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Subjetividade na Umbanda (II)

No documento Umbanda de Nego Veio (páginas 115-152)

Na Umbanda, entendemos a Divindade e a experiência do Sagrado como estando indissociáveis do mundo no qual vivemos e nos movimentamos, não havendo uma cisão entre a realidade espiritual e a realidade dita como material. A isso relacionamos o conceito de imanência. Portanto, a realidade espiritual e divina está no mundo "material", no qual manifesta-se por diversas formas. No entanto, essa mesma imanência não se contrapõe à

transcendência, pois ao mesmo tempo em que os planos

espiritual/divino permeiam a materialidade do mundo, estes compõem uma Realidade reguladora e mantenedora deste mesmo mundo "físico", cuja sua existência dá-se somente por ser a contraparte manifesta destas realidades mais profundas.

Desta forma, a utilização da magia dentro da religião, conforme faz-se notar na Umbanda, constitui o recurso pelo qual buscamos integrar, na realidade existencial do mundo "material", o transcendente ao imanente, viabilizando que estes aspectos sejam assimilados e experienciados pela consciência de seu adepto, implicando no conhecimento gradativo da dimensão espiritual, por conta do contato com seus conteúdos

115 psíquicos inconscientes que emergem a consciência, facultando serem reelaborados, bem como pela relação com mentes extrafísicas (desencarnadas) que irá experienciar, proporcionando-lhe possibilidades de ampliar suas perspectivas e compreensões a respeito das questões existenciais, próprias ao homem religioso.

As práticas mágicas na Umbanda revelam-se de diversas maneiras, como por exemplo, pela utilização de bebidas, de tabaco, da defumação, do banho de ervas, do ponto riscado, das danças rituais, de elementos litúrgicos vários e, de maneira mais conhecida "exteriormente", pelas oferendas que são entregues ao congá ou em determinados locais do ambiente social (praias, matas, cachoeiras, cemitérios, entre outros).

A magia, dentro da religião de Umbanda, irá caracterizar- se por dois vértices que lhe dão razão de ser, ao mesmo tempo em que estão relacionados diretamente com aspectos interligados, embora aparentemente distintos, da realidade existencial, como sejam, o antropocêntrico e o

cosmológico.

Seu vértice antropocêntrico vincula-se ao cuidado de questões da necessidade humana cotidiana, geralmente as mais básicas e fundamentais, as quais exigem um tratamento e resolução dentro do momento presente, do aqui e agora.

Seu vértice cosmológico é o de relacionar o indivíduo com a Divindade, problematizando a relação homem-

116 Deus e expressando-se por ato reflexivo e interiorizado do indivíduo, o qual projeta a simbologia própria e constituinte do imaginário de nossa tradição religiosa, exercendo uma rememoração de como concebemos nossa relação com o Sagrado e como este está manifesto na realidade material.

Pelos princípios da Alta Magia de Umbanda, concebemos que há, para tudo o que existe no mundo fenomenológico (mundo material), uma contraparte etérica situada no Astral, a qual pode ser influenciada e transformada com o objetivo de promovermos a aproximação e a interligação do transcendente ao imanente (energias espirituais movimentam-se e fundem- se com elementos corpóreos), integrando-os no campo de nossa consciência, proporcionando que tenhamos experiências de contemplação do Sagrado, da realidade Espiritual.

Segundo a concepção de que existe uma essencialidade extrafísica para tudo o que há no mundo corpóreo, temos que a matéria apresenta-se no mundo sob estados característicos, os quais são manifestações de suas contrapartes localizadas nas dimensões etérica/astral. Vejamos:

Estados da Matéria: Sólido - Líquido - Gasoso

Estados Etéricos da Matéria: Éter Químico - Éter Refletor - Éter Luminoso - Éter Vital

117 Embora nossos sentidos físicos captem somente os primeiros 3 estados da matéria, suas contrapartes etéricas coexistem como estruturas sutis destes.

Quanto maior a frequência vibratória, mais sutis estas estruturas irão se tornar, passando a relacionar-se com outras dimensões extrafísicas, como sejam: dimensão etérica, astral, espiritual, divina.

Conforme explicado em artigo anterior, a mente humana é quem promoverá a coordenação da movimentação de forças que irão ser desencadeadas no processo do trabalho mágico-espiritual, sendo, portanto, por esta assimilados os resultados de seu ato petitório.

