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2.4 Estratégias Corporativas

2.4.2 Tamanho da firma como estratégia corporativa

Coase (1937) propõe que a constituição da firma é originada do ambiente competitivo, utilizando os custos de transação como referência para o estabelecimento de tal relação. Antes do desenvolvimento dos trabalhos de Coase, as explicações para as relações econômicas se baseavam nos estudos dos custos de produção, tendo em vista a percepção das firmas como organizações transformadoras de matéria-prima em produtos adequados para consumo, com o

objetivo maior de maximização dos lucros. Apesar do foco no funcionamento ótimo da empresa, tinha-se como condicionante maior a estrutura do mercado, considerando-se os ajustes das interações entre empresas, realizados pela força da concorrência.

Segundo Coase (1937), à medida que crescem, as firmas podem aumentar os custos de gestão das transações adicionais internas à firma, chegando a um ponto em que estes sejam iguais aos custos que ocorrem na realização da transação no mercado aberto, ou aos custos da organização por outro empresário, dificultando, ou mesmo impossibilitando, que ele faça o melhor uso dos fatores de produção.

Se a empresa detém sua expansão em um ponto abaixo dos custos de comercialização no mercado aberto, e em um ponto igual ao dos custos da organização em toda a empresa, isto implicará em uma transação no mercado. Assim, ela tenderá a ser maior quando: (a) forem menores os custos da organização mesmo ao aumentar o número das transações organizadas; (b) houver menor probabilidade de erros por parte do empresário; (c) for maior a redução do preço de oferta dos fatores de produção para empresas de maior tamanho (COASE, 1937).

Num sistema de concorrência perfeita, tudo que se produz é vendido a preço de mercado. Mas pode ocorrer que a organização das transações de negociação de um produto novo resulte menos custosa que a organização de novas transações de comercialização do produto antigo. Para estabelecer o tamanho da empresa deve-se considerar os custos da comercialização e os custos da organização de diferentes empresários para determinar quantos bens produzirá cada empresário e em qual quantidade (COASE, 1937).

Para que as firmas possam exercer seu papel de alocadoras eficientes de recursos e esforços, a compreensão e adequação da estrutura organizacional às oportunidades e necessidades oriundas do mercado são cruciais, viabilizando a constituição das firmas como estruturas nas quais as relações são controladas e ajustadas de acordo com os interesses predominantes. Assim, o alinhamento entre estrutura e custos de transação permite a minimização dos últimos, levando a um ponto de equilíbrio nas relações de conflito inerentes às transações de dependência bilaterais. Nessas, a especialização de firmas faz com que os contratos sejam estabelecidos numa relação entre fornecedor e comprador, considerando-se, também, a impossibilidade de cobrirem todas as situações passíveis de virem a ocorrer numa

relação entre firmas, em função da racionalidade limitada de seus gestores, e o oportunismo das partes na busca pelo melhor resultado (WILLIAMSON, 1998).

Caves (1980) ressalta que a estrutura organizacional é o resultado de um processo de definição da combinação dos recursos disponíveis e que viabiliza a maximização do valor da organização. Williamson (1998) também aborda as estruturas das relações entre as organizações, tratando aspectos tais como a escolha da configuração da estrutura organizacional, as condições de mercado, acesso e qualidade da informação, dentre outros.

De acordo com Williamson (1991), o paradigma SCP se mostra adequado para o entendimento das diversas configurações organizacionais na determinação das escolhas estratégicas por parte dos gestores, tendo em vista a influência dos fatores ambientais, tais como competição, força dos concorrentes e acesso à informação.

Essa perspectiva está em alinhamento com a visão de Teece (1984) de que, sob o paradigma SCP, o desempenho das firmas depende das ações dos compradores e vendedores no tocante ao estabelecimento de preços e políticas e aos investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em produção, dentre outros aspectos. Essas ações serão diretamente influenciadas pela estrutura do mercado, caracterizada pelo número e tamanho dos atores, pelo nível de diferenciação adotado pelas organizações e pela relação entre custos fixos e variáveis, relacionados à tecnologia de produção.

Uma das opções de desenvolvimento da estrutura organizacional, a integração vertical, ameniza os efeitos da assimetria da informação existente nas transações de mercado e o desequilíbrio de forças de negociação quando há um número reduzido de atores, além de facilitar o controle e a coordenação das ações no contexto interno às organizações. Os custos de transação são reduzidos em função da propriedade dos fatores de produção e o oportunismo (atitudes não éticas ou de busca de vantagens num relacionamento ganha x perde) também pode ser amenizado (WILLIAMSON, 1991).

