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TABELA 22 – NÚMERO DE MATRÍCULAS EM CURSOS DE GRADUAÇÃO EaD POR ÁREA DO CONHECIMENTO – BRASIL,

EDUCAÇÃO 538.952 99.109 439.843

HUMANIDADES E ARTES 5.339 88 5.251 CIÊNCIAS SOCIAIS, NEGÓCIOS, DIREITO 575.483 28.199 547.284 CIÊNCIAS, MATEMÁTICA E COMPUTAÇÃO 31.610 5524 26.086 ENGENHARIA, PRODUÇÃO E CONSTRUÇÃO 26.454 424 26.030 AGRICULTURA E VETERINÁRIA 2.446 421 2.025 SAÚDE E BEM-ESTAR SOCIAL 104.939 3.544 101.395

SERVIÇOS 56.619 2064 54.555

TOTAL 1.341.842 139.373 1.202.469

PÚBLICO

MATRÍCULAS EM CURSOS DE GRADUAÇÃO EaD POR ÁREA DE CONHECIMENTO - BRASIL, 2014

ÁREA DO CONHECIMENTO TOTAL PRIVADO

Na modalidade EaD, as matrículas na área de Exatas reuniram 1,9% dos alunos; por outro lado; na área de Humanas, o quantitativo de matrículas alcançou 42,9% do total dos alunos. Isso confirma a tendência da modalidade EaD como via formativa para trabalhadores de nível superior que não estarão inseridos diretamente na produção, posto que os profissionais para esse campo são formados primordialmente por meio dos cursos presenciais. Identificamos, assim, uma diferenciação no percurso formativo para o trabalho complexo no Brasil contemporâneo, onde a modalidade EaD emerge como instrumento para ampliar o acesso ao ensino superior num nicho específico das áreas do conhecimento: Humanas.

Os dados relacionados às matrículas categorizadas por áreas de conhecimento apontam, na modalidade presencial, a tendência da expansão do acesso ao ensino superior por meio de cursos da área de Humanas. Os cursos da área de Exatas têm número de matrículas consideráveis, mas não superam os primeiros.

Ao voltarmos nosso olhar para a modalidade EaD, o quantitativo de matrículas em cursos da área de Humanas é elevado sobremaneira, sem que a mesma tendência possa ser verificada na categoria de Exatas.

A esperada ampliação do acesso à educação superior por meio do uso do EaD como estratégia, de fato, vem sendo realizada, todavia, o conteúdo desse processo é muito diferente da expectativa criada em torno da imagem do EaD: de uma suposta democratização do acesso ao ensino superior, como se isso significasse a ampliação indiferenciada do acesso a todos os cursos. O que a análise dos dados nos indica é a ampliação do acesso a uma fração específica do ensino superior (área da Educação, Ciências Sociais, Negócios e Direito); enquanto o suposto movimento democratizante do acesso não chega às demais áreas com o mesmo vigor.

Segundo o Resumo Técnico da Educação Superior para o ano de 2015, as matrículas em cursos da área de conhecimento Engenharia, Produção e Construção englobaram 2,43% das matrículas totais no EaD. A ampliação, portanto, foi irrisória, comparada à elevação do número de matrículas que vem sistematicamente sendo estabelecida nas áreas de conhecimento de Educação; Ciências Sociais, Negócios e Direito; Saúde e Bem-estar Social, totalizando, em 2015, 89,7% de matrículas, com 1.250.603 alunos matriculados.

Destarte, o EaD, de acordo com os dados analisados, é uma estratégia para massificação do ensino superior, visto que, o conteúdo da suposta ampliação e a forma como ela vem ocorrendo expressam que as áreas do conhecimento mais relevantes, nessa estratégia, são as áreas de Humanas ou Ciências Sociais, ao passo que, as áreas do conhecimento ligadas às áreas de Exatas não têm participação significativa na expansão do ensino superior por meio do EaD.

