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O uso do solo, a distribuição espacial da população e dos locais onde são realizadas as

CAPÍTULO 2 – A Dinâmica Territorial e o Espaço de Circulação de Campinas na Atualidade

2.2 O uso do solo, a distribuição espacial da população e dos locais onde são realizadas as

O primeiro item apontado no início do capítulo está ligado ao local de moradia, de trabalho e de lazer da população. É importante demonstrar as regras municipais de uso e ocupação do solo para entendermos como a distribuição dos mesmos é desigual pela área do município. No capítulo 3 será realizada uma análise local dos motivos que levaram a esta distribuição espacial, mas é possível antecipar as causas ou fenômenos gerais do processo de urbanização paulista e brasileira.

A primeira constatação é de que a ocupação do solo vem obedecendo a uma estrutura informal de poder, que, segundo Maricato:

“precede a lei/norma jurídica. Esta é aplicada de forma arbitrária. A ilegalidade é tolerada porque é válvula de escape para um mercado fundiário altamente especulativo. Tanto a argumentação de cunho liberal quanto a estatizante são utilizadas para assegurar a manutenção de privilégios”. (MARICATO, 2002. Pág. 42)

Baseadas em um modo de articulação entre os capitais cafeeiros e industriais, as elites locais viram a oportunidade de obter lucros no ramo imobiliário (MIRANDA, 2002) e trataram de se apropriar do território colocando-o a seu favor e, depois, criaram mecanismos jurídicos junto ao poder público municipal que lhe garantissem a legalidade do uso.

As análises a seguir serão baseadas em um trabalho desenvolvido pela Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (EMPLASA), em 2005, sobre os padrões urbanísticos da Região Metropolitana de Campinas (RMC).

exemplo, a divisão por zoneamento do município não é a mesma da divisão por áreas de faixas de renda da população. Para facilitar o entendimento serão usados os pontos cardeais, que nem sempre correspondem às localizações exatas estipuladas pela Prefeitura Municipal.

A Figura 1 demonstra a divisão do município de Campinas em 7 Macrozonas, realizada pelo Plano Diretor Municipal de 2006, que é utilizada para apontar a distribuição populacional do município. As Macrozonas 1 e 2 são regiões que abrigam uma grande área de proteção ambiental (APA) e algumas áreas já urbanizadas, como são os casos dos distritos de Sousas e Joaquim Egídio. A população total dessas macrozonas agrupadas era, em 199110, de aproximadamente 18 mil habitantes, parcela proporcionalmente pequena em relação ao total do município (de aproximadamente 850 mil habitantes).

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Dados retirados do Plano Diretor do Município de Campinas 2006. Todos os dados referentes à população das macrozonas utilizados no presente capítulo foram retirados desta mesma fonte.

Figura 1 – Macrozonas do Município de Campinas

A macrozona 1 é marcada por dois ambientes distintos: o primeiro é estritamente rural, com a presença de chácaras, sítios e fazendas agrícolas; o segundo é urbano, formado pelos distritos de Sousas e Joaquim Egídio, onde as principais atividades desenvolvidas estão ligadas ao setor terciário, como comércio, restaurantes e turismo ecológico. Recentes investimentos em condomínios fechados oferecem aos clientes mais contato com a natureza e segurança privada.

A macrozona 2 é caracterizada por apresentar maioria da população morando na zona rural e onde as principais atividades desenvolvidas estão também ligadas às áreas rurais, tais como agricultura e pecuária, pesqueiros, chácaras de veraneio, haras etc. Alguns bairros e condomínios fechados se misturam a essas áreas.

Com relação aos meios de transporte predominantes, as duas regiões têm apresentado aumento significativo do uso do automóvel, gerando tráfego intenso em algumas áreas específicas, a despeito de seu baixo índice populacional. As linhas de ônibus escassas e com baixa frequência estão relacionadas à pequena quantidade de usuários espalhados por uma área muito extensa. Sobretudo na macrozona 1 o fluxo é basicamente bairro-centro pela manhã e o contrário no final da tarde.

As áreas comuns de lazer nessa região do município são poucas. Geralmente a população local usa o Rio Atibaia para o lazer. A maioria das áreas são privadas e utilizadas por parte da população local e pela população oriunda de outras regiões do município.

