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2.2 DESENVOLVIMENTO, SUSTENTABILIDADE E INDICADORES DE

2.2.2 Sustentabilidade

A sustentabilidade é um conceito que vem se elaborando enquanto suporte no avanço epistêmico dos termos desenvolvimento, desenvolvimento local e desenvolvimento sustentável. Estes termos são constructos relativamente recentes na discussão acadêmica. Emergiram em atendimento a um contexto histórico atual que associou a terminologia desenvolvimento a prospecções de crescimento com ênfase nos aspectos econômicos, negligenciando a percepção básica da interdisciplinaridade e do contexto multifacetário que os termos, desenvolvimento e sustentabilidade, demandariam.

O termo desenvolvimento sustentável passa a ser ampliado incorporando a dimensão humana desde 1991 quando da divulgação do relatório elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento denominado “Relatório Brundtland”, também conhecido por “Nosso Futuro Comum”. Questões como exploração dos recursos naturais, desenvolvimento tecnológico, densidade demográfica, mudanças institucionais, justiça e

equidade social, erradicação da pobreza, capacidade suporte dos ecossistemas, mudanças climáticas, biodiversidade, entre outros, passaram a ser considerados.

Com base neste avanço, a homogeneização do conceito de desenvolvimento defendido por muitos economistas como mera concepção do crescimento, passou a incorporar novas frentes de discussão. Para Sachs (2004), é necessário perceber as relações e interações entre as diversas dimensões que formam a diversidade dos contextos humanos para que a sustentabilidade seja efetivamente considerada. Para este mesmo autor a sustentabilidade no tempo das civilizações humanas dependerá de atitudes relacionadas ao exercício da prudência ecológica refletindo no bom uso da natureza. Para o autor, falar em desenvolvimento sustentável é considerar a “adjetivação desdobrada em socialmente includente, ambientalmente sustentável e economicamente sustentado no tempo” (p. 214).

Ser sustentado no tempo significa ser elaborado através de processos que se constroem numa simbiose entre o natural culturalmente modificado e a cultura naturalmente construída. Isto significa respeitar o ritmo das mudanças naturais enquanto a desenha com os valores e significados que cada povo, cada comunidade incorpora para si mesmo enquanto ritmos próprios e que lhe dão as especificidades de cada lugar. Sob esta concepção, compreende-se que a sustentabilidade é um constructo da complexidade que passa necessariamente pela revisão dos valores e das mudanças institucionais.

Cavalcanti (2002), discutindo sobre os valores em mudança e a construção de uma sociedade sustentável, expõe que as atividades humanas parecem ser as causas mais comuns e imediatas dos problemas enfrentados pela humanidade atual, porém as causas básicas que acionam as atividades ecologicamente danosas ou outras atividades insustentáveis podem ser atribuídas às instituições sociais, aos sistemas de informação, aos valores adotados pela sociedade. Valores que podem representar os interesses de corporações que por sua hegemonia, massificam a diversidade dos saberes e homogeneízam a concepção de homem, sociedade e mundo.

De acordo com o mesmo autor, as instituições tendem a impor valores sociais impróprios ou então falham em impor valores sociais verdadeiros, ambos os fatos levando a atividades humanas que geram problemas. Entende-se que o grande desafio da sustentabilidade deve ser enfrentado por políticas inteligentes. A política de desenvolvimento na construção de uma sociedade sustentável não pode desprezar as relações que ditam o que é possível em face do que é desejável. A sustentabilidade não é um discurso unívoco, implica ambiguidades e múltiplas leituras baseadas em distintas visões, objetivos, interesses e parcerias.

