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Neste capítulo serão apresentadas algumas considerações que destacam a importância de se estudar Tabela Periódica, assim como o uso desse recurso no contexto escolar. Será reforçado aqui o interesse da escolha desse tema para a pesquisa baseando-se nos documentos legais orientadores na disciplina de Química para o Nível Médio.

Autores assinalam que a Química está ligada de certa forma com a Tabela Periódica e, por sua vez, a descoberta da lei periódica é considerada um marco sem precedentes no desenvolvimento desta ciência (FILHO; FARIA, 1990). A literatura sobre Tabela Periódica é muito vasta, então cabe aqui neste trabalho enfatizar a importância da lei periódica, o porquê da escolha do tema e mostrar qual sua importância para o Ensino de Química.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – PCNEM, o conhecimento químico não deve ser entendido como um conjunto de conhecimentos isolados, prontos e acabados, mas como uma construção da mente humana em contínua mudança (BRASIL, 1999). Apesar disso, no Brasil a abordagem do conhecimento químico na escola continua praticamente a mesma (CHASSOT, 1995). São priorizadas informações desligadas da realidade vivida pelos alunos e professores. Muitas vezes são enfatizadas propriedades periódicas tais como Eletronegatividade, Raio Atômico, Potencial de Ionização, entre outras, em detrimento de conteúdos mais significativos sobre os próprios elementos

químicos como ocorrência, métodos de preparação, propriedades, aplicações e as correlações entre esses assuntos (BRASIL,1999).

O aprendizado da Química pelos alunos do Ensino Médio implica levá-los a compreender as transformações químicas que ocorrem no mundo físico de forma abrangente e integrada, para que assim possam julgar com fundamentos as informações advindas da tradição cultural da mídia e da própria escola e tomar decisões autonomamente, enquanto indivíduos e cidadãos (BRASIL, 1999). Acreditamos que eles, os alunos sejam capazes de ter essa visão independente de serem deficiente ou não, já que o Ensino de Química visa a contribuir para a formação da cidadania, com o pleno desenvolvimento de conhecimentos e valores que possam atuar como mediadores da interação do indivíduo com o mundo.

É importante para os alunos que vivenciem fatos concretos, observáveis e mensuráveis, uma vez que os conceitos que trazem para sala de aula vêm principalmente de sua leitura do mundo macroscópico. Dentro dessa ótica, podem ser entendidas também as relações quantitativas de massa, energia e tempo que existem nas transformações químicas. Esse entendimento pode ser o ponto de partida para o desenvolvimento de habilidades referentes ao conhecimento de tendências e relações a partir de dados experimentais, de raciocínio, bem como a construção de tabelas e gráficos (BRASIL, 1999).

Autores destacam, que o estudo da lei periódica dos elementos químicos e a organização destes na Tabela Periódica é de importância fundamental para o aprendizado da Química (RIVAL, 1997; BELTRAN; CISCATO, 1995). Esse destaque remete ao papel que o conhecimento sobre esse assunto desempenha no desenvolvimento e formação de outros conceitos significativos na Química. O contexto da Tabela Periódica consiste, essencialmente, na compreensão do

fenômeno da periodicidade que manifesta a essência da utilização do sistema periódico para comparar e predizer as propriedades dos elementos, assim como suas combinações em distintas substâncias. Pode-se afirmar que a lei periódica tanto constitui um objeto de estudo como também uma ferramenta para abordar as substâncias e suas transformações. Esse duplo papel, que mantém estreita relação, revela esse conteúdo como fundamental para a aprendizagem dos alunos do conhecimento químico. Nas escolas e nos livros didáticos brasileiros o tema é abordado, às vezes, já na 8a série do Ensino Fundamental e retomado na 1a série do

Ensino Médio.

A História da Ciência mostra que a lei periódica dos elementos possui um lugar de destaque. Corresponde a uma base fundamental para o estudo das substâncias, sua estrutura e transformações, por isso considerar-se a Tabela Periódica uma parte da Química de extrema importância para toda essa ciência.

A assimilação dos alunos da lei periódica não pode ser compreendida como um simples ato de memorização quando esta lhes é apresentada por meio da literatura existente. Os alunos deverão ser preparados para isso, de forma que esse novo conceito de construção do conhecimento tenha lugar de maneira efetiva e consistente (MOREIRA, 1999).

Há um certo consenso mostrando que a aprendizagem da lei periódica não deve acontecer por meio de memorização. Entretanto, muitas vezes, a Tabela Periódica é apresentada de maneira dogmática, carregada de regras de localização dos elementos (BELTRAN; CISCATO, 1995), ou seja, deve-se evitar que o ensino do tema converta-se em uma avalanche de informações de caráter enciclopédico.

