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sistema de previdência brasileiro se apoia em dois pilares, um deles é de natureza pública e outro de natureza privada/complementar que subdivide-se em aberto e fechado. O incentivo à expansão do segundo pilar tem sido objeto da política dos governos de muitos países, inclusive o Brasil. Isso vem ocorrendo à medida que fica cada vez mais evidente a incapacidade do primeiro pilar em prover as aposentadorias que propiciem o bem-estar dos segurados (PERES, 2006).

Os fatores atuariais, administrativos, financeiros e econômicos que impulsionaram a crise da previdência social pública fizeram com os segurados mais preocupados com o futuro e com a melhoria da qualidade de vida procurarem os planos de previdência complementar, onde o participante pode gerenciar as suas aplicações, o tempo de maturação e resgate de seu benefício.

A manutenção da qualidade de vida durante o período da aposentadoria, induz as pessoas a tomar consciência de que para atingir essa confortável condição será necessário o provisionamento de recursos para a utilização futura, é neste contexto, que a previdência complementar surge como uma opção de seguridade social.

90 A opção de investimento na previdência complementar é impulsionada pela crise no setor publico. Na década de 50, para cada aposentado brasileiro havia oito trabalhadores na ativa. Atualmente a proporção é de 2,3 para 1. Se chegar a 2 para 1, a arrecadação necessária para manter o sistema poderá consumir até 50% da folha de pagamento dos trabalhadores. Estima-se que se nada mudar, o deficit da previdência social chegará, no ano 2020, a 4,2% do PIB, o que hoje representa mais de R$ 30 bilhões. Segundo os dados do Ministério da Previdência, o deficit estimado para 2020 ronda a casa dos R$ 5 bilhões (LUBIATO, 2002).

Lubiato (2002) ainda destaca que as condições econômicas ideais para o desenvolvimento da previdência complementar começaram a surgir no Brasil na década de 90 em decorrência da estabilidade dos preços, pois somente num cenário de inflação sob controle é possível que os agentes econômicos façam projeções sobre o futuro.

Tendo em vista a importância sócioeconômica dos investimentos em previdência, o sucesso dessa iniciativa depende em parte do grau de confiabilidade que é atribuída à gestão dos planos de previdência complementar, em termos de capacidade de manutenção de sua solvência. (CHAN et al, 2006, p. 28).

No caso das entidades fechadas de previdência complementar, a sua gestão deve obedecer aos padrões mínimos de segurança econômica, financeira e atuarial, preservando a liquidez, solvência e equilíbrio dos planos de benefícios, garantindo assim o pagamento dos benefícios aos aposentados e demais assistidos pela entidade

91 de previdência.

Segundo Baima (1998), é de extrema importância o papel desempenhado pela previdência complementar fechada, tanto do ponto de vista social, pelos benefícios que proporcionam aos seus participantes e pelo papel que desempenham na criação de empregos, quanto do ponto de vista econômico, por serem o mais importante investidor institucional, dispondo de recursos aplicados a longo prazo essenciais à formação bruta de capital fixo da economia, à democratização do capital das empresas, ao desenvolvimento do programa de privatização e à geração de poupança interna.

Ainda segundo Baima, os fundos de pensão exercem atualmente um papel duplamente importante:

Tanto no aspecto social, por proporcionarem benefícios aos participantes em situações de perda de capacidade laborativa, quanto no aspecto econômico, por representarem o mais relevante mecanismo de poupança de longo prazo, aplicada no mercado financeiro, de forma a suprir as carências dos agentes econômicos deficitários, cujas necessidades de investimento superam a capacidade de gerar poupança. (BAIMA, 2004, p. 17).

As Entidades Fechadas de Previdência Complementar se apresentam como as principais detentoras nacionais de liquidez, e suas aplicações vêm crescendo nos últimos anos. Segundo Amaral et al (2004) seus investimentos passaram de 3,3% do PIB, em 1990, para 14,45% em 2001, década que retrata uma mudança nas políticas

92 fiscais no Brasil.

Segundo a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (ABRAPP), em seu Consolidado Estatístico (2011), os investimentos continuam a crescer e em 2010 a relação entre os ativos das EFPC e o PIB no Brasil representou 15,2%.

Mesmo com todo esse crescimento das Entidades de Previdência Privada, chama atenção o recente estudo feito pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (2010), que onde demonstra que apesar do aumento de renda e da alardeada entrada de 14 milhões de trabalhadores no mercado formal durante 2002 a 2010, pouco mais de 550 mil pessoas ingressaram na indústria dos fundos de pensão no mesmo período.

O crescimento do mercado, no caso das entidades fechadas de previdência complementar depende, diretamente, da capacidade econômica das empresas e das pessoas “esse crescimento do mercado de trabalho, esses novos empregos podem talvez envolver uma questão salarial menor, não gerando ainda o estímulo para a constituição da previdência complementar” (ANASPS, 2010).

O fato é que o universo potencial de trabalhadores em condições de investir na aposentadoria complementar situa-se a partir da faixa de renda equivalente ao teto9 de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social e apesar de existir fundos cujo tíquete de entrada é o aporte de R$ 50 (cinquenta reais), ou seja, valor equivalente à

9 A portaria 568, de 31 de dezembro de 2010 definiu que o valor máximo de contribuição e benefícios é

93 contribuição mínima10 para o regime geral de previdência social, a falta de conhecimento ainda é uma grande barreira para os investimentos em previdência privada.

Em outro balanço divulgado pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (2010), tem-se que atualmente o Brasil possui 2.742 milhões de participantes e assistidos no sistema de previdência complementar. Além do aumento do número de participantes, é crescente também o número de Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) e a oferta de planos de benefícios tanto patrocinados como instituídos11.

Também houve um aumento de empresas patrocinadoras, isto é, instituições que propõem a contratação de planos coletivos de previdência e que participam total, ou parcialmente, do custeio das contribuições ao plano. Segundo a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (2010), em 2001, eram 2.113 organizações com esta função e, no final do primeiro semestre de 2010, este número subiu para 2.804.

De forma direta e precisa, Canuto et al (2009) apontam os principais motivos que levaram ao crescimento do número de entidades de previdência complementar e de pessoas interessadas em investir nos planos privados de previdência: a preocupação com o futuro, a falta de credibilidade na previdência social, o teto da

10 O valor mínimo de contribuição é a aplicação da alíquota de 8% (oito por cento) sobre o valor de

salário mínimo, conforme determinado na Portaria 568, de 2010. Atualmente essa contribuição é de R$ 43,60 (quarenta e três reais e sessenta centavos).

94 aposentadoria, a facilidade e os incentivos fiscais, estabilidade econômica e, com menor expressão, o crescimento do trabalho informal.

Portanto, a falência do Estado-providência e o surgimento do Estado regulador fez que fosse repensada a ordem econômica social e diretamente a prestação dos serviços e benefícios sociais. É diante desse cenário que será analisada a tributação sobre as entidades de previdência complementar, levando em conta a criação da poupança interna e sua utilização em investimentos produtivos como forma de fomentar o desenvolvimento econômico.

A relação dos motivos causadores da crise previdenciária como as consequências econômicas decorrente da supressão dos direitos social serão objeto do item seguinte.

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