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5. As teias narrativas e a veridicção de cada sujeito

5.3 Sujeito: Ozymandias

Destinador: Senso de heroísmo (megalomania)

Manipulação: por sedução, para se igualar a Alexandre o Grande Antissujeito: Guerra Nuclear, Rorschach

Adjuvantes: Dr. Manhattan Objeto-valor: paz mundial

Sanção postiva: fim da guerra fria e paz mundial

Adrian Veidt foi o único dos vigilantes que revelou sua identidade depois que a Lei Keene proibiu que o combate extraoficial ao crime continuasse. O antigo Ozymandias ganhou muito dinheiro com as empresas que fundou a partir de então e se tornou um ​self-made man admirado por sua sensibilidade, humanismo e sofisticação. Tudo, no entanto, sempre fez parte de um plano concebido nos tempos em que ainda era um herói que prendia os bandidos das ruas. Esse combate ao crime passou a ser considerado por ele como homeopático e ineficiente, já que a escalada armamentista mostrava que a ameaça tomava proporções cada vez maiores. Ele decidiu, então, atacar o sistema, com um plano que destruiria a maior cidade dos Estados Unidos para implantar nos governos um temor tão grande que os uniria como humanos ameaçados por uma força externa.

O destinador de Ozymandias, no entanto, seu senso de heroismo, não usa da intimidação para manipulá-lo, e sim da sedução. Seu objetivo é igualar o feito de Alexandre, O Grande, de “unificar o mundo”. O vigilante crê que, só ele, o homem mais inteligente do mundo, possui o poder que Alexandre e os faraós possuíram de executar um plano tão grandioso, mas, para provar-se do mesmo nível que seu ídolo, seria preciso concluí-lo.

Seu objeto-valor, “um mundo forte e adorável”, no entanto, dependia de um programa de uso: matar três milhões de pessoas em uma tragédia de proporções nunca vistas. Para isso, ele conclui outros programas de uso: mata o Comediante, quando ele descobre seus planos, afasta Manhattan da Terra, já que o onipotente poderia impedi-lo, e arma a prisão de Rorschach, que começa a incomodar com sua investigação - além de pagar um assassino para tentar matar a si próprio, para ficar acima de qualquer suspeita.

Figura 44: (MOORE; GIBBONS, 2011, p. 371) - Revestido das cores de Manhattan (azul), que semissimbolicamente representam a superioridade em relação aos demais personagens e a divindade, Ozymandias confessa a morte do Comediante e afirma que se baseou em Alexandre.

Ao saber que os heróis, no entanto, conseguiram ir à Karnak para tentar impedi-lo, ele não hesita e executa o plano. Com um botão, mata a Grande Maçã, e espera os heróis que planejam impedi-lo. Exaltando seu brilhantismo, conta toda a trama para eles depois de tê-los derrotado em combate, e os surpreende: “Eu não sou um vilão de filmes antigos. Eu o coloquei em ação há 35 minutos atrás”. A partir daí, sua performance final é a de convencer os heróis: se eles o desmascaram, está encerrada a paz pela qual três milhões morreram.

Dr. Manhattan se torna seu adjuvante ao matar Rorschach, quando ele decide revelar a história. Novamente nessa postura de adjuvante, Manhattan ouve de Ozymandias seu último questionamento: “No fim, eu agi corretamente?”. O herói azul responde que não há fim e vai embora. Ozymandias termina sozinho, sancionado pela paz que construiu, mas revelando culpa. “Alguém tinha que assumir o fardo desse crime hediondo e necessário”. A sanção, apesar de tudo, é o que ele sempre quis: megalomaníaca. Ele era o responsável pelo maior feito da história - carregaria a maior culpa e ostentaria a maior conquista.

Figura 45: (MOORE; GIBBONS, 2011, p. 407) - Ozymandias questiona a Manhattan se ele compreende seus atos e conta ter pesadelos que remetem à história do Cargueiro Negro.

