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4.7 Os Principais Impactos Sócio-Ambientais

4.7.2 Solos

O alagamento superficial de faixas de terras nas ilhas da RDS Alcobaça provocaram de imediato, a inutilização de equipamentos de contenção (cercas, currais, galinheiros) de animais, espécimes vegetais (roçados e hortas) relativos á culturas agrícolas de subsistência, equipamentos comunitários (escolas, igrejas e sedes de associações) e moradias.

Em seguida, consolidou-se a perda destes espaços para a atividade produtiva, diminuindo as oportunidades de renda dos moradores.

Os impactos sócio-ambientais, na escala de tempo, demonstraram ser mais complexos, diversificados, de efeitos mais duradouros e progressivos, em relação ás analises e estimativas do empreendedor e do órgão ambiental licenciador.

A elevação da cota, além do alagamento superficial de faixas de terras, segundo relatado pelos moradores, foi acompanhada de um processo de infiltração no subsolo das ilhas, provocando o apodrecimento de tubérculos (raízes de mandioca), e por esta razão, houve o comprometimento tanto na produção deste importante alimento de subsistência quanto á possibilidade de comercialização do excedente.

Outros relatos fazem relação entre a excessiva umidade do solo e o definhamento e baixa produção de outras espécies vegetais frutíferas (goiabeiras, cajueiros, mangueiras), em áreas acima da faixa de alagamento superficial. No linguajar dos moradores a terra que era firme ficou mole e as margens lamacentas.

Além da perda continua de faixas de terra ocasionada pelo processo erosivo, verificado ano após ano, durante cada ciclo hidrológico, os moradores relataram que afora o arraste de solo e desbarrancamentos, se formaram pequenas e médias crateras na faixa de inundação que mantém águas empoçadas, propiciando além berçários para larvas e mosquitos, riscos de acidentes com crianças e adultos.

Constatou-se também que ilhas localizadas frontalmente as correntes de ar (de cara para o vento, na expressão dos moradores), em associação com o excesso de água no subsolo, apresentam casos mais graves de quedas de árvores e desbarrancamentos. As figuras abaixo registram estas ocorrências na região do Barro Vermerlho.

Figura 17 - Desbarrancamentos em ilhas. Figura18 - Deslizamento e queda de árvores. Fonte. Acervo do autor, 2010. Fonte. Acervo do autor, 2010.

Figura 19 - Área lodacenta em margens. Figura 20 - Erosão de margem. Fonte. Acervo do autor, 2010. Fonte. Acervo do autor, 2010.

Observações de campo constataram que o nível das águas durante o período mais chuvoso e, por conseguinte, de maior volume d’água no Lago de Tucuruí, tem ultrapassado a faixa de inundação delimitada, durante procedimentos indenizatórios realizados a quando da elevação da cota pela concessionária de energia. Estas ocorrências precisam de maiores esclarecimentos junto aos moradores, uma vez que a cota 74m, é a cota máxima normal de operação da UHE autorizada pelo órgão estadual de meio ambiente.

Se a ampliação da faixa de inundação esta associada a processos erosivos que estariam assoreando os canais de navegação e remansos, que por sua vez, desencadeiariam outros

processos como a diminuição da altura da coluna d’água, aumento de temperatura da água, aumento de partículas em suspensão (águas sujas, no linguajar dos moradores), comprometendo, sobretudo, a pesca e a qualidade da água para consumo humano, caberiam, no minimo, a promoção pelo empreendedor de ações de orientações aos moradores e apoio material para reconstrução de equipamentos e edificações, acima da faixa atual de inundação.

Um caso demonstrativo sobre ampliação da faixa de inundação, observa-se na ilha onde está edificada a Escola Municipal de Ensino Fundamental Ouro Verde-EMEFOV (Figuras 23 e 24), localizada as margens do Igarapé Vinte e Quatro, Norte da RDS e de Coordenadas Geográficas; S 03º 48’14.05” e W 049º49’27.7”. Fundada em 17 de março de 1992 e mantida pela Prefeitura Municipal de Tucuruí.

Em 2010, a Ouro Verde estava funcionando com 284 alunos e 07 professores, em dois turnos (manhã e tarde).

Figura 21 – Escola Municipal de Ensino Fundamental Ouro Verde.

Fonte. Acervo do autor, 2010.

Medições realizadas nesta área, em setembro de 2010, apresentadas abaixo em desenho esquemático (Figura 22), apontaram um distanciamento de 110m da cerca da escola até o inicio da lâmina d’água existente.

A variação da coluna d’água medida em um fuste de castanheira (Bertholethea excelsa) em decomposição, situada em posição frontal a escola, alcançou a altura (do solo a marca d’água natural de nível mais alto) de 11,40m. Esta variação na coluna d’água, mostra- nos o cenário próximo ao auge do deplecionamento do lago e a marca d’água no fuste da Castanheira, o cota máxima atingida pelas águas no pico do inverno.

Figura 22 - Perfil longitudinal da área de estudo. Fonte. Elaborado pelo autor, 2010.

Observa-se, com um detalhamento maior (Figura 23), que o recuo da cerca de proteção obedeceu - com margem de segurança de aproximadamente 20 metros - a faixa de terra que seria inundada pela elevação da cota. Entretanto, sua disposição, por falta de orientações mais precisas, obedeceu a um padrão linear, desajustado com disposições em curva de nível. Este fator poderia estar implícito em alagamentos ou inundações em algumas áreas, de uma mesma ilha, levando-se a considerações precipitadas de que as águas estariam elevando-se acima da cota 74m.

Figura 23 - Faixa de alagamento na cota 74. Fonte. Acervo do autor, 2010.

Figura 24 – Marca d’água na cerca da Escola Ouro verde. Fonte. Acervo do autor, 2010.

20 mt

Uma evidência deste fato observa-se no extremo esquerdo do cercamento da Escola Ouro Verde (Figura 24), onde as águas durante o inverno passam pela cerca a uma altura de aproximadamente 50 cm, alagando áreas internas e, como agravante, onde estão situados os equipamentos sanitários.

A leitura de cartas cartográficas em curvas de nível, da área (ilha) onde esta situada a Escola Ouro Verde (Figuras 25 e 26), destacadas, nesta e na pagina seguinte, demonstram, salvo qualquer erro de precisão no equipamento (GPS de navegação) ou erro de construção, que as edificações estão em nível da cota 76m, onde, pelos cálculos da concessionária, as águas na cota máxima normal não atingiriam, o que amplia a necessidade de uma revisão nos estudos altimétricos da bacia hidraulica e a promoção, além de esclarecimentos, de ações concretas em beneficio das populações atingidas.

Figura 25. Detalhe da área onde esta edificada a Escola Ouro Verde. Fonte. Eletronorte, 2010.

Figura 26. Carta em curva de nível de área de interesse dentro da RDS. Fonte: Eletronorte, 2010.