3. ASPECTOS METODOLÓGICOS
3.1 Método(s) e técnica(s) de pesquisa adotados
3.1.2 Técnicas de pesquisa para uso no estudo de caso
O passo seguinte do planejamento do trabalho de campo foi definir as técnicas de pesquisa. Como o estudo de caso é flexível e permite a combinação de técnicas, a fim de melhor captar sistematicamente uma variada gama de evidências (Yin, 2001), foram escolhidos o levantamento documental (registros institucionais e planilhas de informações, preenchidas ad hoc) e as entrevistas semi-estruturadas. Eles foram escolhidos pois seu uso combinado deverá prover a riqueza de dados esperada de uma pesquisa com múltiplos casos, além de permitir várias triangulações de dados.
Do mesmo modo, os dados a coletar nas duas técnicas, especialmente os relativos ao modelo do processo de avaliação de desempenho de IMNs, foram codificados para possibilitar sua compilação e processamento, bem como maior clareza e objetividade nas análises posteriores.
Levantamento documental - O levantamento e classificação de documentos é viável quando a empresa mantém informações sobre resultados de pesquisas, registros de gastos em propaganda, perfil de funcionários por departamento, treinamento de funcionários, número de vendedores por mês e por região, dados sobre produção, estoques e vendas mensais, práticas de preço etc. Existem também as pesquisas externas, realizadas em arquivos públicos, como órgãos governamentais e entidades de classe (sindicatos e associações de produtores). Atualmente, com a massificação do uso da internet, uma grande fonte de documentos são os websites das empresas. Neles, além de conter informações básicas, como o histórico da empresa, direções estratégicas (visão, missão, valores, etc.), localização das fábricas, filiais e subsidiárias, os telefones de contato do departamento de relações públicas, etc., há também a central para download dos relatórios de empresas de capital aberto, com os resultados trimestrais e anuais. Geralmente, o levantamento documental segue os seguintes passos: 1) inventário dos documentos, ou a fase de levantamento propriamente; 2) classificação geral dos documentos, em tipos; 3) classificação específica dos documentos, incluindo análise de conteúdo e de confidencialidade. Ademais, pode-se solicitar o preenchimento prévio de uma planilha de informações ad hoc, específicas ao assunto, a qual servirá tanto como evidência documental dos dados coletados quanto para guiar, posteriomente, as entrevistas.
A maior vantagem é que tais dados qualitativos e/ou quantitativos, além de terem custo desprezível, poderão se tornar importantes não só para a pesquisa atual, mas também para ensejar e justificar novas pesquisas. A maior desvantagem é que os dados, se analisados fora do contexto da coleta, podem levar a conclusões erradas. Entrevista - A entrevista pessoal requer bom planejamento para elaborar perguntas e ter duração adequada. A maior vantagem da entrevista é ser uma técnica flexível de obtenção de informações qualitativas, podendo vir a prover uma quantidade de informações maior do que um questionário fechado ou mera busca documental.
Como principal desvantagem, seu gasto – em tempo e dinheiro - pode ser elevado, especialmente se o número de entrevistados for muito grande, se comparado a responder a questionários fechados.
Um dos requisitos desta técnica é que o entrevistador seja habilidoso ao aplicá-la, bem como seja flexível para introduzir variações durante sua realização, conforme a evolução das revelações. Portanto, questões boas feitas por um entrevistador inabilidoso provavelmente não farão uma boa entrevista. É desejável que o entrevistador tenha: (i) boa comunicação oral; (ii) auto-controle emocional; (iii) imparcialidade sobre o assunto; (iv) bom conhecimento do assunto; e (v) capacidade de análise e síntese.
A elaboração de questões deve considerar aspectos tais como: (i) adaptar a linguagem ao nível do entrevistado; (ii) evitar questões longas; (iii) manter a entrevista sob um referencial básico e objetivo; (iv) sugerir todas as respostas possíveis para uma pergunta, ou não sugerir nenhuma (para evitar direcionar a resposta). Yin (2001) sugere que a entrevista contenha perguntas sobre padrões presentes no(s) caso(s); para o caso individual; e para entrevistados específicos. Para esta pesquisa, a entrevista foi planejada para ocorrer necessariamente após o levantamento documental, a fim de melhor direcioná-la. Foi concebido um roteiro semi-estruturado baseado nos constructos “IMN” e “avaliação de desempenho”. Tal roteiro foi então submetido a pesquisadores familiarizados com o tópico de IMNs, para ajustes finais de conteúdo (perguntas, terminologia) e forma (sequência das perguntas, duração). Ele está completo no Apêndice 1C e tem as seguintes divisões: Parte 1 – A IMN da empresa-caso
- Aprofundar e discutir algumas características da área corporativa de operações e de controladoria
- Aprofundar e discutir a missão da IMN e seu desempenho-meta/requerido - Aprofundar e discutir a criação e operação da IMN
Uma vez coletados os dados qualitativos e/ou quantitativos das múltiplas fontes de evidência, Cauchick (2007) orienta que eles sejam analisados conforme a técnica de triangulação, para fins de comparação com o quadro teórico. Para Stuart et al. (2002), a triangulação consiste em confirmar evidências coletadas em mais de uma fonte, aumentando assim a confiabilidade do estudo. Ela pode ser teórica (interdisciplinar), metodológica (multitécnica), de dados (comparação), e do pesquisador (mais de um indivíduo/time). Serão usadas as seguintes triangulações: De técnicas – usadas as técnicas de levantamento documental e entrevistas; De dados - vários documentos e vários entrevistados.
