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A necrópole da I Idade do Ferro do Monte do Bolor 1-2 (São Brissos, Beja)

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Academic year: 2021

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Serie Compacta 1 Serie Compacta 1

SIDEREUM ANA III

El río Guadiana y Tartessos

Javier Jiménez Ávila (ed.)

(2)

SERIE COMPACTA

(Compendia et Acta)

1

SIDEREUM ANA III

El r’o Guadiana y Tartessos

MÉRIDA, 2016

JAVIER JIMƒNEZ çVILA

(ed.)

(3)

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© de los textos: los autores.

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Presentaci—n. Sidereum Ana: diez a–os de encuentros transfronterizos y arqueol—gicos

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El Periodo Orientalizante (siglos VIII-VI a.C.) en el tramo extreme–o del Guadiana

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Uma leitura a partir do Passo Alto e do Castelo de Serpa

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MONTE DO BOLOR 1-2 (SÃO BRISSOS, BEJA)

Rui MONGE SOARES

(UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, FCT) Lídia BAPTISTA

(CEAACP; Arqueologia & Património, Lda.) Rui PINHEIRO

(Arqueologia & Património, Lda.) Lurdes OLIVEIRA

(Arqueologia & Património, Lda.) Zélia RODRIGUES (Arqueologia & Património, Lda.) Nelson VALE

(Arqueologia & Património, Lda.)

RESUMEN

Escavada no âmbito de minimização de impactes em contexto de obra, durante os trabalhos resultantes dos Blocos de Rega de Beringel-Beja – Fase Prévia, a necrópole de Monte do Bolor 1-2 (Concelho de Beja) vem integrar e enriquecer o panorama do mundo funerário da Idade do Ferro na região de Beja durante os séculos VII e VI a.C.

ABSTRACT

Excavated in the context of minimizing impacts resulting from construction works during the Beringel-Beja Irrigation Plan, the Iron Age necropolis presented here — Monte do Bolor 1-2 (Municipality of Beja) integrate and enrich the knowledge of the funerary world of Iron Age in Beja region during the 7th and 6th centuries BC.

(8)

JAVIER JIMÉNEZ ÁVILA (ed.)

Publicaciones del Consorcio de la Ciudad Monumental de Mérida Serie Compacta (Compendia et Acta) n.º 1. Mérida 2016 pp. 263-301

(9)

Em torno à região de Beja (Fig. 1) têm sido descobertas várias necrópoles dos inícios da Idade do Ferro, coincidentes cultural e cronologicamen-te, usualmente balizadas entre os séculos VII e VI a.C., nas quais se integra a necrópole do Bolor 1-2, aqui analisada. A notícia da primeira destas necró-poles foi publicada por Abel Viana em 1945, na Herdade das Carretas, em Quintos (Beja).1

Posteriormente, seguir-se-ia um interregno de largas décadas, até à descoberta da segunda ne-crópole mais próxima de Beja, em 1999 por Artur Martins. Tratava-se da necrópole de Corte Marga-rida (Aljustrel),2 a qual se situava, ainda assim, na periferia do território aqui defi nido como a região em torno a Beja (Fig. 1). Esta necrópole apresenta-va materiais classifi cados pelos autores como sen-do sen-do século VI a.C. e revelava uma arquitectura construtiva que se assemelhava às necrópoles co-nhecidas na zona de Ourique, com sepulturas esca-vadas no substrato rochoso de xisto e construídas com lajes de xisto formando cistas, não se tendo recuperado ossos. Não se revelava, portanto, um cenário que se distinguisse do que era então conhe-cido e suposto para esta cronologia e para o Baixo Alentejo.

A grande mudança viria contudo, poucos anos depois, motivada pelos trabalhos decorrentes do Empreendimento de Alqueva, durante os quais se encontrou a primeira das necrópoles com recinto, recentemente descobertas em torno a Beja. Esta causou um forte impacto na comunidade científi -ca, em virtude da riqueza dos espólios e pelos indí-cios de uma nova realidade, completamente desco-nhecida até então, visível na presença de recintos sepulcrais ortogonais escavados no substrato ro-choso. Tratava-se da necrópole de Palhais, inicial-mente dada a conhecer em Novembro de 2008, no decorrer do IV Encontro de Arqueologia do Sudo-este Peninsular.3 No artigo correspondente, publi-cado no ano seguinte, os autores mencionavam já

1 Viana 1945: 311. 2 Deus e Correia 2005. 3 Santos et al. 2009.

a existência de outras necrópoles semelhantes que começavam a surgir, em Monte Marquês 7 e em Vinha das Caliças 4.4 Ainda no decorrer desse en-contro, seria também apresentado e posteriormen-te publicado o sítio de Salsa 3 (Serpa), reconhecido enquanto um povoado aberto do Bronze Final, no qual se encontravam também evidências de ocupa-ção dos inícios da Idade do Ferro,5 constituindo as-sim o primeiro de muitos habitats de planície deste tipo e cronologia entretanto descobertos.

Desde então, com o avançar dos trabalhos de ligações da rede de rega do Alqueva, a descober-ta de necrópoles do tipo aqui tradescober-tado como que se banalizou, tornando aquilo que era inicialmente excepcional, em algo comum na região aqui ana-lisada. Assim, a segunda necrópole a causar tam-bém um forte impacto na comunidade científi ca foi a já mencionada necrópole de Vinha das Cali-ças 4, uma vez mais em resultado da riqueza dos materiais recuperados, bem como da repetição do modelo arquitectónico observado em Palhais e da grande área escavada.6 As primeiras imagens des-ta necrópole seriam inicialmente dadas a conhecer num artigo publicado na revista National Geographic Portugal, na sua edição de Setembro de 2009.

No ano seguinte, seria alvo de uma exposição pública intitulada “Vinha das Caliças 4 - O lento despertar”, inaugurada a 24 de Fevereiro de 2010 nas instalações da EDIA em Beja, no decorrer do 4.º Colóquio de Arqueologia do Alqueva, onde foi possível observar diversos materiais aí recupera-dos. Durante este colóquio foram apresentadas as necrópoles de Vinha das Caliças 4,7 Poço da Gon-tinha 1 (Ferreira do Alentejo)8 e Xancra II (Cuba,

4 Ibidem: 758, 759 e 775. 5 Deus et al. 2009.

6 Trata-se da necrópole com a maior área de escavação. 7 R. Barbosa: “O último suspiro de bravos guerreiros e de suas donzelas aformoseadas” e Z. Rodrigues: “Caliças 4 – A Necrópole do Sítio da Vinha das Caliças 4”, comunicações in-éditas apresentadas no 4.º Colóquio de Arqueologia do Alque-va (Beja, fevereiro 2010).

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Figura 1.— Região em torno a Beja durante a Idade do Ferro. 1. Herdade das Carretas; 2. Corte Margarida; 3. Palhais; 4. Vinha das Caliças 4; 5. Monte do Marquês 7; 6. Poço da Gontinha 1; 7. Xancra 2; 8. Carlota; 9. Cinco Reis 8; 10. Poço Novo 1; 11. Fareleira 2 e 3; 12. Pardieiro; 13. Pisões; 14. Quinta do Estácio 6; 15. Monte da Lage; 16. Montinhos 6; 17. Alto de Brinches 3; 18. Lobeira da Figueira; 19. Quinta do Castelo 5; 20. Monte do Bolor 1-2; 21. Horta Nova 4; 22. Convento de S. Francisco 5; 23. Monte do Arcediago 1; 24. Salvada; 25. Monte de Mata Bodes 2; Povoados da I Idade do Ferro (sécs. VII-VII): 26. Casa Branca 11; 27. Torre Velha 3; 28. Monte do Bolor 3; 29. Monte do Pombais 2; 30. Monte do Carrasco 2; 31. Fonte dos Cantaros 1; 32. Cinco Reis 4; 33. Ribeira do Barranco 8; 34. Esfola; 35. Ponte de Monte Maurício; 36. Monte da Boavis-ta; 37. Monte da Comenda 3; 38. Folha do Ranjão; 39. Fareleira; 40. Monte do Pombal 1; 41. Figueiras 4; 42. Monte da Guedelha; 43. Herdade da Torre 2; 44. Monte Branco 5. 45. Salsa 3; Povoados da I Idade do Ferro (séc. V): 46. Atalaia da Insuínha; 47. Castro da Azougada; 48. Musgos 10;

49. Amendoeira 2; 50. Beja; 51. Serpa; 52. Moura; 53. Misericórdia; 54. Cerro Furado; 55. Castelo Velho do Roxo. Beja),9 tendo sido ainda apresentada a segunda

no-tícia de um habitat em fossas do século VI a.C., na margem esquerda do Guadiana, em Casa Branca 11 (S. Maria, Serpa).10 Por fi m, desenvolveu-se um debate no dia 25 de Fevereiro, na sessão de pro-to-história, onde foram debatidos vários aspectos destas novas necrópoles que surgiam em torno a

9 Brazuna e Godinho 2014. 10 Cosme 2014.

Beja. Ainda no mesmo ano, no decorrer do V En-contro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular (Almodôvar, 18 a 20 de novembro de 2010), seria apresentada publicamente a necrópole da Carlota11 e mais uma notícia de um habitat em fossas dos sé-culos VII-VI a.C. na margem esquerda do Guadia-na, em Torre Velha 3 (S. Salvador, Serpa),12 além

11 Salvador e Pereira 2012.

(11)

do primeiro enterramento da Idade do Ferro na margem esquerda do Guadiana, em Montinhos 6 (Serpa).13

Posteriormente, seria organizada uma conferên-cia na Assoconferên-ciação dos Arqueólogos Portugueses em Novembro de 2011, intitulada “A Idade do Ferro do Sul de Portugal: O mundo funerário, dados re-centes”, no âmbito da qual foram apresentadas a ne-crópole da Carlota, por R. Salvador e a nene-crópole de Cinco Reis 8, por A. Dias Diogo e L. Trindade.