Secretamente, no entanto, a narrativa aponta para a possibilidade de Ozymandias estar condenado à danação. Antes de Manhattan ir embora, Veidt revela que sonhava nadar em direção a um terrível… (MOORE, 2011, p.407) e não completa. A declaração faz referência aos Contos do Cargueiro Negro, história em quadrinho que um personagem secundário lê durante parte de

Watchmen

​ . No enredo da HQ de piratas - mania entre os jovens da história com a perda de

legitimidade e admiração pelos super-heróis - um personagem desesperado por salvar sua família comete atrocidades para conseguir voltar para casa, mas, chega tão desfigurado pelo ódio, que mata sua própria mulher e termina nadando em direção a um navio demoníaco que carregava as almas condenadas.

Figurativamente diferentes, as duas histórias têm o mesmo programa de uso de fazer sacrifício moral em nome de um programa de base eufórico, como “a paz mundial” para Ozymandias ou “salvar a família” para o pirata. Os temas da violência e da brutalidade são figurativizados de um lado pelo genocídio, e do outro por um rastro de violação de cadáveres e homicídios. O pirata, no entanto, é sancionado negativamente: mata sua própria esposa e termina

carregado pelo navio das almas flageladas. Já Ozymandias parece gozar da paz megalomaníaca que almejava, até a sugestão apresentada quando ele comenta o sonho. ​Watchmen deixa em aberto a possibilidade de uma sanção negativa aguardá-lo no futuro.

Figura 46: (MOORE; GIBBONS, 2011, p. 359) - Fim dos Contos do Cargueiro Negro, que é contado em quadros alternados com os da história principal e termina no capítulo em que Ozymandias mata a população de Nova York. As falas do homem condenado são diferenciadas

das demais pelas categorias eidéticas (quadradas e “rasgadas”) e cromáticas (cor de papiro).

5.3.1 - Modalidades Veridictórias:

5.3.1.1 - Coruja e Espectral

Parecem ter o mesmo objeto-valor que ele, já que, apesar de lutarem contra seus planos inicialmente, Ozymandias planeja tudo contando que eles serão convencidos e ficarão sem opção. Portanto:​ PARECEM E SÃO: Verdade.

Coruja parece pouco ser aliado de Ozymandias, pois, apesar de o bilionário não se preocupar e tramar algum plano para impedi-lo, ele desvenda que Ozymandias é o responsável

pela trama, vai à Karnak e luta com ele. Ao descobrir que o plano já tinha sido executado, Coruja é convencido pelos argumentos e até tenta convencer Rorschach. Portanto: ​Coruja parece pouco um aliado, mas é mais que Espectral.

Espectral também parece pouco ser aliada de Ozymandias. Após testemunhar a catástrofe em Nova York, ela tenta matar o bilionário com um tiro. Apesar disso, ela não era vista como ameaça, já que ele não tinha preparado um plano para tirá-la de seu caminho, como fez com Manhattan e Rorschach. Quando a consequência das mortes em Nova York é revelada, com a obtenção da paz mundial, Espectral só se conforma quando percebe que está sem saída, e chega a reagir dizendo que Ozymandias não sairia impune. Portanto: ​Espectral parece pouco ser aliada, e até é​.

5.3.1.2 -​ ​Dr. Manhattan

Não parece ter o mesmo objeto-valor que ele inicialmente, já que Ozymandias trama que ele se afaste da Terra para não impedi-lo. No entanto, tem, já que é convencido pela “lógica perfeita” do plano. Portanto: ​NÃO PARECE, MAS É: Segredo.

Dr. Manhattan não parece ser aliado de Ozymandias, tanto que o bilionário o afasta da Terra para que ele não interrompa seus planos. A estratégia usada para isso é bolada durante anos, em um plano custoso que mata três pessoas queridas para o onipotente. Ao chegar à Karnak, Manhattan persegue Ozymandias, mas classifica sua lógica como “perfeita” ao ver que a Guerra Fria tinha acabado. Para proteger esse resultado, ele inclusive mata Rorschach, que planejava revelar a verdade. Portanto: ​Manhattan não parece nada, mas é exatamente​.

