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Capítulo 3 Contribuição à critica: evidências de pobreza (2003-2013) desde o mercado de

3.2 Subemprego

Como visto, o subemprego tem caráter estrutural e assume variadas formas nas diversas pesquisas que tentam mensurá-lo numericamente. A análise da última década ajuda a entender a permanência dos condicionantes estruturais do padrão de vida e a regularidade do atual padrão tradicional de vida e, portanto, da pobreza brasileira.

No que tange ao período de recorte estipulado, ressalta-se que as evidências apontam melhora na trajetória do desemprego, que apresentou queda. De fato, a partir dos dados da Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE, destaca-se que os indicadores vêm apresentando alguns dos menores patamares da sua série histórica. Com uma taxa de atividade, segundo a metodologia da PME (IBGE, 2007), de 56,9% da PIA e nível de desocupação de 3,3% da população em idade ativa, em abril de 2013.

Pelo gráfico 6, uma primeira investigação nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego pode indicar dados positivos para o mercado de trabalho brasileiro. Segundo eles, a evolução da taxa de desocupação vem decaindo desde 2003, atingindo seus menores patamares em 2013.

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados da PME.

Segundo Portugal (2012), a proporção de subemprego no total da ocupação é calculada a partir da PEA. Assumindo-se isso, o dado sobre a população não-economicamente ativa da tabela 2 não se refere diretamente à categoria "subemprego", porém serve de complemento à informação de que há um grande contingente de trabalhadores com condições precárias de emprego ou até mesmo sem emprego.

Em relação à informalidade, os dados da PME, apresentados na tabela 3, apontam uma trajetória de queda em todas as regiões metropolitanas pesquisadas, mas, ainda assim, é observado um elevado nível de informalidade na economia brasileira, em torno de 15% quando olhado a participação dos empregados sem carteira assinada. No geral, os dados convergem para a abordagem social-desenvolvimentista de que no período em foco a informalidade foi reduzida, mas há de se salientar que o próprio diagnóstisco destes autores sinaliza que a desregulação e flexibilização do mercado de trabalho persistem e ainda impedem uma transformação qualitativa dos tipos de emprego vigentes de modo a tornar a vida do trabalhador mais estável em termos de superação da pobreza.

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Tabela 2 - Participação dos empregados sem carteira assinada na ocupação total por região metropolitana (%)

Fonte: IPEA (2014: A29) a partir de dados da PME.

Não obstante estas informações favoráveis ao cenário interno, numa comparação internacional, a partir de dados do Fundo Monetário Internacional, vê-se que o Brasil apresentou na última década taxas de desemprego dentre as mais elevadas (em relação aos países selecionados). Sua média ficou ao redor de 8,4% , atrás apenas de Argentina, França e Irlanda. Tais informações podem ser vistas na tabela 4.

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Tabela 3 - Evolução da taxa de desemprego pelo mundo (%)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do FMI.

Observação: Dentre os quatorze países selecionados estão nove das dez maiores economias do mundo em 2013 com exceção da Índia (por falta de dados na base do FMI).

Como visto, Baltar & Krein (2013) discorrem sobre a alteração no perfil da mão de obra brasileira após a onda dos efeitos flexibilizadores sobre a regulação do mercado de trabalho dos anos noventa, a qual é sentida ainda nos dias de hoje. Um de seus argumentos é que a crescente terceirização tem sido fonte da precarização do trabalho. Aliado a este fato, está a questão da proliferação de novas formas de contrato que resultam em relações de emprego disfarçadas, tais como uso exploratório de estagiários, falsas cooperativas de trabalho, trabalhadores empregados como autônomos ou como pessoa jurídica. Por fim, citam os novos tipos de contrato temporários que almejam simplesmente burlar o aparato regulatório para a contenção de despesas.

Segundo eles, as transformações na organização da produção reduziram o volume de empregados permanentes nas empresas, aumentando a flexibilidade funcional destes trabalhadores e a flexibilidade quantitativa dos outros empregados. Os autores ressaltam ainda que uma marca recente do mercado de trabalho tem sido a elevada taxa de rotatividade dos trabalhadores nas empresas, intensificadas pela inoperância de mecanismos que impedem as dispensas sem motivo e pela falta de organização dos trabalhadores. Tal acontecimento espelha mais a desestruturação do mercado de trabalho via liberalização e flexibilização do que a inadequação de qualificação por parte dos trabalhadores aos postos oferecidos, tal como

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reivindicado pelos empregadores. Os autores apontam também que não é do interesse das empresas que os empregados se estabilizem nos postos a fim de que não construam laços sólidos de organização e ganhem posição de barganha para reivindicar que os ganhos de produtividades sejam repassados para os salários.