Outros pontos abordados por Williamson (1991) são as influências da complexidade e da incerteza nas configurações e nas relações entre empresas, tendo em vista a amplitude de pontos a serem analisados no processo de tomada de decisão, tendo como referência a racionalidade limitada, a cultura organizacional, a formação dos gestores e a dinâmica das mudanças na indústria. Tais aspectos serão direcionadores das estratégias corporativas e

diretamente dependentes da estrutura de governança adotada como meio de gestão dos custos de agência.

Holmstrom e Tirole (1989) destacam que as teorias tradicionais que abordam o tema tamanho da firma são baseadas na tecnologia, incluindo aquela capaz de gerar economias de escala, as quais fornecem justificativas para o desenvolvimento de uma produção concentrada, ao passo que custos marginais estabelecem o tamanho ótimo da firma. Os autores acrescentam

à perspectiva apresentada as considerações de Baumol et al. (1982)11 acerca da escolha do

nível de escala, do foco de Lucas (1978)12 e de Kihlstrom e Laffont (1979)13 na redução do

custo de alocação de habilidades do corpo gerencial como meio de alinhar firmas e gestores.

Também são considerados os trabalhos de Geanakopolos e Milgrom (1985)14 que

afirmam que o tamanho da firma é estabelecido com referência na comparação entre os benefícios da coordenação e dos custos dos sistemas de comunicação e da obtenção de

informações, além da perspectiva dos modelos dinâmicos de Lucas (1967)15 sobre os custos

de alinhamento como explicação para os limites das taxas de crescimento.

Brito (2006), assim como Brito e Brito (2005), identificaram efeito positivo e estatisticamente significante do tamanho da firma no desempenho financeiro, mensurado por meio da rentabilidade do ativo e da margem de EBIT – Earnings Before Interest and Tax – sobre vendas líquidas. Esses resultados indicam a relevância das economias de escala e de escopo para o melhor desempenho da firma e se mostram estreitamente relacionados à sua capacidade de gestão de recursos.

Uma das abordagens das economias de escala é proposta por Stigler (1983), a qual está baseada na identificação do tamanho ótimo da firma, que se apresenta como mais eficiente, ou seja, aquele que viabiliza a obtenção de maiores volumes relativos de produtos ofertados no mercado. A identificação deste tamanho ótimo pode ser efetivada por meio de

11 BAUMOL, W.; PANZER, J.; WILLIG, R.. Contestable markets and the theory of industry structure. New

York: Harcourt Brace Jovanovich, 1982.

12

LUCAS, R.. On the size distribution of business firms. Bell Journal of Economics, v. 9, p. 508-523, 1978.

13

KIHLSTROM, R.; LAFFONT, J.-J.. A general equilibrium entrepreneurial theory of the firm based on risk aversion. Journal of Political Economy, v. 87, p.719-748, 1979.

14

GEANAKOPOLOS, J.; MILGROM, P. . A theory of hierarchies based on limited managerial attention. Cowles Foundation paper no. 775, Yale University, 1985.

15

LUCAS, R.. Adjustment costs and the theory of supply. Journal of Political Economy, v. 75, p. 321-339, 1967.

três métodos: (a) comparação direta dos custos de organizações de diferentes tamanhos; (b) comparação das taxas de retorno sobre o investimento e; (c) cálculo dos custos prováveis incorridos por organizações de diferentes tamanhos, considerando as informações disponíveis acerca da tecnologia aplicada.

Como alternativa a esses métodos, o autor propõe a adoção da chamada técnica do sobrevivente, cujo postulado principal é que a competição entre empresas de tamanhos diferentes favorece aquelas que se mostram mais eficientes. Tal técnica consiste na classificação das empresas atuantes em uma indústria com base no seu tamanho e do cálculo da participação de cada classe obtida na produção total da indústria. Se a participação de uma determinada classe sofre redução, ela é classificada como relativamente ineficiente e quanto mais ineficiente a classe, mais rapidamente sua participação é reduzida.

O autor ressalta que a ocorrência de um único tamanho ótimo somente será viável se todas as firmas da indústria considerada para análise tiverem acesso a recursos idênticos. Assim, considerando a perspectiva temporal de análise, o tamanho ótimo sofrerá variações em função de mudanças tecnológicas e de fatores relacionados ao estabelecimento do nível de preços ao mercado.

De acordo com Starbuck (1965)16, citado por Pfeffer (1972), o crescimento das

organizações viabiliza seu ajuste ao ambiente, tendo em vista que as grandes desenvolvem melhor capacidade de absorção de ações equivocadas e são mais capazes de influenciar o ambiente. Permite, também, que diversifiquem e reduzam sua dependência em relação a alguma linha de produtos que atenda uma indústria específica. Quanto maior a organização, maior a complexidade em sua gestão, o que exige a estruturação de meios de gestão focados tanto nos processos internos (estrutura de governança) quanto nas relações com outras organizações (interlocking), temas abordados na próxima subseção.

16

STARBUCK, William H. Organizational growth and development. In: MARCH, J. G.; Handbook of