Finalmente, no ano seguinte teria lugar uma primeira grande apresentação de várias destas ne-crópoles, ocorrida durante o Encontro Sidereum Ana III, ocorrido no dia 20 de Setembro de 2012 em Mérida, onde foram apresentadas várias necró-poles, nomeadamente Vinha das Caliças 4,14 Car-lota e Cinco Reis,15 Palhais,16 Poço da Gontinha I, Poço Novo I e Fareleira 217 e Pisões.18 Durante este colóquio seriam ainda apresentados locais de habi-tat pela primeira vez relacionados com as comuni-dades que construíram e utilizaram as necrópoles, nos sítios de Monte do Bolor 3, Monte do Pombal 2 e Torre Velha 3.19

Já em 2013, a única novidade seria dada a co-nhecer num trabalho com importantes contribui-ções sobre a metalurgia orientalizante dos objectos recuperados em Palhais.20

No ano seguinte, em Outubro de 2014, no de-correr do VIII Encontro de Arqueologia do Su-doeste peninsular, teria lugar uma comunicação sobre a conhecida necrópole de Corte Margarida (Aljustrel),21 na qual se procurou aprofundar o es-tudo desta necrópole. Já no dia 16 de Maio 2014, viriam a público novidades, com a apresentação de mais uma necrópole, Quinta do Estácio 6, apre-sentada no decorrer do 12.º Colóquio da ERA por T. do Pereiro e R. Mataloto.22 No decorrer deste ano surgiriam ainda dois artigos, publicados por F. Gomes, nos quais analisou alguns dos materiais de Vinha das Caliças 4.23

Mais recentemente, em Janeiro de 2016 seria defendida uma tese de Mestrado na Faculdade de

13 Baptista et al. 2012: 170, fi g. 22 e 23. 14 Arruda et al. neste volume.

15 Salvador e Pereira, neste volume. 16 Santos et al. neste volume.

17 Figueiredo e Mataloto neste volume. 18 Bargão e Fernandes neste volume. 19 Antunes et al. neste volume. 20 Valério et al. 2013.

21 Deus et al. no prelo. 22 Pereiro et al. neste volume. 23 Gomes 2014a; 2014b.

Ciência Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa por P. Silva, na qual procurou fazer um levantamento e análise de conjunto das necrópo-les da I Idade do Ferro do Baixo Alentejo, incluin-do algumas das necrópoles conhecidas em Beja.24 Neste ano, seriam também publicadas por alguns dos signatários deste artigo as primeiras evidências de enterramentos na margem esquerda do Gua-diana em Monte da Lage, Montinhos 6 (já antes dado parcialmente a conhecer num outro artigo25) e possivelmente em Alto de Brinches 3, com seme-lhanças culturais às necrópoles da zona de Beja.26 Seria também inaugurada a 18 de Maio a exposi-ção intitulada “Sob a Terra e as Águas. 20 anos de arqueologia entre Guadiana e Sado”, que decorreu no núcleo museológico da Rua do Sembrano, em Beja, onde foi possível observar materiais de algu-mas necrópoles já conhecidas, como Palhais, Car-lota e Poço Novo I, mas também ter conhecimento público de novas necrópoles, como a de Lobeira da Figueira, Quinta do Castelo 5 e também Monte do Bolor 1-2, a necrópole que aqui analisaremos. Por fi m, ainda neste ano durante o mês de Novembro, no decorrer do IX Encontro de Arqueologia do Su-doeste Peninsular, seriam apresentadas em poster por I. Simão, L. Miguel e P. Simão mais duas ne-crópoles inéditas, nomeadamente Horta Nova 4 e Convento de S. Francisco 5 (Alvito, Beja),27 sendo que neste trabalho era mencionada pela primeira vez como paralelo mais uma necrópole também ain-da inédita, a de Monte do Arcediago 1 (Beringel) e um conjunto habitacional desta cronologia, em Ri-beira do Carrasco 2 (Alvito). A Quinta do Castelo 5 seria também apresentada em poster28 por E. Cal-vo e P. Simão e estava prevista uma comunicação sobre a necrópole de Lobeira da Figueira (Beja) por L. Miguel e S. Ferro, a qual no entanto, não chegou a ocorrer.

Além das apresentações públicas aqui relatadas, conhecem-se também algumas notícias de necrópo-les ainda inéditas, como por exemplo a de Salvada 11 e Monte de Mata Bodes 2, além de numerosos locais de habitat, na sua larga maioria ainda inédi-tos29 (Fig. 1).

É pois este o cenário que serve de pano de fundo à nossa análise da Necrópole do Monte Bolor 1-2.

24 Silva 2015. 25 Baptista et al. 2012. 26 Soares et al. 2016. 27 Simão et al. no prelo. 28 Calvo e Simão no prelo.

29 Informação consultada no site: http:// arqueologia.patrimo-niocultural.pt/.

(12)

2. A INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA EM MONTE DO BOLOR 1-2

A intervenção arqueológica no Monte do Bo-lor 1-2 (freguesia de S. Brissos, concelho de Beja) enquadrou-se no âmbito dos trabalhos de mini-mização de impactes sobre o património cultural decorrentes da execução dos Blocos de Rega de Beringel-Beja (Fase Prévia).

Os Blocos de Rega de Beringel-Beja localizam-se no distrito de Beja, concelho de Beja, freguesias de São Brissos, Mombeja, Beja (Santiago Maior) e Santa Clara de Louredo. Este projecto, com uma área de cerca 5.148 hectares, inclui um conjunto de infra-estruturas no qual se integram, entre outras, as seguintes: um reservatório, duas estações ele-vatórias, cerca de 53 km de condutas, cerca de 9 km de rede viária e cerca de 1,8 km de linhas de água a intervencionar (rede de drenagem). Face aos vestígios arqueológicos identifi cados aquando da realização do EIA e ao impacte previsto durante a execução do projecto, considerou-se necessária a implementação de medidas de minimização em fase prévia à obra. No sentido de assegurar a implemen-tação de tais trabalhos de minimização, o promotor deste projecto, a EDIA SA, contratou a equipa da Arqueologia & Património Lda, mediante um pro-cesso de concurso público, para a execução de um conjunto de trabalhos de arqueologia que incluía a realização de prospecção em determinadas áreas de implementação do projecto, sondagens manuais e sondagens mecânicas em alguns elementos patrimo-niais identifi cados aquando da realização do EIA.

Assim, face aos vestígios arqueológicos identifi -cados no Monte do Bolor 1-2 – ocorrência patrimo-nial n.º 37 do EIA – e ao impacte previsto durante a execução do projecto, considerou-se necessária a realização de trabalhos arqueológicos. A interven-ção teve início a 26 de Março de 2014 e terminou a 4 de Agosto de 2015.

2.1. SITUAÇÃODE REFERÊNCIA

O sítio Monte do Bolor 1-2 localiza-se numa vasta área bastante aplanada, entre-quebrada por um ligeiro e suave ondulado. Encontra-se ladeado a nordeste pela ribeira do Álamo e a noroeste pelo barranco de Santo Adrião. Esta extensa área par-tilha três designações de ocorrências patrimoniais: o Monte do Bolor 1 e Monte do Bolor 2, poste-riormente reunido na designação Monte do Bolor

1-2 e o Monte do Bolor 3 (Fig. 2). Estas ocorrên-cias foram intervencionadas em empreitadas e por equipas distintas.

Estas intervenções permitiram identifi car uma longa sequência de ocupação, desde a Pré-história (Calcolítico e Idade do Bronze), passando pela Idade do Ferro, época romana/tardo-romana, me-dieval islâmica e moderna/contemporânea. Veja-mos, resumidamente, os principais aspectos dos contextos identifi cados em trabalhos anteriores.30

Do período calcolítico, registou-se a presença de seis estruturas em negativo, preenchidas com sedimentos e fragmentos cerâmicos de vasos de fa-brico manual e crescentes.

