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O desenvolvimento, a incorporação e a utilização de tecnologias nos sistemas de saúde, bem como a sua sustentabilidade, estão inseridos em contextos sociais e econômicos, que derivam da contínua produção e consumo de bens e produtos. Nas últimas décadas, em vários países, em menor ou maior grau, os sistemas de saúde, ainda que inseridos em economias de mercado, foram fortemente influenciados por políticas públicas com perspectivas diversas, bem como pelo fortalecimento do papel de seus profissionais e usuários que, juntos, exercem uma forte pressão pela incorporação de novas tecnologias (BRASIL, 2010).

O crescimento contínuo dos gastos em saúde, a produção cada vez maior de novas tecnologias e as mudanças no perfil epidemiológico das populações ocorridas nas duas últimas décadas, têm levado a necessidades diversificadas de atenção. Dessa forma, se faz social e politicamente necessário desenvolver mecanismos de articulação entre os setores envolvidos na produção, incorporação e na utilização de tecnologias nos sistemas de saúde (BRASIL, 2010).

Gestores governamentais da área da saúde na Austrália e em países da América do Norte e da Europa Ocidental passaram a considerar, a partir do início da década de 90, a produção e o uso de evidências científicas nas políticas de regulação e nos padrões de incorporação e de utilização de tecnologias (OMS, 1998).

As discussões atuais sobre o impacto destas políticas consideram que o conhecimento em saúde se articula numa perspectiva populacional e social, superando os limites da prática clínica individual. De forma sistemática e passível de ser compartilhado, o estudo das diferentes tecnologias, de suas consequências biomédicas e de seu custo social contribui para a melhor compreensão dos problemas identificados nos serviços de saúde, constituindo-se em importante ferramenta para a formulação de ações que possam interferir no sistema. Isto é, considera-se que o maior acesso dos gestores da saúde privada a este conhecimento seja positivo para a compreensão da complexa articulação das tecnologias com os processos políticos e técnicos,

que constroem, nos diferentes níveis dos sistemas de saúde, os padrões de incorporação e utilização das tecnologias.

Rouquayrol & Almeida Filho (2003) discorrem que na administração indireta, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) tem a missão de regular as tecnologias, normatizando a entrada no mercado brasileiro dos produtos oriundos do complexo industrial da saúde e o seu correspondente uso público e privado nos diferentes setores de serviço, além de participar da construção do acesso a estas tecnologias.

Com o objetivo de ampliar o acesso da população às tecnologias, a ANVISA tem atuado desde 2000 no campo da regulação econômica de medicamentos. Porém, foi a partir de 2003, com a criação de uma unidade organizacional dedicada à área de avaliação econômica de tecnologias em saúde, que a Agência passa a ter uma atuação mais forte na área de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS). A partir de 2004, a ATS passa a ser aplicada à tomada de decisão relativa aos preços de novos medicamentos, a partir de Resolução aprovada pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), órgão interministerial cuja função de secretaria-executiva é exercida pela ANVISA. A articulação desta Agência com a Agência Nacional de Saúde (ANS) foi muito importante para diversas iniciativas na área, entre as quais se pode destacar o lançamento, em 2006, do Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias em Saúde (BRATS), que hoje já é uma publicação consolidada no País (BRASIL, 2010).

2.9.1 Avaliação de tecnologias em saúde

A ATS cresceu fora da tensão entre novas e muitas vezes caras tecnologias da saúde e orçamentos limitados de saúde. ATS tem sido chamada de "a ponte entre as provas e elaborações de políticas", porque procura fornecer uma gama de informações às partes interessadas que são normalmente os envolvidos no financiamento, planejamento, compras e investimentos nos cuidados de saúde. Ela surge como fonte de informações úteis e baseadas em evidências acessíveis para orientar as decisões sobre a tecnologia empregada ou utilizada e a alocação eficiente de tecnologias em recursos de saúde.

Taylor & Taylor (2009) entendem que trata-se de uma atividade multidisciplinar que examina sistematicamente a segurança, eficácia clínica e a relação custo-eficácia, bem como as

implicações organizacionais como consequências sociais, considerações legais e éticas da aplicação de uma tecnologia em saúde. Normalmente sendo uma droga, dispositivo médico ou procedimento clínico/cirúrgico.

