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CAPÍTULO 4 – COTIDIANO ESCOLAR NA REVISTA BRASILEIRA DE

4.3. Categoria 03: Professores

4.3.1. Subcategoria: Atribuições Docentes

As 03 produções da Subcategoria: “Atribuições Docentes” da Categoria “Professores”, foram agrupadas por terem como tema central as atribuições de professores no cotidiano escolar. O quadro abaixo mostra os artigos agrupados nessa subcategoria.

Quadro 25: Aspectos que tratam dos Professores: Atribuições Docentes

1985 v. 66/n.154 O papel do professor e sua construção no cotidiano escolar - um estudo sobre o professor de 2º grau no Rio

de Janeiro. 2001 v.82/n.200,201,

202 O “problema” da “cola” sob a ótica das representações 2009 v. 89/n. 226 Os professores do sexo masculino no ensino “primário”:

um corpo estranho no quotidiano das escolas públicas do Rio de Janeiro (Brasil) e de Aveiro (Portugal).

Fonte: Base nos dados coletados na RBEP.

No artigo “O papel do professor e sua construção no cotidiano escolar - um estudo sobre o professor de 2º grau no Rio de Janeiro”, os autores relatam uma pesquisa realizada em 04 escolas de 2º graus, sendo 02 públicas e 02 particulares na cidade do Rio de Janeiro. A investigação foi feita a partir de entrevistas e observação participante, com professores e membros das escolas. As escolas para o estudo foram selecionadas em função de sua localização geográfica, rede escolar, nível socioeconômico dos alunos e organização do trabalho pedagógico. Os professores escolhidos para as entrevistas foram selecionados em função do sexo, idade, ano de formação, disciplina e tempo de trabalho na escola. Foram entrevistados professores, funcionários técnico- administrativos e alunos.

Em síntese, as escolas possuíam as seguintes características:

I) Colégio Brandão: ensino público, com ótimas instalações físicas, corpo docente estável e experiente, e disciplina rígida. A administração é “forte”. Seu projeto educativo é definido com a participação dos professores e tem em vista transformar os alunos, em sua maioria de baixa renda, em bons cidadãos.

II) Colégio Coimbra: ensino público, localizado na periferia do Rio de Janeiro, em bairro afastado, funciona num prédio em precárias condições de conservação. Sua clientela é pobre, “difícil”, agressiva. A questão crucial é a manutenção da disciplina; as divergências internas frequentes a luta maior é pela organização cotidiana, disciplinar e pedagógica, e o exercício do magistério está carregado de altruísmo em relação ao aluno, e do sentimento de desvalorização do professor.

III) Colégio André: ligado aos extratos socioeconômico médio e altos , oferecido por um tradicional colégio confessional situado na zona sul da cidade; bem localizado e com amplas e confortáveis instalações. A Direção tem um projeto humanístico de educação e preocupação com problemas sociais. O colégio é utilizado pela comunidade, faz registro, caracteriza, classifica e avalia a trajetória escolar dos alunos.

IV) Colégio Dias: ensino particular, localizado em num bairro da periferia da cidade e caracteriza-se como uma bem sucedida atividade empresarial. As atividades de ensino visam reter o aluno. A instabilidade no emprego é grande, os professores ganham o piso salarial, e sua permanência depende menos de sua competência e mais da habilidade de reter o aluno, mantendo relação com eles e com a direção.

Para desvendar o cotidiano escolar dessas escolas, a equipe de pesquisadores investigou como o professor percebe “as regras do jogo escolar” e seu próprio papel face ao grupo institucional. Examinaram também as aspirações dos professores, de seus anseios, frustrações e suas percepções sobre propostas educacionais da escola. Os autores constataram que os projetos institucionais e os projetos individuais influem e se interpenetram que o professor acaba aprendendo a ser professor na própria escola. É neste sentido que para os professores das escolas particulares o ponto de referência é a valorização do conteúdo tendo em vista o exame vestibular. Para os professores das escolas públicas as dificuldades se centram no saber lidar com os alunos de condições socioeconômicas precárias, de escolarização básica deficiente, apesar de estarem no 2º grau, “não sabem ler e escrever”. Isso levou os autores a afirmarem que o cotidiano escolar parece inclusive ser mais importante para ditar normas e regras de funcionamento e influir no processo de ensino e aprendizagem que a própria formação e as reformas educacionais implantadas por diferentes governos.

No texto “O “problema” da “cola” sob a ótica das representações” a autora recorre à teoria de representação social para discutir imagens, conceitos e práticas implicados na questão da “cola” no cotidiano escolar. A “cola”, segundo a autora, está associada a ideia de malandragem dos alunos e tem repercussões nos comportamentos, nas crenças, dentro e fora do cotidiano escolar.

No artigo “Os professores do sexo masculino no ensino primário: um corpo estranho no quotidiano das escolas públicas do Rio de Janeiro (Brasil) e de Aveiro (Portugal)”, a autora apresenta um estudo comparativo entre os professores do sexo

masculino do Rio de Janeiro, Brasil (RJBR) e de Aveiro, Portugal (AV-PT), que trabalham no ensino público “primário”. O que se pretende averiguar são os motivos e as consequências da escolha profissional desses docentes por uma profissão relacionada tipicamente ao gênero feminino de modo que são considerados um “corpo estranho” no cotidiano das escolas públicas “primárias”. Constatou-se que para a maioria dos entrevistados a maior motivação para a escolha desta profissão decorre de fatores “intrínsecos” à docência, contrariando algumas referências acadêmicas sobre o assunto e as representações que circulam na sociedade de que os homens não têm afinidades para lidar com crianças. Constata se ainda que existam professores que optaram pela docência por motivos “extrínsecos” a ela, mas que depois passaram a gostar da profissão. Foi verificado na pesquisa, que a docência em Portugal teve uma valorização financeira, estando à profissão equiparada com a de outros profissionais que necessitam de qualificações acadêmicas equivalentes, diferente do Brasil onde a profissão docente sempre foi mal remunerada, justificada muitas vezes pelas representações acerca da profissão ser tida como feminina, sendo que as mulheres “não precisavam” sustentar uma família com os seus rendimentos. A maior parte dos professores do RJ-BR, (67%) e mais de um terço dos de AV-PT (37%) encontram-se, de alguma forma, insatisfeitos com a função, sendo o maior motivo alegado as discriminações homofobicas contra o professor, pautadas em uma representação preconceituosa de que todos os educadores do sexo masculino nesse nível de ensino são homossexuais. A sua presença no magistério primário causa estranheza. Outra discriminação ocorre, devido a uma grande parcela dos educadores serem do sexo feminino impondo uma representação que a profissão é feminina não se esperando ver um homem como professor primário. Outra representação preconceituosa e de que os professores primários do sexo masculino possam ser pedófilos ou assediar as crianças. Assim, os docentes evidenciam que as representações preconceituosas são ainda muito fortes no cotidiano das escolas.

Para os autores agrupados na subcategoria “Atribuições Docentes” embora os docentes se submetam à formação inicial e continuada o aprendizado de suas funções e atribuições ocorre efetivamente apenas no cotidiano escolar onde se deparam com diferentes situações, inclusive com preconceitos que acabam por influir em sua forma de agir. Ou seja, é o cotidiano escolar que dita normas e regras de funcionamento e influi no processo de ensino e aprendizagem sobrepondo-se a própria formação e as reformas educacionais.