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TABELA 11 DISTINÇÃO SOCIAL DAS TESTEMUNHAS 2, 1752-1816 Distinção social n %

Alferes 3 2,3% NC 123 93,2% Sacristão 1 0,8% Sargento Mor 1 0,8% Tenente 4 3,0% Total 132 100,0%

Fonte: Livro de registro de casamento da Paróquia Nossa Senhora dos Milagres, 1752-1816. APNSM. Na Tabela 11, percebemos um menor registro de distinção social das testemunhas 2, se comparada com a Tabela 6, pois em 123 ou 93,2 % não ocorreu o registro. No entanto, este dado não significa que não houve outras pessoas distintas socialmente. Muitas vezes, por negligência do pároco, pode ter-se deixado de fazer a referida anotação. Afirmamos isto, com base na informação em que constava apenas 1 ou 0,8% Sacristão, listado entre as testemunhas 2. Ao verificarmos, descobrimos que se tratava de Máximo Pereira da Silva. Entre as testemunhas 2, o citado sacristão aparece seis vezes como testemunha de casamento. No total, ao associarmos as Tabelas 10 e 11, o Sacristão Máximo Pereira da Silva testemunhou dez matrimônios. Joaquim Pereira da Silva, mencionado entre as testemunhas 1, na Tabela 10, também reaparece entre as testemunhas 2, na Tabela 11, que registra seu testemunho em mais dois casamentos. O mesmo ocorreu com o Ignacio Rodrigues da Rocha, citado entre as testemunhas 1. Este aparece entre as testemunhas 2 na Tabela 11, tendo testemunhado mais cinco matrimônios. Ademais, devemos ressaltar que nem todas as pessoas que tinham posses possuíam algum cargo militar ou administrativo. Por exemplo, o Manoel da Assunção Xavier, citado no primeiro capítulo, era proprietário de vários escravizados (14) além de possuir um sítio de terras para criar gados denominado [a pasagen?] casa de vivenda neste mesmo sítio. Era também dono de sítios no brejo, onde plantava mandioca e algodão, conforme informações do inventário da sua esposa Inácia do Espírito Santo, aberto em 1803. Ou seja, era um homem rico57. O dito Manoel Xavier testemunhou três casamentos: Manoel – cuja cor/origem étnica e racial não foi identificada – e Anna, esta gentio de

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Inventário de Inácia do Espírito Santo, 1803. Inventário sob a guarda do Fórum Nivaldo de Farias Brito, São João do Cariri/PB.

Guiné, ambos escravizados do Capitão Francisco Dias, casados em 15/07/175758; Domingos e Domingas, esta gentio de Guiné, cujo noivo não teve informada a cor/origem étnica e racial, escravizados do Capitão Mor Clemente de Amorim e Souza, cujo casamento se realizou em 03/02/176559; Domingos e Maria, esta gentio de Angola, e, quanto ao noivo, não consta a informação sobre sua cor/origem étnica e racial. Os dois eram escravizados do Capitão Jozé Rodrigues da Costa, tendo sido realizado o enlace em 02/02/177860.

Sheila Faria comenta que as testemunhas dos casamentos não desempenhavam o mesmo papel que os padrinhos de batismos. Estes tinham responsabilidades para com seus afilhados, como veremos mais adiante; as testemunhas, por sua vez, atestavam o desimpedimento dos nubentes. A citada autora chega a afirmar que as testemunhas não tinham tanta importância, “já que foram as mesmas a assinar em várias séries de assentos” (FARIA, 1998, p. 309). De fato, a função das testemunhas não era a mesma de um padrinho, mas cremos que seja um exagero ressaltar que não tiveram tanta importância porque foram recorrentes no assento. Acreditamos que a recorrência das testemunhas nos registros implica que a pessoa poderia conhecer bem os moradores da freguesia, inclusive os escravizados e principalmente seus respectivos proprietários. No caso do citado Máximo Pereira da Silva, sua atividade era sacristão, uma pessoa envolvida nos rituais da Igreja, logo, deveria ter conhecimento sobre os fregueses da Paróquia.

