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TABELA 2 VITIMIZAÇÃO POR VITIMIZAÇÃO POR HOMICÍCIOS PELO CRITÉRIO DE RAÇA NA CIDADE DO SALVADOR NOS ANOS DE2005 e

TRABALHO POLICIAL COMO PROFISSÃO

TABELA 2 VITIMIZAÇÃO POR VITIMIZAÇÃO POR HOMICÍCIOS PELO CRITÉRIO DE RAÇA NA CIDADE DO SALVADOR NOS ANOS DE2005 e

Fonte: Centro de Documentação e Estatística (CEDEP), jul. 2006.

Raça Vítimas de Homicídio

Salvador/2005 % Branca 27 2,9 Preta 138 15,0 Parda 356 38,7 Amarela 3 0,3 Indígena 0 - Não informada* 395 43,0 TOTAL 919 100,0

*Casos em que o registro policial não informa a raça da vítima.

Identificados como as maiores vítimas do quadro de violência reinante, incluindo a própria violência policial, os segmentos raciais negros e pardos situam-se como a maioria dos componentes do efetivo da Polícia Militar da Bahia. O trabalho policial configura-se como modo de ascensão social de grupos minoritários em sua representação política, como bem descreve Sansone:

A carreira dos negros na PM é esclarecedora no que tange à interligação da cor e da classe e à complexidade da criação da identidade. Por um lado, historicamente, a PM tem sido um veículo importante de mobilidade social para os afro-brasileiros, do mesmo modo que vários outros tipos de “empregos de uniforme”. Nesse processo, a “raça” e a classe ficam estreitamente interligadas [...] Naturalmente, levando em conta a estreita associação entre a pele escura e a baixa classe social, típica da sociedade brasileira, os policiais de cor têm maior representação nos escalões inferiores. Entretanto, segundo nossa estimativa, com seu total de 43%, também entre os oficiais, os não-brancos estão bastante bem representados. (SANSONE, 2002, p. 520-522).

O pesquisador prossegue, reafirmando a representatividade dos negros e pardos na Polícia Militar do Rio de Janeiro:

Embora não disponhamos de cifras comparativas, é nossa impressão, bem como a dos policiais que entrevistamos, que os brasileiros pretos e pardos têm uma representação muito maior e mais eqüitativa na PM do que em qualquer empresa privada, ou mesmo em qualquer empresa ou instituição pública do Estado do Rio de Janeiro. [...] Outra razão da relativa grande representação de brasileiros pretos e pardos em todos os escalões dessa força é o fato de que a população branca tem tido maiores alternativas de ascensão social, e de que, no Rio de Janeiro, mais do que em outros estados, a classe média-alta branca não identifica a carreira no comando da PM como algo adequado ou desejável. (SANSONE, 2002, p. 520-522).

A pesquisa “O Negro na PM”, realizada pelo professor de antropologia da UFBA, Lívio Sansone (2002), no biênio 2000-2001, junto à Polícia Militar do Rio de Janeiro, revela importantes contribuições sobre a identidade dos afrodescendentes cariocas na polícia militar, como modo de inserção social e interação com o estrato das classes mais desprivilegiadas .

Pela similaridade existente entre a contribuição afrodescendente e mestiça no Rio de Janeiro e na Bahia, em que possivelmente a parcela da etnia negra é maior, boa parte das situações verificadas no Estado do Rio de Janeiro pode ser constatada localmente. A condição do espaço de ascensão social é uma delas, e o universo de atuação repressiva junto aos congêneres étnicos - “pobres indignos”, segundo Sansone (2002, p. 519), - é outra. Pode-se citar também a condição de certa eqüitatividade com base em regras claras nas oportunidades da corporação, sendo atestada a presença de homens negros nos escalões superiores e um desprezo da classe média-alta pela carreira miliciana.

Assim, ultrapassando a questão do espaço racial, acredita-se que existe certa diferenciação de pensamento entre as classes dos oficiais e das praças, quanto à vinculação a conceitos culturais e profissionais encarados diferentemente entre eles.

A questão da hierarquia e da disciplina é percebida pelos oficiais como extremamente necessária para a manutenção da sua cultura, como forma de se organizar, relacionar e trabalhar. Já para a classe das praças, apesar dessas questões serem também valorizadas, aparentemente para manutenção do escalonamento de autoridade e mando dentro do próprio estrato, outras demandas teriam que ser mais realçadas, como um tratamento mais igualitário, universalista,

no que se refere aos relacionamentos interclasses e nas condições de trabalho. Como afirma Sansone (2002, p. 524), “[...] para os soldados, a democracia pode e deve combinar-se com a hierarquia militar, ao passo que, para os oficiais, hierarquia e democracia são inconciliáveis.”

Após o movimento reivindicatório do ano de 2001, em que os padrões de hierarquia e disciplina foram desestruturados pelo efetivo das praças, as opiniões igualmente se polarizaram. Enquanto que os oficiais utilizavam os acontecimentos terríveis da “greve” como exemplificativos quanto à falta de hierarquia e disciplina, os sargentos e soldados retrucavam alegando que o estado de desordem institucional resultante deveu-se para além das demais reinvidicações à ação coercitiva, intimidatória e excludente do contexto hierárquico disciplinar que restringia o diálogo entre as duas classes.

O movimento de 2001 expôs de maneira bastante explícita um reclame dos operadores com menor patente contra uma divisão de classes até então justificada pelo regramento hierárquico que estabelecia “um lugar para cada um”, conforme dizer miliciano. O pensamento marxista oferece uma leitura análoga, em que ratifica a luta de classes como motor da história e o agente principal das mudanças estruturais da sociedade. Essa luta conduziria a uma sociedade sem classes, havendo, em conseqüência desse conflito, uma transformação. Observa-se que, mesmo admitindo uma inviabilidade histórica do conceito de um universo plenamente igualitário, conforme preconizam Barbosa, Oliveira e Quintaneiro (2002) a respeito do ideário marxista, o movimento de 2001, em que se identificou um conflito com um viés classista, serviu para forçosamente conduzir, se não a uma transformação, pelo menos a uma reflexão analítica e mais ponderada sobre a situação das interações entre os estratos diretivos, intermediários e operacionais da PMBA.

4.2 AÇÃO PROCEDIMENTAL DO TRABALHO DE POLÍCIA

Segundo Bayley (2001, p. 121), o trabalho policial consiste basicamente em uma caracterização, conforme descrito no quadro 2:

Atribuições

Situações

Trabalho Policial

Resultados