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3 ESCLARECIMENTOS METODOLÓGICOS

3.6 Técnicas de Análise de Dados

3.6.1 A Análise de Conteúdo

Foi utilizada a metodologia denominada Análise de Conteúdo, visto que pareceu ser a mais apropriada, quando se visa identificar o que está sendo dito, a respeito de determinado tema, associado aos fatores e aspectos culturas e sócio- históricos (GIL, 2006; ROCHA; ROCHA, 2007; ROESCH, 2005; VERGARA, 2005). Para Bardin (1977, p. 42), análise de conteúdo é:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Bardin (1977) afirma que essa técnica ou estratégia de pesquisa é utilizável, nos mais vastos campos e pode ser aplicada aos mais diversos materiais: cartas, diários, pinturas, notícias, propagandas, entrevistas, discursos etc. Bardin (1977) também enfatiza que a análise de conteúdo compreende três etapas básicas: (1) pré-análise; (2) exploração do material e (3) tratamento dos dados e interpretação.

A partir das declarações dos participantes, foi possível identificar as atitudes, inclinações de comportamentos, valores, crenças e demais aspectos culturais que formatam o construto cognitivo de cada sujeito em relação à realidade.

Para a realização da análise de conteúdo das entrevistas, foram considerados os esforços da Hermenêutica e da Exegese que são as disciplinas que colaboram, para identificar os fatores simbólicos envoltos nas declarações dos entrevistados e a consideração dos aspectos histórico-culturais da relação do indivíduo com a sua realidade (GADAMER, 1978).

Para compreender o processo experiencial do consumo de cachaça de alambique, foi necessário atentar, para a compreensão de declarações cotidianas, no período de convivência com o grupo, que representava algum aspecto simbólico associado ao destilado e, principalmente, como esses aspectos estavam envolvidos, em um pano de fundo histórico-cultural, ou seja, a análise das categorias das Ontologias do Lugar não se deu, somente, em função das entrevistas realizadas.

A análise dos dados foi procedida com a reunião de todo o material coletado, a fim de identificar como seriam tratados, para que as categorias e subcategorias fossem representadas fidedignamente. Para isso, foi necessário que todo o material fosse colocado, em um mesmo tipo de formato, para que a análise não se perdesse dentre as diversas formatações e facilitasse o trabalho do pesquisador e filtrado em função dos temas centrais desta tese de doutoramento.

Nesse sentido, as entrevistas foram transcritas para a linguagem de processadores eletrônicos de texto. A partir daí, foi verificado se os dados tinham condições de ser tratados e, como não houve nenhum obstáculo tecnológico ou conceitual que impedisse a qualidade das entrevistas, a análise e a categorização dos dados foram procedidas naturalmente.

3.6.2 A Análise das Narrativas

Complementarmente, a análise de narrativas atendeu a esta pesquisa como uma abordagem que permite desvelar os „lugares‟ de ocorrência das relações de consumo de cachaças artesanais. Os lugares consistiram em espaços geográficos, temporais e teleoafetivos que puderam ser compreendidos, por meio das categorias analíticas de entendimentos, regras e estruturas teleoafetivas das relações de consumo de cachaças artesanais por confrades.

Essas premissas são fundamentais, para destacar a coerência e as potencialidades entre a proposta do trabalho e as escolhas e posturas metodológicas, quanto às abordagens e técnicas de coleta e tratamento das informações.

Ante a esses esclarecimentos, destacam-se os fundamentos da análise de narrativas. A princípio, a análise de narrativas segue os estudos da Teoria Prática que amparam as atividades que são realizadas cotidianamente pelos atores sociais.

As narrativas surgiram, nesse contexto, como uma perspectiva que colaborou compreender os aspectos contextuais de espaço e tempo que influenciaram na elaboração e justificação de determinadas práticas no âmbito organizacional.

A defesa, para a utilização de narrativas nos Estudos de Consumo e da Teoria da Prática, pressupõe que nenhuma prática pode ser descontextualizada,

ou seja, as práticas carregam em si aspectos temporais e espaciais que explicam a sua existência. Dessa forma, abandonam-se os estudos que sobre orientações transversais e puramente descritivas que são incapazes de prover compreensões profundas sobre as práticas dos atores sociais.

Os trabalhos de Fenton e Langley (2011) e Rouleau (2010) são instrutivos, ao demonstrar como estudiosos da estratégia como prática, podem utilizar as narrativas como instrumentos que permitem compreender profundamente como e por que as práticas cotidianas existem em uma perspectiva que as explica e justifica. As narrativas surgem como um instrumento que possibilita compreender as principais relações estabelecidas entre as práticas desenvolvidas no âmbito intra e extraorganizacional, ao responder que práticas são essas, onde elas ocorrem, quando, como e por que elas ocorrem. Perguntas que permitem explicar e justificar a existência de determinadas práticas organizacionais e não outras.

Parece salutar argumentar que as narrativas possibilitaram descrever, explicar e justificar como os contextos de pesquisa são concebidos, considerando as práticas e arranjos materiais que podem ser conhecidos pelos entendimentos, regras e estruturas teleoafetivas que os configuraram com particularidades específicas.

Os aspectos temporais e espaciais, ao abarcar passado, presente e futuro, como categorias de análise das relações de consumo de cachaças artesanais, permitirão compreender as imbricações, presentes nesses contextos, a partir da identificação do histórico de surgimento das confrarias.

Nesse sentido, tornou-se necessário esclarecer as profícuas possibilidades dessas técnicas de análise de dados associadas ao método interpretativo-descritivo. A seguir, serão demonstrados os resultados da coleta de dados e o tratamento realizado no material reunido.

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