Do período proto-histórico, verifi cou-se a pre-sença de duas fases. À primeira fase – dentro da designada I Idade do Ferro – integram-se duas estruturas de grandes dimensões com restos de possíveis fornos de uso doméstico; o conjunto ce-râmico presente nos fornos é constituído por vasos de fabrico manual, alguns com incisões ao nível do bordo e digitações em linha abaixo do colo e ainda a presença de linhas incisas e reticulados. Por ou-tro lado, verifi cou-se um possível recinto funerário – do qual fazem parte cinco sepulturas e três seg-mentos de valado – parcialmente destruídos pela abertura mecânica da vala; nas sepulturas foram recuperados um fecho de cinturão e uma fíbula.

À segunda fase, dentro da II Idade do Ferro, corresponde um conjunto de interfaces de plantas ovaladas pouco profundas e alguns valados disse-minados por uma extensa área. Apresentam uma componente cerâmica constituída por vasos a tor-no, alguns de grandes dimensões.

Do período romano verifi caram-se contextos disseminados por quase toda a área, sendo possível defi nir três grandes áreas funcionais: uma área de armazenagem – constituída por dezenas de fossas-silo; uma área de produção cerâmica/vinho – com três fornos, estruturas de apoio e ainda uma estru-tura que continha um peso de lagar o qual sugere a existência de produção de vinho; e ainda uma área de produção agrícola – onde se registou um con-junto de interfaces retangulares morfologicamente muito similares e dispostas regularmente em fi adas paralelas, as quais poderão corresponder a valas de plantio de vinha.

De cronologia tardo-romana encontraram-se vestígios distribuídos por duas áreas: uma necró-pole com 12 sepulturas e uma área de

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Fig. 2.— Vestígios arqueológicos em Monte do Bolor. de indeterminada com restos de muros e estruturas

circulares.

De época islâmica, identifi cou-se uma área de necrópole, com a escavação de seis sepulturas.

De época moderna foram reconhecidos um poço e 12 estruturas em negativo de planta sub-quadrangular (possivelmente buracos de árvores). 2.2. A INTERVENÇÃO

Tendo em conta a extensão dos vestígios arque-ológicos que foram alvo de trabalhos, considera-mos dois núcleos (Fig. 2). O Núcleo I corresponde

à área mais aplanada de uma suave colina e a sua encosta voltada a nordeste, onde foram detectados vestígios de cronologia moderna/contemporânea, de época islâmica e de cronologia tardo-romana e romana e uma pequena estrutura de tipo fossa de cronologia pré-histórica que ocorre isolada nes-ta área. Foram ainda intervencionados contextos de difícil atribuição cronológica. O Núcleo II diz respeito à área a sudoeste, onde se identifi cou uma área de necrópole da I Idade do Ferro e contextos de cronologias pré-históricas (dentro do Calco-lítico e da Idade do Bronze). Também nesta área foram escavados contextos de cronologias indeter-minadas.

Muros II Idade do Ferro

“Fornos” I Idade do Ferro

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2.2.1. Núcleo I

No núcleo I registaram-se cinco fases de ocupa-ção: a mais recente corresponde a um conjunto de estruturas associadas a um antigo monte de crono-logia moderna/contemporânea. Muito embora afe-tado por trabalhos agrícolas e pela presença de uma fi gueira, foi possível aferir remodelações nos espa-ços desta unidade habitacional de planta ortogonal. Inicialmente, o espaço seria menor, com muros em pedra e pisos em cal e terra batida, onde se identifi -caram alguns buracos de poste e estruturas de tipo silo. Mais tarde, a habitação expande para sudeste e verifi ca-se um conjunto de ambientes delimitados por muros e revestidos com pisos em ladrilhos. A área exterior é também remodelada com pisos em pedra miúda. Os materiais associados a esta fase dizem respeito a fragmentos de vidrados, faianças, cerâmica de uso comum, maioritariamente de pasta vermelha, material de construção, nomeadamente telha de meia cana, encontrando-se alguns frag-mentos decorados com digitações. Na vertente su-doeste, identifi caram-se algumas concentrações de elementos pétreos e ladrilhos remobilizados, que deveriam pertencer a construções desta fase. Na vertente oposta, a cerca de 20 m, foi identifi cado um silo desta cronologia.

Sob os vestígios do monte moderno foi registada uma camada de ocupação de cronologia islâmica, onde se abria um conjunto de cerca de 30 silos, na sua maioria de grandes dimensões, entulhados com terras, pedras, cacos e restos faunísticos. A análise preliminar realizada ao espólio permite-nos balizar esta ocupação entre os séculos X e XII; encontram-se fragmentos de potes, alguidares, caçoilas, jarri-nhas, jarros, bilhas, candis, etc. Alguns exemplares apresentam caneluras, pinturas a branco e verme-lho, com motivos de traços verticais, ou linhas pa-ralelas preenchidas com linhas onduladas.

Os níveis tardo-romanos correspondem a duas grandes interfaces. Uma delas, localizada no topo da colina, encontrava-se colmatada por uma suces-são de depósitos que cobriam um forno de planta circular – apenas com a parte inferior preservada, onde se observou o que restava da fornalha e a boca, os pilares de assentamento da grelha e a ru-ína da cobertura da boca; identifi cou-se ainda um muro e um conjunto de fossas. A outra interface está implantada na vertente sudoeste e era preen-chida por dois depósitos que forneceram alguns fragmentos cerâmicos. Merecem destaque alguns materiais cerâmicos tais como jarros de bico

trilo-bado, panelas e potes. Apresentam uma feitura ma-nual tosca e pastas de tons acastanhados.

Na vertente nordeste foram ainda identifi cadas 10 estruturas sub-retangulares, que têm sido inter-pretadas como valas de plantio de época romana e que se inserem na área de produção agrícola defi ni-da pela equipa ni-da NovaArqueologia.

Na vertente nordeste, na sondagem 42 surge uma pequena e pouco profunda fossa de planta cir-cular cujo enchimento forneceu fragmentos cerâ-micos de fabrico manual; foi recolhida parte de um vaso esférico fechado.

Foram ainda intervencionados um conjunto de contextos cuja atribuição cronológica não foi pos-sível determinar. Tratam-se de dois contextos fune-rários; alguns valados; e algumas interfaces abertas no substrato de contornos alongados estreitos con-centradas na área dos silos islâmicos. Estratigra-fi camente estas estruturas parecem ser anteriores aos silos.

2.2.2. Núcleo II

No Núcleo II, para além dos contextos funerá-rios da I Idade do Ferro que iremos apresentar em pormenor no próximo ponto, foram identifi cados contextos de três fases.

Da Idade do Bronze, foi considerado um nível de inumação humana de um indivíduo adulto colo-cado em posição de decúbito lateral direito, orien-tado Sul (crânio) – Norte (pés). Apresentava na zona das costas elementos pétreos cujo propósito seria auxiliar o indivíduo a não perder a posição. Estes elementos encontram paralelos com outros contextos funerários em hipogeus da Idade do Bronze. Em associação direta com o individuo não foi identifi cado qualquer espólio, mas a cerca de um metro de distância, à mesma cota, encontravam-se fragmentos cerâmicos, todos pertencentes ao mes-mo vaso, cuja forma – um tronco-cónico – sugere uma cronologia dentro da Idade do Bronze. A fossa 64, de planta circular, também forneceu elementos artefactuais que permitem associa-la à Idade do Bronze, nomeadamente um fragmento de taça com carena e um peso cilíndrico.

De cronologia calcolítica foram escavadas oito fossas. Merecem destaque a fossa 59 que alberga-va, num pequeno nicho de pedras, uma inumação humana, a fossa 66 que apresentava um nível de restos ósseos pertencentes a pelo menos dois es-pécimes de canis sp. e restos de Ovis/Capra; e a fossa 65 que apresentava um nível de deposição

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além de quatro sepulturas dispersas (Fig. 3). Se lhes somarmos as cinco sepulturas identifi cadas pela equipa da empresa Novarqueologia, estamos portanto perante uma necrópole com mais de vinte sepulturas.

O Recinto n.º 1 é composto por um valado de perfi l em “U” e que confi gura um U, aberto a lés-sudeste (ESE) (UEs 2711/3112/3115/5709). Neste valado verifi cou-se a presença de duas sepulturas (UEs 3107 e 5706) e possivelmente uma outra (UE 5708). A sua profundidade é variável, ou seja, escalonada, o que pode signifi car, entre outras hi-póteses, uma construção faseada. No seu interior encontravam-se quatro sepulturas orientadas oés-noroeste – lés-sudeste (ONO-ESE) (UEs 5511, 5623, 5634 e 5638). No exterior deste recinto, no seu lado oés-noroeste (ONO), foram escavadas mais duas sepulturas com a mesma orientação – (UEs 2607 e 5801).