É interessante que os alunos tenham contato com as diversas tentativas de classificação dos elementos químicos, o que contribui de maneira especial à

construção do conceito de periodicidade. Outro aspecto importante é que o conceito de periodicidade seja trabalhado a partir de evidências concretas. Em contrapartida, a comparação de diferentes composições dos elementos é facilitada pela utilização de tabelas que envolvam o nome do elemento, o símbolo, a massa atômica e a fórmula do composto formado. Tais cuidados constituem um exemplo para a preparação dos alunos na construção do conceito de periodicidade.

Posteriormente, como sugestão, podem ser, trabalhados grupos de elementos de características opostas para, a partir de então, introduzir o conceito de família e, paralelamente, fazer com que organizem os elementos, procurando determinar uma variação periódica segundo as propriedades, o que provoca como conseqüência o reconhecimento do aumento da massa atômica.

Dessa forma, a apropriação dos novos conceitos é facilitada, pois o aluno é levado a distinguir as semelhanças entre as propriedades dos elementos e sua relação com o aumento da massa atômica, assim podem ser introduzidos conceitos como grupo, subgrupo, posição dos elementos, relação entre valência e o número do grupo, entre outros. Essa preparação culmina com o manejo da Tabela Periódica e a compreensão de sua importância como ferramenta para predizer propriedades e composição das substâncias.

Em geral, para a verificação da aprendizagem desses conceitos é solicitado aos alunos que façam a localização de elementos na Tabela Periódica, segundo suas propriedades ou para uma determinada valência ou outras. Isso demonstra que é imperativa, a utilização desta como ferramenta ou banco de informações. Uma sugestão de vários autores que discutem a metodologia no ensino de Química (BELTRAN; CISCATO, 1995; ARCE; LEYVA; DÍAZ, 1990) é que a Tabela Periódica

fique acessível ao aluno na sala de aula para que seja freqüentemente utilizada tanto individualmente como em grupo.

Entende-se, portanto, que a exposição da Tabela Periódica facilita o entendimento dos alunos, que, ao visualizá-la, procuram associar com os conceitos trabalhados. No caso dos alunos deficientes visuais cegos ou de visão subnormal – a disponibilidade e a utilização da Tabela Periódica nessas atividades por si só já os excluem dos demais alunos.

No contexto das escolas da rede pública da cidade do Natal, a Tabela Periódica disponível, quando existe, encontra-se em Braille, sendo apresentada em várias páginas o que, em geral, dificulta o trabalho do professor e o aprendizado do aluno e, conseqüentemente, sua exclusão em tais atividades na sala de aula.

A linguagem Braille em conjunto com a Tabela Periódica foi utilizada para facilitar a compreensão do assunto em questão, pois permite ao deficiente visual ler e escrever facilitando a sua aprendizagem, já que a escrita Braille representa todo um potencial sócio-cultural para a compreensão e comunicação dos fatos abordados para o seu desenvolvimento, enquanto aluno deficiente visual e cidadão.

No decorrer deste trabalho, optamos por escolher a lei periódica dos elementos com o sistema Braille para os deficientes visuais pelo fato de ser a Tabela Periódica indiscutivelmente o conceito mais eminente da Química, tanto do ponto de vista teórico quanto prático. Além do mais, ela está presente no dia-a-dia de alunos e professores de Química, sobretudo como fonte primordial ao desenvolvimento de novas linhas de pesquisa nessa área, para alunos do Ensino Médio, Graduação e Pós Graduação.

Com a descoberta da inúmera quantidade de elementos e suas propriedades identificadas na natureza, necessitava-se então que estes fossem organizados segundo as características de cada um, e a partir da Tabela Periódica podemos analisar uma série de propriedades dos elementos.

O nome Tabela Periódica deve-se à periodicidade, que é a repetição das propriedades dos elementos em cada grupo. Na classificação das propriedades, os elementos químicos variam periodicamente com seus números atômicos.

Compreender a disposição dos elementos químicos na Tabela Periódica, aprender a construí-la, discutir suas propriedades, caracterizar a periodicidade dos elementos que a constituem, são fundamentos essenciais para os alunos, independente de serem deficientes visuais ou não que se iniciam na ciência Química.

Em se tratando de deficientes visuais, faz-se necessário que possuam alguns subsídios básicos, tais como: noções de espaço, plano, coordenadas para que possam assimilar mentalmente como se dá a distribuição dos elementos químicos na Tabela Periódica, sem que se faça necessário memorizar as disposições dessa importante ferramenta do químico.

Nesse caso específico, o sistema Braille, como afirmado anteriormente, é o mais utilizado como recurso para os deficientes visuais, visto que este sistema é um conjunto de lógica, simplicidade e de polivalência, adaptado a todas as línguas e a toda espécie de grafia. Ao propor esse sistema, Louis Braille abriu a esses indivíduos as portas da cultura.

O sistema Braille, como foi mostrado anteriormente é constituído por 63 sinais obtidos a partir da combinação de seis pontos que, na sua forma fundamental,

agrupam-se em duas filas verticais de três pontos cada. Esses sinais não excedem o campo táctil e podem ser identificados com rapidez dependendo da experiência do leitor, pois se adaptam bem à polpa do dedo. Foi comprovado experimentalmente que o tamanho das células do Braille e dos pontos que formam as letras está muito próximo do ideal sob o ponto de vista psicofísico (COLL, 1995).