Além disso, notamos que assim como os proprietários não costumavam apadrinhar seus cativos no batismo, também não testemunhavam os matrimônios de seus escravizados. Se a função da testemunha era garantir que os nubentes de fato eram livres para o casamento, os proprietários seriam as melhores pessoas a conhecer os seus trabalhadores, afinal foram eles quem os haviam comprado, sabiam de sua procedência, além dos nubentes viverem em suas propriedades. Mas foram poucos os assentos em que uma das testemunhas era o próprio dono do noivo e/ou da noiva. A título de exemplo, temos o Tenente Coronel Pascacio Ferreyra de Oliveira, que testemunhou o enlace de seus escravizados Jozé e Catharina, ambos gentios de Angola, ocorrido em 15 de outubro de 177061. Brás Marinho Falcão foi outro proprietário que testemunhou o casamento de seus cativos – Luis e Maria, do gentio de Guiné, casal citado na introdução.

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Livro de registro de casamento da Paróquia Nossa Senhora dos Milagres, 1752-1800, folha 54. APNSM.

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Livro de registro de casamento da Paróquia Nossa Senhora dos Milagres, 1752-1800, folha 59. APNSM.

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Livro de registro de casamento da Paróquia Nossa Senhora dos Milagres, 1752-1800, folha 69. APNSM.

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Não descartamos a ideia da escolha das testemunhas estar associada a uma imposição senhorial. No entanto, percebemos que a importância das testemunhas se limitou à afirmação que os nubentes estariam livres para o matrimônio e que tal afirmação poderia perpassar pelo seu relacionamento com os respectivos proprietários dos nubentes. Não temos dúvidas que as testemunhas foram fundamentais para a concretização do ritual, mas sua atuação não ultrapassou o nível religioso. Afirmamos isto porque alguns casais levaram seus filhos para receberem o sacramento do batismo e observamos que nenhuma pessoa que testemunhou o casamento firmou novas sociabilidades com o casal, apadrinhando seus filhos.

No que se refere às distinções sociais registradas na Tabela 11, notamos que os tenentes foram solicitados, foram 4 ou 3,0%: Francisco Dias Couto, José da Lus Marinho, Manoel de Faria Crasto e Antonio Fernandes. Não temos como afirmar como se dava a escolha das testemunhas, se era feita pelo proprietário ou pelos nubentes ou os três entravam em algum acordo para efetuar a escolha. Mas o fato das testemunhas não firmarem novas sociabilidades com os casais no ritual do batismo foi algo que nos chamou a atenção, pois leva-nos a levantar a hipótese de que a reafirmação de sociabilidades foi algo difícil. Sendo assim, verificamos que a funcionalidade das testemunhas era a comprovação do desimpedimento do casal para o matrimônio, se limitando às funções religiosas.

Entre as testemunhas 2, na Tabela 11, verificamos a presença de uma testemunha na condição escrava. Pedro do Paraíso, escravizado de Nossa Senhora do Paraíso e de João de Deus do hospital do Recife, foi uma das testemunhas do casal Benedito de Souza, escravizado do mesmo proprietário da citada testemunha, e Theresa dos Santos, do gentio de Angola, escravizada de Manuel Alvares dos Santos. O matrimônio foi realizado em 8 de janeiro de 177762. Pedro do Paraíso foi a única testemunha identificada na condição escrava. Quanto às demais, não foi especificada a condição jurídica, pois se tratavam de pessoas livres. Isto nos demonstra que essas pessoas eram as mais procuradas para o ato de testemunhar os matrimônios.

Os registros de casamento nos fornecem outras informações sobre as testemunhas, como o estado civil. Vejamos a Tabela 12:

TABELA 12 - ESTADO CIVIL DAS TESTEMUNHAS, 1752-1816