O Recinto n.º 2 é bastante distinto do anterior. Corresponde a um valado de perfi l em U, que confi gura um segmento de reta com orientação no-nordeste – su-sudoeste (NNE-SSO). Uma das sepulturas (UE 5101) encontrava-se perpendicu-lar ao valado no seu extremo su-sudoeste (SSO),

Fig. 3.— Monte do Bolor, Núcleo II. Estruturas da Idade do Ferro (UEs indicadas) coexistindo com contextos de ocupação pre-histórica. de um vaso incompleto. A atribuição cronológica

a este conjunto de fossas foi efectuada com base na análise da componente cerâmica, pela presença de formas como pratos de bordo espessado e crescen-tes. A esta fase foi também associado um recinto de planta circular, que forneceu apenas seis frag-mentos cerâmicos de fabrico manual incaracterís-ticos. Contudo esta atribuição deve ser encarada com reservas, uma vez que não se encontra bem sustentada.

De cronologia pré-histórica indeterminada re-gistaram-se cinco fossas (que forneceram pequenos fragmentos cerâmicos inclassifi cáveis) e um conjun-to de interfaces de conconjun-tornos irregulares presentes na sondagem 27.

De cronologia indeterminada insere-se um vala-do, cuja construção ocorreu após a colmatação das estruturas da Idade do Ferro.

2.3. A NECRÓPOLEDA I IDADEDO FERRO

Os contextos da I Idade do Ferro dizem respei-to a três recinrespei-tos sepulcrais de planta orrespei-togonal, aos quais se encontram associadas 14 sepulturas,

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o que sugere uma confi guração em “L” para este recinto. No espaço que consideramos associado a este recinto foram escavadas, para além da sepul-tura já referida, mais duas sepulsepul-turas (UEs 2913 e 4194). Importa referir que estas sepulturas tem uma orientação oés-noroeste – lés-sudeste (ONO-ESE). Refi ra-se ainda uma mancha que se prolon-ga para lá dos limites de escavação em direcção a Norte, que não foi intervencionada, registada como UE 7001, que poderá pertencer ou a uma sepultura, ou a valado do recinto.

Na área entre os recintos n.º 1 e n.º 2 foram es-cavadas mais quatro sepulturas (UEs 2712, 2803, 5206 e 7104), que obedeciam a orientações diver-sas: a primeira estava orientada a oés-noroeste – lés-sudeste (ONO-ESE), a segunda a nordeste-sudoeste NE-SO), a terceira a Este-Oeste (E-O) e a quarta a noroeste-sudeste (NO-SE).

O Recinto n.º 3 não foi alvo de escavação, ten-do-se apenas procedido ao seu registo (uma vez que se encontrava fora da área de incidência direta do projeto). Não foi possível colocar a descoberto toda a sua confi guração, dado que se prolongava para este da área decapada. Do que foi possível observar, corresponde a um recinto, possivelmen-te em “U” (UE 6807), com orientação Espossivelmen-te-Oespossivelmen-te, encontrando-se, um pouco desfasado dos restantes recintos na sua orientação. No seu interior foi iden-tifi cada uma mancha sub-rectangular, com orien-tação Norte-Sul, que deverá corresponder a uma

sepultura (UE 6808). Vejamos de seguida, em por-menor, os contextos referidos.

2.3.1. Recinto n.º 1 Valado e sepulturas no valado

O valado do Recinto n.º 1 (UEs 2711/3112/3115/ 5709) dispunha das seguintes medidas de compri-mento: no tramo mais a norte 5,3 m, o tramo a sul 6,24 m e o tramo mais a oeste 5,70 m. A largura apresentava-se tendencialmente regular (na casa dos 50-60 cm), embora oscilante entre 0,33 e 0,66 m. A profundidade também era variável e encon-trava-se entre os 30 e os 10 cm. O plano fi nal do valado delimitador do recinto (Fig. 3) sugere uma construção faseada de cada um dos tramos (ou segmentos de reta). Essa construção pode ter sido espaçada no tempo, ou seja, com um intervalo de tempo mais alargado entre a adição de tramos, ou simplesmente sucessiva, seguindo-se a construção de um tramo após a conclusão de outro.

A sepultura UE 3107 (Fig. 4) localizava-se no centro do tramo mais a norte. Apresentava uma planta sub-rectangular com 2,16 m de comprimen-to por 0,64 m de largura e uma profundidade de 0,62 m. As paredes eram retas e o fundo aplanado. O valado que se prolongava para este da sepultu-ra apresentava apenas 0,15 m de profundidade, e o Fig. 4.— Sepultura UE 3107 e respectivo espólio. 1. Visão geral com o crânio (3106) in situ (?); 2. Conjunto de pedras na zona da cabeceira encostadas à parede e

vaso na base do valado.

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remanescente, que se desenvolvia para Oeste, dis-punha de 0,28 m.

Esta sepultura foi alvo de saque. Verifi cou-se a presença de peças ósseas desarticuladas e alguns fragmentos de um dos vasos nas terras que colma-tavam a interface. Na base da sepultura verifi cou-se a precou-sença do crânio, possivelmente in situ, com a face voltada sobre o lado direito e no extremo oposto da sepultura, junto à zona onde se situa-riam os pés, o que restava de um vaso de fabrico manual de pequenas dimensões, de forma similar aos vasos à chardon (Figs. 4 e 23, n.º 8), bem como um fragmento (bojo) de cerâmica de outro pote, cuja espessura aponta para um recipiente de mé-dia/grande dimensão. Morfologicamente encontra paralelo regional entre os séculos VII e VI a.C., na sepultura 3 de Palhais,31 na necrópole de Vinha das Caliças 4,32 na sepultura 7 de Fareleira 2 e na sepul-tura 4 de Poço Novo 1.33 Na parede mais a oeste da sepultura, onde se encontrava o crânio, registou-se a presença de um conjunto de pedras. Aquando da defi nição destes elementos detectou-se, fragmen-tado em conexão, uma tigela de cerâmica manual voltada ao contrário (Figs. 4 e 23, n.º 1). Esta re-alidade parece corresponder a um limite pétreo da sepultura que estaria assente na base do valado e que terá ruído para o seu interior, sendo que talvez

31 Santos et al. 2009: fi g. 12. 32 Arruda et al. neste volume.

33 Figueiredo e Mataloto neste volume. Fig. 5.— Sepultura UE 5706.

formassem parte de uma carapaça pétrea possivel-mente colocada sobre a sepultura. A tigela, que, como já referimos, se encontrava em conexão com os elementos pétreos, terá, igualmente, rolado. Esta tigela, fabricada manualmente, possui um fundo plano simples e fabrico pouco cuidado. Na análise dos restos ósseos recuperados do interior da sepul-tura podemos dizer que pertencem a um só indi-viduo adulto do sexo masculino, provavelmente inumado numa posição Oeste (crânio) – Este (pés) considerando que o crânio estaria in situ.34

A sepultura UE 5706 (Fig. 5) localizava-se no tramo mais a oeste no seu extremo sul. Deverá ter sido alvo de saque, não só porque não se verifi cou qualquer elemento votivo a acompanhar os res-tos ósseos, mas porque o esqueleto de um indiví-duo adulto encontrava-se muito incompleto. Esta incompletude não se parece justifi car apenas por processos pós-deposicionais, uma vez que os restos ósseos identifi cados correspondem à parte superior do indivíduo (com a excepção do crânio).35

A sepultura apresentava contornos mais irregu-lares36 mas genericamente correspondia a uma plan-ta sub-recplan-tangular com um comprimento máximo de 1,40 m, uma largura de 0,58 m e uma profundi-dade de 0,20 m. O valado que se prolongava para norte apresentava uma profundidade de 0,12 m.

A sepultura UE 5708 (Fig. 6), localizada no tramo mais a Sul no seu extremo este, apresentava 0,75 m de comprimento, 0,38 m de largura e 0,15 m de profundidade. Não continha qualquer elemen-to osteológico humano, nem qualquer vestígio de espólio. Fica, por isso, a dúvida de que possa ser ou não uma sepultura. Contudo, a interface con-fi gura grosso modo, um retângulo e apresenta um escalonamento. Além disso, a sua localização no alinhamento do valado e no seu extremo, leva-nos a pensar que se trata de uma sepultura, a qual, dadas as suas reduzidas dimensões, deverá corresponder a uma sepultura de criança. Note-se que esta in-terface foi afetada pela abertura de um valado de cronologia mais recente.

