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No que tange a seção referente a visão jurisprudencial do Superior Tribunal Federal (STF), realizei dedicada pesquisa sobre casos de guarda compartilhada, entretanto, o tema não chegou no âmbito constitucional.

É possível encontrar alguns julgados referentes aos alimentos interpostos em favor do menor, guarda e regulamentação de visitas. Apesar de já terem sido julgados com um lapso temporal considerável, os fundamentos e os princípios analisados para conceder a guarda para um dos genitores, permanecem praticamente os mesmos nos dias atuais, o princípio que se destaca como em qualquer modalidade de guarda é o do melhor interesse da criança, disposto no artigo 227 da Constituição Federal. Ademais, os alimentos são fixados em favor do menor observando a necessidade do alimentando e a possibilidade do alimentante.

Vejamos alguns julgados.

Ementa. Regulamentação do direito de visitas do pai separado da esposa, ao filho menor de dois anos. Não ofende nem restringe o exercício do pátrio poder a decisão que fixe tal direito, tento em vista as circunstâncias, que cercam o caso. E isso decorrência do poder discricionário da Justiça, em hipóteses como a presente. Agravo de instrumento, a que se negou provimento, nº 41.766. (BRASIL, 1968).

3.3.1 A ementa em tela, trata-se de um agravo de instrumento interposto pelo

genitor do menor descontente com a decisão de 1º grau que estipulou as visitas mensalmente, no terceiro sábado, das 10 às 12 horas, em uma sala do fórum.

Houve um processo de divórcio entre as partes, onde ficou estipulado que a guarda do menor ficaria com a genitora. O agravante ingressou com uma ação de regulamentação de visitas. O juízo a quo reconheceu tal direito e em detrimento do desentendimento do casal, fixou as visitas em domingos alternados, das 9 às 11 horas da manhã no Clube Atlético Paulistano, local este indicado pelo pai do menor. As partes inconformadas com a r. sentença apelaram da decisão de primeiro grau, assim sendo, estas foram modificadas para o terceiro sábado do mês, das 10 às 12 horas da manhã, a serem realizadas em uma sala do fórum, a argumentação do

juízo a quo foi referente a gravidade que o caso demanda, tendo em vista, a incompatibilidade do casal. O autor da ação de regulamentação de visitas embargou a decisão, no entanto, tais embargos foram rejeitados.

O presente recurso teve como argumento o cerceamento do direito de pátrio poder do agravante.

A Segunda Turma do Superior Tribunal Federal negou o provimento ao recurso por unanimidade, sob a justificativa que a Justiça local tem o conhecimento necessário para julgar o caso em tela, pois estão a par dos acontecimentos e da gravidade atribuída ao fato.

EMENTA: DIREITO CIVIL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL. SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. REGIME DE GUARDA E VISITAS DE MENOR. SÚMULA 279/STF. 1. A solução da controvérsia pressupõe, necessariamente, a análise de legislação infraconstitucional e o reexame dos fatos, do material probatório constantes dos autos (Súmula 279/STF), o que torna inviável o processamento do recurso extraordinário. 2. Agravo regimental a que se nega provimento, nº 762.121. (BRASIL, 2015).

3.3.2 Aqui, a situação transcrita versa sobre um agravo regimental que tem

como causa a decisão que conheceu do agravo para negar seguimento ao recurso extraordinário interposto contra o acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP).

O referido acórdão trata-se de adiamento de visitas e alteração de guarda, discorre sobre o claro conflito existente entre as partes. Ademais menciona que estudos sociais feito com o pai do menor, não demostraram nenhuma irregularidade no comportamento do mesmo. A mãe do infante cria obstáculos para que o genitor não possa visitar seu filho, por fim, o apelo da mãe foi desprovido e o recurso adesivo do pai fora parcialmente provido.

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal por unanimidade optou em negar o provimento ao agravo regimental sob a fundamentação que o recurso extraordinário não deve ser provido, tendo em vista, que a decisão ora agravada está adequadamente provada.

EMENTA. SENTENÇA ESTRANGEIRA. Decisão da Justiça alemã que fixou pensão alimentícia a filhos menores. Homologação. Existência de decisão anterior da Justiça brasileira proferida, nos autos da separação consensual do casal, no mesmo sentido. Ofensa à soberania nacional, art. 216 do RISTF. Impossibilidade jurídica do pedido. Homologação indeferida, nº 4.012-3. (BRASIL, 1992).

3.3.3 Nesta ementa, a parte autora requer a homologação da sentença

estrangeira que condenou seu ex- marido ao pagamento de pensão alimentícia em favor dos filhos menores.

