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TADA TROÇO DE LIGAÇÃO PISÃO-BEJA Por fi m, sabemos que, aquando da empreitada

Troço de Ligação Pisão-Beja91 foram detectadas e escavadas em Monte do Bolor 1, cinco sepulturas e um possível recinto, pela empresa Novarqueologia (trabalhados dirigidos por R. Proença), os quais faziam parte da necrópole aqui estudada, e que infelizmente foram bastante afectadas pelos traba- lhos de escavação mecânica. Nessas sepulturas de inumação, foram recuperados um fecho de cintu- rão de bronze de tipo tartéssico e uma fíbula com mola bilateral e apêndice caudal do Tipo Ponte 9a,92 com cronologia dos séculos VII-VI a.C. O es- queleto melhor preservado apresentava orientação

89 Soares 2012.

90 Soares e Martins 2013: 663 e 668, fi g. 3, n.º 4. 91 Proença et al. 2015.

Oeste-Este (Crânio-Pés) e como espólio o referido fecho de cinturão, sendo que a sepultura apresen- tava uma cobertura de elementos pétreos, “a modo de carapaça”,93 situação que talvez fosse idêntica à da sepultura UE 3107, já anteriormente descrita. 4. DISCUSSÃO

A necrópole do Monte do Bolor 1-2 correspon- de a mais uma entre muitas que têm afl orado nos últimos anos no interior alentejano, na zona em tor- no a Beja (Fig. 1). A acompanhar este incremento de necrópoles têm surgido contextos diversos con- siderados de âmbito “doméstico” (em geral, fundos de cabana), os quais se encontram ainda em grande medida inéditos, esperando-se que no futuro estes contextos possam começar a ser estudados, permi- tindo percepcionar os povoados associados às ne- crópoles desta região e cronologia. Quando se pro- cede ao seu mapeamento, verifi ca-se uma área de maior concentração destas ocorrências na região a oeste da cidade de Beja, a qual no entanto, poderá ser apenas pouco mais que um refl exo do traçado das obras que têm permitido a sua descoberta. A articulação entre estas ocorrências terá que ser fei- ta com prudência, uma vez que, e no que se refere aos contextos de âmbito “doméstico”, estamos a fa- lar de realidades que foram genericamente consi- deradas dentro da Idade do Ferro.

Em termos arquitetónicos, embora existam al- gumas particularidades nas várias necrópoles, com algumas sepulturas dispersas e com orientações mais variadas, em geral estas necrópoles são enqua- dradas por recintos escavados no caliço, de planta de tendência rectangular aberta, com formatos em “L”, “U” ou em rectângulo fechado. O perfi l dos fossos são sempre em “U”, sendo que as profun- didades variam, com alguns bastante profundos, como no caso de Palhais,94 ou muito rasos, como no caso de Poço Novo 1,95 parecendo os fossos serem por vezes construídos em troços sucessivos e fase- ados, ou de uma única vez. Esta homogeneidade entre necrópoles espelha-se portanto na ortogo- nalidade dos recintos, nas sepulturas tendencial- mente retangulares e com dimensões e orientações bastante semelhantes. No que toca à necrópole do Monte do Bolor 1-2, temos consciência que a área de necrópole não foi totalmente detetada e que se

93 Proença et al. 2015. 94 Santos et al. 2009.

95 Figueiredo e Mataloto neste volume.

estende para Norte e Sul, não sendo improvável que existam mais recintos e sepulturas para além dos aqui apresentados.

Importa referir sobre a arquitectura das sepul- turas, a presença de várias soluções construtivas. Embora todas apresentem uma confi guração rec- tangular e sejam mais ou menos profundas, algu- mas destacam-se pela existência de um escalona- mento, o qual parece servir o propósito de suster uma tampa sobre a sepultura. Este escalonamento, na necrópole do Monte do Bolor 1-2, pode existir apenas na zona da cabeça e dos pés da sepultura, como no caso da sepultura UE 2803, ou encontrar- se a toda a volta da sepultura, como são os casos das sepulturas UE 4914 e UE 2913. Notamos que estas últimas são as únicas deste tipo detectadas em Monte Bolor 1-2 e que pertencem ambas ao mesmo recinto (n.º 2), sendo a primeira de um individuo fe- minino e a segunda de um individuo masculino, es- tando ambos os enterramentos acompanhados pelo espólio mais rico (metais precisos) aqui detectado, pelo que avançamos a proposta de se tratar possi- velmente de um casal inumado em suas respectivas sepulturas e recinto comum. Este tipo particular de escalonamento regista-se em diversas necrópo- les durante a I Idade do Ferro, sendo de destacar na própria zona de Beja, em Vinha das Caliças 4,96 mas também em outras zonas do Sudoeste penin- sular, como Alcácer do Sal,97 ou em paragens mais distantes, em Málaga, no sul de Espanha.98

