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Taxa de crescimento relativo das pessoas ocupadas de 10 anos e mais de idade, por sexo, segundo a religião

São Gonçalo - 1991/2000

Rendimento total – Para a construção desse indicador foi considerada a renda total mensal do

trabalho principal, em salário mínimo - SM40 (vigente na época41 da pesquisa) de todas as

pessoas ocupadas de 10 anos ou mais de idade, divididas em cinco classes de rendimento: primeira - até 1 SM; segunda – mais de 1 a 2 SM; terceira – mais de 2 a 5 SM; quarta – mais

de 5 a 10 SM; e quinta – mais de 10 SM. Para o cálculo em 1991 foram excluídas as pessoas

sem renda e sem declaração de renda. Em 2000 não existiam pessoas sem declaração de renda, foram excluídas apenas aquelas sem renda.

Mais uma vez constatamos o comportamento diferenciado entre os católicos. Entre os homens conseguimos identificar queda na proporção nas três primeiras classes. Nas duas primeiras classes, as mais inferiores, o declínio foi bem mais acentuado do que na classe intermediária. Entre as mulheres, a situação de queda (bastante acentuada) na proporção se constata apenas na primeira classe, ou seja, a classe mais inferior (de menor renda). Ver gráfico 20.

40 Em 1991, foi considerado o salário nominal de Cr$ 36.161,60 (cruzeiros); em 2000, o salário considerado foi de Cz$ 151,00 (cruzados).

41 Cabe esclarecer que em 1991 o período de referência era de 12 meses (1 ano) contado de 01/09/1990 a 31/08/1991; em 2000 o período de referência era de 7 dias (uma semana) contada de 23 a 29/07/2000.

Entre os evangélicos pentecostais, a situação, comparada à dos católicos, ocorre de maneira totalmente oposta tanto para os homens quanto para as mulheres: não houve entre eles nenhuma classe com declínio. Entre os homens, conseguimos registrar as maiores proporções nas três classes intermediárias, ou seja, da segunda até a quarta classe. Entre as mulheres, os maiores crescimentos ocorrem da segunda até a última classe. Ver gráfico 21.

Gráfico 20

Proporção das pessoas católicas apostólicas rom anas, ocupadas, de 10 anos e m ais de idade, por sexo e religião, segundo a

classe de renda total m ensal em salário m ínim o São Gonçalo - 1991/2000 11,7 16,8 21,4 6,8 2,0 4,8 12,5 20,3 10,0 3,1 24,2 18,6 13,0 2,8 0,7 11,4 19,0 15,1 4,4 1,0

A té 1 M ais de 1 a 2 M ais de 2 a 5 M ais de 5 a 10 M ais de 10

classe de renda (% ) Homem 1991 Homem 2000 M ulher 1991 M ulher 2000

Fonte: IBGE/D PE - Censo Demográfico de 1991 e 2000, dados da am ostra.

G ráfi co 21

Proporção das pe s s oa s e van g é l i cas pe n te cos tai s , ocu padas , de 10 an os e m ai s de i dade , por s e x o e re l i g i ã o, s e gu n do a cl as s e de re n da tota l

m e n s a l e m s al ári o m í n i m o - S ão G on ça l o - 199 1/2000

1 ,6 1 ,9 2 ,3 0 ,5 0 ,1 1 ,7 3 ,8 4 ,8 1 ,9 0 ,5 5 ,1 3 ,0 1 ,5 0 ,3 0 ,0 5 ,3 6 ,7 3 ,7 0 ,9 0 ,2 At é 1 M ais de 1 a 2 M ais de 2 a 5 M ais de 5 a 10 M ais de 1 0

cl as s e de re n da (%) Hom em 1 991 Hom em 2 000 M ulher 1991 M ulher 2000

Entretanto, a confirmação dessas taxas de proporção pode ser mais bem explicada se forem vistas através das taxas de crescimento relativo na tabela 9.