Essa explicação cabe sempre ser reforçada, pois devemos compreender que a mente está situada na dimensão superior e mais sutil, a qual subordinará as demais estruturas presentes nos elementos corpóreos e etéricos, vinculando a estes as irradiações provindas de seus pensamentos e emoções, implicando na movimentação de suas estruturas, as quais ocasionarão impactos sobre as dimensões astral/etérica, cujas energias desencadeadas serão projetadas sobre o objetivo visado. Esquematicamente temos:

Mente (emite Pensamentos e Emoções) / (que se projetam em) => Elementos materiais (que potencializados, dinamizam) => Éteres (os quais impactam no plano astral, desencadeando energias) => Ação Astro/Etérica => Objetivo Visado.

118 Em decorrência deste mecanismo, cabe esclarecer também a respeito às Leis de Sintonia, as quais determinarão o encadeamento das partes supracitadas, bem como o alcance sobre o objetivo visado. Assim, todas as partes desta cadeia deverão estar correlacionadas, identificadas, para que haja sintonia entre ambas, e as evocatórias transitem entre esta corrente.

Portanto, ao efetuar um ato magístico visando o bem- estar de uma pessoa necessitada, caso não saibamos coordenar esse processo, ou mesmo, caso a pessoa a quem se pretende auxiliar não estiver sintonizada (por meio de seu comportamento interior e desejo sincero de melhora, por exemplo), não se irá efetivar o processo de Sintonia, tornando os resultados aquém do esperado. Ainda dentro das Leis de Sintonia, consideraremos uma de suas faces, a Lei de Afinidade, segundo a qual cada intenção enunciada pelos pensamentos emitidos por cada um de nós, situa-nos na condição espiritual em que transitamos, consciencialmente, como Espíritos (pelo menos momentaneamente). Essa condição é que define- nos em nosso estágio de "evolução espiritual" em relação às demais mentes (encarnadas ou desencarnadas) com as quais estabelecemos relações.

Dessa forma, a intenção desencadeadora do processo magístico, colocará aquele que opera o ato em sintonia com entidades espirituais, cujas suas graduações e alcance espiritual estarão em razão da afinidade que guardarão com o que se pede. Desta forma, que ninguém

119 espere contar com um Nume Celestial quando seu desejo e aspiração ao realizar um trabalho mágico/espiritual é o de atrair o mal sobre o próximo, angariar condições financeiras ou sociais para as quais não se possua méritos, etc.

Somente os bons pensamentos e a conduta reta diante da Vida podem proporcionar-nos o contato e a simpatia com as Entidades Espirituais em condições de nos auxiliarem e esclarecerem-nos para o Bem.

Por último, concluiremos tratando do processo de

Reverberação, como decorrência da atuação magística.

Todas as práticas espirituais realizadas na Umbanda, essencialmente mágicas, propiciam o contato do adepto com seus conteúdos inconscientes, como se tornassem abertos os portões para esta dimensão subjetiva do ser humano, para a qual "mergulhamos" no ato do transe e das realizações de ordem ritualística.

Dessa forma, entendemos que há no íntimo de cada um de nós, assim como em tudo que nos cerca, uma realidade supra-racional, a qual define-se como estando além da razão finita de cada ser, no entanto plena de vida e ordenadora do que vivenciamos como sendo este mundo de relação, no qual estagiamos temporariamente. Sendo assim, as práticas mágicas imitam, em escala menor, o processo da Cosmogênese, a qual cremos ter sido gerada pela ação do(s) Orixá(s) sobre a matéria, manifestando-a e concentrando-a em um ponto único,

120 desencadeando o Big-Bang, do qual resultou nosso universo, suas galáxias e nosso planeta. Vemos então, a ação da Mente como instrumento da Consciência Cósmica (Orixá) na escala Universal, acionando os processos que transmutam e dinamizam os elementos materiais e sutis, repercutindo no tempo e no espaço, os quais surgem a partir daí, ocasionando a concepção do(s) universo(s) existente(s).

Como dito, em escala menor, a prática mágica irá seguir essa mesma ordenação, na qual a mente humana (encarnada ou desencarnada) desencadeará o entrelaçamento das energias nos diversos planos citados (material, etérico, astral, mental), reverberando no

Cosmo.

