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Parte II Trabalho experimental

4 Discussão

4.1 Taxa de recolha embrionária

O valor da taxa de recolha embrionária de 47,80% é superior ao valor registado pela “Embriovet” na época anterior, de 2016, que foi de 44%. Este valor é concordante, dada a sua proximidade, com o descrito por Squires et al. (2003), que referiram que a média da TRE é de 50% em éguas com ovulações simples. Encontra-se acima do valor descrito por Hudson & Mccue (2004), de 43,5%, no entanto, comparando com o descrito por Fleury, Pinto, Marques, et al. (2001), que apresentaram uma TRE média de 54,6% em duas épocas consecutivas, encontra-se ligeiramente abaixo. Losinno (2010) refere que em situações ideais a TRE encontra-se entre os 50% e os 80%. Tendo em conta todas as condições envolventes este resultado pode ser considerado como satisfatório.

4.1.1 Idade da dadora

No presente estudo a TRE de éguas novas (≤ 14 anos) foi ligeiramente superior a éguas velhas (≥ 15 anos), embora não tenha exercido influência sobre a taxa. É geralmente aceite que a TRE seja superior em éguas mais novas, sendo que o resultado está de acordo com o descrito por McCue et al. (2010), em que a idade da dadora teve influência e a recolha foi superior em éguas com ≤ 15 anos comparando com éguas mais velhas (57,1% vs 39,4%), e por Meadows et al. (2003), que encontraram na idade da dadora um fator com influência na recolha ao encontrar uma TRE de 67% em éguas <14 anos comparado com 43% de éguas mais velhas.

Foi comparada a taxa de fertilização em éguas novas (>90%) e constatou-se que é similar em éguas velhas (80-90%), no entanto, a mortalidade embrionária entre a fertilização e o décimo dia de gestação é de apenas 9% em éguas novas, contrastando com 60-70% em éguas velhas, devido ao ambiente uterino menos adequado de éguas velhas que apresentam uma maior incidência de alterações degenerativas e inflamatórias do endométrio (Ball, 2000). O avançar da idade leva ao decréscimo da qualidade do oócito (Losinno & Alvarenga, 2006; Carnevale et al., 1995), bem como do transporte ovidutal e do desenvolvimento embrionário, sendo que embriões recolhidos de éguas velhas são mais pequenos e menos avançados em termos de desenvolvimento (Meadows et al., 2003), o que nos ajuda a explicar a diferença de resultados entre as duas categorias.

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4.1.2 Ovário ovulatório

Apesar de se ter observado um número ligeiramente maior de recolhas após ovulação do ovário direito, a diferença não foi significativa nem foi encontrada matéria bibliográfica que apresentasse uma diferença significativa da TRE consoante o ovário ovulatório. Ginther (1983) encontrou um número igual de ovulações entre os ovários em éguas que pariram anteriormente, no entanto registou um maior número de ovulações no ovário esquerdo (61% e 39%) em éguas que nunca pariram. Morel & O’Sullivan (2001), ao longo de 3 épocas consecutivas, não registaram diferença na distribuição entre ovário esquerdo e direito, sugerindo que os ovários funcionam de igual modo e podem ser considerados como ovuladores simétricos.

4.1.3 Tipo de ovulação

Foi sem surpresa que se verificou que as ovulações duplas levaram a um número significativamente maior de recolhas, o que, embora pareça demasiado previsível, revela um bom aproveitamento das ovulações. Squires, McKinnon, et al. (1987) referiram uma TRE de 53% em ovulações simples comparado com 106% em ovulações duplas, dados comprovados por outro estudo em que éguas com ovulação simples a TRE de um embrião foi de 46,8% (190/406) enquanto ovulações duplas a TRE de um ou mais embriões foi de 59,7% (43/72), o que suporta a ideia de que o aumento do número de ovulações aumenta a taxa de recolha (McCue et al., 2010). Losinno et al. (2000) mediram o impacto de ovulações múltiplas na TRE e também comprovaram que estas aumentam-na, bem como apresentaram taxas de gestação semelhantes a embriões de ovulações simples. Podemos assumir que os oócitos libertados nas ovulações múltiplas podem ser fertilizados e desenvolverem-se em embriões normais, diminuindo assim o custo por gestação. Concluíram que a relação custo/benefício obtido pelas gestações no caso ciclos com ovulações múltiplas era 96% maior que em ovulações simples, que permitiu aumentar a eficiência do programa ao obter gestações com um custo mais reduzido, embora o número de recetoras seja mais elevado (Losinno et al., 2000). Posto isto torna-se relevante a necessidade de desenvolver protocolos de indução de superovulação práticos e eficazes para proporcionar uma evolução da técnica de TE.

