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VI. Discussão

6.6. Sugestões de Futuros Estudos

O estudo do sono providencia uma excelente oportunidade para estudar o desenvolvimento psicológico, sócio-cultural, biológico e relacional (Anders et al., 1992). Neste sentido, além das sugestões previamente referidas, importa salientar que os hábitos e comportamentos de sono bem como a privação deste são frequentes no nosso país, em cerca de 10% das crianças (p.e. Silva et al., 2013a). Na nossa amostra, 22,4% das mães referem problemas de sono. Contudo, estes são culturalmente aceites por uma grande parte dos pais.

Neste sentido, se por um lado se sabe que os problemas de sono têm consequências no comportamento diurno, uma vez que correspondem a um aumento da sonolência diurna, com potencial repercussão na regulação emocional, no comportamento e na aprendizagem (p.e. Anderson & Platten, 2011; Silva et al., 2013a). Por outro, a literatura demonstra na idade pré- escolar são frequentes as dificuldades relacionais pois esta é uma idade em que surge o alargamento das relações sociais (p.e. Cicchetti et al., 1990). Desta forma, em estudos posteriores, será igualmente pertinente avaliar de que forma a sonolência diurna interfere nas competências sócio-emocionais e comportamentais, utilizando por exemplo a Escala de Competência Social e de Avaliação do Comportamento-SCBE (LaFreniere & Dumas, 1996), tal como o estudo de Vaughn et al. (2011), utilizando as medidas de relatos maternos comparando-as com a actigrafia, método por eles utilizado.

Seria interessante também compreender a comorbilidade com outras problemáticas do desenvolvimento infantil em amostras clínicas como a hiperactividade e problemas de comportamento de internalização e externalização, uma vez que os problemas de sono apesar de se saberem estar relacionados, são negligenciados (p.e. Maldonado‐Durán et al., 2003; Fauman, 2002; Schreck, 2011; American Psychiatric Association, 2013).

A qualidade das representações internas da vinculação das crianças conduz a que apresentem comportamentos distintos, tendo em conta a sua segurança. Neste sentido, seria pertinente investigação em Portugal com amostras clínicas onde seria expectável um maior número de crianças com vinculações inseguras, de forma a realizar um estudo comparativo entre os inseguros-resistentes/ambivalentes que tendem a amplificar os comportamentos de

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vinculação pelo que são percebidos pelas mães como tendo menor qualidade de sono comparativamente com os seguros e os inseguros-evitantes que parecem ter problemas de sono visíveis através do actígrafo mas não os sinalizam (p.e. Cassidy & Berlin, 1994; Morrel & Steele, 2003; Simard et al., 2013) o que poderá conduzir aos enviesamentos maternos previamente referidos (Sadeh, 2010).

Como referido anteriormente, outra sugestão está relacionada com o compreender de que forma a vinculação materna poderá interferir no relato dos problemas de sono, uma vez que por vezes são os pais que têm medo do escuro e utilizam os filhos como antidepressivo, para salvaguardar o seu próprio narcisismo (Ferreira, 2002). Também Bowlby (1993) enuncia que as crianças podem aprender por observação dos comportamentos dos pais. Desta forma, seria pertinente compreender eventuais factores mediadores entre este modelo interno dinâmico e o modelo interno dinâmico dos filhos de forma a conhecer fenómenos como a transgeracionalidade que poderão ser importantes para a concepção teórica e compreensão clínica da psicopatologia infantil, nomeadamente relativamente aos problemas de sono em populações clínicas. Para mais informação sobre esta temática, o leitor poderá consultar o anexo 2, referente à transição para a parentalidade, nomeadamente, a adaptação ao papel parental e o re(visitar) o passado e a tarefa da parentalidade bem como no sono e vinculação a perspectiva parental relativamente às interacções nocturnas e comportamento parental.

Por outro lado, nenhum estudo conhecido até ao momento integrou a vinculação e os relatos paternos dos problemas de sono nestas idades e poucos têm sido os que o integram nas investigações dos problemas de sono com a vinculação nas idades mais precoces (p.e. Zentall et al., 2012), sendo a maioria destes estudos relacionados com os factores familiares e não com a vinculação (p.e. Thome & Skuladottir, 2005; Sadeh et al., 2010; Keller & Sheikh, 2011), pelo que também se elucida a importância deste cuidador (p.e. Ainsworth, 1979; Bowlby, 1990; Cicchetti et al., 1990; Grossman et al., 2006), sendo que as crianças podem estabelecer uma relação segura com um dos pais e ansiosa com outros (p.e. Waters, 1983) e o pai também pode ter um papel importante (Bowlby, 1990), tendo impacto no comportamento e auto-regulação da criança, considerando-se estes factores preditivos dos problemas de sono (Keller & El-Sheikh, 2011; Zentall et al., 2012).

De acordo com a literatura mais actual acerca da temática do sono nas crianças, outra proposta seria avaliar a ansiedade de separação que poderá ser uma variável que interfere nos problemas de sono em crianças do pré-escolar (p.e. Alfano, Ginsburg & Kingery, 2007; Chase

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& Pincus, 2011). Alguns autores ainda a relacionam com a instabilidade do casal que causa preocupações à criança que se revertem no sono (p.e. Davies & Cummings, 1994; Schlarb, Schneider, In-Albon & Hautzinger, 2015).

Por fim, em relação à presença de irmãos, poderemos ponderar acerca da rivalidade fraterna poder interferir nos problemas de sono, numa tentativa de chamar à atenção parental (p.e. Pereira, 2011, American Psychiatric Association, 2013; Pereira & Lopes, 2013). Contudo, na nossa amostra, apenas uma das crianças não tinha irmão pelo que não foi possível desenvolver um estudo comparativo entre as crianças com e sem irmãos. Sendo para tal relevante em futuras investigações esta comparação, integrando também a idade das crianças pois quanto mais recentemente existe a presença de irmãos, mais facilmente existe rivalidade fraterna (Baydar, Hyle & Brooks-Gunn, 1997; Kramer & Blank, 2005). Bowlby (1990) também enuncia a ideia de que a presença de uma criança mais nova suscita comportamentos de vinculação e regressões na criança mais velha no sentido de incentivar a atenção e receptividade.

Um estudo longitudinal seria igualmente pertinente uma vez que poderíamos confirmar empiricamente a não interferência de factores maturacionais bem como fazer relações causais e elaborar estudos comparativos antes e depois de uma intervenção clínica no sentido de melhorar o conhecimento teórico dos pais acerca dos problemas de sono e da sensibilização para a diferença entre a dependência e a insegurança da presença parental.