5.3.1.3 - Rorschach

Não parece ter o mesmo objetivo que ele inicialmente, já que Ozymandias trama sua prisão para tirá-lo da investigação. E, de fato, não tem, uma vez que se nega a aceitar a paz mundial para preservar o genocida. Portanto: ​NÃO PARECE E NÃO É: Falsidade.

Rorschach não parece ser um aliado de Ozymandias, mas, diferentemente de Manhattan, o mascarado só é tirado do caminho ao longo do percurso quando Ozymandias percebe que sua investigação sobre a morte do Comediante poderia trazer algum incoveninente. Quando é revelado que o plano trouxe a paz, Rorschach decide não negociar e denunciar, e Manhattan o mata. Portanto, ​Rorschach não parece nada um aliado, e não é de forma alguma.

Em resumo:

● Rorschach: não parece nada um aliado, e não é de forma alguma: Falsidade → Implicação com impacto X;

● Coruja: parece pouco um aliado, e até é (menos que Manhattan): Verdade → Implicação com impacto X;

● Dr. Manhattan: não parece nada ser aliado, mas é exatamente:

Segredo → Concessão com impacto X+5;

● Espectral: parece pouco aliada, e até é: Verdade → Implicação com impacto X

Portanto, em ordem crescente: Dr. Manhattan parece menos aliado que Rorschach, que parece menos aliado que Espectral e Coruja. Já no eixo da imanência, Dr. Manhattan é mais aliado que Coruja, que é mais aliado que Espectral, que é mais aliada que Rorschach.

Figura 47: Esquema de Ozymandias. Legenda: COR (Coruja); ESP (Espectral); MAN (Manhattan); ROR (Rorschach)

5.4 Sujeito: Coruja

Destinador: senso de heroísmo

Manipulação: por intimidação, para evitar o fim do mundo Antissujeito: Guerra Nuclear

Adjuvantes: Ozymandias Objeto-valor: paz mundial

Entre todos os personagens de ​Watchmen

​ , Coruja, ou Daniel Dreinberg, talvez seja o que

guarda as motivações mais ingênuas: fã de quadrinhos de super-heróis e dos Homens-minuto

(geração de heróis anterior à dele), ele sempre sonhou em ser um mascarado combatente do

crime, e usou a herança do pai para realizar esse sonho. Conforme vê os antigos heróis terminarem suas vidas de forma humilhante e os atuais se

corromperem pelo poder, a paranoia ou a violência, ele fica frustrado com o papel dos heróis, e o

golpe de misericórdia em sua autoestima é a Lei Keene, exigida pela população como forma de

deter os vigilantes. Ele se aposenta e passa a viver da herança do pai, compartilhando suas

memórias com Hollis Mason, o antigo Coruja, que agora tinha uma oficina mecânica e lançara

uma biografia comprometedora sobre os heróis. Rorschach, seu antigo parceiro, vai até ele para avisar sobre suas suspeitas de que um

assassino mataria todos os vigilantes, e, aos poucos, Daniel vai se convencendo de que, se não é

essa, alguma outra trama maior está por trás dos acontecimentos. Ele desvenda a

responsabilidade de Ozymandias, e parte para a Karnak para tentar impedir a Guerra Nuclear a

tempo. Chegando lá, cumpre seu papel de herói: luta contra um vilão. Mas se vê perdido quando

o vilão declara que a luta acabou antes de começar: Nova York já estava destruída. O objeto-valor de Daniel, no entanto, estava garantido pelo plano de Ozymandias, já que

o fim da Guerra Fria implicava um mundo seguro da ameaça nuclear. Quem parecia o

antissujeito, então, revela-se um adjuvante. Desse modo, mesmo aterrorizado com o custo dessa

paz, Coruja a aceita. Ao lado de Espectral, ele decide abandonar sua antiga identidade e

constituir uma família, e os dois terminam a história cogitando virar uma dupla de super-heróis. 5.4.1 - Modalidades Veridictórias: 5.4.1.1 - Rorschach Parece ter o mesmo objetivo que ele, já que ambos vão juntos enfrentar Ozymandias para

impedir o desastre. No entanto, não tem, já que se recusa a preservar a paz mundial para punir Ozymandias e revelar a verdade. Portanto: ​PARECE, MAS NÃO É: Mentira.