34 A posição do crânio sobre o lado direito poderá sugerir também a colocação do corpo em decúbito lateral direito.

35 “Do esqueleto deste indivíduo, que terá sido inumado em posição de decúbito lateral esquerdo, seguindo a orientação norte (crânio) – sul (pés), com o crânio sobre o lado esquerdo e a face volta a este e os membros superiores fl etidos à esquer-da, apenas se preservaram a mandíbula, as vértebras cervicais, as clavículas, a omoplata direita, os ossos longos dos membros superiores e alguns ossos das mãos” (Rodrigues 2016: 50).

36 Nesta área o substrato apresenta alguns veios rochosos, o que difi cultou a defi nição dos limites.

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Fig. 6.— Plano correspondente ao enchimento inicial (UE 5704) e fi nal da sepultura UE 5708. Sepulturas do interior do recinto

Como já referimos, as sepulturas UEs 5511, 5623, 5634 e 5638 (Figs. 3 e 7), localizavam-se no interior confi gurado pelo valado do Recinto n.º 1 e obedecem a uma orientação oés-noroeste – lés-sudeste (ONO-ESE).

A sepultura UE 5511 (Fig. 8), apresentava uma planta sub-rectangular com 2,34 m de comprimento por 0,66 m de largura e uma profundidade de 0,36 m. No seu interior foi identifi cado um esqueleto incompleto37 de um indivíduo adulto de sexo inde-terminado em posição de decúbito lateral esquerdo, numa orientação Oeste (crânio) – Este (pés), acom-panhado por um vasto espólio:

1) Uma pequena tigela hemisférica assimétrica, de cerâmica de fabrico manual, com um pequeno fundo em ônfalo (Figs. 8, n.º 6 e 23, n.º 7). Este pequeno fundo em ônfalo aplicado numa tigela de cerâmica manual constitui um elemento arcaizante dentro da Idade do Ferro, dado que se encontra regionalmente ausente nas tigelas a partir do século

37 “... cujas peças representadas são o crânio, a omoplata e algumas costelas esquerdas, três metacárpicos, uma falange proximal de mão, o ilíaco direito e as diáfi ses do úmero e da tíbia esquerdos e dos fémures” (Rodrigues 2016: 42).

V a.C.,38 revelando uma ligação à tradição oleira dos fi nais da Idade do Bronze, onde ocorrem peças com características semelhantes.39 Na necrópole do Monte do Bolor 1-2 foi recuperado outro recipien-te com esrecipien-te tipo de fundo, nomeadamenrecipien-te no prato carenado da sepultura UE 5801, como mais adian-te veremos em pormenor.

2) Fragmentos de um fecho de cinturão em fer-ro (Fig. 8, n.º 4), idêntico a vários outfer-ros recupera-dos nas necrópoles em torno a Beja, identifi carecupera-dos como de tipo “tartéssico”. Este tipo de fechos ocor-re cronologicamente entocor-re os fi nais do séc. VII e inícios do seguinte.40

3) Concha com perfuração (da família Cypraei-dae ou CysticiCypraei-dae) (Fig. 8, n.º 2), cuja presença en-contra paralelo em outras necrópoles peninsulares, como em Talavera la Vieja,41 sendo que a existência de fauna proveniente do meio marinho encontra paralelo regional por exemplo, no dente de tubarão da necrópole de Corte Margarida.42

4) Escaraboíde. Uma conta em matéria-prima in-determinada (possivelmente marfi m/osso) de forma

38 Soares 2012: 49-55.

39 Berrocal-Rangel e Silva 2010: 295, fi g. 139. 40 Cerdeño 1981.

41 Garrido-García 2006: 183-187. 42 Deus e Correia 2005.

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oval e perfi l transversal tendencialmente semi-esfé-rico, com perfuração cilíndrica (Fig. 8, n.º 7). Apre-senta o anverso liso e no reverso verifi ca-se uma moldura onde se encontram representadas de forma estilizada, uma fi gura humana (no lado esquerdo) e uma árvore com coroa e frutos (no lado direito) so-bre duas linhas paralelas, constituindo possivelmen-te uma representação da árvore da vida. Espossivelmen-te exem-plar e o da sepultura UE 5623, que mais adiante iremos descrever, constituem as únicas peças deste tipo recuperados nesta necrópole. A iconografi a da árvore da vida ou árvore sagrada conhece algumas variantes na arte pré-clássica oriental,43 sendo pos-sível encontrar por exemplo, a deusa Ísis em forma de árvore,44 numa representação algo similar à aqui analisada. No que diz respeito a paralelos para esta peça, registam-se escaravelhos em diversos locais em Portugal, ocorrendo numa cronologia que se inicia no século VII a.C. e que termina no século V a.C.45 Regionalmente podemos citar apenas a título de exemplo, seis exemplares (cinco escaravelhos e um escarabóide) em Vinha das Caliças 4,46 produ-zidos em Naucrátis e datados da segunda metade

43 Caramelo 2007: 17-33. 44 Simões 2001: 113.

45 Almagro-Gorbea e Torres 2009: 522. 46 Gomes 2014a: 31 e 32.

do século VI a.C., ou o recolhido na sepultura 2 de Corte Margarida, em Aljustrel, com inscrição do faraó Pedubastis e que se pode atribuir cronologi-camente ao séc. VI.47 Entre os vários escaravelhos conhecidos em Portugal, o que tem uma representa-ção de uma cena possivelmente mais aproximada ao aqui apresentado é um dos escaravelhos de Alcácer do Sal, datado dos séculos VII-VI a.C., no qual sur-ge representada uma palmeira interpretada também como a árvore da vida, rodeada por dois persona-gens, possivelmente animais.48

5) Contas de prata (Fig. 8, n.º 1), nomeadamen-te duas tubulares, uma em forma de metade de es-fera com três perfurações, uma esférica e cerca de sete em forma de bolota. Os pendentes em forma de bolota encontram-se em diversos locais da pe-nínsula Ibérica sobretudo entre os séculos VII e V a.C.,49 todavia, no Baixo Alentejo até agora apenas se encontraram nas necrópoles em volta de Beja, entre os séculos VII e VI a.C., por exemplo, na se-pultura 2 de Palhais.50

6) Conta de vidro muito danifi cada.

7) Alfi nete de cabelo em liga de cobre, de secção 47 Deus e Correia 2005.

48 Almagro-Gorbea e Torres 2009: 531 e 532. 49 Santos et al. 2009: 765 e 766.

50 Ibidem: fi g. 8. Fig. 7.— Sepulturas UEs 5511, 5623, 5634 e 5638.

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Fig. 8.— Sepultura UE 5511 e espólio. 9 10 7 8 1 2 3 4 5 6

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circular, com remate esférico numa das extremida-des (Fig. 8 , n.º 5).

8) Duas arrecadas de prata (Fig. 8, n.º 8). Estas são compostas por uma conta fusiforme encimada por uma série de campânulas ligadas entre si. Estes elementos decorativos encontram paralelo no con-junto orientalizante de Talavera la Vieja (Cáceres), onde se encontram peças semelhantes fabricadas em prata, com a única diferença de as arrecadas de Talavera não possuírem as campânulas ligadas umas às outras, tendo estas sido enquadradas cro-nologicamente na primeira metade do séc. VI a.C.51 9) Conjunto de toucador/estética de bronze, constituído por uma espátula que apresenta deco-ração numa das superfícies, e por uma pinça, reuni-das numa argola, a qual apesar de corroída, parece também apresentar uma decoração em forma de bi-cos ou gomos (Fig. 8, n.º 3). Este conjunto encon-tra paralelo nas sepulturas 1 e 2 de Palhais,52 sendo curioso de assinalar que aquando da sua descober-ta, o conjunto de toucador de Palhais constituía um caso único em território português, notando-se que hoje são já vários os exemplares entretanto surgi-dos nestas necrópoles da região de Beja, sendo por exemplo possível referir a sua presença na sepultu-ra 8 de Poço da Gontinha 153 ou em Vinha das Cali-ças 4.54 Curioso também é referir a sua ausência nas necrópoles de Ourique, explicação que tentaremos

51 Perea 2006: 69, 86 e 87. 52 Santos et al. 2009: 762, fi g. 6.

53 Figueiredo e Mataloto neste volume: fi g. 4. 54 Arruda et al. neste volume.

desenvolver no ponto de discussão deste trabalho. 10) Possível bolsa em matéria orgânica (cou-ro?) com sistema de fecho formado por elementos de ferro e bronze, cuja corrosão preservou restos desta matéria (Fig. 8, n.º 9). O conjunto de estéti-ca parecia encontrar-se sobre ou no seu interior. Pensamos que a bolsa de couro possuiria um ele-mento em bronze, o qual parece ter sido articula-do, formado por duas partes distintas encontradas uma por cima da outra, sendo que uma das partes deveria estar cosida, presa à bolsa e a outra movia-se livremente, fi xa apenas por uma das extremida-des à que estava cosida. Junto encontrava-se um elemento de ferro semelhante à empunhadura de um espeto, o qual encaixa perfeitamente na parte móvel do elemento de bronze (Fig. 8, n.º 10), pa-recendo estes dois objectos fazer parte de um sis-tema de fecho simples. Este elemento de ferro, se fosse interpretado como um fragmento de um es-peto presente numa necrópole/sepultura, encontra paralelo em Cástulo,55 em Talavera la Vieja,56 bem como em vários outros locais,57 no entanto, este é de ferro, ao contrário de todos os outros mencio-nados, que são de bronze. Por fi m, notamos que a possibilidade de existência de uma peça em bron-ze, destinada a ser cozida a elementos de couro, encontra paralelo na necrópole de Medellin, numa placa perfurada, ali interpretada como um aplique

55 Armada 2005: 1253, fi g. 2. 56 Jiménez Ávila 2006: 95. 57 Lucas et al. 2004: 58. Fig. 9.— Sepultura UE 5623 e espólio.

