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5. TURISMO RURAL

5.2 T URISMO R URAL EM P ORTUGAL

Em Portugal, o Turismo é um dos principais setores estratégicos da economia devido à sua capacidade de criar riqueza nacional, regional, local e emprego, quer seja direta ou indiretamente (Costa, 2004; Daniel, 2010; Fernandes & Proença, 2008; Kastenholz et al., 1999; MEID, 2009; Pessoa, 2008; Turismo de Portugal, 2010; Turismo de Portugal, 2007). Para além do grande impacto que apresenta no Produto Interno Bruto (PIB), na Balança de Pagamentos, no investimento e rendimento é-lhe reconhecido o papel de “motor” de desenvolvimento de outras atividades (Daniel, 2010).

Os dados apresentados no relatório de sustentabilidade de 2010 do Turismo de Portugal (2010) demonstram que todos os indicadores da atividade turística subiram e o crescimento que proporcionou na balança turística, permitiu atenuar o défice da balança comercial. Ao nível da competitividade do setor, o relatório permite observar Portugal numa posição de destaque relativamente a outros destinos concorrentes na Bacia do Mediterrâneo (3º lugar atrás da França e Espanha). O contributo do Turismo para o PIB tem vindo a manter uma tendência crescente atingindo um peso de 9,2% do PIB em 2010 e um aumento de 0,4% relativamente a 2009.

Portugal é dotado de matérias-primas – condições climatéricas, recursos naturais e culturais – indispensáveis à consolidação e desenvolvimento do Turismo, que lhe permitem deter vantagens competitivas claras, quando acompanhadas de uma oferta estruturada, distintiva e inovadora (Turismo de Portugal, 2009). Paisagem, clima, ambiente e cultura são importantes ativos turísticos e a sua combinação converte-se num fator de diferenciação entre regiões e

humanos são um dos vetores de preocupação do Plano Estratégico traçado para o setor, para que a qualidade seja reforçada ao longo dos “momentos de verdade” e se façam dotar da experiência e capacidades necessárias (Turismo de Portugal, 2007).

Para se diminuir a dependência do turismo de sol e mar em Portugal, responder a diferentes apelos, necessidades e exigências, para além de incentivar o desenvolvimento das regiões do interior e evitar a saturação dos destinos turísticos tradicionais, procura-se diversificar a oferta, harmonizar o aproveitamento do espaço territorial português e diminuir as consequências da sazonalidade da atividade (Daniel, 2010; Loureiro & González, 2008; Loureiro et al., 2006; MEID, 2009; Sharpley, 2002).

O surgimento do TR deveu-se essencialmente a uma mudança de comportamentos e a uma preocupação da sociedade, e em particular de alguns turistas, por questões ecológicas (Fernandes & Proença, 2008; Serrano, 2004; Serrano & Molina, 2002). O retorno ao ambiente natural das populações urbanas mais humanizadas e a procura por recreação e lazer por parte destas, originam novas motivações para mudarem o tipo de viagens que desejam fazer (Fernandes & Proença, 2008; Kastenholz et al., 1999; Loureiro & González, 2008; Ribeiro et al., 2004; Salgado, 2010; Serrano, 2004).

Estas mudanças promovem alterações nos comportamentos e diversificação nos produtos e atividades turísticas (Vareiro & Ribeiro, 2005). O conhecimento de tradições e costumes, por vezes esquecidas ou desconhecidas, a tranquilidade e atividade física para enfrentar o sedentarismo do trabalho diário, tornam-se novidades para um cliente pouco habituado a estes aspetos (Ribeiro et al., 2004; Salgado, 2010). A alteração do perfil do turista perante estas mudanças potencia oportunidades para o setor (Costa, 2004; MEID, 2009).

Loureiro (2010) salienta que o TR é visto como turismo no campo que engloba o ambiente e produtos rurais (ex: comida e feiras) no pacote essencial para os turistas. Pode ser observado como o turismo dentro do país que envolve o ambiente rural como produto pivot oferecido, localizado em áreas rurais, construído com base nas caraterísticas especiais do mundo rural, empresas de pequena dimensão, espaço aberto e sustentabilidade (Loureiro & González, 2008).

O TR, embora seja considerado uma atividade dentro de um setor de serviços, apresenta caraterísticas próprias e tem como objetivo essencial oferecer aos utilizadores a oportunidade de reviver as práticas, os valores e as tradições culturais e gastronómicas das sociedades rurais, beneficiando ao mesmo tempo da hospedagem, acolhimento personalizado e ambiente familiar e doméstico (Salgado, 2010; Serrano & Molina, 2002; Silva, 2007).

As interações estabelecidas permitem desenvolver amizades que criam ligações afetivas aos lugares, o regresso ao mesmo estabelecimento ou a outro no mesmo local (Silva, 2007). Por isso, é considerada uma das atividades melhor colocada para assegurar a revitalização do tecido económico rural, por valorizar recursos da área, da história, da tradição e da cultura regional (Salgado, 2010).

A pequena dimensão e localização dispersa das empresas rurais dificultam investimentos e a atração dos turistas. No entanto, o TR pode ser um pilar de desenvolvimento dos espaços rurais, por si só ou através da dinamização de muitas outras atividades económicas que interagem com a atividade turística (García, 2005; Salgado, 2010).