Devemos também admitir a possibilidade da existência por vezes de uma carapaça pétrea em al- gumas destas sepulturas, como poderia ser o caso da sepultura UE 3107, ainda que as coberturas pareçam em geral ter sido feitas com tumulus de terra.99 De facto, no conjunto aqui analisado, havia sepulturas com provas de saque, como por exem- plo a sepultura UE 2913, à semelhança do que se verifi cou em outras necrópoles de Beja. Assim, os dados induzem-nos a ponderar a existência de al- gum marco em positivo que assinalasse as sepul- turas, uma vez que estas violações incidem recor- rentemente na parte superior do esqueleto, onde se localizariam elementos votivos de maior valor ou prestigio (provavelmente prata e ouro). Ou, ten- do em conta a homogeneidade do ritual de sepul- tamento, os violadores tivessem conhecimento do modo como os enterramentos eram efectuados sa-

96 Arruda et al. neste volume. 97 Paixão 1983.

98 Andrino et al. 2008.

bendo que a cabeceira da sepultura estaria a Oeste. Considerando esta hipótese, bastaria estar visível o contorno da sepultura já colmatada com terra para que a sepultura fosse profanada na parte superior.

A análise dos dados antropológicos intensifi ca o carácter homogéneo do ritual, ou seja, quando analisamos a posição e orientação do inumado (Ta- bela 1) verifi ca-se o predomínio da colocação do individuo em decúbito lateral (quer do lado direito, quer do lado esquerdo) e a orientação Oeste (crâ- nio) – Este (pés). Além disso, as sepulturas são, maioritariamente, individuais, sendo que apenas a sepultura 5206 continha dois indivíduos, facto raro nestas necrópoles, mas ainda assim registado numa das sepulturas de Vinha das Caliças 4. No total, na necrópole aqui escavada registaram-se sepulturas de cinco homens, três mulheres e nove indetermi- nados, sendo que a maioria eram adultos, dado que apenas duas poderiam corresponder a crianças, pe- las dimensões das sepulturas. Dado que entre os adultos identifi cados se encontravam alguns indiví-

duos jovens e outros de idade já avançada, notamos que nesta necrópole se encontravam representadas todas as faixas etárias.

No que diz respeito ao espólio, pelo que se ob- serva na necrópole aqui analisada, os enterramen- tos masculinos podem apresentar-se acompanha- dos de fíbulas tipo Ponte 3, pendentes de ouro, vários tipos de recipientes de cerâmica manual, facas afalcatadas, lanças e contos, cinturões de bronze e alfi netes. Já os enterramentos femininos podem acompanhar-se de diversos tipos de contas (bronze, prata, ouro, resina, vidro), quer seja na zona da testa, quer seja na zona do pescoço, por recipientes de cerâmica como uma tigela a torno, fíbulas tipo Ponte 9a/1, faca de ferro com cabo em osso decorado, anel e braceletes de bronze, brin- co de prata e escaravelho. Num outro estudo,100 foi defendida uma divisão entre sexos, com base no es- pólio, para algumas das necrópoles de Beja. Com