Classes de

Rendimento Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Total -1,5 -9,0 12,6 114,5 107,2 123,6 Até 1 SM -47,3 -57,1 -38,4 26,5 9,3 36,7 Mais de 1 a 2 SM -1,0 -21,4 34,0 150,2 112,6 194,6 Mais de 2 a 5 SM 12,4 -0,2 51,7 148,1 120,4 231,7 Mais de 5 a 10 SM 64,6 54,8 110,5 303,0 289,5 354,8 Mais de 10 SM 68,7 63,9 96,6 302,4 263,6 680,5

Fonte: IBGE/DPE - Censo Demográfico de 1991 e 2000, dados da amostra.

Católicos Apostólicos Romanos Evangélicos Pentecostais Taxas de Crescimento Relativo (%)

Tabela 9

Taxa de crescimento relativo, das pessoas ocupadas com 10 anos ou mais de idade, por religião e sexo, segundo as classes de renda total mensal per capita

São Gonçalo - 1991/2000

Mediante os valores encontrados nos indicadores, podemos fazer algumas avaliações acerca dessas religiões. Na religião católica, o homem da raça negra, solteiro, na faixa etária de 7 a 14 anos de idade, e com 1 a 7 anos de estudo, foi o responsável pelo maior esvaziamento.

As mulheres católicas, que em 1991 já faziam parte da maioria absoluta e relativa, em 2000, apesar também de ter sofrido queda de 29,8% para 25,6%, comparado ao total geral da população do município, continua sendo a maioria. Essa mulher tem o seguinte perfil: faixa etária de 25 a 59 anos de idade, mais precisamente 31 anos de idade mediana, é da cor branca, é casada, tem de 1 a 7 anos de estudo, é ocupada e ganha de mais de 1 a 2 salários mínimos.

Entre os evangélicos pentecostais, a situação ocorre da seguinte maneira: os homens da cor/raça branca (a população da cor/raça negra é a maioria, mais de 50% para ambos os sexos), grupo de idade de 0 a 6 anos, foram os responsáveis pelo incremento populacional dessa religião; entretanto, as mulheres são a maioria, o que nos permite traçar o seu perfil.

Essa mulher evangélica pentecostal é da cor/raça negra, está na faixa etária de 25 a 59 anos de Idade (31 anos de idade mediana), é casada, com até 7 anos de estudo, é chefe de família, é ocupada e tem rendimento mensal total de até 2 salários mínimos.

Todas estas informações acima descritas podem ser mais bem examinadas através do anexo 20 e dos quadros 1 e 2.

Quadro 1

Perfil soci oe conômico do católi co apostólico romano, val ore s e m pe rce ntual - São Gonçalo - 2000

100,0 25,6 4,8 5,9 2,5 6,2 24,4 5,7 27,8 23,2 24,4 10,8 15,3 0,7 23,2 5,6 3,8 9,3 2,9 15,2 31,4 12,0 4,8 16,5 11,4 19,0 15,1 4,4 1,0 3,1 10,0 20,3 12,5 4,8 24,8 4,2 16,4 20,3 36,1 2,9 9,1 3,8 6,1 23,3 2,3 18,2 4,5 27,7 22,5 24,7 4,6 24,1 6,4 2,5 6,2 5,3 23,7 100,0 S it. Urba no S e xo 0 a 6 a no s de ida de 7 a 14 a no s de ida de 15 a 17 a no s de ida de 18 a 24 a no s de ida de 25 a 59 a no s de ida de 60 e m a is a no s de ida de R a ç a B ra nc a R a ç a Ne gra C a s a do s De s c a s a do s S o lte iro s Ta xa de Ana lfa be tis m o 1 a 7 a no s de e s tudo 8 a no s de e s tudo 9 e 10 a no s de e s tudo 11 a no s de e s tudo 12 a no s o u m a is de e s tudo C he fe de F a m ília Tra dic io na l C he fe de F a m ília Unipe s s o a l Ta xa de Ativida de Ta xa de De s e m pre go Ta xa de Oc upa ç ã o Até 1 S M M a is de 1 a 2 S M M a is de 2 a 5 S M M a is de 5 a 10 S M M a is de 10 S M indi cadores

