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5 Aplicação da SSM na Embrapa

5.2 Análise da intervenção sob a ótica da SSM

5.2.5 SSM(p)

Com o decorrer do trabalho foi possível também modelar as atividades da intervenção, utilizando a SSM em relação ao próprio processo de investigação, tanto para entender a forma

como esta havia sido conduzida até aquele momento quanto para planejar a continuação do trabalho. Esse modelo, mostrado na figura 21, foi construído ao final da primeira fase da intervenção, antes do início da realização dos seminários. Apenas as atividades 3 a 6 do modelo haviam sido conduzidas, mas ao final dos dez meses de intervenção, verifica-se que o modelo representa bem o processo que se seguiu a partir de então. Durante todo o período de condução dessas atividades, foram realizadas também as atividades 1 e 2, em ciclos de aprendizagem periódicos que serviam para consolidar uma análise crítica sobre a metodologia e avaliar e reorganizar a abordagem utilizada.

Figura 21 - SSM(p) para a melhoria do PDC

Um primeiro modelo de intervenção já havia sido construído antes mesmo dessa análise do processo com a SSM(p). O próprio modelo apresentado na figura 17 é um modelo de sistema relevante para o processo de intervenção no desdobramento do trabalho, que seria o segundo macrociclo de aplicação da SSM, para implementação das melhorias propostas no primeiro momento. Ele não é incompatível com o modelo da figura 21, e pode ser visto como a representação de uma visão particular da atividade 9 desse último. Foi construído sob a visão de mundo do autor como funcionário da empresa, e não como pesquisador, sem a preocupação com a abordagem a ser utilizada para operacionalizá-lo. A root definition associada a ele seria “um sistema para organizar o sistema de gestão do PDC, através da formalização do processo e de seus instrumentos gerenciais, para alcançar um melhor

desempenho no desenvolvimento de cultivares”. Por outro lado, a root definition associada ao modelo da figura 21, sob a visão de mundo do autor como pesquisador e facilitador do trabalho de aplicação da SSM, seria “um sistema para encontrar e implementar mudanças no PDC que sejam culturalmente viáveis e sistemicamente desejáveis, através de aplicação da SSM, para alcançar um melhor desempenho no desenvolvimento de cultivares”. O objetivo final é o mesmo, mas a preocupação é distinta, devido à visão de mundo particular de cada papel ocupado pelo autor, e a transformação também, uma vez que representam visões do processo de intervenção em momentos distintos, com disponibilidade de informações e grau de estruturação do problema diferentes. E, devido a essa diferença de momento, mesmo os objetivos finais sendo apresentados com a mesma expressão literal, os critérios de desempenho podem não ser os mesmos, sendo mais bem definidos no segundo momento porque se baseavam no aprendizado acontecido na primeira fase da intervenção.

5.3 Conclusão

A SSM foi utilizada nesse caso de forma flexível o suficiente para se adaptar às contingências da situação e às habilidades do autor, sem mudar a linguagem usual dos envolvidos e possibilitando a utilização da abordagem sistêmica de forma natural. Apesar da intenção inicial, foi abandonada a idéia de seguir o processo convencional de sete passos e a metodologia se fez presente especialmente pela aplicação de seus princípios e pela referência oferecida nos momentos de reflexão sobre o trabalho. Ainda assim, foi possível identificar características fortes da SSM ao longo da intervenção e a aprendizagem não se ateve apenas ao objeto de estudo para melhoria, mas ocorreu também sobre a própria metodologia em uso. Apesar de não ter sido utilizado na intervenção, o questionário apresentado no Anexo 1 é um exemplo desse aprendizado e pode ser útil em outras intervenções, quando a metodologia for utilizada de maneira mais formal.

No processo de aplicação foram identificadas características próprias da SSM, como os modelos construídos, a análise cultural da situação e a comparação da realidade com a abstração do processo a partir dos pontos de vista das pessoas envolvidas. Outras, como o uso das root definitions, de figuras ricas e da SSM(p), foram utilizadas à parte dos acontecimentos, mas influenciaram muito tanto o entendimento da situação a cada momento quanto o direcionamento que a investigação tomava ao longo do tempo.

Com a dinâmica adotada, a definição do problema foi moldada aos poucos a partir de interações distintas com pessoas diferentes, e o envolvimento dos atores com o projeto de

melhoria aumentou à medida que eram melhor definidos os objetivos e que o aprendizado era socializado. Ao final, foi proposto um modelo de atividades para implementação das melhorias e, com a participação de representantes de diversas áreas envolvidas no PDC, a modelagem da SSM conduziu à organização de informações e proposições suficientes para a construção de um modelo de referência para a gestão do processo de desenvolvimento, apresentado no próximo capítulo.

6 O MODELO DE REFERÊNCIA DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE CULTIVARES

Os modelos de referência existentes na literatura oferecem bons insights para a preparação de um modelo específico, mas nenhum apresenta um processo organizado de atividades adequado para o desenvolvimento de cultivares. Com o trabalho realizado durante a aplicação da SSM foi possível entender as particularidades desse processo e suas diferenças em relação ao PDP aplicado a produtos industriais. Contudo, grande parte das melhores práticas de desenvolvimento de novos produtos e dos princípios de gestão de projetos presentes nos modelos de referência tradicionais é aplicável também ao desenvolvimento de novas variedades vegetais.

Com o conhecimento dos modelos existentes e o aprendizado sobre o PDC alcançado durante a intervenção, foi possível, ao final desta, construir um modelo especialmente para o desenvolvimento desse tipo de produto. Um modelo de referência específico para o desenvolvimento de híbridos de milho da Embrapa Milho e Sorgo foi elaborado utilizando as informações surgidas nas discussões sobre cada atividade do processo, levando em conta a forma como elas deveriam ser conduzidas, os diversos atores necessariamente envolvidos, a estrutura organizacional da empresa e as políticas e restrições existentes na instituição. Além disso, foram consideradas as necessidades existentes quanto à gestão do processo e à orientação do trabalho para a incorporação de uma visão de mercado mais forte durante o desenvolvimento. Tudo isso surgiu a partir das discussões com os diversos envolvidos, tanto nos seminários realizados quanto individual e informalmente, e da perspectiva do autor, embasada pela teoria de GDP.

A partir do modelo específico da Embrapa Milho e Sorgo, foi proposto um modelo de referência genérico para o desenvolvimento de cultivares, que pode ser adaptado ao contexto de outras instituições e de outros tipos de plantas. Esse modelo foi abstraído do modelo de referência específico, mas é apresentado previamente para que se tenha a idéia ampla do processo antes de entrar nos detalhes da organização. A seguir, além dos detalhes dos modelos de referência é discutida também a forma como cada um deles, o genérico e o específico, podem ser utilizados para orientar a organização e a gestão do processo de desenvolvimento de cultivares, seja na Embrapa Milho e Sorgo ou em outra organização pública ou privada que realize pesquisa e desenvolvimento na área.