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com esta função.58 Também a possibilidade de con-servação por corrosão de metais, de uma peça feita de couro, encontra paralelo num cinturão encon-trado na necrópole de Vinha das Caliças 4, o qual se preservou por este processo.

A sepultura UE 5623 (Fig. 9), de planta sub-rectangular, apresentava as seguintes dimensões: comprimento 1,4 m; largura 0,64 m; profundidade 0,48 m. No seu interior encontrava-se um esque-leto incompesque-leto59 de um individuo adulto do sexo feminino em posição de decúbito lateral esquerdo, numa orientação Oeste (crânio) – Este (pés). Em associação encontrava-se um extenso e interessan-te espólio:

1) Duas braceletes acorazonadas de prata com remates semi-esféricos nas extremidades (Fig. 9, n.º 1 e 2). Este tipo de objectos balizam-se crono-logicamente entre o século VII a.C. e o século VI a.C.60

2) Uma bracelete de bronze de secção circular (Fig. 9, n.º 6).

3) Uma conta, em matéria-prima indeterminada (possivelmente faiança egípcia), em forma de

esca-58 Almagro-Gorbea 2008: 382, fi g. 507.

59 “O esqueleto está incompleto tendo-se apenas preservado o crânio, a mandíbula, alguns ossos da mão esquerda, algumas vértebras torácicas, os ilíacos e o sacro e os ossos longos dos membros superiores e inferiores, os quais exibem, de um modo geral, um fraco estado de preservação e um razoável estado de conservação” (Rodrigues 2016: 45).

60 Jiménez Ávila 2006: 95.

ravelho (Fig. 9, n.º 7). O anverso representa um es-caravelho e no reverso apresenta hieróglifos egíp-cios, nomeadamente, na parte inferior, sobre um símbolo nb, uma esfi nge alada, representada com pêra sagrada, deitada, virada para o lado direito em face a uma pluma Maat. Por cima desta represen-tação, encontram-se dois falcões de costas opostas, no meio dos quais se encontra um sol por baixo de uma meia-lua, estando esta cena encimada por um disco solar alado. A representação de uma esfi n-ge alada enfrentando uma pluma e encimada pelo disco solar constitui o praenomen de Amenofi s III, sendo que esta iconografi a se encontra geralmente relacionada com as produções de Naucrátis.61 O falcão constitui o animal simbólico de Horus-Ra, estando usualmente representado encimado pelo disco solar e os seus olhos eram o sol e a lua,62 os quais neste caso se encontram representados no meio dos dois falcões. As considerações em termos de paralelos que já antes tecemos para o exemplar da sepultura UE 5511 aplicam-se também a esta peça, sendo que podemos acrescentar um exemplar de Alcácer do Sal do século VI a.C., o qual apre-senta uma esfi nge alada enfrentando uma pluma.63 4) Conta de vidro de forma ovalada alongada com perfuração cilíndrica e uma conta anelar de prata de secção circular (Fig. 9, n.º 3).

61 Almagro-Gorbea e Torres 2009: 530. 62 Ibidem: 529.

63 Ibidem: 530. Fig. 10.— Sepultura UE 5634 e espólio.

3 1

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Fig. 11.— Sepultura UE 5638 e espólio. 5) Lâmina de faca de ferro (Fig. 9, n.º 5).

6) Um brinco de prata (Fig. 9, n.º 4), constitu-ído por um aro fi no em círculo com secção circu-lar que apresenta três bolinhas como se tratasse de um cacho de uvas. Este brinco encontra paralelo regional num exemplar fabricado em bronze, pre-sente na sepultura 2 da necrópole do Pardieiro,64 onde foi conotado com uma cronologia da segunda metade do I milénio a.C., em virtude dos paralelos conhecidos fabricados em ouro65 e da ausência de mais espólio caracterizador na sepultura. Todavia, o exemplar aqui analisado, como já demonstrámos, é acompanhado de variado espólio, o qual permite recuar a cronologia de utilização desta tipologia de brinco até aos séculos VII-VI a.C. e provavelmente recuar a cronologia proposta para o espólio da se-pultura 2 do Pardieiro.

A sepultura UE 5634 (Fig. 10), de forma sub-rectangular, dispunha de 1,96 m de comprimento, 0,62 m de largura e 0,64 m de profundidade. O seu enchimento revelou indícios de violação, nomea-damente, um conjunto de peças ósseas (UE 5607) depositadas na cabeceira da sepultura, desarticula-das e, aparentemente, sem qualquer tipo de orga-nização, que reportam a uma clavícula direita, dois úmeros (um esquerdo e um direito) e alguns dentes soltos, costelas e vértebras e a avaliar pelas suas dimensões e morfologia e não existindo repetição

64 Figueiredo e Mataloto neste volume. 65 Correia et al. 2013: 105.

de peças, pertenceriam ao mesmo indivíduo adulto. Foram igualmente recuperados restos do bordo de uma peça de cerâmica manual depositada na cabe-ceira da sepultura, correspondente a uma pequena bacia ou tigela de grandes dimensões (ver fi g. 23, n.º 3). Esta apresenta características que permitem supor uma cronologia antiga dentro da Idade do Ferro, nomeadamente a decoração com recurso a cepillo na parede exterior da peça. Este tratamento de superfície é característico dos fi nais da Idade do Bronze, podendo citar-se a sua presença na região em sítios como o Castro dos Ratinhos,66 encontran-do-se também regionalmente ausente desde o sé-culo V a.C. em diante,67 pelo que é possível balizar com segurança esta peça entre o século VII e o sé-culo VI a.C.

Ainda indiciando a violação, espalhado e frag-mentado pela área da sepultura, encontrou-se um fragmento de ponta de lança com nervura central; um pendente/aplique decorativo de bronze ou pos-sível fragmento de fecho de cinturão de bronze, do qual apenas resta uma pequena chapa retangular rematada com um rebordo cilíndrico num dos la-dos mais comprila-dos, sendo que junto ao rebordo é visível uma fi ada de minúsculos pontos equidistan-tes, os quais enquadram dois círculos também for-mados por pontilhado (Fig. 10, n.º 1); fragmento de fíbula de bronze (Fig. 10, n.º 2) possivelmente do

66 Berrocal-Rangel e Silva 2010. 67 Soares 2012. 1 2 3 4

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Tipo Ponte 3a68 (séc. VII-VI a.C.), que conserva o arco de secção circular e uma das molas com sete voltas; fragmento de fusilhão de fíbula em bronze e um fragmento de adorno em liga de cobre, muito incompleto, com remate em “bola” (alfi nete de ca-belo ou bracelete acorazonada).

Por fi m, aos pés da sepultura identifi caram-se alguns restos ósseos (UE 5625) que preservaram a sua posição anatómica, nomeadamente algumas vértebras lombares, o ilíaco direito, o sacro, os fé-mures, as tíbias, os perónios e alguns ossos dos pés pertencentes a um indivíduo adulto do sexo mas-culino depositado numa orientação Oeste-Este, com os membros inferiores fl etidos à esquerda, encontrando-se acompanhado por duas pontas de lança com nervura central, com os respetivos con-tos e uma faca afalcatada (Fig. 10, n.º 3). As res-tantes peças ósseas em falta terão sido removidas ou destruídas aquando da violação. Este conjunto (UE 5625) é compatível com as peças ósseas desar-ticuladas da UE 5607, fazendo parte portanto do mesmo indivíduo.

