• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III: ANÁLISE DAS DISSERTAÇÕES

3.3. Análise dos temas das dissertações

3.3.3 Tema: Contexto das ações afirmativas (histórico, político, econômico,

3.3.3.3 Subtema: mídia e discurso sobre ações afirmativas

A mídia é um importante espaço de poder, debate e mediações de conflitos. Costuma definir os assuntos sobre os quais as pessoas conversam dentro de casa, nas reuniões sociais, no ponto de ônibus e no trabalho. Em outras palavras, a mídia tem o poder de selecionar e hierarquizar temas, definindo prioridades. É nesse contexto que identificamos o subtema “mídia e discurso” reconhecendo que a imprensa tem uma responsabilidade social muito grande na configuração da agenda de debates de uma sociedade. O papel da mídia na sociedade não seria somente informar, mas também definir os temas a serem discutidos, expondo ideias e formando opiniões. Ou seja, a parcela de colaboração da mídia na construção e formação política e cultural da sociedade é significativa, já que pode alcançar a maioria.

Identificamos quatro dissertações que abordam o subtema “Mídia e discurso sobre ações afirmativas” como um dos principais focos de análise nas dissertações. Nessas dissertações identificamos também outros subtemas que contextualizam as ações afirmativas no Brasil como a desigualdade racial e educacional, construção da identidade negra, a sub- representação do negro e outros.

A mestre Santos (2005)58 analisa o discurso da mídia sobre ações afirmativas no período de 1995-2002, por meio de dois jornais e duas revistas de grande circulação. Na dissertação, utiliza uma pesquisa documental, com análise de conteúdo. A mestre considera que a questão racial adquiriu centralidade no contexto brasileiro com o advento das mobilizações em torno das políticas públicas específicas de ação afirmativa. Com isso, a imprensa tem se colocado como uma esfera de abordagem da ação afirmativa e de suas vertentes. A noção de raça como força motivadora dos pensamentos e comportamentos das pessoas enquanto sociedade explica a centralidade do tema relações étnico-raciais. Algumas perspectivas como a crença relativa à raça que predominam no debate figuram como importantes instrumentos de perpetuação das ideias geradas por uma noção de supremacia da raça branca sobre a raça negra. Nesse contexto a pesquisadora analisa como a cobertura da mídia jornalística impressa aborda e discute a temática referente à proposta de políticas públicas específicas para a população negra.

A mestre P. Medeiros (2008)59 analisa sociologicamente as repercussões no campo jurídico brasileiro, motivadas pela adoção das ações afirmativas na educação superior voltadas para a população negra, como mencionamos anteriormente.

A implantação do sistema de cotas raciais nas universidades públicas, para a autora, desencadeou o início de uma disputa jurídica entre o Estado, as instituições de educação superior (IES) e os indivíduos que se sentiram prejudicados pela adoção de ações afirmativas para ingresso na educação superior. Os questionamentos contra as cotas (raciais, sociais, escola pública) trouxeram para a agenda nacional a possibilidade de rever os princípios democráticos liberais e os mecanismos de justiça social utilizados no país, tendo em vista que as ações afirmativas envolvem um novo tipo de direito e outra percepção do Estado por parte da sociedade. O estudo relata os principais argumentos colocados por alunos, representantes das universidades e desembargadores nas disputas judiciais que surgiram com a adoção de ação afirmativa na educação superior, numa transição da esfera política para a jurídica. Essas ações impulsionaram parte do discurso da mídia sobre ações afirmativas.

A mestre Moya (2009)60 analisou sociologicamente como a mídia impressa veiculou o atual debate sobre as relações raciais brasileiras, impulsionada pelas ações afirmativas com critério racial. Na dissertação, utiliza uma pesquisa documental, com análise de conteúdo. A pesquisadora considera que a formação do Estado brasileiro foi marcada por um processo de racialização como consequência da experiência de ter sido colonizado. Esse processo resultou em desigualdades estruturais entre a população branca e a população negra. A autora ressalta que o debate acerca das perspectivas teórico-políticas que devem conduzir as propostas e práticas voltadas pra corrigir essas desigualdades giram em torno de duas perspectivas distintas: uma concepção de cunho universalista que entende a desigualdade na perspectiva econômica e outra que a compreende como resultado de um processo de racialização. A mestre analisou duas revistas e dois jornais de circulação nacional, tendo em vista o alto grau formador de opinião de massa desses veículos de informação. A dissertação desenvolve ainda os subtemas “efeitos do racismo”, “construção da identidade” e “mídia e discurso sobre ações afirmativas”. Desenvolve ainda o tema “Contexto das Ações Afirmativas”

59Raça e Estado Democrático: O debate sóciojuridico acerca das políticas de ação afirmativa no

Brasil/UFSCar/2009.

60

Ação afirmativa e raça no Brasil: uma análise de enquadramento midiático do debate político contemporâneo sobre a redefinição simbólica da nação/UFSCar/2009.

A mestre Lima (2007)61, por meio de leitura crítica, aborda dois discursos políticos referentes às ações afirmativas com cotas raciais e seus lugares de emissão. Sua dissertação buscou desconstruir o discurso sobre as ações afirmativas em dois livros (dos autores Peter Fry e Ali Kamel) que tiveram repercussão no debate sobre a questão. O debate público e intenso veiculado pela mídia alcançou atenção e inspirou posicionamentos de intelectuais e da sociedade em geral. A autora entende que as opiniões dos autores analisados são políticas e que recuperam um discurso hegemônico da identidade nacional e da democracia racial. São discursos pontuados por expressões como “privilégios odiosos” ao se referirem as cotas para negros e “racismo às avessas” sobre o critério racial nas ações afirmativas nas universidades, fazendo inferências sobre a responsabilidade social dos mesmos e questionando o caráter tendenciosamente racista dos autores. A dissertação desenvolve também o tema “contextos das ações afirmativas” e o subtema “mídia e discurso sobre ações afirmativas”.