Fonte : IBGE/DPE - Ce nso De mográfico 2000, dados da amostra

HOMEM MULHER

A população católica, que era de 57,7% em 1991, caiu para 49,3% em 2000. Esse reflexo repercutiu para ambos os sexos. Os homens cujo percentual era de 27,9% em 1991 diminuiu para 23,7% em 2000. Já as mulheres com 29,8% em 1991 apresentaram também em queda para 25,6% em 2000. Um detalhe interessante é que a diferença de 4,2 pontos percentuais

acontece entre ambos os sexos; todavia, assim como acontecia em 1991, notem que as mulheres continuam sendo a maioria em 2000.

Quadro 2

Perfil socioeconômico dos evangélicos pentecostais São Gonçalo - 2000 100,0 9,1 1,8 2,4 2,0 9,2 2,0 8,5 10,4 9,6 4,7 3,9 1,9 9,6 2,0 1,3 2,3 5,6 4,1 4,1 1,8 5,5 5,3 6,7 3,7 0,9 1,9 4,8 3,8 1,7 6,2 1,2 4,2 1,5 9,5 1,7 1,0 1,5 7,2 3,8 5,2 0,9 7,2 7,8 5,9 1,0 6,0 1,7 2,4 2,1 6,5 100,0 0,2 0,5 0,8 Sit. Urbano Sexo 0 a 6 anos de idade 7 a 14 anos de idade 15 a 17 anos de idade 0,8 18 a 24 anos de idade 25 a 59 anos de idade 60 e mais anos de idade Raça Branca Raça Negra Cas ados Des cas ados Solteiros Taxa de Analfabetis mo 1 a 7 anos de es tudo 8 anos de es tudo 9 e 10 anos de es tudo 11 anos de es tudo 12 ou mais anos de es tudo 0,3 Chefe de Família Tradicional Chefe de Família Unipes s oal Taxa de Atividade Taxa de Des emprego Taxa de Ocupação Até 1 SM Mais de 1 a 2 SM Mais de 2 a 5 SM Mais de 5 a 10 SM Mais de 10 SM 0,5 Indicador

Fonte: IBGE/DPE - Censo Demográfico de 2000, dados da amostra.

HOMEM MULHER

Observando os quadros, podemos declarar que a supremacia feminina é realmente incontestável; entretanto, tomando-se como referência os indicadores apresentados, diferenças significativas podem ser apontadas em se comparando essas mulheres católicas com as evangélicas.

Quanto aos aspectos demográficos, as mulheres são a maioria e no mesmo grupo de faixa etária (25 a 59 anos de idade) e com a mesma idade mediana de 31 anos. A partir desse ponto as diferenças já começam a ser visíveis; na questão da cor/raça entre as católicas predomina a branca e entre as evangélicas a predominância é negra.

Do ponto de vista social, tanto as católicas quanto as evangélicas em sua grande maioria fazem parte do grupo das casadas. O segundo maior grupo entre as evangélicas é o das descasadas e entre as católicas é o das solteiras. Na questão educação, a taxa de analfabetismo de 0,7% entre as católicas é bem inferior que a taxa de 1,9% entre as evangélicas, uma diferença de 1,2%. Já no quesito anos de estudo, o grupo de 1 a 7 anos é comum para ambas onde são a maioria. Um detalhe interessante é que o segundo maior grupo entre as mulheres é o de 11 anos de estudo para ambas as religiões.

Uma coisa que me chamou a atenção foi para os anos de estudo entre os católicos. A distribuição acontece dentro da normalidade (simétrica) entre homens e mulheres. Já entre os evangélicos essa distribuição é assimétrica positiva para as mulheres, que detêm as melhores taxas.

Ainda dentro do ponto de vista social, podemos evidenciar que a mulher católica em sua grande maioria é chefe de família unipessoal, enquanto que as evangélicas são na sua maioria chefes de família tradicional. As definições de unipessoal e tradicional já foram citadas anteriormente.