Isso mesmo, os atos mágicos transcendem os limites do espaço, reverberando-se no Cosmo, enquanto dure a sustentação dada pela(s) mente(s) que auto influenciam- se e projetam-se sobre os elementos corpóreos utilizados na consecução do trabalho mágico (seja uma guia, uma pemba, um ponto riscado, um patuá, uma fita, uma oferenda ritual, uma imagem, etc.).

Da mesma forma que nós, ainda na condição de Espíritos desencarnados, mesmo que de maneira inconsciente, engendramos os corpos físicos dos quais nos servimos na atual encarnação, cujas estruturas mantêm-se pelos "mapas" morfológicos pré-estruturais que trouxemos conosco, gravados em nossos corpos espirituais, sustentamos tudo ao nosso redor pela ação de nossa mente.

121 Percebamos que na prática mágica as barreiras entre o concreto e o imaterial rompem-se, restando na base do fenômeno as condições mentais que irão se colocar em ação para influenciarmos e sermos influenciados pelas forças sutis e inteligências variadas que permeiam e povoam os planos extrafísicos. Tal efeito liga-nos a mecanismos profundos de compensação e equilíbrio de forças, tornando-nos doadores e receptores de energias de diversas gradações, as quais irão influenciar nossa saúde emocional, física e mental.

Portanto, a opção pelo Bem é sempre a que irá nos proporcionar integrar em nosso patrimônio íntimo, tudo o quanto haja de pleno, felicitador e gratificante, assim como também para aqueles que comungam de nosso trabalho espiritual (como consulentes, filhos-de- santo, irmãos de corrente); conquanto a investida no

Mal irá acarretar, invariavelmente, consequências desastrosas nas vidas comprometidas em tal ato, seja daquele que pede o Mal, daquele que executa-o, daquele que lhe sirva de "médium", tanto quanto para aqueles que compartilham do ambiente (filhos-de-santo, irmãos de corrente), no qual tais práticas se fazem predominar. Saibamos então de nosso compromisso perante a Vida, sob a tutela de nossos Guias e Protetores, os quais influenciam-nos, voltando-nos para o Bem e para a Luz do esclarecimento e da ação enobrecida pelo ideal de sermos melhores a cada dia e para todo o sempre.

122

As Hierarquias na Umbanda

A Umbanda caracteriza-se como uma religião notadamente sacerdotal, dotada de ritos de iniciação e ascensão do conhecimento relativo ao universo simbólico/sagrado por parte de seu adepto, conforme este avança pela estrada espiritual, configurando-se como um praticante cada vez mais integrado às vivências dentro da tradição umbandista a que esteja vinculado por intermédio do terreiro que frequente e de seu mestre espiritual: seu pai ou mãe-de-santo.

Os sacerdotes de Umbanda (pais e mães-de-santo) detêm e legitimam os domínios do conhecimento do sagrado dentro do rito, e é por meio da transmissão feita por estes que dão-se os acessos dos filhos-de-santo aos diversos níveis da estrutura da liturgia, angariando novos saberes e ascendendo os degraus da iniciação. Desta forma, as relações hierárquicas estabelecem-se primordialmente como mecanismo de estruturação de poder a ser convertido em um saber passível de transferência por meio do processo da comunicação estabelecido entre mestre e discípulo no decorrer do tempo de vivência religiosa, na medida em que são observados o comportamento e engajamento do discípulo junto ao seu templo, à sua tradição, e principalmente no cumprimento dos papéis socioreligiosos que dele fazem-se esperados

123 conforme avança e aprofunda-se na experiência religiosa.

Assim, estão configuradas dentro do mundo de relação presente nos terreiros de Umbanda, as figuras do Pai/Mãe-de Santo, Pai-Pequeno/Mãe-Pequena, Médiuns (graduando de acordo com o nível de iniciação ritual), Cambones, Ogãs e a Assistência.

Tal ordenação implica no fato de que o adepto dos círculos espirituais umbandistas, deve dominar e compreender determinados níveis da experiência mítica e sagrada pertinente ao universo religioso em questão e submeter-se àqueles que se apresentam como pertencentes aos níveis de hierarquia mais elevados, bem como aos espíritos Guias e Protetores, objetivando fazer- se bom aluno para no futuro lograr ser, de igual forma, um bom mestre.