Nesse sentido, compreendemos o uso do EaD como uma estratégia de expansão do ensino superior no novo século, a fim de estruturar um sistema de educação terciária, próprio ao paradigma da “sociedade do conhecimento”, adequado à inserção do Brasil na ordem capitalista mundializada sob a hegemonia do capital financeiro.

A concentração das matrículas do EaD em cursos voltados para a formação de trabalhadores na área social vai ao encontro da perspectiva de interpretação, anteriormente apresentada, de formação de trabalhadores complexos para atuação em prol da “nova sociedade civil”, repolitizada, norteada por valores de conciliação de classes sociais, num panorama onde o Estado, orientado pelo programa neoliberal, tende a reorientar suas ações, se retirando da execução diretadas políticas sociais para atuação como gerenciador das mesmas, de modo que o campo das políticas sociais vai sendo aberto para o mercado na perspectiva de valorização do capital, mediante sua mercantilização. Igualmente, temos uma estratégia para ampliar o ensino superior como um espaço mercantilizado, posto que, o investimento da empresa para a estruturação desse mercado é relativamente baixo, se comparado à constituição de cursos presenciais, ou cursos das demais áreas de conhecimento que demandam uma estrutura mais robusta, com laboratórios e equipamentos.

Nesse ponto, retomamos o esforço de sistematização teórica para analisar esses dados. Supostamente, de acordo com a visão de mundo burguesa, fundamentada na teoria do capital humano, a estratégia do EaD seria um instrumento para ampliar oportunidades educacionais aos indivíduos além de promover o desenvolvimento de um país “atrasado” como o Brasil.

Contudo, em uma perspectiva crítica, apreendemos que o Brasil, como país capitalista dependente, tem o seu desenvolvimento vinculado ao panorama mais amplo do sistema capitalista. Assim, as determinações para a situação de suposto atraso ou subdesenvolvimento não são apenas internas, são causas localizadas nas relações estabelecidas internamente, bem como com o centro do sistema capitalista.

Levantamos, pois, a seguinte questão: como seria possível por meio da estratégia do EaD, com o conteúdo e direção, que por meio dos dados oficiais, pudemos observar até esse momento, promover oportunidades educacionais assim como, alavancar o desenvolvimento do país, se a oferta de cursos e a concentração das matrículas dos discentes estão localizadas em áreas que não se relacionam diretamente com a produção? Pelo contrário, o que foi possível observar, até agora, foi uma grande centralização de matrículas em cursos para a formação de intelectuais professores e bacharéis.

É possível acrescentar, ainda, na nossa perspectiva de crítica à estratégia do EaD como via de democratização do acesso ao ensino superior, a questão de sua distribuição de acordo com as regiões geográficas brasileiras.

O EaD vem sendo utilizado, supostamente, para promover oportunidades educacionais para que os indivíduos possam aumentar seu capital humano e, por conseguinte, elevarem suas condições de vida, mas se nos voltamos para a análise da distribuição das matrículas desses cursos pelas cinco regiões geográficas do país, nos deparamos com um quadro que não confirma esse discurso. Historicamente, a região sudeste apresenta maior desenvolvimento econômico, seguida pelas regiões sul, centro- oeste, norte e nordeste.

Logo, se nos deixarmos guiar pelo senso comum e teoria do capital humano, a expectativa seria de encontrarmos maior oferta de vagas e matrículas para as regiões menos desenvolvidas economicamente (do ponto de vista capitalista) com o horizonte de criação de oportunidades para a escolarização em nível superior para que os indivíduos pudessem melhorar suas condições de vida isoladamente e, por conseguinte da região.

Vejamos os dados relativos à distribuição dos cursos, segundo as regiões geográficas. De acordo com o Resumo Técnico da Educação Superior de 2014, a região sudeste concentra o maior número de cursos presenciais, com 1.663 cursos, enquanto a região norte figura com 811 cursos e a nordeste com 1.616.

GRÁFICO 16 – CURSOS PRESENCIAIS SEGUNDO AS REGIÕES