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Antes de chegar às escolas acima apresentadas e, sobretudo, de ter acesso às diferentes pessoas com as quais conversei, fez-se necessário estabelecer os encaminhamentos do trabalho, no que diz respeito à definição do grupo, por mim considerado, sujeitos da pesquisa.

Os critérios elencados para a definição do grupo foram: (i) ensinar em escolas públicas municipais de Garanhuns, nos anos iniciais do ensino fundamental; (ii) possuir formação universitária, preferencialmente no curso de Pedagogia ou em outro curso de licenciatura que não fosse História. Com tais critérios buscava compor um grupo de sujeitos da pesquisa que não se diferenciasse da realidade da maioria do quadro de professores do município quanto à sua formação inicial. Isso não significa dizer que esse critério apontava para uma ideia de generalização do trabalho realizado pelo grupo, ao contrário, evitou comparações no grupo, justificadas pelo critério da formação inicial, indicando que as análises alcançadas, posteriormente, diriam respeito às diferenças e singularidades manifestas individual e coletivamente e que apenas seriam generalizáveis pelo olhar da verossimilhança.

Para entrar em contato com as escolas primeiro visitei a Secretaria de Educação do Município, onde apresentei os objetivos e os procedimentos a ser utilizados nas escolas e junto aos professores para que não houvesse qualquer restrição à realização da pesquisa por parte do órgão administrativo central. Nesta visita obtive informações relacionadas à quantidade, localização, organização, estrutura e funcionamento das

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escolas. Os gestores educacionais receberam bem a proposta de realização da pesquisa.

Em seguida, optei por aplicar um questionário (APÊNDICE I) que foi entregue aos professores, em suas escolas, pelos supervisores da Secretaria e depois recolhidos e a mim entregue. Esse instrumento solicitava informações de diferentes naturezas: dados pessoais, formação escolar, atuação profissional, além dos aspectos socioculturais expressos por perguntas acerca dos hábitos de leitura, do acesso e uso dos meios tecnológicos, das atividades religiosas e de lazer, entre outras.

O objetivo era conhecer o perfil sócio profissional e cultural do quadro docente e de posse dessas informações cotejá-las com as características das escolas obtidas na Secretaria de Educação, para definir aquelas a ser visitadas a fim de apresentar a pesquisa. Predominantemente, essa definição ocorreu de acordo com os elementos característicos das escolas, como: atendimento do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental, funcionamento das turmas nos períodos manhã e tarde e localização em diferentes bairros da cidade. A princípio foram escolhidas seis escolas, em três bairros diferentes, sendo duas em cada um deles, tendo em vista a logística quanto aos horários das aulas, para realizar a observação. No primeiro contato, tornaram-se de fato, os elementos definidores desta seleção, o acolhimento do trabalho pela gestão escolar e a adesão de cada professora. Assim, das escolas selecionadas permaneceram quatro, em dois bairros diferentes, uma vez que duas desistiram no segundo contato por motivos de afastamento e mudanças das professoras que se dispuseram a participar do trabalho.

Ao questionar-me sobre os critérios e procedimentos para a seleção dos sujeitos da pesquisa tinha dois cuidados fundamentais: primeiro, estabelecer um contato que me permitisse, ainda que de maneira incipiente, conhecer a pessoa, sua disponibilidade e adesão à pesquisa, respeitando qualquer tipo de resistência ou constrangimento; segundo, não olhar o grupo como um somatório de indivíduos, que forma isoladamente um determinado grupo, definido exclusivamente por elementos profissionais comuns, tampouco deixar que suas individualidades não permitissem vê-los como sujeitos em relação com outros, que compõem uma configuração maior a partir de traços

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identitários. A respeito das formas como pensamos a relação individuo-sociedade, Elias (1994a, p.35), nos chama a atenção para o conceito de rede e sugere que pensemos no próprio objeto do qual deriva: a rede de tecido:

Nessa rede, muitos fios isolados ligam-se uns aos outros. No entanto, nem a totalidade da rede nem a forma assumida por cada um de seus fios podem ser compreendidas em termos de um único fio, ou mesmo de todos eles, isoladamente considerados; a rede só é compreensível em termos da maneira como eles se ligam, de sua relação recíproca. (...) No entanto essa rede nada é além de uma ligação de fios individuais; e, no interior do todo, cada fio continua a constituir uma unidade em si; tem uma posição e uma forma singulares dentro dele.

São quatro mulheres, os sujeitos da minha pesquisa. Professoras de três gerações diferentes, com faixa etária entre 27 e 50 anos, trabalham em diferentes escolas municipais da cidade de Garanhuns e municípios circunvizinhos.11

No início da pesquisa elas não se conheciam. Abriram as portas das suas salas de aula, diria mesmo que abriram muitos outros espaços deixando à mostra suas experiências pessoal e coletiva. Também disponibilizaram seu tempo para muito além da entrevista que realizamos e das aulas que observei, pois não foram poucas as conversas informais nos intervalos das aulas, no lanche na sala dos professores, no pátio e na saída das escolas. Colocaram-se sempre à disposição para os diferentes momentos do trabalho, como nos encontros do grupo focal, embora, não tenha sido fácil conciliar um horário comum para quatro mulheres que trabalhavam dois expedientes em diferentes locais. Essa dificuldade reiterava o comprometimento do grupo e o interesse pelo trabalho, porque embora tenhamos desmarcado e remarcado algumas vezes estes encontros, por diferentes motivos, não houve desistência na participação, bem como externavam o pesar com os imprevistos enfrentados no decorrer da pesquisa.

Essas mulheres, professoras, contaram-me suas histórias, deram-me acesso as suas práticas e rotinas, expuseram-me seus propósitos, dividiram comigo suas

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As histórias de cada professora: seus percursos formativos e atuação profissional compõem o próximo capítulo deste trabalho.

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dificuldades e compartilharam seus sonhos. E só diante deste grupo pude mensurar o quanto é difícil a elaboração de critérios que têm por finalidade selecionar pessoas com as quais vamos também dividir nossos fazeres, saberes e sonhos. Passei a questionar com quantas outras pessoas deixei de viver essa experiência, de perscrutar e compartilhar; quantas escolas não frequentei, furtando-me a conhecer tantas outras histórias.

Cada professora, sujeito desta pesquisa e todas elas em conjunto compõem com suas tramas as tessituras desta colcha. Tais tessituras constituem-se pelas formas, sentidos e movimentos das tramas tecidas, individual e coletivamente. E para que essas tramas assumissem contornos mais claros, ainda que com desenhos provisoriamente acabados, o trabalho da agulha-pesquisadora foi realizado por meios e modos específicos para alinhavar retalho a retalho e assim também, tornar-se parte do trabalho de tecer.