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Os participantes da pesquisa foram divididos em dois grupos: O primeiro é formado por nove sujeitos afásicos participantes do Grupo 3 do Centro de Convivência de Afásicos, com diferentes tipos de afasias, faixas etárias (apesar de ainda ser predominante a idade acima de 60 anos), diferentes níveis de escolarização e práticas de letramento; diversos interesses e, ainda, com diferentes relações com sua condição de sujeito afásico. Os indivíduos são referidos na tese por duas iniciais maiúsculas, a fim de garantir o sigilo sobre suas identidades.

77 De acordo com determinação da CEP, foram formulados dois TCLEs: um voltado para sujeitos afásicos e um para não-afásicos.

O segundo grupo foi formado por sujeitos não-afásicos, alunos de graduação e de pós- graduação da Unicamp, que participaram voluntariamente da pesquisa em dois momentos: i) em uma atividade de associação de palavras realizada on-line e ii) na adaptação de um experimento proposto por Dubois (1983). Os sujeitos deste são referidos por números, a fim de garantir o sigilo das suas identidades.

3.5.1 Grupo de sujeitos afásicos  Sujeito MG

MG tinha 58 anos de idade à época do experimento. Casado, pai de duas filhas, com Ensino Superior completo em Administração de Empresas, trabalhou no setor de informática da Unicamp até se aposentar, o que ocorreu logo após o AVC isquêmico no lobo frontal esquerdo. Suas queixas relacionavam-se ao “ajuste fino” (sic) da linguagem. Reportava como principal queixa a dificuldade de encontrar palavras e costumava dar muitas pistas sobre suas dificuldades e também sobre como as enfrentava e resolvia. Falante do inglês, também recorria a essa língua eventualmente, quando lhe faltava a palavra.

Participou do CCA de agosto de 2010 a dezembro de 2016, falecendo no início de 2017. MG era um dos sujeitos que mais interagia durante as sessões coletivas do CCA, inclusive devido a sua maior fluência. Gostava de ler, principalmente revistas e sites de informática. Utilizava-se, também, de redes sociais para manter contato com os amigos, a família e os pesquisadores do CCA. MG leu todas as palavras nos cartões dos experimentos do MQE.

 Sujeito JM

JM é um senhor afásico com 72 anos de idade à época da pesquisa. Casado, pai de quatro filhos e com Ensino Fundamental completo. Trabalhou na área metalúrgica até sua aposentadoria, após AVC isquêmico em agosto de 2008. Como consequência do episódio, apresenta hemiparesia78 à direita e uma afasia que pode ser caracterizada como não-fluente. Sua

afasia é marcada, sobretudo, pela dificuldade para encontrar palavras e pela produção de

78 O termo hemiparesia refere-se à paralisia parcial ou à diminuição da força em metade da cara, no braço e na perna de um mesmo lado do corpo. Ela pode estar associada à hemiplegia, que é a paralisia de todo um lado do corpo (http://conceito.de/hemiparesia).

parafasias predominantemente semânticas, em enunciados marcados por longas pausas e perseverações79. JM frequentou o CCA de outubro de 2008 a dezembro de 2015.

JM apresenta comprometimento da região têmporo-parietal esquerda, com apagamento de sulcos corticais. Antes do episódio neurológico, JM – segundo seus relatos – não era muito ligado à leitura, mas “gostava muito de falar e de cantar” (sic). Foi, inclusive, membro de uma dupla sertaneja durante sua juventude.

Relata grandes dificuldades de leitura, apesar de ter lido palavras do experimento e enunciados curtos, com ajuda da pesquisadora. Recorre, em muitos momentos, a enunciados não-verbais, principalmente gestos de natureza dêitica, ao longo dos episódios dialógicos.

 Sujeito AC

Senhor afásico de 81 anos à época do experimento. Casado, pai de 2 filhos e com ensino fundamental completo. Era pedreiro e, após o episódio neurológico, passou a trabalhar como calheiro. Sofreu um AVC isquêmico frontal esquerdo, em março de 2010. Sua afasia pode ser caracterizada como fluente, com dificuldades de encontrar palavras, com produção de parafasias semânticas e dificuldades de natureza pragmática. Não apresenta quadro de hemiparesia associado.

Uma das principais atividades recentes de AC é o trabalho de artesanato com madeira, facilitado pela sua experiência de calheiro. Tem preferência por esculturas de animais. Iniciou essa atividade no CCA, a partir da confecção de mosaicos. Frequenta o CCA desde 2009. AC leu todos os cartões do experimento com ajuda da interlocutora.

 Sujeito BS

Jovem afásico de 28 anos de idade, solteiro, com Ensino Superior incompleto. Cursava a faculdade de Logística quando sofreu AVC isquêmico na região cerebral média esquerda e no território profundo da artéria cerebral anterior esquerda. Apresentava, ao início do quadro, fala com características telegráficas e dificuldades de encontrar palavras, com produção de parafasias fonológicas e semânticas. Apresenta dificuldades na leitura e na escrita, com paralexias recorrentes.