100 Figueiredo e Mataloto neste volume. Figura 23.— Formas cerâmicas recuperadas em Monte do Bolor 1-2.

1. UE 3109 2. UE 4912 3. UE 5603 4. UE 5800 5. UE 6800 6. UE 7103 7. UE 5502 8. UE 3105

base nesse estudo e pensando que poderia haver uma divisão racional do espólio conforme o sexo do inumado, propomos que a sepultura UE 5511, com uma inumação de sexo indeterminado e acom- panhada por um importante espólio composto por uma tigela manual, duas arrecadas de prata, pen- dentes de prata e concha marinha perfurada, es- caravelho, cinturão de ferro, estojo de cosmética, alfi nete e bolsa de couro, pertencesse a um indiví- duo do sexo feminino, tal como possivelmente as sepulturas 5206 e 5638, nas quais se recuperaram respectivamente, um fecho de cinturão de ferro e uma possível pinça, atribuídos pelos autores atrás citados a sepulturas femininas. Se aceitarmos esta possibilidade, então talvez a sepultura 5206 corres- ponda ao enterramento de um casal, apenas tendo sido recuperado o cinturão do individuo feminino e o Recinto n.º 1 estaria enquadrando uma sepultura masculina acompanhada de três femininas, consti- tuindo possivelmente mais uma unidade familiar, à semelhança do que antes propusemos para o Re- cinto n.º 2.

No que toca aos materiais, globalmente reco- nhece-se uma homogeneidade entre a necrópole do Monte do Bolor 1-2 e as restantes necrópoles que têm vindo a ser identifi cadas na região em torno a Beja. Alguns destes objectos destacam-se pela sua importância para a questão da caracterização cro- nológica da necrópole, como sejam os braceletes acorazonados, as arrecadas de prata, as fíbulas tipo Ponte 3 e a tipo Ponte 9a. Estes materiais consti- tuem, pelas suas balizas cronológicas restritas, im- portantes testemunhos para limitar a necrópole de Monte do Bolor 1-2 aos inícios da Idade do Ferro na região em torno a Beja, num intervalo cronoló- gico que se deverá fechar entre o século VII a.C. e o século VI a.C. Notamos também que os espólios mais abundantes e ricos em Monte Bolor 1-2 se en- contraram todos em sepulturas enquadradas por recintos, o que reforça a possibilidade de estarmos perante uma sociedade hierarquizada.

Comentando em particular os recipientes cerâ- micos (Fig. 24), nota-se que quase todos são fabri- cados em cerâmica manual e apenas um ao torno, apresentando vários destes recipientes característi- cas que defi nimos na sua descrição como arcaicas. Pensamos ser interessante que num contexto depo- sicional em que tantos objectos parecem ser de luxo, como no caso dos fabricados em metais preciosos, as cerâmicas sejam “pobres”, de manufactura pou- co cuidada e sem decoração. Parece um paradoxo, uma comunidade que inuma os seus defuntos acom-

panhados por ricos elementos de adorno, ao mesmo tempo que os faz acompanhar por objectos cerâmi- cos pouco requintados, se não mesmo grosseiros. Observando outras necrópoles próximas e seme- lhantes, observa-se o mesmo fenómeno, por exem- plo, na necrópole da Carlota,101 ou em Palhais,102 onde a presença de cerâmica manual é preponde- rante, fi cando as cerâmicas feitas ao torno limitadas a algumas importações, como oil bottles, urnas Cruz del Negro ou cerâmica cinzenta. Este panorama é aliás idêntico ao que se observa nos povoados desta região que parecem corresponder a esta cronologia e cultura, como sejam por exemplo o caso de Casa Branca 11103 ou Torre Velha 3.104

Se descartarmos uma escolha intencional dos piores recipientes disponíveis para depositar junto dos defuntos, ou um fabrico rápido e pouco cuida- do dedicado exclusivamente aos rituais fúnebres, então parece crível que as cerâmicas que estas co- munidades produziam e de que dispunham eram de facto de fabrico pouco cuidado e tecnicamente pouco evoluído, como se parece observar nos po- voados e nas pequenas adaptações e variantes das cerâmicas de produção local depositadas nas ne- crópoles. Isto permite-nos sugerir que o processo de orientalização não se encontrava ainda bem ali- cerçado, parecendo que, por exemplo, a tecnologia de fabrico de cerâmicas ao torno não se encontrava ainda generalizado nestas comunidades, uma reali- dade que se observa de forma distinta cerca de um século depois, já durante o século V a.C., quando se regista a presença de tornos de oleiro na região,105 durante a época que se tem convencionado desig- nar de Pós-Orientalizante. O mesmo pode ser ob- servado em relação ao ritual fúnebre, o qual pode- rá ser visto como um elemento de sobrevivência de uma tradição anterior, dado que o ritual utilizado regionalmente durante a Idade do Bronze, antes da chegada das primeiras infl uências orientalizan- tes era a inumação,106 facto que se mantêm como aqui vemos, pelo menos durante os séculos VII e VI a.C., enquanto nas zonas mais próximas do lito- ral, como por exemplo, em Alcácer107 ou Málaga,108 observa-se a generalização dos rituais de cremação

101 Salvador e Pereira 2012. 102 Santos et al. 2009. 103 Cosme 2014. 104 Estrela et al. 2012. 105 Soares et al. 2013. 106 Baptista et al. no prelo.