No contexto dos aspectos econômicos, os indicadores apresentados expressam evidências que essas mulheres, de ambas as religiões, são na sua grande maioria ocupadas, ou seja, fazem parte de algum setor de atividade econômica. Quanto ao nível de rendimento, ambas estão na condição de igualdade com a maioria no grupo de 1 a 2 salários mínimos, sendo que as católicas tendem para um segundo grupo de 2 a 5 SM, enquanto que as evangélicas tendem para o grupo de até 1 SM.

No geral, com todas essas evidências expostas acima, somos levados a ratificar o que dizem as literaturas acerca do assunto e confirmar nossas hipóteses. O cristianismo evangélico pentecostal é fundamentalmente uma religião de pessoas com baixo nível de instrução e de baixo rendimento.

Acrescentando à nossa conclusão, acreditamos que a mulher (a maioria), por ser responsável pela estrutura da família e talvez por se sentir mais frágil e/ou mais vulnerável, procura a religião, conforme Mariano, como um pronto-socorro espiritual, para apoio social e moral, para a cura de problemas afetivos e/ou familiar e/ou de crise existencial, para que se sintam respeitadas e protegidas. Daí, possivelmente se explica esse incremento absoluto/relativo dessas mulheres dentro do protestantismo pentecostal.

Um outro fator que também nos faz acreditar é a questão da compostura. Normalmente, os religiosos evangélicos, preocupados com a transparência do respeito, da seriedade e da moralidade perante a sociedade, procuram construir sua imagem pessoal com frases do tipo “eu sou cristão” ou “eu sou evangélico”, dentre tantas outras.

"A primeira tentativa para estabelecer uma colônia protestante no Brasil foi feita

em 1555. Numa curiosa mistura de motivos induziu a aventura: o chefe, o vice- Almirante Nicoloau Durand de Villegaignon, estava à busca de fortuna e fama no Novo Mundo; a França em busca de terras e João Calvino e os huguenotes5 procurando responder a um desafio missionário." (Hahn, 1989:60).

Nos relatos de Hahn, a segunda e última tentativa de se estabelecer uma colônia protestante aqui no Brasil aconteceu por parte dos holandeses, durante o Domínio Espanhol (de 1580 a 1640), quando a Holanda encontrava-se em guerra com a Espanha. Como Portugal e suas colônias estavam sob o domínio Ibérico, a Holanda começou a invadir o Brasil em 1624. Os capelães da Igreja Reformada Holandesa vieram juntamente com pastores, colonos, marinheiros e soldados.

"Durante o período de ocupação, os holandeses trouxeram cerca de quarenta

pastores, oito missionários para trabalhar entre os índios e um grande número de obreiros leigos cujo trabalho era visitar e consolar os enfermos. Estavam todos sob a supervisão direta da Igreja Reformada na Holanda. ..." (Idem: 62).

Ele ainda esclarece que o fracasso dessa segunda tentativa de estabelecer uma colônia protestante aqui no Brasil deve-se ao fato de a Holanda estar envolvida com turbulências que aconteciam na Europa àquela época, e não devido ao mau êxito da Igreja. Dessa forma, a penetração protestante no Brasil só começa a acontecer de fato a partir do ano de 1808, com a vinda da família Real de Portugal, como mostraremos adiante.

O Protestantismo no Brasil Império

Com a transferência do trono real português para o Rio de Janeiro, ocorrida no ano de 1808, fugindo da Europa em virtude do bloqueio continental decretado pelo então Imperador francês, o general Napoleão Bonaparte, os portugueses vieram em seus navios sob a proteção da esquadra britânica. Com essa afluência dos ingleses que continuavam aqui no país com a finalidade de proteger a família real, aconteceu também a implantação do culto protestante anglicano, que veio a ser oficializado dois anos depois.

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Designação depreciativa que católicos franceses deram aos protestantes, sobretudo os calvinistas, e que esses adotaram.