Em Portugal, o TR apareceu no ano de 1979, em alguns locais, tais como Ponte de Lima devido, precisamente, à diversidade geográfica, cultural e gastronómica e foi regulamentada em 1986 pelo Decreto-Lei nº 256/86 de 27 de agosto.

O DL nº 54/2002 de 11 de março define TR como o "conjunto de atividades, serviços de alojamento e animação a turistas, em empreendimentos de natureza familiar, realizados e prestados mediante remuneração, em zonas rurais." Esta definição engloba os alojamentos de áreas locais onde se incluem casas com arquitetura marcante e de valor histórico, casas de campo, representações de arquitetura típica e quintas, na sua maioria com os proprietários a viverem nos estabelecimentos e a providenciarem uma experiência de hospitalidade de natureza personalizada (García, 2005; Loureiro, 2010; Salgado, 2010).

A nível nacional, o TR foi designado por Turismo no Espaço Rural (TER) e encontra-se muito diferenciado na sua distribuição, existindo áreas geográficas com grande concentração populacional e outras praticamente despovoadas (Fernandes & Proença, 2008; Salgado, 2010). Segundo Salgado (2010) isto deve-se a dificuldades na gestão das áreas rurais em prol das necessidades e benefícios procurados pelos turistas que as visitam. Apesar de tudo são áreas que apresentam condições que permitem desenvolver ofertas muito diversificadas, dado que a montante e a jusante se encontra um conjunto de atividades que alimentam, diversificam e qualificam a oferta turística de um território (Fonseca & Ramos, 2007; García, 2005). O estímulo a atividades diretamente relacionadas (hotelaria, restauração, animação) bem como a atividades de produção de artesanato e produtos regionais é exemplo do benefício do TR para essas regiões (García, 2005).

Esta atividade é considerada como uma forma de dinamização, revitalização e sustentabilidade das economias rurais, porque contribui para a criação de emprego, de infraestruturas e reabilitação do património natural, arquitetónico e cultural (Anderson & McAuley, 1999; Fernandes & Proença, 2008). Nas suas diversas modalidades, o TR é apontado como tendo potencial para assegurar a multifuncionalidade de alguns espaços rurais, contribuir para o seu desenvolvimento sustentável e satisfazer a procura turística por destinos mais individualizados de maior qualidade. Nas modalidades de turismo não massificado, o TR ocupa um lugar de referência (Fonseca & Ramos, 2007) sendo que um marketing diferenciado, adaptado aos diferentes segmentos e produtos turísticos, pode maximizar os benefícios para todas as partes envolvidas (Kastenholz et al., 1999; Salgado, 2010).

A expansão do TR é uma tendência comum na maioria dos países da Europa, onde as “pessoas urbanas” têm optado pela escolha de zonas rurais para seu destino de férias e em Portugal essa tendência também se verifica (Loureiro & González, 2008).

Segundo os dados do Turismo de Portugal (2009), a evolução do TER de 2005 a 2009 (último ano de dados disponível), em termos de número de estabelecimentos, de camas e taxas de ocupação por NUT II e por modalidade de TER tem vindo a aumentar (ver anexo 1). Os dados indicam que a zona norte e centro e em expansão a zona alentejana são as que apresentam maior concentração de estabelecimentos e capacidade de alojamento (Tabela 40 e Tabela 42). As modalidades que prevalecem são o TER, seguido pelas Casas de Campo e pelo Turismo de Habitação (Tabela 41) Estes dados salientam a importância dos destinos turísticos tradicionais de oferta de sol e mar na zona litoral que continuam a concentrar grande parte da oferta turística em Portugal (Loureiro & González, 2008). A maior ocupação dos estabelecimentos verifica-se nas zonas de Lisboa e Algarve (Tabela 44) sendo que as modalidades com maior taxa de ocupação são: os Hotéis Rurais, o Turismo de Aldeia e o Agroturismo (Tabela 45). No entanto, as modalidades que apresentam maior capacidade de alojamento são o TER, seguido do Turismo de Habitação e das Casas de Campo (Tabela 45) e apesar da procura por este tipo de turismo ser essencialmente portuguesa a tendência de turistas estrangeiros tem-se mostrado bastante positiva (Tabela 46).

Perante estes factos verifica-se que o TR é uma realidade a nível nacional e por isso torna-se pertinente o desenvolvimento de investigação que permita melhorar a sua oferta bastante diversificada e personalizada. Acresce ainda o facto do perfil do turista que o procura ser bastante diferente do perfil do empresário de TR. O perfil do empresário de TR caracteriza- se, geralmente, por um baixo nível académico (Loureiro & González, 2008; Loureiro et al., 2006), contrariamente ao perfil do turista, que se caracteriza por elevado nível académico (Lane, 2009; Loureiro & González, 2008; Loureiro et al., 2006). Por sua vez, o empresário de TR, concentra em si a maior parte das funções de gestão dos estabelecimentos ou tem outra profissão em acumulação (IESE, 2008).

Para responder a estas novas caraterísticas, os empresários têm que providenciar produtos de valor acrescentado que estimulem a disposição dos turistas para os pagarem. Assim, o aspeto chave para um novo modelo de gestão de turismo pode passar pela qualidade de serviço alcançada por novas políticas de recursos humanos (Costa, 2004).