107 Correia 1925, 1928; Schüle 1969; Paixão 1983; Frankens- tein 1997.

durante esta cronologia. Assim, durante o perío- do de utilização destas necrópoles, entre o século VII e VI a.C., aqui designado por “Orientalizante”, não só estamos perante populações “autóctones”, portadoras de uma tradição anterior, ao nível dos rituais de enterramento e da cultura material, como o processo de chegada e adopção de novos rituais, novas tecnologias e de uma nova cultura material, apesar de iniciado, não se encontra de todo ainda completamente consolidado.

Digno de nota é também o facto de a esmagado- ra maioria das necrópoles (e possivelmente também os habitats) até agora identifi cadas nas zonas pla- nas dos caliços em volta de Beja, pertencerem a um intervalo cronológico entre o século VII e VI a.C., com base nos espólios conhecidos. Se não causa estranheza que não tenham sido identifi cadas ne- crópoles da segunda metade do milénio, dado que estas se parecem ter concentrado nas imediações dos grandes povoados dessa cronologia, como no caso regional conhecido do Cerro Furado (Fig. 1),109 causa, no entanto, alguma estranheza não te- rem sido identifi cadas necrópoles com espólio que se possa conotar claramente e defi nitivamente com o século V a.C. Esta invisibilidade do século V ao nível das necrópoles e dos seus espólios, e possi- velmente até dos povoados, constitui uma questão ainda por resolver, dado que poderá ser o refl exo de uma mudança ou reorganização do povoamen- to em direcção às margens do Guadiana (em sítios como Atalaia da Insuínha, Azougada, Musgos 10 ou Amendoeira 2), de uma mudança no modo de enterrar os defuntos, ou de um “empobrecimento” do espólio depositado com estes, impedindo uma classifi cação cronológica assertiva.

Deixando por agora de parte a hipótese de mu- danças nos modos de enterramento e desenvolven- do a questão do povoamento, parece seguro que regionalmente o século V a.C. continua a ser, à semelhança dos dois séculos anteriores, caracteri- zado fundamentalmente por um povoamento dedi- cado à exploração rural do território.110 Então, se de facto estamos apenas perante uma mudança nos locais ocupados ou perante uma retracção no povo- amento, falta ainda explicar o que a motivou. Em todo o caso e sejam quais forem as possibilidades interpretativas, o século V a.C. nesta região parece constituir um momento distinto, quer ao nível das áreas ocupadas, quer da cultura material utilizada,

109 Soares et al. 2016: 138.

110 Soares 2012; Soares e Soares neste volume; Soares et al. 2016: 138; Figueiredo e Mataloto neste volume.

tanto dos séculos anteriores (VII-VI a.C.), como dos inícios da II Idade do Ferro, no século IV a.C.

Comparando agora as necrópoles desta região com necrópoles de outras zonas mais ou menos próximas, teceremos apenas breves comentários sobre alguns pormenores que não nos parecem ter sido ainda sufi cientemente explorados, dado que uma análise semelhante sobre as zonas de Beja, Ourique e de Alcácer já foi feita recentemente por outros autores.111 Assim, merece um especial comentário a já mencionada sepultura de Corte Margarida, com espólio do século VI a.C., a qual incluímos na região das necrópoles de Beja (Fig. 1, nº 2). Ainda que esta seja composta por cistas construídas com lajes de xisto, nada tendo de se- melhante com a arquitectura das restantes necró- poles identifi cadas nesta região, na verdade situa- se mais próximo do centro desta (Beja), do que outras necrópoles que expressam a arquitectura e cultura material desta região, como por exem- plo, as da zona do Alvito, encontrando-se também a uma distância semelhante a outras, como por exemplo as da zona de Pedrógão ou de Ferreira do Alentejo. Como explicar então as diferenças, será uma questão de cultura/rituais fúnebres distintos? Pensamos que não. Na verdade deverá ser apenas uma questão geológica, como já referimos noutro trabalho,112 isto é, Corte Margarida implanta-se numa zona de xistos, difi cultando assim a escava- ção dos recintos funerários característicos de Beja. Por outro lado, a abundância de material constru- tivo (xisto), favorece a possibilidade de constru- ção de uma cista, as quais se encontram ausentes em Beja, onde os únicos e raros elementos de pe- dras de grande dimensão se encontram formando as tampas das sepulturas. No que toca à ausência de esqueletos em Corte Margarida, poderá não ser indiciador da presença do ritual de cremação, mas tão somente a existência de um solo ácido que não favorece a sua conservação.