Rorschach parece muito ser aliado de Coruja. Ambos desvendam juntos a trama e Coruja faz uma operação de salvamento para retirá-lo da prisão. Os dois vão juntos à Karnak, e, quando a paz mundial é revelada, Coruja tenta convencer Rorschach a negociar, sem sucesso. Portanto, Rorschach parece muito aliado de Coruja, e quase é​.

5.4.1.2 - Espectral e Dr. Manhattan

Parecem ter o mesmo objetivo que ele, já que lutam contra Ozymandias, e têm, já que aceitam a paz proposta por ele. Portanto: ​PARECEM E SÃO: Verdade.

Espectral também parece muito ser aliada de Coruja. Os dois resgatam Rorschach juntos e ela vai até Manhattan convencê-lo a ajudar os dois mascarados. Espectral também enfrenta Ozymandias enquanto ele ainda parecia o antissujeito, e, quando ela é ferida em combate, ele se revolta. Quando é revelado o plano, os dois terminam juntos e inconformados com a situação em que são colocados. Portanto: ​Espectral parece muito aliada de Coruja, e é exatamente.

Manhattan, por sua indiferença, é visto com incredulidade por Coruja, apesar de a chegada dele parecer um trunfo contra Ozymandias. Quando ele chega à mesma conclusão, também tenta convencer Rorschach, mas decide matá-lo quando ele não recua, sem que Coruja testemunhasse a cena. Portanto: ​Manhattan se parece pouco um aliado, e até é​.

5.4.1.3 - Ozymandias:

Não parece ter o mesmo objetivo que ele, já que trama a morte de milhões de pessoas, mas tem, pois seu programa de base era construir a paz mundial, acabando com a Guerra Fria. Portanto: ​NÃO PARECE, MAS É: Segredo. ​Ozymandias não parece nada um aliado para Coruja, mas até é, já que seu plano cumpre o papel de impedir a guerra nuclear.

Em resumo:

● Rorschach: parece muito aliado, mas quase é: Mentira → Concessão com impacto X+3

● Dr. Manhattan: parece pouco aliado, e até é: Verdade → Implicação com impacto X

● Ozymandias: não parece aliado de forma alguma, mas até é: Segredo → Concessão com impacto X+3

● Espectral: parece muito aliada, e é exatamente: Verdade → Implicação com impacto X

Portanto, Espectral e Rorschach parecem mais aliados que Manhattan, que parece mais que Ozymandias. Já no eixo da imanência (SER X NÃO SER), Espectral é mais aliada que Manhattan, que é mais aliado que Ozymandias, que é mais aliado que Rorschach.

Figura 48: Esquema de Coruja. Legenda: ESP (Espectral); MAN (Manhattan); OZY (Ozymandias); ROR (Rorschach).

5.5 Sujeito: Espectral

Destinador: senso de heroísmo (herança materna)

Manipulação: por intimidação, para evitar o fim do mundo Antissujeito: Guerra Nuclear

