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Capítulo 2 – Novos caminhos da supervisão

2.4 Racionalidades por detrás de um desempenho – vertentes do exercício da

2.4.4 Supervisão das práticas profissionais

Por fim, referir-nos-emos àquela vertente da supervisão tradicionalmente ligada à formação inicial de professores. Numa escola de qualidade, há que assegurar que se promove a qualidade das práticas profissionais, tendo como finalidade última a melhoria das aprendizagens. Faz, pois, sentido, acompanhar e monitorizar as práticas

dos professores, proceder ao questionamento e à reflexão, promover entre os actores educativos a competência da reflexividade crítica, orientar, gerir as aprendizagens. Deve ser criado um clima relacional construtivo, investindo-se nas relações humanas, dispensando-se atenção aos profissionais que necessitam de apoio, motivação e encorajamento, facilitando os processos e promovendo a integração. Há que proceder à formação dos agentes, bem como à promoção do seu auto-desenvolvimento. Importa incentivar novas formas de supervisão de tipo colaborativo, ou mesmo a auto- supervisão. Deve ser promovida a avaliação de cariz formativo e incentivada a investigação sobre as práticas.

Alarcão e Tavares (2003) definem supervisão, nesta acepção, essencialmente como o acompanhamento e orientação de professores por outros professores mais experientes, no sentido da promoção do seu desenvolvimento humano e profissional.

Em Vieira (1993) aparecem a monitorização sistemática da prática pedagógica e procedimentos de reflexão e de experimentação como características definidoras da supervisão.

De Oliveira (2000), salientaremos que, quando se fala de supervisão, neste sentido mais restrito, se quer significar orientação e avaliação das práticas pedagógicas em contexto escolar. A autora (1992) atribui grande importância à relação interpessoal construída entre supervisor e formando, que deve ser fundada sobre o encorajamento, a colaboração e a interajuda.

Em Alarcão (1996), fomos colher que, entre as tarefas que competem a um supervisor, se encontram a selecção de estratégias formativas adequadas aos professores em formação e também a preocupação com a construção de uma relação propícia à ocorrência das aprendizagens. O supervisor está ligado à gestão das aprendizagens (Alarcão, 2000).

O aspecto relacional é igualmente apontado em Alarcão e Tavares (2003), quando afirmam que a relação dialógica entre supervisor e formando deve ser encorajante e facilitadora. Vieira (1993), aponta também o encorajamento como uma das funções do supervisor.

Alarcão (1996) apresenta o supervisor reflexivo como alguém que contribui para o desenvolvimento do professor enquanto profissional autónomo. Utiliza como estratégia para alcançar esse objectivo a prática constante do questionamento e da reflexão, bem como da própria formação para a reflexão. A autora (2000) considera que uma das facetas que integram o objecto da supervisão consiste na formação de novos

agentes. Alarcão (2002) visualiza a supervisão no centro de um triângulo formado pela investigação, pela formação e pela acção, competindo ao supervisor a animação da formação, bem como a integração de novos agentes educativos.

Actividades de formação são também referidas por Oliveira (2000) como integrando o conceito de supervisão escolar – um supervisor será sempre um formador.

Harris (2002) menciona como finalidade principal da supervisão o melhoramento do ensino e da aprendizagem, bem como a optimização da função pedagógica.

Encontramos em Garmston, Lipton e Kaiser (2002) uma formulação de certa forma complementar desta: a supervisão tem por função o melhoramento da prática e o desenvolvimento da capacidade dos professores para aprenderem, isto é, a promoção do seu auto-desenvolvimento. Na base desse processo estão a experimentação e a reflexão profissional. Tracy (2002) também alia a supervisão ao crescimento e desenvolvimento individual dos professores. Alarcão (2002) define o supervisor como agente do desenvolvimento de pessoas, de profissionais, através de uma relação de apoio e de ajuda no caminho para a emancipação.

À supervisão cabe ainda, segundo Alarcão (2002), a função de promover iniciativas de avaliação dos processos de educação e de reflexão acerca dos resultados de aprendizagem dos alunos.

Depois de apresentadas algumas referências importantes a esta dimensão da supervisão das práticas profissionais, vejamos as formas através das quais se pode realizar:

- Monitorização da prática pedagógica - Questionamento e reflexão sobre as práticas - Promoção da competência da reflexividade crítica - Orientação

- Gestão das aprendizagens

- Criação de um clima relacional construtivo - Preocupação com as relações humanas - Formação

- Promoção do auto-desenvolvimento do professor - Promoção da auto e da hetero-supervisão

- Integração

- Motivação / encorajamento - Avaliação formativa

- Investigação sobre as práticas dos professores

2.4.5 Síntese das quatro vertentes definidas

Para uma melhor visualização das quatro vertentes da supervisão definidas, nas várias dimensões que concluímos poderem ser consideradas, em cada uma delas, apresentamo-las em seguida num quadro-síntese:

Liderança Desenvolvimento organizacional

- Visão estratégica / visão de futuro - Planeamento / planeamento sistemático - Definição de objectivos - Gestão de objectivos - Tomada de decisões - Iniciativa - Gestão de pessoas - Influência - Controle

- Concepção / avaliação de projectos - Avaliação de pessoas

- Intervenção sistémica - Perspectiva ecológica

- Desenvolvimento qualitativo da organização escola

- Mobilização para uma acção conjunta - Envolvimento

- Dinamização / animação - Aprendizagem organizacional - Planificação da formação - Reflexão a nível global - Auto-avaliação institucional

Coordenação Supervisão das práticas profissionais

- Organização - Coordenação - Mediação - Facilitação / apoio - Assessoria / consultoria - Representação - Comunicação - Promoção da interacção

- Melhoria da qualidade das interacções - Promoção do diálogo colegial - Colaboração

- Monitorização da prática pedagógica - Questionamento e reflexão sobre as práticas - Promoção da competência da reflexividade crítica

- Orientação

- Gestão das aprendizagens

- Criação de um clima relacional construtivo - Preocupação com as relações humanas - Formação

- Promoção do auto-desenvolvimento do professor - Promoção da auto e da hetero-supervisão - Integração

- Facilitação / apoio - Motivação / encorajamento - Avaliação formativa

- Investigação sobre as práticas dos professores

Quadro 1 – Síntese das facetas integrantes de cada vertente da supervisão

Parece-nos poder considerar que, desta forma, damos cobertura a todos os aspectos que podem ser integrados no campo de actuação da supervisão escolar. Será com base nestas vertentes, assim definidas, que empreenderemos o estudo relativo às percepções dos coordenadores de departamento curricular quanto aos aspectos da supervisão que já vêm pondo em prática, na sua actuação quotidiana.