Primar pelo fortalecimento da política de parcerias é questão que deve ser considerada; todavia, estabelecê-las por si só não será o suficiente para que as ações propostas se consolidem e extrapolem os modelos corporativistas, pois a política de parcerias e comprometimento coletivo se contrapõe à lógica predominante de uma economia e sociedade competitiva e corporativista. O contexto atual suscita a elaboração de programas e utilização de ferramentas que venham a mensurar as condições da sustentabilidade enquanto desafio prático para tomadas de decisão a partir da inclusão social enquanto perspectiva de gerenciamento local. Um gerenciamento que se deve pautar no reconhecimento das diversidades étnicas, biológicas e históricas. Que projete e torne pragmáticas as condições no enfrentamento das adversidades através da otimização de oportunidades e melhoria na qualidade de vida.

À luz de Martins e Cândido (2010), a sustentabilidade traduz-se no exercício contínuo da obtenção de condições favoráveis à qualidade de vida dos ecossistemas, tendo como condição básica o respeito à capacidade suporte dos mesmos reconhecendo que a qualidade de vida das populações humanas está diretamente relacionada a esse respeito. Os mesmos autores consideram que a relação entre a sustentabilidade e a qualidade de vida pode ser definida através de situações de fácil percepção.

Enquanto constructo teórico percebe-se que a sustentabilidade vai além da concepção interdisciplinar, da necessidade de envolver especialistas em diversas áreas do conhecimento, pois deve considerar a diversidade dos saberes que estão fora da discussão acadêmica. Saberes que são construídos e vivenciados pelos atores sociais locais ao largo de suas histórias e em seus mais distintos papéis e funções que exercem em seus contextos. Os problemas os afetam diretamente e deve ser com a inclusão destes atores que muitas respostas poderão emergir (MARZAL e ALMEIDA, 1999).

Por conseguinte, investigar a sustentabilidade exige que a pesquisa seja pensada percebendo a realidade como um contexto complexo, problematizando, sempre que necessário, “a contextualizar o que precisa ser religado, pois tudo o que é complexo está sempre relacionado, interconectado com outros subsistemas” (MORAES e VALENTE, 2008, p. 34). Isto aponta para a necessidade deste estudo considerar as condições ambientais das áreas estuarinas percebendo o seu contexto como reflexo dos valores culturais que norteiam suas práticas cotidianas.

Nessas práticas estão inclusas as formas de manejo que os moradores locais adotam em suas atividades para o autossustento e estas, por sua vez, estão relacionadas às formas de

governança local, sem perder de vista o papel e a influência do macrossistema sobre esses sistemas menores.

Compreende-se neste estudo que será sob a perspectiva do social incluído, do ambiente respeitado e da economia sustentada que a sustentabilidade e o desenvolvimento local sustentável se darão de forma mais efetiva e contributiva com o fortalecimento da resiliência socioecológica. Em concreto pode-se dizer que tais temáticas são interdisciplinares exigindo em seu processo de construção um olhar para os distintos campos de conhecimento na perspectiva da elaboração de uma nova leitura de contexto percebido na interface que interconecta os distintos campos.

Do seio da complexa discussão sobre desenvolvimento e sustentabilidade emergiu a necessidade de se elaborar ferramentas com o objetivo de mensurar a sustentabilidade. Foi neste contexto de discussão e necessidade de encontrar formas pragmáticas à complexidade ambiental que surgiram os indicadores de sustentabilidade.

À luz de Bouni (1996) apud Marzal e Almeida (1999), a sustentabilidade só poderá ser determinada se for interpretada sob o olhar que considere de igual importância um conjunto de fatores econômicos, sociais e ambientais. Esta compreensão impulsionou, logo em seguida, a necessidade de avaliar a sustentabilidade usando ferramentas que contemplassem em variedades e quantidades o maior número de informações possíveis. Seriam informações que pudessem evidenciar as relações entre as variáveis e suas dimensionalidades.

Sob estas perspectivas, o estudo foi elaborado observando que os indicadores de sustentabilidade foram analisados considerando as interações entre os indicadores, seus atributos e parâmetros. Observou-se a interdependência dessas variáveis de forma a propiciar uma melhor interpretação do contexto local.