Os dados do CAGED, que são referentes aos admitidos e desligados com vínculo empregatício celetista nos estabelecimentos que apresentaram movimentação, parecem apontar nesta direção. Além de mostrar uma elevada rotatividade, ilustram que a geração de empregos na década de 2000 foi quase reduzida à geração líquida de empregos que estão na faixa de até três salários mínimos. Os novos empregos das outras três faixas salariais (de 3,01 a 5 salários mínimos; de 5,01 a 10 salários mínimos e mais de 10 salários mínimos) caíram, em termos relativos, de 2003 até, pelo menos, 2010. Estes dados estão na tabela 5 a seguir.

Tabela 4 - Criação de empregos no setor formal por faixa salarial (CAGED)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CAGED disponíveis no Anuário dos trabalhadores do DIEESE. Observação: Os dados para os anos de 2011, 2012 e 2013 não estavam disponíveis.

É interessante apontar que, se estes dados forem confrontados com a tabela 1, que compara o salário mínimo nominal com o salário mínimo necessário do DIEESE, tem-se que a maior parte dos empregos gerados foi na faixa de até três salários mínimos. Ora, como visto na tabela anterior, durante todo o período de análise, seria necessário que o salário mínimo fosse, ao

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menos, ao redor de quatro vezes maior que o nominal. Assim, conclui-se com base das informações expostas que a maior parte dos empregos criados - entre 2003 e 2010 - não atendia aos princípios constitucionais de dignidade para o trabalhador e sua família.

Apesar de não ser diretamente comparável com os dados do CAGED, a tabela 6, mostra resultados similares ao compilar dados sobre a composição ocupacional segundo faixa de remuneração das PNADs para uma série mais longa de tempo, entre 1970 e 2009. Infelizmente, a pesquisa de salário mínimo do DIEESE começou a ser feita em 1995, não possibilitando uma comparação maior da distância do mínimo nominal com o mínimo necessário. Segue a tabela.

Tabela 5 - Brasil: Evolução da composição ocupacional (1970-2013)

Fonte: Pochmann (2014): 28 a partir de dados da PNAD.

No intuito de complementar o marco analítico sobre as especificidades dos problemas de heterogeneidade estrutural de Octavio Rodríguez, Portugal (2012) analisa os padrões de emprego no Brasil compreendidos no período 1960-2009. O autor trata de temas diretamente relacionados à pobreza (a heterogeneidade e o subemprego) como "marcas das transformações da estrutura ocupacional" (IBIDEM: xi) brasileira que se perpetuam de forma distinta ao longo do tempo. A essência da heterogeneidade e do subemprego, para ele, é o padrão de absorção da população economicamente ativa em atividades de baixa produtividade84. Diante da relevância destes temas, é necessário conceituar de forma clara o que constitui então a heterogeneidade e o subemprego atualmente.

Quanto à primeira, pode-se afirmar que suas manifestações imediatas nos países periféricos continuam sendo i) os diferenciais de produtividade do trabalho85 vigentes nos setores,

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De maneira complementar à abordagem de Pinto (2000), atualmente o fenômeno se expressa mais latentemente no meio urbano e menos intesamente no meio rural, dado o longo processo de urbanização que se deu nas últimas décadas.

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Portugal (2012) define produtividade da força de trabalho como sendo a relação entre as unidades produzidas e a quantidade de mão de obra em determinado período de tempo. Segundo o autor, a produtividade do trabalho espelha a densidade das condições

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nas atividades e nos ramos econômicos da estrutura produtiva e ii) a grande parcela da força de trabalho ocupada com baixíssimos níveis de produtividade do trabalho no total da população ocupada (produtividade do trabalho entendida pela sua acepção física de quantidade produzida por unidade de trabalho, em determinado período de tempo).