Haverá dois tipos de análise de dados: longitudinal e transversal.
Within-case/Longitudinal – Consiste na análise de um fenômeno ao longo do
tempo, numa seqüência prospectiva ou retrospectiva, para examinar mudanças; ou seja, refletem uma seqüência de fatos dependentes de contexto (Marconi e Lakatos, 2000; EISENHARDT; GRAEBNER, 2007; BARRATT; CHOI; LI, 2011). A análise
longitudinal usa a “comparação de um padrão de resultados observados (em
diversas variáveis) com algum padrão de valores esperados, derivados de uma dada teoria” (BITEKTINE, 2008). Tal técnica de pattern-matching (YIN, 2001) permite a “avaliação dos resultados em múltiplas dimensões, onde está disponível no mínimo uma única observação real para certa dimensão” (BITEKTINE, 2008, p. 162).
A lógica na análise within-case/longitudinal é que a coleta e análise de dados em vários pontos no tempo ajudam a pesquisa a se proteger de vieses interpretativos. Para operacionalizar tal análise, há que se seguir um método claro até que as conclusões emirjam. Aqui, cada empresa será examinada separadamente, em retrospectiva, conforme método a ser exposto na seção 3.2. A triangulação mostrará se os dados reunidos estavam corretos e os fatos corretamente interpretados. Na
within-case, conexões explícitas serão feitas entre os documentos coletados, as
perguntas respondidas, e as conclusões tiradas, para aumentar a confiabilidade da informação. Um relato longitudinal será feito para cada caso, e serão criadas tabelas-resumo para os dados, a fim de melhor descrever e explicar o tipo de IMN e sua respectiva avaliação de desempenho. A ideia é se tornar familiar a cada caso,
permitindo que seus padrões únicos emirjam e se tornem evidentes, para posterior análise por comparação transversal;
Cross-case/Transversal – Usada secundariamente, como auxílio à within-case; a
cross-case ocorre em um mesmo momento ou fase de tempo (EISENHARDT;
GRAEBNER, 2007). Ou seja, somente depois da análise within-case a cadeia de evidências será usada para procurar transversalmente por padrões (similaridades e diferenças) segundo caracteristicas mensuráveis. Conforme método a ser exposto na seção 3.2, as empresas-caso serão comparadas entre si na fase atual de suas IMNs. Reitere-se que, neste estudo de caso de tipo “elaboração de teoria”, a análise
cross-case tem lógica indutiva (KETOVIKI; CHOI, 2014).
Os dois tipos de análises serão combinados conforme Figura 15. O maior desafio da análise foi demonstrar a objetividade do processo pelo qual os dados e informações se tornam conclusões válidas (BARRATT; CHOI; LI, 2011). Por isso, no capítulo do trabalho de campo, cada caso terá um relatório próprio, com a síntese da narrativa e a cadeia de evidências empíricas (VOSS; TSIKRIKTSIS; FROHLICH, 2002).
Figura 15 – Combinação das análises within-case/longitudinal e cross-case/transversal.
Fonte: elaborado pelo autor.
IMN1.1 + Avaliação
DesempenhoIMN1.1 ...
IMN 1.atual + Avaliação DesempenhoIMN 1.atual
IMN2.1 + Avaliação
DesempenhoIMN 2.1 ... DesempenhoIMN 2.atualIMN 2.atual + Avaliação
IMNn.1 + Avaliação
DesempenhoIMN n.1 ...
IMN n.atual + Avaliação DesempenhoIMN n.atual
Fase 1 ... Fase atual
Caso 1 Caso 2 Caso n Análise Transversal A ná lis es Lo ng it ud in ai s
Por fim, essas evidências serão comparadas aos objetivos via pattern matching, segundo critérios de avaliação especialmente desenhados para a pesquisa. Serão compiladas conclusões quanto à validade e usabilidade do modelo do processo de avaliação de desempenho de IMNs, assim como outros descriptive insights.