79 O termo perseveração refere-se à repetição constante de uma mesma palavra (ou gesto). Trata-se de uma repetição incontrolável de uma resposta anteriormente correta e apropriada, mas que entretanto se tornou incorreta e inapropriada (https://www.infopedia.pt/dicionarios/termos-medicos/perseveracao).

BS gosta muito de ler e diz que passa o dia no computador – tanto para ouvir músicas e ler jornais, quanto para se comunicar com outras pessoas e jogar on line. Participa do CCA desde agosto de 2014 e podemos perceber melhora significativa tanto em sua fala quanto na leitura e escrita, desde então. Leu todos os cartões do experimento, sem dificuldades.

 Sujeito SR

SR é um senhor afásico de 65 anos. Casado, pai de quatro filhos, com Ensino Fundamental completo e aposentado. Trabalhou como coordenador técnico-mecânico. Em 2006, SR sofreu um AVC isquêmico, com posterior transformação hemorrágica, tendo como consequência uma afasia mista, com lesão na região têmporo-occipital e frontal80, envolvendo

predominantemente a expressão, com a presença de disartria. SR tem também um quadro psiquiátrico anterior ao AVC.

Segundo SR, ele lê com frequência – jornais e a Bíblia e, em geral, é quem relata as principais notícias durante a sessão do CCA. Antes do episódio neurológico, SR também participava muito de eventos da igreja, assumindo papel de destaque em sua comunidade. Frequenta o CCA desde setembro de 2006. SR leu, sem dificuldades, todos os cartões do experimento.

 Sujeito MA

Senhora de 67 anos, viúva, mãe de 4 filhos. Era artística plástica (pintora), com Ensino Médio completo. MA apresentou AVC isquêmico em agosto de 2008, com consequente afasia de expressão, com mobilidade e atenção reduzidas. Algumas características de sua afasia são: dificuldades de encontrar palavras, dificuldade em iniciar enunciados (sua habilidade melhora quando lhe é dado um prompting). Também refere dificuldades de leitura, apesar de conseguir ler palavras e enunciados curtos. Participa do CCA desde 2009. Leu com dificuldade os cartões do experimento, provavelmente devido a sua baixa atenção.

 Sujeito TR

Senhora de 63 anos, casada e mãe de uma filha, com Ensino Médio completo. Trabalhou como auxiliar de enfermagem até o momento do AVC isquêmico, que sofreu em 1998, com lesão na região parietal esquerda, que se estende até o lobo frontal81, resultando em hemiparesia

e dificuldades de linguagem compatíveis com o chamado “agramatismo”. Relata dificuldades de reconhecimento de letras e, consequentemente, de realizar atividades com a leitura e a escrita. Antes do AVCi, TR escrevia apenas bilhetes e listas de compras. Também não costumava ler, optando por assistir programas de televisão. TR frequenta o CCA desde 2010 e apresenta, desde então, melhora na seleção de palavras e maior produção lexical, mas não consegue produzir verbos e palavras funcionais. Seus enunciados podem ser caracterizados como telegráficos.

TR não conseguiu ler as palavras nos cartões do experimento. A interlocutora precisou ler pelo menos duas vezes cada palavra do experimento.

 Sujeito SS

Trata-se de uma jovem senhora afásica, com 45 anos de idade. Casada, é mãe de três filhos. Tem Ensino Médio completo e trabalhava com o marido na administração de uma oficina mecânica. SS sofreu um AVC isquêmico na região fronto-parieto-occipital esquerdo. Sua afasia pode ser classificada como não-fluente, com dificuldade de leitura e escrita e compreensão relativamente comprometida. Sua fala é marcada por esteriotipias verbais: “seu, seu”, “isso, isso”, “aqui, aqui”. Segundo ela, não tinha, antes do AVC, muita proximidade com a leitura.

Apesar de toda a dificuldade de produção, SS consegue narrar fatos cotidianos com a linguagem não-verbal, sobretudo composta por gestos, recurso alternativo que desenvolveu ao longo do trabalho no CCA.

SS, além de não conseguir ler os cartões do experimento, demonstrou não haver compreendido a atividade.

 Sujeito AL

Senhor afásico de 70 anos, com Ensino Médio completo. Casado, pai de dois filhos. Trabalhava como corretor imobiliário quando sofreu um AVC hemorrágico em região têmporo- parietal.

Embora o laudo médico refira “afasia de expressão com leve dificuldade de compreensão”82, o trabalho realizado por Fugiwara (2013) sobre este sujeito relata que sua

compreensão é bastante comprometida. Seu quadro inicial era o de uma jargonafasia, tendo evoluído para uma afasia não-fluente, com enunciados bastante reduzidos, o que dificulta muito a resolução de tarefas metalinguísticas, como as previstas nesta pesquisa.

AL não foi capaz de ler as palavras dos cartões, mesmo com a ajuda da interlocutora.