A macrozona 3 é formada por bairros da região norte do município, notadamente o Distrito de Barão Geraldo e por uma faixa de ocupação recente na porção leste do município que margeia a Rodovia Dom Pedro I. A população total dessa região era, em 1991, de aproximadamente 55 mil habitantes, ou seja, menos de 10% da população total do município. Trata-se, entretanto, de uma população pertencente à elite campineira, cuja representatividade em âmbito municipal é bastante grande.

Podemos ainda dividir essa macrozona em dois grandes núcleos: o primeiro é formado por população de baixa/média renda que habita bairros como Jardim Campineiro, São Marcos, Amarais, entre outros. São bairros que margeiam a Rodovia Dom Pedro I na porção norte de Campinas, onde as moradias dividem espaço com galpões industriais, hipermercados atacadistas, com a CEASA e com o Aeroclube dos Amarais. As áreas de lazer são quase inexistentes e se resumem a pequenas praças localizadas dentro dos bairros. Do ponto de vista de localização esse núcleo encontra-se “ilhado”, descolado do núcleo urbano principal do município. A Rodovia

Dom Pedro I faz o papel de ligá-lo às regiões noroeste e leste do município, e a Estrada dos Amarais serve como ligação desse núcleo com a área central. Dado o nível sócio-econômico dessa população, o principal meio de transporte utilizado na região é o ônibus, mas com aumento no uso de carro particular e de bicicletas11.

O segundo é formado pelo Distrito de Barão Geraldo, localizado na região norte do município de Campinas. Sua população é constituída em grande parte por alunos e funcionários da Universidade de Campinas (UNICAMP), mas com significativo aumento da parcela de profissionais liberais nos últimos anos. O distrito mantém uma situação de quase auto-suficiência, pois possui comércio, escolas, restaurantes, bancos, hospitais, parques etc, o que cria quase uma pequena cidade dentro de Campinas. Centros de pesquisa e empresas de alta tecnologia completam as atividades desenvolvidas nesse núcleo. Os equipamentos urbanos públicos e privados são usados tanto pelos moradores do distrito como por habitantes de outras áreas da cidade/região metropolitana, tento como principal ponto de atração a universidade. No que se refere à circulação, apresenta um fluxo grande de transporte coletivo, que liga o núcleo campineiro ao terminal do distrito, onde os passageiros são servidos de linhas locais e intenso fluxo de automóveis, o que vem causando picos de trânsito nas principais entradas do distrito, sobretudo no início da manhã e no final da tarde. As rodovias Dom Pedro I, Campinas-Mogi- Mirim e Campinas-Paulínia são as principais vias de acesso ao distrito, usadas, praticamente, como avenidas pelos seus moradores. O fato de o distrito possuir locais de grande uso da população de Campinas e região desfaz o movimento pendular típico centro-bairro, e mantém grande circulação de pessoas entrando e saindo do distrito constantemente.

A macrozona 4 é a mais populosa do município, pois abrange mais da metade de todo o seu perímetro urbano. No total ela abrigava, em 1991, 585 mil pessoas, ou seja, cerca de 60% da população de Campinas à época, formada por bairros centrais, muitos dos quais com elevado grau de verticalização, como Centro, Cambuí, Vila Itapura e Ponte Preta. Alguns bairros, tais como Taquaral, Nova Campinas e Guanabara mantêm ainda características de bairros essencialmente residenciais. As principais áreas de comércio de rua, clínicas, escolas, hospitais, parques, praças públicas e escritórios do município estão ali localizados. Portanto, nela se concentram as principais atividades de trabalho, compra e lazer dos campineiros. Esse núcleo

pode se considerar o mais privilegiado em termos de infra-estrutura, pois, além de ser a área usada por todos os habitantes do município, é habitada por uma população majoritariamente de classe média-alta e que exerce grande interferência nas ações tomadas pelo poder público municipal.

Esta região é também a mais bem servida de vias e de linhas de ônibus, tanto com sentido centro-bairros, como circulares. Nota-se, no entanto, que a população desta área da cidade utiliza menos o transporte público e mais o carro para se deslocar, e que parte de seus moradores faz o sentido centro-bairro para trabalhar, fazer compras e se divertir. Acompanhando a tendência de parcial desconcentração dos serviços nas áreas centrais das grandes cidades brasileiras, a região central de Campinas assiste à saída de parte do seu comércio tradicional em direção aos shoppings centers, localizados próximo às principais rodovias, que atualmente abrigam também serviços antes oferecidos somente na área central (ex. bancos, Poupatempo12, cabeleireiros, restaurantes, cinemas, teatros, etc.).