Segundo as leis do Império Brasileiro àquela época, esses cultos poderiam acontecer desde que não fossem professados publicamente em qualquer lugar ou em qualquer edificação que tivesse externamente aparência de templo, nada deveria chamar a atenção dos católicos no Brasil para que não ficasse caracterizado a prática de nenhuma outra religião que não a religião católica. "Os imigrantes começaram a chegar décadas antes dos primeiros

missionários evangélicos, e foram estabelecendo seus padrões de fé e culto muito antes que a atividade missionária fosse permitida no Brasil." (Idem: 69).

Na Constituição de 1824 e nas leis que nela se basearam, ficou definido então o status dos povos acatólicos e passaram também a ser estabelecidos os limites das suas atividades até a era da República. Desse momento em diante, o Brasil passa a ser definido como país católico, o imperador passa a ser o protetor da fé; e assim sendo as religiões dos povos acatólicos passam a ser toleradas, conforme descrição a seguir:

Artigo 5º - A religião católica apostólica romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo.

Artigo 103 e 106 - ... manter a religião católica apostólica romana ...

Artigo 179, inciso V – Ninguém pode ser perseguido por motivo de religião, uma vez que respeite a do Estado, e não ofenda a moral pública.

Vale ressaltar que os artigos 103 e 106 dispõem precipuamente sobre a obrigatoriedade que cabia ao príncipe fazer juramento após completar 14 anos de idade e ao ser aclamado Imperador, tudo isso perante o presidente do senado, reunidas as duas câmaras.

De acordo com a Constituição Brasileira de 1824, que governou o Brasil até o ano de 1889, não poderiam acontecer reuniões públicas a título de culto protestante praticado pelos imigrantes que aqui viviam. Praticava-se o culto doméstico com o intuito de se manterem vivas as suas religiões, fazendo assim dessa forma a evangelização de alguns prosélitos brasileiros, que eram praticados em casa de oração, nome dado aos locais onde se praticavam os cultos.(Ibidem). "Os americanos (eram poucos) que trabalhavam na exportadora

professavam, na sua totalidade, a religião protestante e freqüentavam o templo dos ingleses, improvisado numa casa que antes fora depósito de cacau." (Amado, 1987:41).

O status da legalização dos não-católicos no Brasil império aconteceu quando o Portugal e Inglaterra assinaram o Tratado do Comércio em 1810. Em seu artigo XII foram traçadas as linhas mestras que seriam inseridas na primeira Constituição do Império Brasileiro, que veio, assim, garantir a todos os residentes o direito de se praticar a sua religião em particular, desde

que não fosse perturbada a paz pública ou se tentassem fazer prosélitos6 entre os brasileiros,

presumivelmente os católicos romanos.

Os missionários protestantes de diversas denominações foram recebidos com muita simpatia pelo então Imperador Dom Pedro II. Com isso, os contatos amistosos foram então sendo multiplicados com os missionários dessas diversas denominações que aqui chegavam. Em oposição a essa simpatia, a questão religiosa fez crescer a luta entre o imperador e a Igreja Católica, que lhe fez valer a aversão da hierarquia monarquista, perdendo também o apoio da Igreja. Esses fatores, associados a outros tais como a abolição da escravatura através da Lei Áurea assinada em 1888 pela princesa Isabel, despertaram a ira dos fazendeiros, e por fim o conflito com os militares fez com que sua abdicação fosse inevitável, dando início a um novo sistema de governo no Brasil. (Reily, 1993).

O Protestantismo no Brasil República

Com a abdicação de Dom Pedro II, surge a República do Brasil que teve como base o positivismo. O positivismo considerava o valor da personalidade anterior a todas as condições históricas, políticas, sociais e culturais e tinha como prioridade o respeito à liberdade e à igualdade inata dos indivíduos. “A nova ordem republicana aparece a seus olhos como a

imagem da desordem social e política, pois ao separar Igreja e Estado não reconhece mais o catolicismo como religião oficial.” (Oliveira, 1997:48)

Uma questão que não podemos deixar de ressaltar é que, com a vinda do protestantismo para o Brasil, trazido da Europa e também dos Estados Unidos, lugares onde se vivia uma modernidade já bem avançada para aquela época, vieram também o liberalismo teológico e a influência do Evangelho Social, que trazia no seu bojo a prestação de serviços sociais, educativos, recreativos e obviamente a evangelização.

