência gostava de cantar no karaokê, assistir em casa o Sabadão Sertanejo, e dançar com uma amiga coreografias de axé. Depois, já na vida adulta, passou a comprar CDs e assistir vídeos no YouTube de artistas mais tradicionais da MPB, e a ouvir música em casa ou no iPod, ou no rádio do carro. Também começou a comprar caixas de música e instrumentos nas viagens que fazia para guardar de recordação.

Para Carlos, os primeiros contatos com a música foram através da voz cantada de seu pai e das músicas que seus pais ou irmãos ouviam no rádio, em fitas k7 ou televisão. Ele próprio passou a se interessar pelas músicas ouvindo sua própria fita k7. Referências de se entrar em contato com a música produzida por instrumentos musicais, apareceram em seu relato só na terceira infância. Este contato se deu de forma espontânea em seus ambientes de convívio, em casa através do seu irmão e na igreja. Logo se interessou pelo violão, e passou a observar as pessoas tocando, querendo fazer igual, mas antes de realmente tocar e produzir som através de um instrumento musical, ele brincou de ser músico tocando todas as músicas que ouvia em uma guitarrinha de brinquedo que havia ganhado do seu pai. Posteriormente, ele aprendeu a tocar instrumentos musicais (violão, baixo elétrico e violino), começou a tocar na igreja e com seus primos e amigos em uma banda, depois a tocar em eventos e casamentos profissionalmente com um quarteto e camerata de cordas e duos de violino e piano.

A partir da terceira infância os principais relatos de experiências musicais relacionaram-se aos instrumentos musicais, seja no interesse por estes, ou em aprender a tocar, mas em alguns pontos ele destacou ainda a presença e o interesse pelas músicas e dos sons do rádio e da televisão no seu dia a dia.

Para João, o contato com a música ao vivo foi predominante em seu relato, como já citado acima, a percepção dos sons do ambiente foi substituída em seu relato pela percepção de referências musicais. Os equipamentos eletrônicos quase não foram citados no seu trabalho; apareceu apenas uma única vez no relato sobre a primeira vez em que viu uma televisão ou através de referências indiretas, como a música que se ouvia em casa e as músicas escutadas no quarto. As do quarto, através de um aparelho de reprodução musical com uma mídia gravada, tal como fitas k7, discos e CDs.

Dessa forma, embora os três sujeitos tenham tido contato tanto com a música produzida ao vivo, como por meios de reprodução eletrônica, a diferença nestes contatos foi visível.

No documento Investigando a experiência musical (páginas 123-130)