4.1.4 Existência de patologia uterina prévia da dadora

O número de éguas que apresentaram problemas de infertilidade/problemas reprodutivos na presente época foi bastante superior ao número de éguas férteis/saudáveis, devido ao seu valor e à vontade dos criadores em utilizar éguas de fertilidade reduzida para TE. No entanto a TRE foi ligeiramente superior em éguas que

64 não apresentaram problemas reprodutivos. Sertich (1989) apresentou resultados em que éguas com endometrite antes da cobrição, ainda que devidamente tratada, apresentam uma TRE inferior comparando com éguas saudáveis (35,3% contra 52,1%). Squires et al. (2003) referiram que um dos principais fatores que afetam a recolha é o historial reprodutivo das éguas, sendo que a recolha de embriões é inferior em éguas que apresentam problemas reprodutivos. Vogelsang & Vogelsang (2010) mostraram que a fertilidade da dadora tem influência na recolha após encontrarem uma diferença significativamente maior na TRE em éguas férteis comparando com éguas subférteis, tal como Losinno & Alvarenga (2006) e Alonso et al. (2006) que demonstraram que a TRE por ciclo de éguas férteis é consideravelmente maior.

4.1.5 Presença de endometrite pós-cobrição

A TRE não foi influenciada pela presença de endometrite pós-cobrição, no entanto, segundo os resultados apresentados por McCue et al. (2010), a endometrite pós- cobrição afeta significativamente o sucesso da recolha tendo em conta que éguas que revelaram quantidades insignificantes ou nenhuma de líquido inflamatório (profundidade ecográfica menos que 1 cm) em resposta à inseminação permitiram uma TRE superior em relação a éguas com a presença de uma pequena a moderada quantidade de líquido (maior que 1 cm), em que a presença de líquido foi sempre resolvida com lavagens uterinas e administração de agentes ecbólicos (McCue et al., 2010). Éguas com endometrite devidamente tratadas antes da cobrição apresentam TRE inferior em relação a éguas saudáveis (Sertich, 1989). Posto isto, fica a ideia de que com uma maior densidade populacional a TRE seria superior em éguas sem ocorrência de endometrite pós-cobrição.

4.1.6 Existência de partos anteriores da dadora

A existência de partos anteriores da dadora não influenciou a TRE. Estes resultados estão de acordo com Vogelsang & Vogelsang (2010), que ao longo de 6 épocas reprodutivas analisaram a TRE de éguas que nunca pariram e de éguas que pariram até dois anos antes e que, embora tenha observado uma TRE superior em éguas sem registo de partos (61% contra 53%), não encontrou uma diferença significativa.

4.1.7 Idade do garanhão

A TRE não foi influenciada pela idade do garanhão, no entanto, vários autores relataram que a fertilidade intrínseca do garanhão afeta a TRE, alegando que é necessário dispensar alguns cuidados na sua escolha, sendo que o seu efeito na TRE é mais notado quando o número de garanhões é reduzido (Riera, 2011b; Losinno & Alvarenga, 2006; Fleury, Pinto, Celeghini, et al., 2001). Dowsett & Knott (1996) indicaram que tanto

65 o sémen como as suas características são influenciadas pela idade do garanhão, visto que garanhões com idade inferior a 3 anos e superiores a 14 anos apresentaram sémen de qualidade inferior. Embora aconteça este decréscimo de qualidade, ele não representa um decréscimo de fertilidade exceto em garanhões muito novos ou muito velhos, sendo que a idade é um fator muito importante a ter em consideração na escolha do garanhão. Idealmente, a escolha do garanhão deve recair entre os 5 anos, altura em que atinge a maturidade sexual e os 10 anos, altura em que muitos garanhões começam a apresentar declínio da fertilidade, mas nem todos pelo que a vida reprodutiva do animal se pode prolongar até aos 14 anos.

Contudo, na prática, a importância do valor genético do garanhão ultrapassa largamente a da idade e a vontade da maioria dos criadores muitas vezes permanece intacta, mesmo quando confrontados com um relatório a atestar a reduzida fertilidade do animal. No presente estudo, todos os garanhões novos encontravam-se acima da idade da maturidade sexual, apresentando bons índices de fertilidade enquanto a categoria dos animais velhos apresentava alguns animais acima dos 14 anos, uns com registo de fertilidade reduzida, o que pode explicar, embora não tenha havido uma diferença significativa entre as duas categorias, a maior TRE apresentada com a utilização de animais novos.