O Pai-Pequeno e a Mãe-Pequena representam a extensão da influência espiritual/social do Pai/Mãe-de-Santo sobre todos no terreiro, devendo por isso corresponder-lhe afirmativamente quanto às expectativas pertinentes ao seu papel, primeiramente pelo exemplo de compromisso e responsabilidade, zelando pela boa preparação e disciplina do corpo de médiuns, a boa orientação dos médiuns novos, a contribuição na transmissão do conhecimento simbólico/espiritual e também das informações organizacionais referentes ao templo.

Aos médiuns já iniciados, cumpre seguir as determinações de ordem espiritual e social transmitidas

124 pela direção do templo e aplicar-se na prática da experiência religiosa, mediante o trabalho com seus Guias para que possa evoluir no domínio de sua função mediúnica, cumprindo seus deveres de preparação ritualística e espiritual, bem como adquirir cada vez mais ciência a respeito dos ritos praticados dentro e fora do templo, o cronograma destes ritos, os trabalhos de caráter especial/iniciáticos, aliados a conhecimentos sólidos e bem estruturados acerca de sua religião e de seu mediunismo. Tudo isso para que possam tornarem-se adeptos conscientes e críticos em torno de sua religiosidade, além de suficientemente esclarecidos a respeito dos fundamentos de sua prática religiosa.

Já aos Cambonos (Cambones) cumpre o

acompanhamento das entidades espirituais ao longo dos trabalhos, fornecendo aos médiuns o suporte necessário, também no que se refira aos objetos que estes necessitem utilizar no decurso do trabalho espiritual, a observação atenta da assistência a fim de zelar pela tranquilidade dos trabalhos e pela orientação daqueles que adentram à casa pela primeira vez, ou que vejam-se tomados pelo fenômeno do transe em meio ao trabalho (estando na assistência), a coleta de cartas e bilhetes redigidos pelos assistidos (solicitando atendimento de suas necessidades, pedidos de oração, etc.).

“Quanto mais as pessoas sobem os degraus de uma evolução espiritual nos níveis da hierarquia mediúnica, mais se submetem às regras do desempenho de seus papéis e mais interiorizam as crenças pertinentes ao seu

125 O desenvolvimento mediúnico permite uma assimilação das linguagens rituais e seu executar ao longo da prática umbandista, cujo seu aprofundamento e integração no psiquismo do médium, permitem-no uma cada vez mais afetiva e segura incorporação – a firmeza do médium -, fazendo com que esteja cada vez mais em evidência perante o dirigente/sacerdote do terreiro, e possa aos poucos ganhar o seu “consentimento para que represente a experiência simbólica das entidades” (Victoriano, 2005) perante o próximo, contribuindo no atendimento e participação na "linha de passe", na presença ativa nos ritos de tratamento espiritual, nos ritos de iniciação, entre outros.

A própria subordinação do adepto às normas sócio administrativas que regulam as atividades do terreiro (em seu aspecto social e colaborativo) também define-se como caráter estabelecido da relação de respeito hierárquico, na qual cada um concorre para a manutenção do templo, zelando pela sua integridade financeira (de maneira que este possa arcar com seus custos fixos para manter-se em atividade ao longo do tempo), assim como adaptando-se às regras de convivência social dentro do templo (dias e horários a serem obedecidos, roupas que deverão ou não ser utilizadas dentro do templo, modos de falar e se comportar, etc.).

As hierarquias presentes na Umbanda também verificam- se nas relações do mundo espiritual, no qual estão estabelecidas as formas de relação e subordinação dos Guias e Protetores trabalhadores de determinado templo aos Espíritos que se afigurem como os Dirigentes

126 daquele núcleo religioso. Por tanto, seguimos os princípios de ascensão espiritual no tempo como atributo principal de sustentação dos ritos e da raiz da tradição seguida por cada templo, de maneira a perpetuar e intensificar as noções de identidade espiritual do rito e, consequentemente, de seus adeptos, vinculando-nos a todos numa mesma dimensão consciencial de entendimento da Vida e da realidade espiritual, portanto, numa mesma egrégora.

Assim é que as estruturações de relação entre os indivíduos dentro do rito correspondem a obediência de uma ordenação originalmente estabelecida na dimensão espiritual, e suas inter-relações dimensionais dão-se na medida em que, como discípulos, saibamos comportarmo-nos como tal, assim como aquele que se faz mestre também guardará uma atitude correspondente ao seu papel.