Adjuvantes: Dr. Manhattan, Coruja e Ozymandias Objeto-valor: paz mundial

Sanção positiva: vive em paz

Espectral é a única mulher entre os personagens principais de​Watchmen

​ . O caminho que

a leva ao heroísmo se dá pelo exemplo da mãe, que era a antiga Espectral, personagem que

representa a hipersexualização da mulher nas histórias em quadrinho de heróis. Com roupas

justas, couro e decote, sua mãe era alvo da tara de homens e recebia cartas obscenas com

frequência, tratando-as com orgulho e cinismo, ao contrário da filha, que considerava abusos

nojentos. No tempo em que era heroína, a mãe de Espectral foi estuprada pelo Comediante, com

quem, apesar disso, ela teve uma relação consensual que gerou a personagem. Criada em meio a

memória de heróis, ela se junta aos outros já aos 17 anos. Seduzida por Dr. Manhattan, ela se casa ainda jovem, e, quando a lei proíbe que os

mascarados combatam o crime, passa a morar com o marido em uma base militar, onde ele

cooperava com os Estados Unidos na corrida armamentista. Apesar de aparentemente não sentir

falta das ruas, a clausura passa a incomodá-la, e, quando Rorschach é preso por engano, ela é

convencida por Coruja a voltar à ação. Os dois já estavam se envolvendo e engatam um caso.

Nessa parte da história ela já está divorciada, mas tem que recorrer novamente ao ex-marido

quando descobre que a trama pode levar a uma guerra nuclear. Por ser onipotente, Manhattan, em tese, poderia impedir uma tragédia, mas seu afastamento da Terra colocava todos em perigo.

Com o objeto-valor paz mudial, Espectral vai a Marte em busca da ajuda de Manhattan, um programa de uso fundamental para seu percurso narrativo. O medo a manipula por intimidação, e, nesse percurso, inicia-se uma narrativa paralela para ela: o ex-marido revela ter descoberto que o Comediante era seu pai, o que manipula Espectral a buscar um entendimento com a mãe sobre essa questão, já que - acredita a heroína - ela devia guardar muita angústia por ter sido violentada e, mesmo assim, tido um filho com esse homem. A revelação (concessão) choca a heróina e quase a tira do rumo, mas ela cumpre o programa de uso e transforma Manhattan em adjuvante.

Figura 49: (MOORE; GIBBONS, 2011. p. 387) - Tragédia em Nova York escandaliza Espectral. Ao chegar à Terra, na cidade de Nova York, outro choque: tudo já estava em ruínas e todos já estavam mortos. O assomo causado pela cena transtorna Espectral, enquanto Manhattan é indiferente e começa a conjecturar sobre o que poderia ter acontecido. Nessa cena, é confirmado o distanciamento afetivo que o ex-marido da heróina já tinha da humanidade.

Os dois vão para a base Karnak, e, diante do plano de Ozymandias e do convencimento de Manhattan e Coruja, ela se conforma e continua a tentar apreender o golpe de ser surpreendida pelo genocídio. Diante da desolação, se une a Daniel e implora que eles simplesmente sejam felizes, porque nada mais parecia importar em um mundo tão cruel.

Sua história é concluída quando ela se acerta com a mãe e conta que havia descoberto o estupro. Ela a perdoa por nunca ter sabido da história e forma uma família com Daniel, ambos com novas identidades. Em seu percurso narrativo, portanto, ela é sancionada positivamente duas vezes: primeiro, por, apesar de tudo, o mundo ficar em paz, e segundo, por ter um diálogo aberto e reconciliador com sua mãe sobre seu pai. Sem que ela saiba, no entanto, é revelado que sua mãe ainda amava o Comediante, e que isso ainda a fazia sofrer, mais um fato que corrobora a visão questionadora do maniqueismo em​Wachtmen

​ , que, mesmo quando sugere a solução de um

problema, ela nunca se dá de forma plena, e obrigatoriamente impõe alguma dose de resignação.

5.5.1 - Modalidades Veridictórias

5.5.1.1 - Ozymandias: ​Não parece ter o mesmo objetivo que ela, já que trama a morte de milhões de pessoas, mas tem, pois seu programa de base era construir a paz mundial, acabando com a Guerra Fria. Portanto: ​NÃO PARECE, MAS É: Segredo

Ozymandias não parece nada ter o mesmo objetivo que Espectral. A heroína é brutalmente afetada por testemunhar a cena do genocídio em Nova York, a ponto de ser a única a tentar, de fato, matar o bilionário. Quando ele revela que a paz mundial foi obtida, ela insiste na punição, mas desiste quando vê que Manhattan e Coruja foram persuadidos. Assim como Rorschach, ela tem muita dificuldade em aceitar que Ozymandias, no fim das contas, deveria ser

protegido, mas, diferentemente do mascarado, se resigna e fica do lado do “vilão”. Portanto, Ozymandias não parece nada ser seu aliado, mas até é.

