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Tecnologia e tipografia: possibilidades de produção, escolhas e aplicações.

Nesse campo do design, a tipografia customizada é um novo segmento, uma inovação que aparece e traz mudanças não apenas na maneira de se produzir uma fonte, mas também na forma em que se pensa na customização, e acima de tudo, em sua aplicação.

É inegável que os softwares gráficos ampliaram o uso criativo da tipografia pois, no lugar de pesadas caixas de tipos, da grande dificuldade em se fazer sobreposições e realizar mudanças nas letras fundidas em metal, entraram os vetores, as camadas e sistemas de programação.

Ao desenvolver uma tipografia customizada, com base no design customizável e nas novas tendências de estilos de famí- lias tipográficas, atinge-se o ponto do design que é esquecido pela produção industrial: a possibilidade de um produto transmitir valores pessoais em todo seu processo, desde a criação. Samara (2011, p.112) comenta em seu livro sobre o design tipográfico:

O design de letras era uma prática restrita a um número escasso de tipógrafos de origem acadêmica. Com o

desenvolvimento dos computadores e das interfaces gráficas, o design de tipos foi democratizado e, nos últimos anos, a quantidade de fontes disponíveis proliferou. A facilidade com a qual os designers podem construir seus próprios alfabetos não tem paralelo. [...] Independente da formação ou intenção, projetar fontes exige uma aguda sensibilidade para os detalhes formais – as letras em um conjunto de caracteres devem estar visualmente relacionadas à sua lógica interna.

Clair e Busic-Snyder (2009, p.131) ressaltam sobre a mudança que os designers de tipo enfrentaram com a tecnologia: Houve uma mudança radical no enfoque e na filosofia dos designers de tipos contemporâneos com a nova tecnologia digital, que passaram a dar menos ênfase à legibilidade e muito mais à experimentação e comunicação da mensagem por meio da estética dos caracteres tipográficos. Os designers começaram a explorar o design de tipos como um meio de comunicação e expressão pessoal, posicionando os tipos como uma força estética no novo milênio. Os caracteres tipográficos podiam ser desenhados com mais facilidade para aplicações especificas, comunicando um enfoque espontâneo e um significado voltado para a estética composicional.

Segundo Garfield (2012, p.333) mudanças incomensuráveis ocorreram desde que Steve Jobs colocou uma opção de fontes em seus computadores Apple. O Mac básico agora vem com diversas opções para uma mesma família tipográfica (23 va- riantes de Lucida, por exemplo) e outras fontes de aplicação menos comercial (como Haettenschweiler e Harrington). Os usuários da plataforma Windows também contam com muitas opções de fontes para serem utilizadas (Arab, Thai e Tamil cursivas no Windows 7 , entre outras dezenas de fontes regulares). E, se nenhuma das disponíveis for condizente com o que o trabalho pede, sempre haverá a opção do designer encontrar nos sites das typefoundries ou até mesmo de fazer a sua própria, utilizando programas como Type Tool, FontLab Studio e Fontographer, entre os mais populares.

Como recurso atual que amplia as possibilidades da tipografia, temos o OpenType, que permite que sejam incluídos ca- racteres opcionais aos da lista padrão, podendo apresentar modificações em ligaturas, estilo, adição de swashes, usa de frações, denominadores e numeradores.

Clair e Busic-Snyder (2009, pp.142-143) comenta sobre seu aparecimento: “o número aparentemente infinito de fontes disponíveis significa que os designers podem obter um impacto visual diferenciador e emotivo nas composições sem usar as imagens. [...] Os três formatos mais comuns hoje em uso são PostScript, TrueType e OpenType.” Além disso, acrescenta que

OpenType pretendia simplificar o uso de fontes como compatível com várias plataformas – o mesmo arquivo de fontes funciona em ambos os computadores Macintosh e Windows. [...] OpenType é uma unificação dos formatos PostScript e TrueType. Acredita-se que OpenType é o ultimo padrão de tipo digital de alta qualidade tanto para aplicações impressas como para a web (Clair & Busic-Snyder, 2009, p.147).

metodologia

Para estudar e produzir uma tipografia customizável, utilizou-se como processo metodológico a investigação e a análise: a) do uso da tipografia, sua evolução como forma e os recursos atualmente disponíveis, usando como referência autores como Simon Garfield, Timothy Samara, Kate Clair, Cynthia Busic-Snyder entre outros; b) da interação entre usuário e produto no design contemporâneo; c) do design customizável, a partir de livros, textos e/ou artigos; d) da tipografia como produto customizável, como o opentype e a tipografia em layers.

Produção: a) ánalise de similares em sites como o Behance. Alguns dos artistas que se sobressairam na pesquisa inicial foram Mark Butchko (Chicago, EUA) com sua fonte “Idler Typeface Design” e também Juri Zaech (Paris, França), com sua fonte “Frontage Typeface”, b) produção de roughs c) Produção digital d) Teste com usuários e) Análise dos resultados.

Tipografia em camadas

Dentre as possibilidades de produção de uma tipografia customizável, encontramos uma nova vertente que vem sendo chamada de “tipografia em camadas”. Trata-se de um projeto complexo em que se oferece uma diversidade de opções, sombras, chanfros, entalhes, detalhes, traçados, preenchimentos e outras estruturas que podem ser sobrepostas, combina- das, trabalhadas e retrabalhadas de distintas maneiras. Importante considerar que, ainda que sejam pré-determinadas as combinações possíveis, as aplicações podem divergir do que foi premeditado, pois a criatividade, desejo e necessidades dos usuários tornam este proposta um trabalho aberto.

Figura 1 . À esquerda, fonte customizável Idler de Mark Butchko (Chicago). Figura 2 . À direita, fonte customizável Frontage de Juri Zaech (Pa- ris, França).

Figura 3 . A esquerda, sketches da tipografia proposta. Figura 4 . À direita, os primeiros vetores da tipografia.

As aplicações que cada camada (ou layer) permite, a forma como podem se combinar e recombinar, ocorre de uma ma- neira em que o usuário tem o poder de criação, podendo então ser chamado de um coautor da fonte. Essa diversidade de opções e possibilidades de modificações com apenas uma família tipográfica é algo muito inovador, havendo poucos ou quase nenhum estudo acadêmico relacionado exclusivamente a essa tendência.

Samara (2011, p.82) fala sobre a estrutura da tipografia:

A própria essência da forma do tipo – as letras, e suas incontáveis interconexões e relações com as outras, com o espaço, com a textura e com o ritmo – é extremamente importante. [...] A tipografia enquanto disciplina visual apresenta a interessante qualidade de ter suas partes relacionadas ao todo. [...] Quando admitem forma visual, as palavras se tornam imagens e ao mesmo tempo mantém seu significado verbal. A natureza dual da tipografia

é uma força poderosa para a comunicação. Dentro de uma única letra, palavra ou frase existe o potencial para transmitir, simultaneamente, uma mensagem verbal clara com mensagens simbólicas ou emocionais que se enriquecem mutuamente.

Além disso, comenta sobre a mudança de significado que pode ocorrer devido à forma que uma tipografia pode assumir: “transformar tipografia em imagem é uma grande oportunidade para o designer. Quando os tipos se tornam algo mais do

que aquilo que estão dizendo, seu poder comunicativo é ampliado”(p.96).

Essa inserção de valores em um projeto gráfico como a tipografia altera o modo como ela é pensada e produzida. Assim, ao produzir uma tipografia customizável será possível entender não só este novo processo de criação, mas também o que envolve a sua produção.