O requerido ao ser citado, apresentou contestação aduzindo preliminarmente que está separado judicialmente desde 1977, ocasião em que ficou estipulado a pensão alimentícia e a guarda dos filhos em comum do casal. Ademais, mencionou que o ingresso de uma ação de alimentos no estrangeiro, com as mesmas partes, demonstra que a autora pretende desrespeitar a sentença brasileira proferida. Também asseverou que tramita na Comarca de Gurupi – GO, ação idêntica a interposta, o que configura litispendência. No mérito sustentou a tese de que a Justiça Alemã é incompetente para julgar da referida ação, tendo em vista, que o requerido é naturalizado, possuindo residência fixa no Brasil, cabendo a autoridade judiciária brasileira conhecer tal ação. Ainda, alegou que a referida sentença fixaria o débito alimentar em moeda estrangeira o que tornaria a execução controvertida, assim, requer o indeferimento do pedido.

O Ministério Público em sua manifestação optou pelo indeferimento da homologação solicitada, por afrontar à ordem jurídica social, haja vista, já estar estipulada por sentença brasileira a obrigação alimentar.

Por votação unânime foi indeferido o pedido de homologação de sentença estrangeira, por já existir sentença da Justiça Brasileira condenando o requerido ao pagamento de pensão alimentícia aos filhos menores.

Como acima referenciado, não há julgados no Supremo Tribunal Federal (STF) quanto ao tema guarda compartilhada, provavelmente porque, este instituto não era utilizado com tanta frequência no direito brasileiro, entretanto, com a sanção

da Lei 13.058/2014 o modelo compartilhado de guarda teve sua obrigatoriedade disposta em Lei.

Por mais que esteja expressamente determinado que a guarda compartilhada deverá ser imposta nos casos de separação, divórcio, dissolução de união estável ou ação exclusivamente com este propósito, a aplicabilidade deste modelo em 1ª instância não está sendo unânime, desta forma, ocorre os recursos para as instâncias superiores, que estão reformulando as sentenças dos juízes a quo a fim de estabelecer a guarda compartilhada, mesmo em caso de litígio positivo entre os genitores, salvo quando uma das partes desistir expressamente da guarda ou oferecer risco a integridade física do menor. O argumento utilizado por estes Tribunais para que seja imposto tal modelo, é a mantença do convívio entre o filho e ambos os progenitores.

CONCLUSÃO

O presente trabalho abordou o instituto da guarda compartilhada, esclarecendo a implantação deste modelo, em seguida enfatizou-se acerca da permanência do débito alimentar, salvo se as partes possuírem um patamar econômico equiparado.

O modelo de guarda compartilhada foi instituído na legislação brasileira no ano de 2008, pela Lei nº 11.698, buscando a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres de mães e pais que não convivem no mesmo ambiente familiar com o filho em comum, entretanto, este modelo não era implantando, isto porque, era uma forma alternativa. Com a sanção da Lei 13.058/2014 este instituto foi visto como obrigatório, devendo ser exposto as partes litigantes e aplicado nos casos de dissolução de união estável, divórcio ou ação com o propósito de estabelecer a guarda do infante.

No decorrer do trabalho ficou claro, conforme supramencionado, que no direito brasileiro a guarda compartilhada possui implantação obrigatória, no entanto, o menor tem uma base residencial estabelecida em juízo, podendo ser na casa da mãe ou do pai, vai depender da moradia que fornecer o melhor para a criança ou adolescente. Ainda, é regulamentada as visitas, que traz a ideia de direito de convivência, definido em lei, ocorre que, este instituto prevê muito mais que um direito de convivência, para que o outro progenitor possa exercer seu papel parental é necessário que o convívio com o filho seja diário, observando as atividades do infante, sendo assim, é necessário que os progenitores deixem de lado suas indiferenças e pensem no melhor para o filho em comum.

Quanto aos alimentos, que, aliás, é o objeto da abordagem principal desta pesquisa, após um estudo exauriente, observei que este instituto permanece intacto no modelo compartilhado, entretanto, observa-se com mais atenção o binômio necessidade-possibilidade. A guarda compartilhada por si só pressupõe a divisão de responsabilidades, o que inclui também as despesas provenientes do menor, diante disso, para que seja fixada a verba alimentar é imprescindível que a parte adversa comprove menor capacidade econômica, caso contrário, não há a necessidade da fixação de tal verba.

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJRS) e o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), em julgados análogos ao tema em questão, observaram a obrigatoriedade deste modelo reformulando sentenças dos juízes que indeferiram a aplicação deste instituto simplesmente por haver litígio positivo entre as partes, sob a alegação que mera discordância entre o casal não pode prejudicar a criança de manter contato com ambos os genitores.

Ainda não chegou na esfera constitucional do Supremo Tribunal Federal (STF) casos sobre guarda compartilhada.

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