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Suporte imaterial: um modelo

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2 EM DIREÇÃO AO ESPAÇO “PASSAGEM’’

2.4 NA DIVERSIDADE DAS CORES: VISUALIZAR O ESPAÇO “PASSAGEM”

2.4.2 Suporte imaterial: um modelo

A criatividade para comunicação compõe o acervo não material das produções culturais religiosas, e se ainda forem insuficientes para chegar ao poder acima dos representantes legais, oferecem o próprio corpo aos deuses.

Para DaMatta (1989), a religião serve para explicar os infortúnios como acidentes e doenças, medo da morte, como também para ordenar a vida e as relações das pessoas com tudo em sua volta. Aponta algumas formas de comunicação - preces, promessas, oferendas, despachos, súplicas e obrigações que, a despeito de diferenças aparentes, constituem a linguagem brasileira com o sagrado.

A prece é um rito, pois é uma atitude assumida, um ato realizado tendo em vista, ser coisa sagrada e se dirigir a uma divindade. É uma crença em certo grau, um credo que exprime um mínimo de ideias e sentimentos religiosos. O ser humano se relaciona com o sagrado como algo que se encontra acima e é diferente dele. É como se o sagrado fosse uma arma para enfrentar o caos (RAMOS, 2006, p. 140).

Um dos fios que sustenta a tessitura chamada religião é o que Ramos (2006) convida a pensar, quando recorre a Prece de Mauss como suporte para compreender a centralidade da religião para uma turma de alunos do agrupamento de Educação de Jovens e Adultos (EJA), no ensino noturno municipal de Goiânia. Uma religião continua o autor, nasce dessa trama tecida como a “liturgia, que é outra forma de prece”. Nos espaços, nos objetos, nas narrativas, nas teologias, tudo isso sistematizado por profissionais com o objetivo de preservar a continuidade dos ritos e as crenças revisadoras dos mitos. Em conversa com os pesquisadores sobre o fazer escolar e religioso, os alunos adultos esclarecem que a religião entra como “valor absoluto” em discursos mais ou menos homogêneos, pela religião encontram alento para suas preocupações mais íntimas na vida. Ramos (2006) constatou também que para aquele grupo a religião é um emblema sócio cultural da construção da identidade migrantes rurais na cidade.

Todas as tentativas de definir um fio deixam algo de fora do alcance do observador do que muitos denominam de “experiência religiosa”. O que se alcança sempre será uma experiência de segunda ordem, pois a de primeira é sempre de quem a vivencia e, ainda assim deixa um ar de incompletude na comunicação, dada a dimensão dessa vivência com o sagrado para o homem religioso. Tratar de religião, talvez, seja como tratar de outros aspectos íntimos, aproveitando as palavras dos entrevistados da pesquisa já mencionada, que denominaram a

experiência da prece como momento de intimidade com a divindade escolhida. Outra similaridade é a existência dos lugares próprios, e, quando não realizada nos lugares próprios como as igrejas ou determinados espaços da casa, cria-se um gesto, uma posição, uma palavra, marcação do tempo para o sagrado.

O sagrado é uma categoria religiosa complexa, embora usada em outras expressões humanas no campo religioso que se constitui como o indescritível. Deixando o espaço “Passagem”, numa zona de conflito interior, para o visitante apreciar coincide com cultuar. E é sempre melhor apreciar e/ou cultuar com a presença de algo palpável, daí a relevância das imagens e dos objetos, tais como os que abaixo se apresentam.

Devoção bastante conhecida por aqui.

Ilustração 13: “A Senhora Aparecida e o Divino Pai Eterno” Fonte: Luzia Ireny e Silva

Ilustração 14: Imagem da Bíblia Sagrada (imagens tipográficas) Fonte: Luzia Ireny e Silva

Ilustração 15: Cabocloca Jurema e ao fundo O São José Fonte: Luzia Ireny e Silva

A proximidade das duas imagens por si só assinala a matriz religiosa brasileira – Jurema cultuada na Umbanda e o São José segurando o Jesus criança na católica, quando em distinção.

Outros objetos de valor para os cultos religiosos como vasos, velas, abanos, flores, fitas coloridas, contas, copos, medalhas, pintura em rococó para uso nos rituais ou embelezamento da composição que remetem às festas religiosas. Tamaso (2007) constata que nos limites encontrados para festas, essas, enquanto produção social de transposição de fronteiras são geradoras de uma identidade entre seus participantes. Por fim, uma sala com espelhos denominada Fronteira que, por sua vez, reflete a si mesmo com suas convicções. As imagens fotográficas retratam a diversidade da população goianiense nos campos: religioso, étnico, econômico, político, geográfico, linguístico, aspectos físicos, um sem fim de diferenças e semelhanças onde o visitante pode ver a si mesmo e aos outros, e “rememorar” seu processo construção de identidade. Um modo de seguir vivendo lá fora, ao abrir a porta de saída da exposição.

O tema religião, religiosidade, deve fazer parte de novos olhares acadêmicos e pedagógicos, quando se quer focar na formação para vida. É a educação do olhar cotidiano do educador do museu e do educador visitante a direcionar o do alunado, no sentido de brincar com o majestas de outrora no cotidiano de agora.

Assim, reinventar a religião faz parte da construção social, obra humana antiga que se adequa à racionalidade moderna, na qual o ser humano vale-se da

capacidade imaginativa, na ordenação do mundo visível e criativo, reatualiza o já existente. Nesse novo formato, vislumbrar um porvir sonhado, alimentado nas representações dos ideais dos pesquisadores dos processos identitários representados, e dos outros tantos goianos, em continuidade.

O fato é que o estudo acerca de rituais, além de ser um clássico no pensamento antropológico, se constitui objeto de inúmeras abordagens teóricas, uma ferramenta conceitual importante no sentido de compreender um pouco mais determinada sociedade, com seus valores pensados e vividos. Neste sentido, avanços e recuos dinamizam as pesquisas e toda produção social, portanto, revisar o passado em conexão com acontecimentos atuais para construção de novos paradigmas de composição das relações. Destarte, a composição da representação religiosa tem sua gênese na produção de outras pesquisas, ela se torna ponto de partida para apresentação, representações culturais religiosas dos professores visitantes no espaço “Passagem”, apresentado no próximo capitulo.

3 UM FRAGMENTO CULTURAL RELIGIOSO DA REGIÃO CENTRAL

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