As macrozonas 5 e 7 constituem toda a região oeste/sudoeste do município e que, por possuírem características similares, serão analisadas conjuntamente. Não é possível afirmar a população exata da reunião destas duas áreas, mas sabe-se que ela representa cerca de 40% da população atual do município, ou seja, 400 mil habitantes considerando as últimas contagens populacionais. Tanto as regiões oeste quanto a sudoeste tiveram o mesmo tipo de ocupação urbana, notadamente precarizada em relação a outras regiões do município, o que será analisado mais adiante.

Essas regiões caracterizam-se por possuir bairros de média-baixa e baixa renda, e escassez de equipamentos urbanos públicos. Com exceção do Distrito Industrial localizado próximo ao Aeroporto de Viracopos, ambos no extremo sudoeste do município, essas regiões quase não possuem locais de trabalho para a sua população, o que a obriga realizar movimento pendular bairro-centro diariamente, em longas e cansativas viagens da casa ao local de trabalho. O lazer, atividade não realizada com freqüência pela população de classe mais baixa, também não é encontrado na região, o que faz com que os moradores sigam para áreas mais centrais para encontrar shoppings centers (que atualmente se caracterizam por serem também locais para entretenimento e lazer) e os principais parques públicos.

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Órgão criado pelo Governo de São Paulo para concentrar atividades burocráticas, como retirada de documentos.

A população dessas regiões é a que mais utiliza o transporte público como meio de locomoção. Por isso, é a mais atendida pelo serviço, embora considerado de má qualidade pelos moradores. O mesmo, no entanto, será analisado mais adiante nesta pesquisa. Parte da população tem adquirido carro para realizar os seus deslocamentos, o que vem causando aumento significativo do trânsito, transformando-o no mais caótico do município.

Por fim, a macrozona 6 representa a área sul de Campinas, formada por bairros com urbanização ainda não consolidada, tanto de condomínios fechados de classes média e alta como por antigas ocupações e conjuntos habitacionais. Em 1991 sua população estava estimada em cerca de 10 mil habitantes, mas atualmente ela já deve ter mais que dobrado. Ainda é difícil se fazer uma análise correta dessa área, haja vista que está em rápido e permanente crescimento. No entanto, é possível afirmar que possui o perfil de grande desigualdade social. De um lado, condomínios fechados de alto padrão estão sendo criados às margens da Rodovia Anhanguera e, de outro, bairros com infra-estrutura precária crescem de maneira desenfreada. Ambos os lados são pouco atendidos por equipamentos urbanos públicos, o que obriga a população a se deslocar para outras regiões do município para o trabalho, compras e lazer. O transporte é realizado principalmente por carro pelos habitantes dos bairros nobres e por ônibus municipal pela população de bairros pobres.

A macrozona 8, que ainda está em formação, compreende áreas que margeiam a Rodovia Dom Pedro I e o início da Rodovia Campinas-Mogi-Mirim, já na porção leste do município. Os bairros Parque Imperador e Jardim Miriam são os mais antigos dessa área, onde mora principalmente a classe média. Nos últimos anos, no entanto, a região tem passado por grande surto especulativo, o que atraiu os empreendimentos de condomínios fechados de alto padrão. Como vantagem os empreendedores oferecem aos seus clientes a facilidade de morar próximo de importantes vias de acesso e dos principais shoppings centers do município. Essa região é mal atendida pelo serviço público de transporte, pois seus habitantes utilizam apenas o automóvel para se deslocar. As áreas públicas de lazer, comércio etc, praticamente não existem nessa área, pois não cabem no estilo de vida adotado por grande parte de seus moradores. Ou seja, há tempos a elite deixou de freqüentar espaços públicos, por diversos motivos.

Por fim, a macrozona 9 é constituída por bairros pertencentes ao Distrito de Nova Aparecida, localizado no noroeste do município de Campinas. A população dessa área é, de modo geral, pobre, e habita áreas sem infra-estrutura urbana e conjuntos habitacionais. Possui grande

quantidade de indústrias, que se instalam principalmente às margens da Rodovia Anhanguera, na divisa com o Município de Sumaré. O transporte mais utilizado pelos habitantes desta macrozona é o ônibus intermunicipal, que sai de Sumaré, Hortolândia, entre outras, com destino a Campinas, utilizando o Corredor Noroeste da Região Metropolitana de Campinas, recém inaugurado pelo governo estadual. Paradoxalmente, o eixo noroeste talvez seja o mais bem servido de malha ferroviária que está subutilizada, servindo apenas para transporte de cargas.