A troca simbólica efetuada na vivência espiritual entre os adeptos umbandistas, e destes para com seus pais e mães- de-santo, fortalecem a dinâmica dos trabalhos efetuados em favor de todos, estreitando os elos entre a Corrente Mediúnica do Terreiro com a Corrente Astral de Umbanda, com a qual aprendemos a nos ligar e identificar, finalizando por mitificá-la em nosso campo psíquico, servindo a multiplicidade de seres do mundo espiritual, advindos deste mundo mítico e transcendente, os quais acessam nosso campo mediúnico, como fatores de integração psicológica e fortalecimento da noção de identidade profunda e espiritual de que todos somos dotados.

127 Colhemos, pela diversidade de componentes e níveis de manifestação da realidade espiritual expressa pela Umbanda, vários momentos de felicidade e profundas experiências mediúnico/espirituais, das quais guardamos lembranças e convicções íntimas da imortalidade do espírito e da beleza que se revestem os planos de Aruanda, os quais podemos constatar durante os trabalhos de ordem espiritual, ressignificando nosso existir e agradecendo sempre por sermos discípulos de tão grandiosa trilha de luz em mais esta encarnação, pois aprendemos cada vez mais a rogar a cobertura de nossos ancestrais, guardar carinho pelos nossos pais/mães- espirituais, irmãos mais velhos de santo e assegurar o respeito mais profundo pelos irmãos mais novos.

Por isso, peço a benção aos mais velhos e dirijo meu respeito aos mais novos...

128

A

Prática

Oracular

na

Umbanda

Oráculo define a prática divinatória (de adivinhação) concebida por vários povos ao longo do tempo, como meio de comunicação com a Divindade. Pelo Oráculo podia-se compreender a vontade dos deuses, predizer as alegrias e tristezas reservadas a uma pessoa, bem como fatos importantes para todo um povo. Nas culturas egípcia, persa, judaica, chinesa, grega, nórdica, iorubá, etc., encontramos sistemas oraculares com a finalidade de consolidar essa ligação do homem com o divino. Assim, oráculo passou a ser o termo que designa: a) A pessoa capaz de fazer predições;

b) O local onde tais predições ocorrem (um templo religioso, por exemplo);

c) Os métodos utilizados para a obtenção da predição (jogos e sistemas divinatórios).

No meio umbandista iremos encontrar determinadas formas de práticas oraculares. Embora estas não sejam de propriedade da Umbanda, uma vez que não as criou, tais práticas encontram-se inseridas em vários templos umbandistas e acabaram por incorporar-se aos sistemas de crença de seus adeptos.

129 Cremos que os sistemas oraculares mais comuns à Umbanda são: Jogo dos Búzios, Jogo de Otás, Opelê

Ifá, Cartomancia, Vidência na Água (Copo de Vidência) e as consultas espirituais com os Guias e Protetores.

Não iremos aqui entrar em detalhes a respeito de como processam-se os ritos e a esquematização destas práticas, tão pouco por quais signos representativos dão-se as interpretações e suas consequentes predições.

Nossa intenção é a de refletir a respeito dos sentidos psicológicos e espirituais que envolvem estes sistemas oraculares e como estes compõem recursos de auxílio para o entendimento da subjetividade humana e suas perspectivas diante de questões existenciais fundamentais, como sejam as relações dialéticas entre

Livre-Arbítrio e Destino.

Até que ponto os caminhos da vida de uma pessoa estão sujeitas a estas duas Leis Espirituais, tão intrigantes e tão debatidas ao longo dos séculos pelas mais diversas filosofias e religiões?

Será que os rumos da vida do homem encontram-se totalmente estabelecidos antes de seu nascimento e vinculados à Suprema Vontade Divina?

Ou, ao contrário, seria a capacidade de discernir e optar (Livre-Arbítrio), próprias a cada ser humano, os atributos preponderantes para que cada homem, a seu turno, atinja sua condição de felicidade ou desdita?

130 Bem, primeiramente, para que possamos adentrar à questão de como os sistemas oraculares relacionam-se com pontos de crença aparentemente divergentes, precisamos entender como a prática divinatória contempla, em seus métodos diversos, uma visão profunda e abrangente a respeito.

Em decorrência da influência cultural africana - neste

No documento Umbanda de Nego Veio (páginas 115-152)

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