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ANEXOS E APÊNDICES

3. SUMÁRIO

A Enfermagem tem evoluído a nível do conhecimento científico, tecnológico e da filosofia de cuidados, acompanhando as mudanças ocorridas na sociedade. Adquirimos conhecimentos necessários ao exercício da prática e, através da demonstração deste saber próprio, afirmamos a nossa identidade no seio da comunidade. É unânime o reconhecimento da importância da investigação para o desenvolvimento da profissão e para a prestação de cuidados de enfermagem de qualidade, contudo, tal não é possível se não se consolidar os conhecimentos e demonstrar os fundamentos sobre os quais se estabelece a nossa prática (Martins, 2008).

Neste âmbito, surge o projeto inserido na Unidade Curricular de Opção II, do 7º Curso de Mestrado em Enfermagem na Área de Especialização em Enfermagem de Reabilitação, como etapa preliminar para a obtenção do grau de Enfermeiro Especialista de Enfermagem de Reabilitação.

O projeto em epígrafe tem como finalidade o desenvolvimento de competências científicas, técnicas e humanas no domínio dos cuidados especializados de Enfermagem de Reabilitação (ER) à pessoa com DPOC, e, para tal considera-se fulcral a problematização e análise das intervenções promotoras do autocuidado na realização das atividades de vida diárias.

O interesse e motivação para o tema são de cariz pessoal, existindo interesse pela área das intervenções autónomas do EEER na pessoa com alterações da função respiratória. Ao longo dos últimos anos o desempenho de funções como enfermeira num serviço de Medicina remeteu o meu contexto de prática de cuidados de enfermagem para clientes com as mais variadas patologias respiratórias; a pessoa com DPOC surge frequentemente, subsistindo dificuldades, sentidas quer pelos clientes, quer pela família em gerir a doença. O progressivo declínio de funcionalidade, aumento da dependência e incapacidade em realizar atividades do quotidiano são evidentes com o evoluir da doença, pelo que considero relevante a aquisição e aplicação de conhecimentos e competências na área de Especialização em Enfermagem de Reabilitação que me permitam contribuir para a melhoria contínua da qualidade de cuidados de enfermagem e que se traduzam numa resposta efetiva aos problemas identificados.

Urge a necessidade de desenvolver e implementar planos de cuidados de enfermagem que contribuam para o desenvolvimento de competências cognitivas e

instrumentais, facilitando a adoção de estratégias adaptativas, pelo cliente52 e

família/cuidador, mantendo deste modo a independência no autocuidado na realização das AVD.

Outrora, a intolerância ao exercício físico observada na pessoa53 com DPOC

foi exclusivamente justificada pela disfunção pulmonar, porém, numa abordagem atual, esta é considerada de natureza multissistémica, em que os fatores extrapulmonares combinados com a limitação do fluxo de ar influenciam a atividade física e a própria sobrevida (Soares & Carvalho, 2009). Estamos perante uma condição com impacto no aumento de taxas de internamento, diminuição de desempenho a nível profissional e na qualidade de vida da pessoa, uma vez que ocorre diminuição da atividade física e redução da capacidade funcional na realização das AVD, favorecendo o desenvolvimento de depressão e isolamento social. A evidência científica recomenda a prática de exercícios físicos como parte do programa de reabilitação respiratória da pessoa com DPOC, com melhoria no prognóstico destes clientes (Soares & Carvalho, 2009).

os cuidados de enfermagem tomam por foco de atenção a promoção dos projectos de saúde que cada pessoa vive e persegue (…) procura-se, ao longo de todo o ciclo vital, prevenir a doença e promover os processos de readaptação, procura-se a satisfação das necessidades humanas fundamentais e a máxima independência na realização das actividades da vida, procura-se a adaptação funcional aos défices e a adaptação a múltiplos factores – frequentemente através de processos de aprendizagem do cliente (Ordem dos Enfermeiros (OE), 2004, p.3).

Compete aos EEER adequar os seus cuidados utilizando um corpo de conhecimentos específicos com o objetivo de melhorar a efetividade, a eficiência e qualidade da conceção, implementação e gestão de regimes terapêuticos, adequação de programas de intervenção de reabilitação respiratória assim como, prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida dos clientes com DPOC através da maximização do seu potencial funcional e independência.

52

O termo cliente, definido na Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) (OE, 2011a) refere-se ao sujeito a quem o diagnóstico é realizado e que beneficia da intervenção.

53

O termo pessoa é reconhecido pela OE (2001) como ser social uno e indivisível, agente intencional de comportamentos com dignidade própria e direito a autodeterminar-se. Os comportamentos da pessoa são influenciados pelo ambiente no qual ela vive e se desenvolve.

A OE (2015) considerou prioritária a investigação realizada no domínio dos processos adaptativos na dependência do autocuidado. O referencial teórico de

Dorothea E. Orem fornece, nesta área, um subsídio valioso e continua a ser

pertinente conhecer e compreender a sua influência na prática e na investigação em Enfermagem. O modelo teórico assume um carácter orientador nas intervenções, levando à reflexão, avaliação e melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem. O autocuidado, como foco do EEER, aparece como um resultado sensível aos cuidados de enfermagem, com tradução positiva na promoção da saúde e no bem-estar através do aumento de conhecimentos e habilidade da pessoa (Petronilho, 2012). A Teoria do Autocuidado de Orem (2001) enfatiza a premissa de que o autocuidado abrange não só as capacidades para realizar as AVD, mas também a perícia que a pessoa utiliza para gerir a sua condição de saúde. A pessoa apresenta o comprometimento do autocuidado, ou seja, da capacidade deliberada de cuidar de si para a manutenção vida, da saúde e do bem-estar. Neste ponto, também Magalhães (2009) enaltece a função do EEER, como o profissional com competências (nomeadamente conhecimentos e experiência diferenciadas) para dotar a pessoa e família de capacidades e know-how para lidar com a sua doença, fomentando a determinação das mesmas para conduzir projetos de vida e de saúde.

A prestação de cuidados de enfermagem especializados pressupõe o desenvolvimento de competências ao longo de cinco níveis que colmatam no nível de perito (Benner, 2001). Em suma, pretendo adquirir conhecimento no domínio específico dos cuidados de enfermagem à pessoa com DPOC, tendo sempre em atenção as respostas do cliente aos processos de vida e aos seus problemas de saúde visando a maximização das suas capacidades. É minha pretensão demonstrar elevados níveis de julgamento clínico e tomada de decisão na delimitação de intervenções como EEER, traduzidas num conjunto de competências especializadas na área temática a desenvolver.