Já a ausência em Corte Margarida de um mo- numento funerário enquadrando as cistas, seme- lhante aos conhecidos em Ourique e que simulasse os recintos ortogonais de Beja, pode ter duas lei- turas. Uma primeira seria que a necrópole se en- contra bastante afectada, até pela proximidade da estrada e pela escassa potência dos solos, não ten- do restado nada que não as próprias cistas. Uma segunda seria que esta necrópole está de facto relacionada com a zona de Beja, onde tudo indi-

111 Figueiredo e Mataloto neste volume; Silva 2015. 112 Soares et al. 2016: 136s.

ca que várias sepulturas poderiam estar cobertas por um tumulus de terra,113 pelo que Corte Mar- garida provavelmente estaria também coberta por um tumulus de terra (e não de pedras), tal como as restantes da sua região, do qual nada terá restado. Concluindo, pensamos que Corte Margarida de- verá ser enquadrada na região de Beja, quando se trata de procurar a sua zona cultural de infl uência durante a Idade do Ferro.

Continuando esta comparação, destaca-se a zona de Alcácer do Sal, não só pela proximidade e pelo facto de parte da região de Beja se inte- grar na bacia hidrográfi ca do Sado, mas também por algumas semelhanças ao nível dos espólios e arquitecturas. De facto, a necrópole do Olival do Senhor dos Mártires114 é composta por sepulturas escavadas no substrato rochoso, sendo que algu- mas apresentam escalonamento, tal como em Beja. Os espólios são bastante semelhantes, sendo que as principais diferenças se observam na ausência de recintos fúnebres escavados e ao nível dos rituais, com a incineração a ser predominante em Alcácer. Nota-se portanto uma coincidência cronológica en- tre Alcácer e a zona de Beja, entre os séculos VII e VI a.C., com uma orientalização visivelmente mais forte na primeira.

Também a região de Ourique/Bacia do Rio Mira, pela proximidade e pela quantidade de ne- crópoles já conhecidas, se distingue em termos comparativos com Beja. Em primeiro lugar, as di- ferenças e semelhanças ao nível das arquitecturas, as quais já tivemos anteriormente oportunidade de comentar.115 Em segundo lugar, ao nível da cultura material, onde notamos, do mesmo modo, algumas semelhanças e diferenças. De facto, existem objec- tos que se encontram presentes nas duas regiões, nomeadamente os escaravelhos, as chorcas, os or- nitomorfos de cerâmica, as contas de resina e as oculadas de vidro, as lanças e facas de ferro. Por outro lado e talvez mais importante, em Ourique nota-se a ausência de pendentes de prata em forma de bolota, de fíbulas tipo Ponte 3a, tipo Ponte 9a e de conjuntos de cosmética, bem como a raridade de cinturões tartéssicos, de braceletes acorazonados e de contas de faiança egípcia. Ao nível dos rituais da morte, em ambas as zonas se enterraram os mortos com espólios de signifi cados semelhantes (objectos de adorno, armas, recipientes cerâmicos), enquan-

113 Soares et al. 2016: 136ss.

114 Correia 1925; 1928; Schüle 1969; Paixão 1983; Frankens- tein 1997.

115 Soares et al. 2016: 136 e 137.

to ao nível do tratamento dos corpos, em Ourique parecem ser mais frequentes os indícios de rituais de cremação (ainda que a acidez dos solos perturbe esta análise), ao passo que na zona de Beja estes parecem ser bastante mais raros. Ao nível de ocor-

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