O subemprego pode ter duas expressões: i) parte da força de trabalho empregada86 em determinada atividade econômica está temporariamente inativa ou ii) quando está plenamente ocupada, a produtividade da força de trabalho é muito baixa. Além disso, é peculiar ao subemprego a forte presença dentro da população ocupada e o seu caráter de longo prazo (que carrega uma permanência estrutural). Portugal (2012) destaca algumas das várias formas na qual o subemprego se metamorfoseia: desemprego disfarçado, desemprego oculto, invisível, potencial, latente etc.

A heterogeneidade estrutural pode se referir a estruturas produtivas heterogêneas e a estruturas ocupacionais não homogêneas. No primeiro caso coexistem ramos e setores de atividades de alta produtividade do trabalho87 (devido às tecnologias disponíveis) com setores e ramos de reduzida produtividade. Já a heterogeneidade ocupacional, é especificada pela simultaneidade de existência de mão de obra em situações de normal e alta produtividade (emprego) com situações de produtividade muito baixa (subemprego) por longo período de tempo, caracterizando o perfil estrutural da heterogeneidade ocupacional.

Além do nível do desemprego ser uma preocupação, sua qualidade desponta como relevante e alvo de análise. Portugal (2012) calculou a partir de dados da PNAD, para o período entre 2002 e 2009, uma estimativa para a distribuição dos tipos de emprego por setores (emprego, intermediário e subemprego). Segundo o autor, o subemprego deve ser considerado apenas dentro da parcela da população caracacterizada como população economicamente ativa tal como orientado pela OIT88. No período entre 2002 e 2009, pode-se ver que, apesar do maior dinamismo da economia, a parcela do subemprego na economia diminuiu muito pouco de 36,4% para 33,9%, respectivamente. Seus cálculos estão na tabela 7 a seguir.

da técnica do capital e, consequentemente, da densidade do capital (entendida como a relação entre volume físico de capital usado num processo produtivo e a quantidade de força de trabalho necessária para pôr esta atividade em ação).

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O conceito que Portugal trata é referente a uma parcela da população economicamente ativa (PEA).

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Portugal (2012) ressalta a importância da avaliação da evolução da produtividade do trabalho, pois o trabalho é o único insumo humano na produção. Segundo ele, a produtividade do trabalho é a medida mais reveladora do resultado do processo (produtivo) para seus participantes (trabalhadores). Por isso é "fator-chave para se avaliarem padrões de vida" (IBIDEM: 377).

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Tabela 6 - Componentes da ocupação total e setorial (%)

Fonte: Portugal (2012: 306) a partir de dados da PNAD.

Observação: Segundo o autor a metodologia é a seguinte: "– baixa produtividade (subemprego): (i) todo o contingente de emprego doméstico e não remunerados; (ii) parcela dos empregados que trabalham para os empregadores que recebem até autônomos e empregadores que recebem até dois salários mínimos; e (iii) dois salários mínimos. – média produtividade: (i) autônomos e empregadores que recebem entre dois e quatro salários mínimos; e (ii) a estimativa de empregados que trabalham para empregadores que recebem nessa faixa de renda. – alta produtividade (emprego): (i) o total do emprego público e militar; (ii) os autônomos e empregadores que recebem mais de quatro salários mínimos; (iii) o restante dos empregados" (Portugal, 2012: 306).

Portugal (2012) mostra que ambos (subemprego e heterogeneidade) perpetuam-se ao longo do tempo e persistem mesmo com a crescente produtividade do trabalho verificada recentemente. Entretanto, uma das conclusões de seu trabalho é que a despeito das transformações ocorridas desde o pós-guerra, a heterogeneidade persiste se manifestando na economia e na sociedade brasileiras através da vinculação de grande parte da força de trabalho a atividades de baixa produtividade do trabalho, significando que, em termos de padrão de vida, seja assegurado apenas o mínimo de subsistência para ela.

Em especial, no que toca ao período iniciado em 2003, o autor aponta que a recuperação, mesmo que tímida, do crescimento; do mercado interno; do poder de compra do salário mínimo; do endividamento das famílias e dos gastos sociais do governo viabilizaram que, nesta década, a taxa de expansão do emprego fosse superior a taxa de crescimento da PEA. Entretanto, o autor não questiona se tais mudanças fazem parte de um ciclo conjuntural, ao invés de uma mudança estrutural.

