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1 A AGROINDÚSTRIA DE FRANGOS E A PARCERIA COM A

1.6 SUJEITOS ENVOLVIDOS NO DESENVOLVIMENTO: TEORIA

DA TRÍPLICE HÉLICE2

Considerando-se a transição da sociedade industrial para a sociedade do conhecimento, tem-se que a sociedade atual caracteriza-se pela predominância da informação e do conhecimento, valorizando a sua gestão e o envolvimento do Estado com o setor produtivo e a universidade. A abordagem da tríplice hélice desenvolvida por Henry Etzkowitz, situa a inovação num contexto em movimento, em evolução, onde novas relações se estabelecem entre as três esferas institucionais (hélices) universidade, indústria e governo. Para o autor, a interação entre universidade, indústria e governo é a chave para a inovação e o

crescimento em uma economia baseada no conhecimento

(ETZKOWITZ, 2009).

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O tópico 1.5 desta dissertação foi construído em conjunto com a mestranda Cristiani Fontanela, sob orientação do Prof. Dr. Luiz Otávio Pimentel, e também integra seu texto dissertativo.

A tríplice hélice caracteriza-se como um modelo evolutivo do conceito das Parcerias Público-Privadas (PPPs). O modelo das PPPs baseia-se em atividades conjuntas do poder público e da iniciativa privada. A hélice tríplice acrescenta a universidade como ator desse processo para fortalecer o incremento do conhecimento e da inovação nos projetos de interesse social.

O alcance do progresso técnico exige práticas de cooperação dos atores da denominada hélice tríplice, para contribuir no processo de geração, manutenção e difusão de informações, uma vez que as inovações são indispensáveis para a manutenção e o aumento da competitividade das empresas. Elas decorrem do bom funcionamento de redes e do sistema de inovação nacional (ABDALLA, 2009).

A proposta da tríplice hélice, onde governo, universidade e empresa se unem em busca do desenvolvimento tecnológico nacional tem sido amplamente utilizado para incentivar a universidade a cooperar com o setor privado. A importância da pesquisa universitária justifica-se porque, neste ambiente existem pesquisadores capazes de conceber tecnologias, em seus centros de P&D, que as tornem competitivas, trazendo benefícios duradouros para o setor privado (DAGNINO, 2003). No quadro 2 podem ser analisadas as responsabilidades e limitações dos participantes da hélice tríplice:

Ator Responsabilidades Limitações

Governo 1. Promover o

desenvolvimento

econômico e social através de novas estruturas organizacionais;

2. Possuir planos políticos com metas governamentais claras voltadas para a inovação e conhecimento; 3. Interagir entre as diversas esferas políticas; 4. Promover benefícios à população. 1. Burocratização excessiva e falta de flexibilização para implementação de projetos em parceria; 2. Necessidade de gerenciamento público profissional e participativo.

Iniciativa Privada 1. Desenvolver produtos e serviços inovadores; 2. Promover a interação com os centros de transferência de tecnologia 1. Pouca capacidade de investimentos em inovação e desenvolvimento de tecnologias;

da comunidade científica; 3. Liderar os processos de mudança. 2. Despreparo acadêmico e tecnológico para a condução de pesquisas.

Universidade 1. Criar fontes de novos

conhecimentos e

tecnologias;

2. Estabelecer relações com as empresas e os governos; 3. Criar novas áreas de atuação;

4. Liderar os processos de mudança.

1. Dependência de órgãos de fomento para realização de pesquisa; 2. Visão míope de capacitação profissional e formação de mão-de- obra;

3. Vínculos fracos com a sociedade e com a iniciativa privada.

Quadro 2: Responsabilidades e limitações dos participantes da hélice tríplice. Fonte: Abdalla (2009, p. 8).

Através da tríplice hélice os atores interagem com o objetivo comum de fomentar processos de inovação, garantindo maior competitividade para o setor privado, bem como o desenvolvimento social e econômico do país. Nota-se que as universidades têm ampliado suas relações com as empresas e os governos, com a criação de novas áreas de atuação.

Verificado que é insuficiente o aporte de recursos financeiros para o desenvolvimento econômico e social do país advindo apenas dos governos, torna-se necessário equilibrar esta participação com os outros atores da hélice, é preciso integrá-los. Essa integração propicia aos atores envolvidos a compreensão da importância dos resultados que podem ser obtidos com suas parcerias.

Quanto à universidade, tem-se que, por meio desta parceria pode- se realizar melhor a função de pensar o mundo e o país, abrindo suas portas para as demandas da sociedade e do desenvolvimento. A partir daí, vem naturalmente as formas de interação com a iniciativa privada e o governo para a realização de seus projetos. Com o benefício óbvio de evoluir para um novo modelo de financiamento, já que o antigo (financiamento integral pelo Governo, no caso das universidades públicas) deixou de existir (VELLOSO, 2011).

Assim, o ponto inicial é o reconhecimento de que, enquanto a empresa desempenha papel fundamental no processo de inovação, pois é ela que tem a percepção dos bens e serviços a serem produzidos, a

universidade, como centro de conhecimento e pesquisa, assume papel cada vez mais importante no desenvolvimento e os dois atores só tem a ganhar com esta parceria. Na estratégia, existem opções e oportunidades para cada uma das instituições (VELLOSO, 2011).

Desta forma, a iniciativa privada começa vislumbrar a possibilidade de modificar suas estratégias até então adotadas, consistente na compra de tecnologias internacionais, substituindo este posicionamento ao constatar a possibilidade de desenvolvimento de tecnologias em parceria com as universidades brasileiras.

As empresas já reconhecem a necessidade e a importância da inovação, uma vez que o mercado lhe exige uma diversificada gama de novos produtos diferenciados. Neste momento, inserem-se os mecanismos de transferência de conhecimento e tecnologia das universidades (incubadoras de empresas, clusters, patentes).

A tríplice hélice representa um novo modelo para a gestão do conhecimento e da tecnologia, baseado na parceria entre governo, iniciativa privada e universidade, resultando em ganhos recíprocos. Esta interação impulsiona o crescimento dos países, na medida em que cada ator assume o seu compromisso, contribuindo para a evolução social. Para este fim, torna-se imprescindível a criação de departamentos que tratem especificamente sobre a transferência de tecnologia, como será visto no tópico a seguir.