4.1.8 Método de criopreservação de sémen

Tal como esperado a TRE após o uso de sémen refrigerado revelou-se bastante superior quando comparada com o uso de sémen congelado, no entanto não se revelou significativa. Porém está em concordância com Squires et al. (1999) que relataram que a TRE é superior com o uso de sémen refrigerado e com McCue et al. (2010) que constataram que o método de criopreservação do sémen deve ser tido em conta num programa de TE após registar uma diferença na TRE significativa entre sémen refrigerado e congelado (51,6% contra 33,3%). Após o uso de sémen congelado os embriões eram mais pequenos, o que se pode dever ao atraso na fertilização ou no atraso do desenvolvimento embrionário.

As TG reduzidas após o uso de sémen congelado prendem-se com reduzida longevidade dos espermatozoides dadas as alterações que o processo de congelação do sémen induz no processo de capacitação seminal, em conjunto com uma diminuição da motilidade total e progressiva. Para minimizar este efeito deve-se realizar a inseminação o mais próximo ao momento da ovulação possível e com a inseminação a ser realizada junto à junção útero-tubular, aumentando o número de espermatozoides no oviduto. Mesmo assim os resultados podem não ser os desejados, pelo que a

66 seleção de um garanhão e uma dadora saudável assume uma importância vital (Samper, 2001).

No presente estudo o acompanhamento de éguas dadoras inseminadas com sémen congelado foi exaustivo, as inseminações foram sempre realizadas junto à junção útero- tubular do lado do ovário ovulatório nas primeiras 6 horas a seguir à ovulação, no entanto, a qualidade do sémen bem como o estado reprodutivo da dadora nem sempre era o ideal, o que impediu a obtenção de melhores resultados.

4.1.9 Momento da inseminação relativamente ao momento da ovulação

A inseminação antes da ovulação apresentou uma TRE superior, de 52,6% em relação à inseminação depois da ovulação, de 46%, que embora não se tenha revelado uma diferença significativa, pode estar relacionada com o facto de as inseminações com sémen refrigerado serem realizadas previamente à ovulação, ao contrário das inseminações com sémen congelado que só eram realizadas após a deteção da ovulação.

4.1.10 Dia da recolha do embrião

Apesar de não ter sido encontrada qualquer diferença significativa, entre os dias de recolha, e embora o némero de recolhas realizadas no D6 e D10 seja reduzido ao ponto de não ser possível tirar conclusões sobre a TRE dos mesmos, podemos constatar que a TRE do D9 foi elevada, o que se torna surpreendente tendo em conta que normalmente as recolhas ao D9 eram realizadas em éguas inseminadas com sémen congelado e/ou éguas velhas. A TRE do D8 ficou aquém do esperado, sobretudo quando comparado com os resultados demonstrados por outros autores, e que pode ser atribuída ao elevado número de dadoras com fertilidade reduzida presentes no programa. A TRE do D7, tendo em conta o condicionalismo da fertilidade das dadoras e olhando para os resultados de outros autores, é encarada como sendo satisfatória. A recolha de embriões no D6 está associada a uma TRE inferior quando comparada com D7 a D10 (Squires et al., 1999; Stout, 2006; Aurich et al., 2011; Jacob et al., 2012), e pode ser atribuída a várias causas desde a falha de identificação do embrião no meio de recolha, perda do embrião durante o processo de recolha devido ao seu pequeno tamanho, falha em obter o embrião no fluido de recolha dada a sua gravidade específica e falha ao entrar no útero no dia 6 (McKinnon & Squires, 1988a). Fleury & Alvarenga (2000) relataram que a TRE aquando da colheita no D8 era superior, comparando com D7 e D9, assim como Carvalho et al. (2001) também demonstraram melhor TRE no D8 (57,8%) em relação ao D7 (30,4%). De acordo com Jacob et al. (2010) a TRE foi semelhante em embriões D7 (61%), D8 (66%) e D9 (59%) e inferiores em D6 (42%).

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4.1.11 Altura da época reprodutiva

As transferências realizadas numa fase mais precoce da época reprodutiva (1 de Fevereiro a 14 de Maio) apresentaram uma TRE ligeiramente superior relativamente a uma fase mais tardia (15 de Maio a 31 de Julho), ainda que não tenha sido encontrada uma diferença significativa. Aurich et al. (2011) e McKinnon & Squires (1988a) estudaram a possível influência do efeito na TRE de cada mês em que a recolha era realizada porém não encontraram nenhuma. No entanto, tendo em conta o relatado por McKinnon & Squires (1988a) em que a TRE aumenta após as éguas passarem por um ciclo éstrico normal, ou mais, seria de esperar uma TRE superior numa altura mais tardia da época reprodutiva, o que não se verificou.

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