De acordo com Portugal (2012), o subemprego permaneceu estável entre 2002 e 2009 - na casa de 30% da PEA, quando usados dados da PNAD. Esta informação pode ser melhor considerada quando olhados os cálculos do mesmo autor para décadas anteriores89 (tendo-se o cuidado de atentar para as diferentes metodologias e fontes usadas para os cálculos). Quando olhado o intervalo de 1960-1980 pelos dados do Censo Demográfico, pode-se ver pelos dados de

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Mais uma vez, reconhece-se que foi extrapolado o período de recorte do trabalho ao apontar para estes dados de décadas anteriores. A intenção, porém, foi a de mostrar que a melhora do subemprego entre 2003-2013 é minorada quando se tem em perspectiva períodos mais longos de tempo. Não foi intenção subestimar a melhora quantitativa recente, senão que apontar que ela não foi uma melhora qualitativa e definitiva.

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Portugal que o subemprego foi reduzido de cerca de metade da população economicamente ativa para cerca de um quarto. No ano de 1991, o nível do subemprego se encontrava pior que em 1980, sobe de 27,7% para 36,2% para atingir um patamar de cerca de 30%. Os cálculos para o subemprego no período 1960-1980 encontram-se na tabela 8 e os cálculos para 1980-2000 na tabela 9.

Tabela 7 - Distribuição do subemprego, segundo critério selecionado

Fonte: Portugal (2012: 252). A partir de dados do Censo Demográfico.

Observação: O critério utilizado pelo autor foi o seguinte: "agregação do emprego doméstico, dos não remunerados, dos autônomos e empregadores até dois salários mínimos e da fração dos empregados calculada segundo a proporção dos empregadores até dois salários mínimos sobre o total dos empregadores". Portugal. 2012: 400.

Tabela 8 - Componentes da ocupação total e setorial (%)

Fonte: Portugal (2012: 279). A partir de dados do Censo Demográfico.

4 - Considerações finais

O capítulo mostrou facetas da pobreza brasileira através de algumas evidências empíricas acerca da regularidade e precariedade das relações de emprego e dos rendimentos percebidos pelo trabalhador brasileiro. Não obstante as melhoras recentes, parece ainda longínqua a afirmação de que o dilema da miséria brasileira esteja na iminência de ser superado, ao contrário do divulgado na mídia oficial e na academia de que a miséria brasileira (medida pelo critério de insuficiência de renda) teria seus dias contados em 2014.

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Um dos motivos desta afirmação é o horizonte estreito que a prioridade dada à estabilidade macroeconômica impõe ao campo social. Num contexto de mundialização financeira, de ampla difusão técnico-informacional e de terceirização dos serviços, a subserviência aos imperativos do capital financeiro internacional restringem o desenvolvimento do mercado de trabalho ao promover a flexibilização, a desregulamentação e, consequentemente, a precarização do emprego. Os impedimentos vão muito além da inibição das políticas no âmbito da seguridade social - composto pela assistência social, saúde pública e previdência social -, atingem variáveis importantes do mercado de trabalho.

Ao se estudar a regularidade da miséria no período 2003-2013, constatou-se que houve melhoras na renda do trabalho, no número de empregos formais, no subemprego etc. Entretanto estas mudanças foram circunstanciais e oscilaram ao sabor de um movimento errático do PIB, cujo desempenho foi fortemente afetado pela reestruturação produtiva em marcha na economia brasileira (reprimarização da pauta exportadora) e pela crise financeira internacional. Além disso, viu-se que esta melhora da renda do trabalho diminuiu a distância que existe entre o mínimo nominal vigente e o mínimo necessário segundo os preceitos constitucionais. Ainda assim, o debate sobre a forma de valorização do salário mínimo parece caminhar para um retrocesso, do ponto de vista dos trabalhadores, uma vez que há alguma incerteza sobre a viabilidade da regra que conduzirá a valorização do salário mínimo nos próximos anos.

Em relação ao emprego, constatou-se que o subemprego ficou num patamar estável ao longo destes últimos anos, algo em torno de 30% da população economicamente ativa, segundo os cálculos de Portugal (2012) com dados da PNAD.