Hofmann (2013) corrobora as informações citadas e acrescenta que a ATS possui uma importante função de comunicar os resultados de pesquisa em saúde para os tomadores de decisões e formuladores de políticas de saúde. Possuindo uma vasta gama de disciplinas científicas que permeiam sua essência e injetam no processo de formação dos serviços de saúde a peculiaridade do controle saúde-doença.

Ainda segundo o autor, este processo não é arbitrário, mesmo que envolva juízo de valor nos processos de tomada de decisões complexas. A ATS é baseada em disciplinas de cunho científico sólido e bem definido. Como por exemplo a Biologia, farmacologia, fisiologia, epidemiologia, estatística, etc. Os estudos empíricos experimentais e observacionais sobre a qual repousa a ATS também são considerados como ciência propriamente dita. Assim, pode-se argumentar que a ATS é uma ciência. Além disso, a ATS está bem situada no racionalismo crítico de Carl Popper. Se pudermos mostrar que uma hipótese (por exemplo, de que a tecnologia de saúde X é menos eficaz do que a tecnologia de saúde Y) é errada, então podemos supor que a hipótese oposta é correta (ou seja, que X é mais eficaz do que Y). Assim, também a maneira de testar as hipóteses coloca a ATS no campo da ciência (HOFMANN, 2013).

Estudos sobre avaliação de tecnologias em saúde são recentes. Há alguns anos em muitos países que incorporaram a tecnologia no âmbito dos cuidados com a saúde, estudos são realizados para medir o impacto, obter resultados, tecer estratégias e mensurar custos relacionados às tecnologias empregadas. Haag (2013) afirma que a tecnologia da informação tem evoluído rapidamente nos últimos anos e levou a mudanças significativas em nossa vida cotidiana pessoal e profissional. Informações e conhecimentos eram agora muito mais confortáveis e mais disponíveis do que foi há alguns anos atrás.

Em 2001, o sistema de saúde canadense revelou um plano para implementar um sistema nacional de interoperabilidade de registros eletrônicos de saúde. Este plano foi financiado pelo governo que introduziu um novo modelo de colaboração interprovincial/territorial para estabelecer os aspectos fundamentais de um quadro nacional de saúde. Apesar desta iniciativa

com gastos que chegaram a $ 1,6 bilhão, o Canadá continua a ficar atrás de outros países ocidentais na adoção de tecnologias de saúde (ROZENBLUM et al., 2011).

Gráfico 1 – Proporção de médicos em sete países que usavam registros de saúde eletrônicos em 2006 e 2009. Fonte: Rozenblum et al., 2011.

O gráfico acima ilustra que mais de 90% dos médicos da Austrália, Reino Unido, Nova Zelândia e Holanda, no ano de 2009, usavam registros médicos eletrônicos. Percentual bem superior ao Canadá, país no qual foi feito o estudo. Sendo assim mediante essas diferenças internacionais, o objetivo dos pesquisadores foi o de avaliar a tecnologia utilizada visando identificar a partir das políticas de estratégia e implementação, os aspectos que foram menos bem sucedidos e a adoção de medidas futuras para melhorar a utilização de registros eletrônicos em saúde.

Partindo de um paradigma geral para um específico, propomo-nos a observar um estudo feito nos Estados Unidos da América (EUA), país citado na pesquisa canadense, que corrobora os dados achados no Canadá. Um dos achados da pesquisa americana foi de que os médicos utilizavam mais o computador para atividades administrativas do que para as funções clinicas, propriamente ditas, onde a prescrição médica ficava em antepenúltimo numa lista de quinze itens, como pode-se observar no gráfico 2, a saber são eles por ordem de maior percentualidade: faturamento e submissão de reivindicações, agendamento e lembretes dos pacientes, ordens de laboratório e os resultados, a comunicação com os hospitais, estado das reivindicações, registros de pacientes, elegibilidade do paciente, diagnóstico por imagem e radiologia, referências,

aquisição de suprimentos, cobrar captação, protocolos clínicos e encaminhamentos, prescrição, telemedicina, nenhuma das opções acima.

Gráfico 2 – Distribuição percentual das funções para as quais o médico usa o computador. Fonte. USA, 2008.

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