A sepultura UE 5638 (Fig. 11), apresentava uma planta de forma sub-rectangular, com 1,60 m de comprimento, 0,70 m de largura e 0,32 m de profundidade. Esta estrutura foi também alvo de saque, tendo sido registados dois níveis com restos osteológicos. A UE 5635 diz respeito a um conjun-to de peças ósseas desarticuladas e sem qualquer

68 Ponte 2006: 423s.

tipo de organização, que se concentravam ao cen-tro da sepultura, resultantes da sua violação. Es-tas peças ósseas pertenecem a um único indivíduo adulto, estando presentes um crânio, uma clavícula esquerda, duas omoplatas (uma esquerda e uma direita), dois úmeros (um esquerdo e um direito), dois cúbitos (um esquerdo e um direito), dois rá-dios (um esquerdo e um direito), um metacárpico, uma costela e alguns dentes soltos.69 A UE 5637 representa o que resta, in situ, deste indivíduo, cuja inumação foi efectuada obedecendo à orientação Oeste-Este. Estão presentes as tíbias, os perónios e alguns ossos dos pés, os quais se encontram fl ecti-dos à direita. Estes elementos, vistos conjuntamen-te com a UE 5635, permiconjuntamen-tem aferir que esta sepul-tura albergava um só individuo.

A acompanhar esta inumação, foram recupera-dos no depósito que colmatava a estrutura alguns itens que compunham o espólio votivo, nomeada-mente duas contas de bronze (Figura 11, n.º 4), possivelmente pertencentes a anéis/braceletes se-melhantes às recuperadas na sepultura UE 4914 que mais adiante descreveremos em pormenor; uma possível pinça (?) em liga de cobre de secção retangular (Fig. 11, n.º 3); um fragmento decorado de estilete em liga de cobre (Fig. 11, n.º 2); um ob-jeto em osso de forma alongada com extremidade distal arredondada que poderá corresponder a um cabo de uma faca ou punhal, uma vez que contém

69 Rodrigues 2016: 48. Fig. 12.— Sepultura UE 2607 e espólio.

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vestígios de uma lâmina em ferro, sendo possivel-mente idêntico ao exemplar da sepultura UE 4914 que mais adiante iremos descrever; uma lâmina em ferro incompleta; e um pendente de cornalina (Fig. 11, n.º 1).70 Esta conta de cornalina encontra para-lelo regionalmente na necrópole da Vinha das Cali-ças 471 e em alguns exemplares andaluzes.72 Sepulturas exteriores ao recinto

Imediatamente a oeste do Recinto n.º 1 encon-travam-se as sepulturas UEs 2607 e 5801. Apre-sentavam uma orientação oés-noroeste – lés-su-deste (ONO-ESE), tal como as sepulturas que se encontravam no seu espaço interno.

A sepultura UE 2607 (Fig. 12) apresentava um comprimento de 2,32 m, largura de 0,68 m e profun-didade de 0,64 m. No seu interior foi sepultado um indivíduo adulto jovem do sexo feminino posiciona-do em decúbito lateral esquerposiciona-do, numa orientação Oeste (crânio) – Este (pés), com o crânio sobre o lado esquerdo e a face voltada a noroeste. Encon-trava-se acompanhado por algumas contas de vidro (em mau estado de conservação) que se localizavam na área do pescoço/peito e por 5 contas em liga de cobre que se encontravam na zona da testa.

70 Apresenta as seguintes medidas: 21,6 mm de comprimento máximo, 10,4 mm de largura máxima e 6,6 mm de espessura máxima.

71 Gomes 2014a: 32, fi g. 3, n.º 1. 72 Martin de la Cruz 2004.

Fig. 13.— Sepultura UE 5801 e espólio.

A sepultura UE 5801 (Fig. 13) é das mais peque-nas de todo o conjunto, pertencendo possivelmente a um juvenil, à semelhança da já referida sepultu-ra UE 5708. Apresentava 0,88 m de comprimento, 0,44 m de largura e 0,20 m de profundidade. No seu interior não foram detetados restos osteológi-cos humanos, somente um prato carenado de fabri-co manual fabri-colocado no extremo Este da sepultura (Fig. 23, nº4). Este exemplar apresenta um peque-no fundo em ônfalo, semelhante à tigela da sepultu-ra 5511 já antes descrita, sendo que podemos apon-tar as mesmas características cronológicas antigas a este prato. Se atendermos às sepulturas UE 3107, 4914 e 5511, as quais apresentavam recipientes ce-râmicos depositados aos pés dos inumados, então podemos supor que também este indíviduo estaria sepultado numa orientação Oeste-Este.

2.3.2. Recinto n.º 2

Valado, Sepultura UE 5101 e Sepultura/valado UE 7001 O Recinto n.º 2 é constituído por um valado (UE 3004) correspondente a um só segmento de reta (Figs. 3 e 14). Apresentava uma orientação no-nordeste – su-sudoeste (NNE – SSO), com um comprimento máximo de 6,6 m por 0,91m de largu-ra máxima e 0,35 m de profundidade.

Próximo do seu extremo su-sudoeste encon-trava-se a sepultura UE 5101 (Fig. 15), orientada oés-noroeste – lés-sudeste (ONO-ESE), que, em

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Fig. 14.— Valado UE 3004. Alargamento da escavação da UE 3000.

Fig. 16.— Sepultura ou valado UE 7001. Fig. 15.— Sepultura UE 5101,

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Fig. 17.— Sepultura UE 2913 e espólio. conjunto com o valado, sugere uma confi guração

em L para este recinto. Esta sepultura apresen-tava uma planta sub-rectangular (com 2,32 m de comprimento, 0,68 m de largura e 0,15 m de pro-fundidade) e no seu interior não foram exumados quaisquer elementos osteológicos humanos nem vestígios de oferendas.

A 8,4 m de distância foi registada uma mancha, (UE 7001), que se prolonga para lá dos limites da decapagem (Fig. 16), e que não foi escavada, que poderá tratar-se de uma sepultura ou de um seg-mento de valado com orientação no-nordeste – su-sudoeste (NNE – SSO).

Sepulturas interiores

No espaço interior do recinto n.º 2 foram es-cavadas duas sepulturas (UEs 2913 e 4914) com a mesma orientação oés-noroeste – lés-sudeste (ONO-ESE).

A sepultura UE 2913 (Fig. 17) apresentava as seguintes dimensões: comprimento 2,12 m; largura 0,70 m; profundidade 0,90 m. Do lado mais a sul verifi cava-se um entalhe ou degrau (provavelmen-te para assentamento de uma tampa) com cerca de 0,30 m de largura. Esta sepultura foi alvo de viola-ção atestada por restos ósseos desarticulados

iden-tifi cados nos depósitos de enchimento que colmata-vam a estrutura. Identifi cou-se na base da sepultura o que restava da inumação de um indivíduo adulto, possivelmente do sexo masculino. Tratavam-se das tíbias, perónios e alguns ossos dos pés que estavam fl ectidos à direita e orientados no eixo oeste – este. As peças ósseas desarticuladas identifi cadas ante-riormente nos depósitos de enchimento pertence-rão a este indivíduo. No depósito de enchimento (UE 2907) terão escapado por sorte à atenção dos perpetradores da violação uma conta tubular de vi-dro em mau estado de conservação e um pendente de lingueta de ouro, também algo danifi cado, com decoração pontilhada e sistema de suspensão em cilindro. Este pendente é composto por uma lâmina lisa em forma de lingueta sobre o qual se sobrepõe outra lâmina, ligeiramente abaulada, sobre a qual é aplicada uma decoração pontilhada a granulado. Encontra paralelo durante a I Idade do Ferro em vários locais da Península Ibérica, nomeadamente em época orientalizante, num exemplar possivel-mente proveniente da Extremadura espanhola,73 em Tugia (Toya, Jaén), em fi nais do século VI, iní-cios do século V a.C.,74 ou ainda durante o século

73 Blázquez 1963: 14s. e fi g. 16; Perea 2003: 216; Perea et al. 2010: 466.

74 Perea 1991: 219, 245, 292C e 296; 2003: 216; Perea et al. 2010: 302.

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Fig. 18.— Sepultura UE 4914 e espólio. 2 3 4 5 6 7 8 1

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V a.C., em período pós-orientalizante, num exem-plar de pequenas dimensões em Cancho Roano.75 Regionalmente, encontram-se exemplares nas ne-crópoles semelhantes ao Monte do Bolor 1-2, por exemplo, em Quinta do Castelo 5, num colar com-posto por três pendentes morfologicamente idên-ticos e ainda por dez contas esféricas de ouro,76 as quais são idênticas às da sepultura UE 4914 que a seguir iremos descrever em pormenor.

A sepultura 4914 (Fig. 18) confi gurava ao nível do topo do substrato um retângulo largo com 2,08 m de comprimento por 1,64 m de largura. À medi-da que a escavação progredia a sepultura tornou-se mais estreita, apretornou-sentando um escalonamento para assentamento de uma tampa. A área da sepul-tura fi cou reduzida a metade: com um comprimen-to de 1,88 m por 0,78 m de largura. A profundidade máxima era 1,44 m e o escalonamento encontrava-se a 1m de profundidade.

No seu interior encontrava-se depositado o es-queleto de um indivíduo adulto do sexo feminino colocado em posição de decúbito lateral esquerdo, numa orientação Oeste (crânio) – Este (pés), com o crânio sobre o lado esquerdo, a face voltada a Norte e os membros superiores e inferiores fl ecti-dos para o lado esquerdo.