Relacionando percepção e o processamento da informação mediante o tato e a visão, Coll (1995, p.185) enfatiza que:

a captação mediante o tato é muito mais lenta que a proporcionada pelo sistema visual, o que traz consigo uma explicação de caráter seqüencial. Isto dá lugar a uma maior carga na memória do trabalho, quando os objetos a serem explorados são grandes ou numerosos. Imaginemos o tempo que um cego leva para explorar um objeto grande como uma mesa, e a quantidade de pequenas percepções que deverá integrar até obter sua imagem, se compararmos com a rapidez da exploração visual desta mesma mesa.

De acordo com essas percepções, a Tabela Periódica mais compacta visa a minimizar as dificuldades para exploração de suas propriedades, em que, através das texturas, das formas como os elementos estão disponíveis, poderão facilitar o processo de ensino-aprendizagem. A textura parece ter para o tato uma saliência perceptiva semelhante a da cor para a visão (WARREN apud COLL, 1995).

Essa necessidade exploratória é que torna o sistema perceptivo – o tato – semelhante ao visual, ainda que o primeiro tenha um desenvolvimento muito mais lento. O comprometimento visual faz com que o sentido do tato passe a ser o sentido com o qual se capte, primordialmente, a informação dos objetos. O

desenvolvimento das habilidades perceptivas táteis afeta o conhecimento do meio e marca seu próprio ritmo da construção de estratégias de conhecimento (COLL, 1995).

Até o aparecimento do sistema Braille, os indivíduos cegos se encontravam vedados ao acesso à leitura. O Braille é reconhecidamente o único meio natural, universal e indispensável de leitura para as pessoas privadas da visão (MARTIN; BUENO, 2003).

Entende-se que a aprendizagem da linguagem Braille deve estar ligada ao contato vivencial com as pessoas e objetos do mundo circundante. É claro que nem todas as palavras podem ser ilustradas, existem conceitos como cor, perspectiva, espaço tridimensional, entre outros, que não podem ser aprendidos por meio de tato, audição e paladar (MARTIN; BUENO, 2003).

Nessa linha de pensamento, entendemos que a Tabela Periódica reproduzida no sistema Braille auxilia tanto o trabalho docente como a aprendizagem do aluno deficiente visual, visto que dinamiza o desenvolvimento e concretização desse processo, funcionando como uma atualização das competências adquiridas durante toda a sua vida. O Braille faz com que o deficiente visual usufrua da tecnologia disponível, como os sistemas de computadores, os sintetizadores de voz, os próprios textos traduzidos para essa linguagem; constitui, então, uma base fundamental do acesso à cultura dessas pessoas.

Defende-se neste trabalho que uma Tabela Periódica acessível aos alunos seria aquela que mantivesse semelhanças com a usada pelos alunos videntes. Para que assim o aluno deficiente visual, seja ele cego ou de visão subnormal, venha a ser inserido na sala de aula regular sem nenhuma discriminação, independente da

forma com a qual o professor trabalhe o assunto, através da parceria entre o sistema Braille e a Tabela Periódica para ele desenvolvida. Espera-se que o aluno possa se

aprofundar nos conhecimentos da Tabela Periódica relacionados com a prática diária de cada um, ou seja, por meio de leituras de textos disponíveis na linguagem Braille e que por si só comece a buscar o que realmente lhe interessa.

A partir disso, espera-se que os deficientes visuais possam em conjunto com a linguagem Braille, compreender as definições das propriedades periódicas citadas anteriormente, bem como identificar como essas propriedades variam na Tabela Periódica, e fazer previsões, já que nas aulas de Química essas propriedades são sempre estudadas.

Ao justificarmos a escolha do assunto Tabela Periódica, levamos em consideração pontos relevantes para o processo de ensino aprendizagem dos alunos na disciplina de Química no ensino médio, especificando aqui sua importância para os deficientes visuais. Evidencia-se que a Tabela Periódica tem uma grande importância para a ciência Química, já que a partir dela surgem novas linhas de pesquisa, tanto do ponto de vista prático quanto teórico. Essa ferramenta é utilizada não somente no nível médio, mas também superior.

Apesar da inclusão está acontecendo de forma devagar, mas crescente ainda são bastante visíveis a falta de recursos para os alunos deficientes visuais. Destaca- se, que existem poucas traduções de livros didáticos na linguagem Braille, os materiais didáticos são insuficientes, há pouca ou nenhuma qualificação dos professores. Em virtude desse quadro, intui-se que os deficientes visuais sentem-se excluídos da rede regular de ensino.

CAPÍTULO 03 – INVESTIGANDO OPINIÕES DE DEFICIENTES VISUAIS SOBRE