5.5.1.2 - Coruja e Dr. Manhattan:

Parecem ter o mesmo objetivo que ela, já que lutam contra Ozymandias, e têm, já que aceitam a paz proposta por ele. Portanto: ​PARECEM E SÃO: Verdade.

Coruja, no entanto, é seu principal aliado. Ela recorre a ele quando se divorcia de Manhattan, tem um caso com ele após o fim do casamento e, junto dele, resgata Rorschach da prisão. Após a revelação aterradora de que não poderiam fazer nada contra Ozymandias, é ele quem a acolhe, e é a ele que pede que sejam felizes, porque nada mais importava. Portanto, Coruja parece muito seu aliado, e é exatamente.

Manhattan dá a Espectral muito trabalho para ser convencido. Mesmo em Marte e mesmo depois de ouvir a súplica da ex-mulher para que interviesse em favor da humanidade, o onipotente se mostra indiferente. Somente quando se dá conta do quanto os seres humanos são únicos ele volta atrás e decide ajudá-la. Manhattan parece pouco ser aliado de Espectral, e é, já que concorda com a preservação da paz. Portanto: ​Manhattan parece pouco ser aliado, e até é​.

5.5.1.3 - Rorscharch

Parece ter o mesmo objetivo que ela, já que enfrenta Ozymandias para impedir o desastre. No entanto, não tem, já que se recusa a preservar a paz mundial para punir Ozymandias e revelar a verdade. Portanto: ​PARECE, MAS NÃO É: Mentira

Rorschach parece ser seu aliado, pois ela vai resgatá-lo na cadeia e combate Ozymandias ao seu lado. Apesar de manifestar repulsa pelas preferências políticas do mascarado, ele é o único que reage com indignação pela impunidade de Ozymandias. Apesar disso, os dois ficam em lados opostos, já que ela se conforma. Portanto: ​Rorschach pouco parece seu aliado, mas quase é.

Em resumo:

● Rorschach: parece pouco seu aliado, mas quase é: Mentira → Concessão com impacto X+1

● Coruja: parece muito aliado, e é exatamente: Verdade → Implicação com impacto X

● Ozymandias: não parece nada aliado, mas até é: Segredo → Concessão com impacto X+3

● Dr. Manhattan: Parece muito aliado, e até é: Verdade → Implicação com impacto X+2

Portanto, Coruja e Manhattan parecem mais seus aliados que Rorschach, enquanto Ozymandias não parece nada. Já no eixo da imanência (SER X NÃO SER), Coruja é mais seu aliado que Manhattan, que é mais que Ozymandias, enquanto Rorschach quase é.

6. Conclusão

Figura 51: (MOORE; GIBBONS, 2011, p. 407) - ​No fim? Nada chega ao fim, Adrian. Nada. Da melancólica paleta de cores às cascatas de referências históricas, uma análise de

Watchmen poderia jamais encontrar um fim se não mantivesse claro seu objetivo e recorte. Neste trabalho, a leitura semiótica de um objeto de 450 páginas tão ricas se propôs a testar um encaminhamento teórico tensivo em que as modalidades veridictórias ganham maior fôlego na discussão de gradações complexas. Para verificar uma aplicação dessa proposta, considerou-se mais adequado dissecar os modos como ​Wacthmen desconstrói o maniqueísmo, embaralhando papéis costumeiramente tão demarcados como os de herói e vilão.

No início desse trabalho, a soma das perspectivas de diferentes autores permitiu apontar

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