Na testa encontrava-se um conjunto de onze contas em ouro (Fig. 18, n.º 2), idênticas às atrás descritas encontradas em Quinta do Castelo 5,

sen-75 Perea 2003: 199, 203, 208, 216, 219 e fi g. 9; Perea et al. 2010: 189.

76 Calvo e Simão neste volume.

do formadas por uma esfera de ouro com duas per-furações, as quais se encontram coroadas por um pequeno aro torcido formando uma espiral.

Na zona do peito foram recolhidas à volta de duas centenas e meia de contas de materiais diver-sos, nomeadamente cerca de duas dezenas de con-tas esféricas de prata semelhantes às de ouro acima descritas, formadas por duas meias esferas solda-das, cuja perfuração no topo se encontra coroada por um pequeno aro, que são também idênticas a uma conta recuperada na sepultura I de Monte do Mealha Nova (Ourique)77 e três tubulares/alonga-das de prata também coroatubulares/alonga-das por pequenos aros (Fig. 18, n.º 4); cerca de oitenta-noventa contas de vidro oculadas de média e pequena dimensão (al-gumas muito fragmentadas) e quatro contas azuis oculadas de grande dimensão (Fig. 18, n.º 5); cerca de cinquenta contas tubulares de resina (em mau estado de conservação), as quais encontram para-lelo por exemplo, em Vinha das Caliças 4;78 cerca de noventa pequenas contas anelares de faiança egípcia (Fig. 18, n.º 3), as quais encontram diversos paralelos regionais durante os séculos VII-VI a.C.79

Na zona dos braços identifi caram-se um anel em liga de cobre e duas braceletes (Fig. 18, n.º 7) que apresentam a mesma decoração composta por uma conta lisa, com paralelos na necrópole da Favela Nova80 e cujas contas se assemelham às recuperadas

77 Dias et al. 1970: 181 e 200. 78 Arruda et al. neste volume. 79 Soares et al. 2016: 136. 80 Dias e Coelho 1983: 202 e 203. Fig. 19.— Recinto n.º 3 (UE 6807).

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na sepultura UE 5638; um objeto indeterminado de ferro; um objeto de osso perfurado; um canino de canis sp. (Fig. 18, n.º 6); um fragmento de osso, possivelmente de mandíbula de espécie indetermi-nada; uma peça tubular de osso (provavelmente um pendente) com duas perfurações numa das ex-tremidades; um fragmento do pé de uma fíbula de bronze, com apêndice caudal coroado num botão, correspondente ao tipo Ponte 9a/1,81 com cronolo-gia dos séculos VII-VI a.C. e que se encontra regio-nalmente, por exemplo, na sepultura 6 da necrópole da Fareleira 2;82 uma faca com lâmina afalcatada em ferro e cabo em osso com dois rebites de cobre/ bronze, o qual apresenta decoração com pequenos círculos equidistantes incisos (Fig. 18, n.º 1), sen-do aparentemente idêntica ou muito semelhante ao exemplar fragmentado da sepultura UE 5638. A funcionalidade das facas afalcatadas tem sido deba-tida em torno das hipóteses de corresponderem a armas, objectos de uso quotidiano ou de uso ritual, não sendo possível afastar completamente qualquer uma das hipóteses. A sua possível funcionalidade diferenciada poderia ser intuída pela existência de

81 Ponte 2006: 426.

82 Figueiredo e Mataloto neste volume.

cabos de madeira ou de osso,83 como é o caso do exemplar aqui analisado. Contudo, este poderá ser desprovido de qualquer signifi cado mais profundo e ser apenas um sinal de poder económico, como se pode aliás ver pela abundância e riqueza do res-tante espólio. Cronologicamente, as pequenas facas afalcatadas de ferro ocorrem numa geografi a e cro-nologia ampla, desde o século VIII até aos fi nais da Idade do Ferro, nos mais diversos contextos.84

No extremo da sepultura, junto aos pés do inu-mado, encontrava-se uma tigela cerâmica de fabri-co ao torno (Fig. 18, n. 8 e 23, nº. 2), de produ-ção possivelmente local/regional, sendo de facto a única peça desta necrópole identifi cada com uma produção ao torno. Este facto leva a que conside-remos que no panorama geral desta necrópole, esta peça fabricada ao torno deva ser encarada como um objecto de luxo ou de excepção no seio da co-munidade que utilizou esta necrópole, facto que se enquadra bem na riqueza do restante espólio que acompanhava o defunto. Apresenta um bordo com espessamento interno, característico das primeiras tigelas da Idade do Ferro produzidas ao torno no 83 Kurtz 2003: 318 e 321; Rodríguez Díaz e Ortiz 2004: 290. 84 Mancebo 2000.

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Fig. 21.— 1. Sepultura UE 2803; 2. Sepultura UE 5206. Nível correspondente aos restos ósseos UE 5201, 5202 e 5203. Já se anteviam os restos em conexão anatómica UE 5205; 3. Pormenor do fecho de cinturão em ferro da sepultura 5206.

Sudoeste peninsular, as quais tendem a apresentar um bordo redondo simples em cronologias mais tardias,85 bem como um fundo plano em bolacha, característica que se divulga também com as pri-meiras produções ao torno desta morfologia e que perdura ao longo de toda a Idade do Ferro. Como apontamento especial desta peça, destaca-se o rele-vo hemisférico no interior, na zona do fundo, o qual parece reproduzir a morfologia do fundo interior de peças manuais com ônfalos, como é o caso do prato carenado da sepultura UE 5801.

2.3.3. Recinto n.º 3

O recinto n.º 3 (Figs. 3 e 19) não foi escavado porque se encontrava fora da área de afetação di-reta do projeto. Numa primeira fase dos trabalhos apenas era visível uma pequena parcela do valado. Numa tentativa de se registar planimetricamente todo o recinto procedeu-se a uma decapagem me-cânica para o efeito. Contudo, e uma vez que os vestígios se prolongavam para lá da área de

expro-85 Soares 2012: 49-55.

priação, não foi possível alargar mais a área para além da que se apresenta aqui. De qualquer modo, é possível observar-se um recinto (UE 6807), pos-sivelmente em “U” ou até quadrangular fechado, com uma orientação Este-Oeste. Apresenta-se li-geiramente desfasado dos outros dois recintos. No seu interior foi identifi cada uma mancha sub-rec-tangular, disposta norte-sul, que poderá tratar-se de uma sepultura. Na terra superfi cial que enche este recinto, apesar de não ter sido escavado, foi possível recuperar um fragmento de uma tigela ma-nual muito pouco profunda, com fundo plano sim-ples (Fig. 23, n.º 5).

2.3.4. Sepulturas dispersas

As sepulturas UEs 2712, 2803, 5206 e 7104 dis-põem-se de forma aleatória entre a área dos recin-tos n.º 1 e n.º 3 e o Recinto n.º 2.

A sepultura UE 2712 (Fig. 20) apresentava contornos sub-rectangulares com 1,84 m de com-primento por 0,8 m de largura e 1,18 m de profun-didade e estava orientada oés-noroeste – lés-su-deste (ONO-ESE). No seu interior encontrava-se

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sepultado um indivíduo adulto do sexo masculino em posição de decúbito lateral esquerdo, seguin-do a orientação Oeste (crânio) – Este (pés). Em associação registou-se a presença de uma fíbula de bronze, junto ao antebraço direito Esta cor-responde a um exemplar do tipo Ponte 3b, com cronologia dos séculos VII-VI a.C.86 Encontra-se completa com arco de secção retangular, com os seus extremos num enrolamento paralelo forman-do quatro voltas em cada; cada uma das molas unilaterais desenvolve-se no pé e fusilhão. Alguns dos paralelos deste tipo de fíbula mais próximos encontram-se na necrópole do Senhor dos Márti-res (Alcácer do Sal).87

86 Ponte 2006: 98 e 424

87 Estrela et al. 2012: 248; Ponte 2006: 424

A sepultura UE 2803 (Fig. 21.1) estava orien-tada Nordeste-Sudoeste (NE-SO) e dispunha de uma planta sub-rectangular com 1,88 m de compri-mento por 0,65 m de largura e 0,56 m de profundi-dade. Esta possuía um escalonamento na cabeceira e nos pés da sepultura que reduzia o seu compri-mento para 1,44 m. Tal como em outros exemplos já aqui referidos, este escalonamento parece ter servido para assentamento de uma tampa.

Atestou-se a presença do esqueleto de um indi-viduo adulto, muito provavelmente do sexo mas-culino. Apresentava-se com o tronco deposto so-bre as costas, o crânio soso-bre o lado direito, com a face voltada a sudeste e orientado no eixo sudoeste (crânio) – nordeste (pés). Não se encontrava qual-quer espólio votivo em associação.

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