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CAPÍTULO III: ANÁLISE DAS DISSERTAÇÕES

3.3. Análise dos temas das dissertações

3.3.4 Tema: Trajetória de Vida (familiar, profissional, educacional e acadêmica)

3.3.4.3 Subtema: programa de permanência dos cotistas

Viabilizar a permanência dos alunos cotistas é um dos entraves para que a política de ações afirmativas com cotas raciais se configure como instrumento não só de ingresso, mas principalmente de conclusão dos cursos nas universidades federais, embora cotas e estratégias de permanência façam parte de uma mesma política pública. Identificamos o tema da permanência dos cotistas em quatro dissertações, em duas delas como assunto principal e em duas como assunto secundário.

A mestre Luiz (2010)69, considerando o grau de importância dos programas voltados para a permanência, analisa aspectos do programa Brasil Afroatitude, já mencionado. A pesquisadora ressalta que a assinatura do programa foi viabilizada pelo corpo técnico com gestores especialistas na problemática racial brasileira. Entre os vários objetivos do programa, destaca o fortalecimento do protagonismo juvenil negro. Oficialmente, o programa foi extinto

em 2007, mas continuou em outros pólos que conseguiram financiamento direto nas universidades. A pesquisa traz o programa como potencializador de transformação e de inserção dos alunos cotistas, tendo estes como sujeitos da pesquisa.

O estudo da mestre abrange alunos que ingressaram no primeiro vestibular com cotas da UnB e remeteu também à construção de uma identidade negra ao elencar como ganho simbólico o aumento da autoestima, em função do processo de construção e fortalecimento de uma identidade negra mais positiva. A pesquisadora considera que o aumento da autoestima é fundamental do ponto de vista da aceitação da negritude que envolve aspectos da saúde física e mental. Esse ganho simbólico também está amparado pela promoção da autonomia e emancipação dos alunos por meio da bolsa auxílio e de uma qualificação profissional diferenciada com a iniciação científica, contribuindo na construção positiva de si mesmo. A dissertação ainda desenvolve alguns subtemas como “construção da identidade”, e os temas “Aspectos jurídicos das ações afirmativas” e “Trajetória de vida” como assuntos secundários.

A mestre Silva (2008) localizou o Programa Ações Afirmativas na UFMG, e o escolheu por ser um programa declaradamente de ação afirmativa. Este programa integrou o conjunto dos 27 projetos aprovados no Concurso Nacional Cor no Ensino Superior, promovido pelo Programa Políticas da Cor na Educação Brasileira (PPCor), do Laboratório de Políticas Públicas da UERJ, com apoio da Fundação Ford, no ano de 2001. A primeira iniciativa do PPCor foi o Concurso Cor no Ensino Superior, resultado da parceria com a Fundação Ford, que permitiu o apoio e acompanhamento de projetos destinados a promover e ampliar as possibilidades de acesso e permanência de estudantes negros/as no ensino universitário, sendo o Ações Afirmativas um dos projetos selecionados pelo PPCor na sua primeira edição.

O programa da UFMG subvencionado pelo PPCor , nos seus dois primeiros anos , foi uma proposta que apresentava estratégias de intervenção com vistas a reduzir os efeitos antidemocráticos dos processos de seleção e exclusão social impostos aos afro-brasileiros e a promover a permanência bem sucedida de estudantes negros (as), sobretudo os (as) de baixa- renda regularmente matriculados (as) nos cursos de graduação da UFMG; visando também a entrada destes (as) nos cursos de pós-graduação. O programa permaneceu durante dois anos vinculado a esse concurso e posteriormente evoluiu para a condição de um programa de extensão, ensino e pesquisa, passando a contar com várias parcerias que fizeram dele uma das

experiências mais regulares de permanência de estudantes negros (as) no ensino superior brasileiro (FONSECA, 2007).

Este programa se estrutura a partir de duas linhas de ação. A primeira envolve atividades que visam apoiar os (as) estudantes beneficiários (as) do programa, tanto do ponto de vista acadêmico, quanto material, objetivando ainda sua entrada na pós-graduação. A segunda volta-se para o desenvolvimento de sua identidade racial, a partir de debates, no interior da universidade, acerca da questão racial na sociedade brasileira e do envolvimento dos (as) alunos (as) em atividades de ensino, pesquisa e extensão. Apresenta ainda uma possibilidade de qualificar a trajetória de alunos negros e carentes (a partir de critérios sócio- econômicos) na UFMG, se caracterizando como um programa voltado para a permanência do (a) aluno (a) negro (a) na universidade.

A mestre Teive (2006)70 desenvolve como um dos questionamentos do estudo a permanência dos cotistas na UnB. Na pesquisa, utiliza a análise de conteúdo, análise de documentos e entrevista semiestruturada, tendo como objetivo perceber a relação dos alunos cotistas do grupo em estudo com a comunidade acadêmica e a UnB.

Os alunos beneficiários do Programa Afroatitude colocaram suas percepções sobre as cotas raciais e as possibilidades de permanência destes. O programa é uma parceria entre a universidade e o programa nacional de DST/AIDS do Ministério da Saúde, conforme já mencionamos. Segundo a autora, iniciou-se no segundo semestre de 2004, com o ingresso dos primeiros cotistas e instituído em janeiro de 2006 pelo professor doutor Mário Ângelo.

Entre os critérios para o ingresso no Programa, é necessário ser cotista e estar incluído nos grupos de baixa renda 1 ou 2 (classificação da diretoria de desenvolvimento social). Acontecem reuniões semanais, atividades temáticas e acompanhamento por meio dos projetos de pesquisa desenvolvidos.

A autora assegura que o programa de permanência é indispensável para garantir que os cotistas concluam os cursos superiores nas universidades, considerando que são classificados, em sua maioria, como baixa renda. Na dissertação, desenvolve ainda os subtemas “construção da identidade” e “permanência dos cotistas” que estão inseridos no Tema” Trajetória de vida”.

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A política de cotas na Universidade de Brasília: desafios para as ações afirmativas e combate às desigualdades raciais/UnB/2006.