Com a implantação da República do Brasil, o Governo Provisório estabeleceu a liberdade de culto no Brasil, que se tornou oficializado através do decreto nº 119-A, de 07/01/1890, e que extinguiu o padroado e cortando dessa forma o cordão umbilical que existia entre a Igreja e o Estado. Tal situação veio muito a alegrar aos protestantes, que eram entusiastas da República, pois até antes da sua chegada essas pessoas viam-se discriminadas, devido à prática de suas religiões.

A Constituição de 1891 beneficiava os protestantes pela garantia da liberdade da prática religiosa; entretanto, essa mesma Constituição não era bem aceita pela hierarquia católica que via seus privilégios e espaço sendo perdidos. A partir de então muitas tentativas aconteceram com o objetivo de se fazer uma emenda constitucional para modificar os privilégios já conseguidos pelos cristãos protestantes.

Essa situação veio fazer com que o relacionamento entre os cristãos protestantes e os cristãos católicos se transformasse numa intensa rivalidade. A população cristã protestante, em sinal de protesto contra essas tentativas de uma possível emenda da constituição, começou a combater os supostos erros praticados pelo catolicismo romano, tais como: "idolatria,

mariolatria, negligência na difusão e leitura da Bíblia, ignorância e superstição do povo católico e imoralidade do clero." (Reily, 1993:223).

O protestantismo no Brasil tem profundas raízes e vínculos com a Grã-Bretanha, com a Alemanha e com os Estados Unidos da América. Entretanto, os missionários protestantes que vieram a atuar aqui no Brasil, na sua grande maioria, eram oriundos dos Estados Unidos da América, país cuja preponderância da população é protestante.

Ao contrário da Constituição de 1824, com relação ao tratamento dispensado aos protestantes, hoje, tanto eles quanto qualquer outra pessoa têm seus direitos garantidos através da mais recente Constituição Brasileira, promulgada em 5 de outubro de 1988, onde diz:

Artigo 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residente no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguinte:

VI. é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VII. é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; e

VIII. ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, ... .

O protestantismo e o progresso no Brasil

Referindo-se ao paralelo, protestantismo e o progresso que começara a acontecer no Brasil àquela época, Reily diz que, apesar da ética do protestante ser predominantemente individualista, os mesmos não mostraram se desinteressar pelo progresso do Brasil. Muito pelo contrário, existia uma demonstração lógica de que a marcha do protestantismo seria acompanhada automaticamente pelo progresso e pelo desenvolvimento da nação assim como pela liberdade de todos seus cidadãos e também das suas instituições.

"Sem dúvida, a paz, o progresso industrial, o avanço da ciência e a elevação do

padrão de vida do mundo ocidental ... conduziram ... no Brasil, os protestantes, quer missionários quer obreiros nacionais, não só aceitaram o conceito de progresso, como também identificaram o progresso com o protestantismo."

(Idem: 269).

O progresso que começara a acontecer aqui no Brasil àquela época, sob o olhar dos protestantes, era visto com bons olhos, principalmente quando da implantação da República, pois esta trouxe um certo conforto para os seguidores do protestantismo que passaram a ter uma atuação mais livre no território nacional, uma vez que a Constituição já lhes garantia o pleno direito à prática de seus cultos sem aquela formalidade obrigada pela constituição de 1824. A partir de 1889 "A fé e o culto evangélicos tornaram-se parte da vida brasileira." (Hahn, 1989:47).

O protestantismo sob a influência católica portuguesa

O protestantismo aqui no Brasil veio a ser implantado depois de três séculos após seu

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