No fundo, o que estes dados, sobre a regularidade da pobreza brasileira, desde uma ótica que priveligia alguns fatores do mercado de trabalho, mostram é que sua permanência não é atacada. Uma vez que os determinantes estruturais apontados no primeiro capítulo não foram superados e que, não há, nos marcos da estratégia de desenvolvimento implantada, como conciliar qualquer tentativa de homogeneização social e crescimento econômico de forma satisfatória. A razão não é simples, mas deve-se ponderar que o padrão tradicional de vida brasileiro é compatível com o de um exército de mão de obra marginalizado do mercado de trabalho, cuja arena de combate é um país de formação inconclusa e com plena vigência da dupla articulação entre segregação social e dependência externa, tal como visto na subseção crítica de neodesenvolvimentismo como farsa.

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Segundo os termos de Furtado, a modernização dos padrões de consumo impede a superação do subdesenvolvimento brasileiro, por cristalizar a segregação social90 e a dependência externa ao capital internacional.

A pesquisa empírica empreendida neste capítulo tinha o objetivo de iluminar a trajetória da miséria brasileira no período 2003-2013, a fim de se elaborar uma crítica ao debate sobre o pauperismo brasileiro. Não esteve no escopo desta reflexão apontar caminhos ou soluções para que se resolva o problema, pois isto escaparia da alçada proposta aqui. Todavia, não se desconsidera que o dilema deva ser radicalmente tratado pelos proponentes de políticas públicas e privadas que afetam o mercado de trabalho.

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III - Conclusão

Esta dissertação teve como objetivo instigar o debate sobre a pobreza no Brasil, no período entre 2003 e 2013, desde um ponto de vista específico: o estudo da qualidade dos salários e do emprego. Além disso, buscou responder as perguntas que originaram a análise, as quais podem ser resumidas da seguinte maneira: quais são os determinantes da pobreza no Brasil e qual o seu perfil, conjuntural ou estrutural?

A hipótese que permeou esta reflexão foi a de que as mudanças no quadro da pobreza brasileira no período de recorte são caracterizadas por uma certa regularidade, uma vez que constituem uma nova rodada do ciclo de modernização dos padrões de consumo. Em consequência, por mais que tenha havido melhoras no mercado de trabalho, a pobreza ainda carrega um perfil de permanência, pois seus determinantes últimos - segregação social e dependência externa - não foram superados.

Colocadas as perguntas e a hipótese do trabalho, pode-se afirmar que, em relação às indagações, os condicionantes estruturais da pobreza no Brasil devem ser apontados na forma idiossincrática em que se combinaram i) o processo histórico inacabado de formação do Brasil como nação e ii) a acumulação capitalista, a qual demanda geração de miséria a fim de produzir riqueza e, neste processo, gera uma massa excedente de trabalhadores em relação ao capital. Quanto à hipótese de trabalho, buscou-se, por via da pesquisa empírica, apontar que os indícios de melhoria na pobreza são conjunturais, relacionadas com um ciclo de modernização, iniciado em 2003, que não é auto-sustentado e nem definitivo, podendo ser revertido caso haja novas crises internacionais. No entanto, há plena consciência de que a confirmação da hipótese aqui formulada - de que o crescimento recente não altera os determinantes estruturais da pobreza - só poderá ser verificada com o passar dos anos, através do olhar retrospectivo que só a história permite. A recíproca vale também para a ideia de crescimento com homogeneidade dos social- desenvolvimentistas.

Não foi, em nenhum momento, intenção da dissertação mascarar ou acobertar as melhorias ocorridas no intervalo de recorte, assim como não se escondeu o fato de estas mudanças terem sido circunstanciais. As principais conclusões a que o estudo chegou foram: i) o rendimento recebido pela maioria da população brasileira ainda é insuficiente para a garantia de um nível de vida considerado digno, segundo os preceitos constitucionais; ii) a qualidade dos empregos que vigoram no território nacional é condizente com formas precárias de trabalho,

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representadas pelos elevados índices de sub-emprego, de informalidade e da população não- economicamente ativa.

Derivada destas duas primeiras conclusões, chegou-se a outra de caráter mais estrutural: iii) a regularidade da pobreza é determinada por seu caráter permanente, oriundo da

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