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2 GESTÃO DE PROJETOS E PORTFOLIO EM TECNOLOGIA SOCIAL

2.3 TECNOLOGIA SOCIAL

Dagnino (2006) apresenta a história da tecnologia associada à história da produção do conhecimento, em que o foco está voltado para a economia do trabalho humano. O autor afirma que a tecnologia capitalista, intitulada por ele, como Tecnologia Convencional, reduz o uso da mão-de-obra ou do tempo de trabalho, com a finalidade dos ganhos serem incorporados no produto.

Goldemberg (1978, p. 157) definiu tecnologia como “[...] um conjunto dos conhecimentos de que uma sociedade dispõe sobre ciências e artes industriais, incluindo os fenômenos sociais e físicos, e a aplicação destes princípios à produção de bens e produtos”. Nesse sentido, Buarque (1983) afirma que o homem sempre buscou formas de produção eficientes, racionalizando o trabalho e ampliando a quantidade de bens e serviços produzidos. Assim, definiu tecnologia como: um conjunto de procedimentos e métodos que o homem usa através do seu trabalho, para dominar a natureza, transformando-os nos bens e serviços que necessita para seu bem estar.

Na década de 60, pesquisadores preocupados com a relação entre a tecnologia e a sociedade adentraram-se num plano mais teórico do que prático para a época, em que o auge dos fatores de produção tinha tanta importância para a sociedade atual (GOLDEMBERG, 1978). Estudiosos no campo da tecnologia social apresentam os contrapontos frente à tecnologia convencional, que está voltada para o capital. Novaes e Dias (2009) consideram a tecnologia convencional como um elemento que provoca a “gradual erosão da democracia”. Por outro lado, a tecnologia social tem, como um dos seus objetivos, intimidar a tendência imposta pela tecnologia capitalista convencional.

Os autores caracterizam a tecnologia social contraposta à tecnologia convencional como: a) necessariamente ser adaptada a pequenos produtores e consumidores de baixo poder econômico; b) não promover o tipo de controle capitalista, segmentar, hierarquizar e dominar os trabalhadores; c) ser orientada para a satisfação das necessidades humanas; d) incentivar o potencial e a criatividade do produtor direto e dos usuários; e) ser capaz de viabilizar economicamente empreendimentos voltados para à população.

Nas décadas de 60 e 70, surgiu a proposta da concepção tecnológica intitulada

tecnologia apropriada. Durante este período, os pesquisadores acadêmicos e intelectuais

discutiram o termo tecnologia com mais amplitude do que na abordagem direcionada ao capital. Dagnino (2004) elenca as características da tecnologia apropriada, tais como: a) deve ser adaptada ao reduzido tamanho físico e financeiro; b) não ser discriminatória; c) liberada da diferenciação disfuncional; d) orientada para um mercado interno de massa e; e) libertadora do potencial e da criatividade do produtor direto.

Dagnino, Brandão e Novaes (2004) sugerem uma proposta que compreende a adequação sócio-técnica da tecnologia, cujo objetivo principal é a busca da promoção de uma adequação do conhecimento científico e tecnológico nas empresas. Assim, a adequação sócio- técnica também tem o objetivo de adequar a tecnologia apropriada aplicando critérios complementares aos técnicos-econômicos (DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES, 2004).

No caderno da série Conhecimento e Cidadania do ITS – Instituto de Tecnologia Social, é apresentado a junção do conceito social à tecnologia com a dimensão socioambiental baseado na construção do processo democrático, cujo objetivo é atender as principais necessidades da população para o ponto focal do processo de desenvolvimento tecnológico (ITS, 2007). Nesse contexto, a tecnologia social tem um sentido inclusivo em função dos interesses da sociedade.

O conceito de tecnologia social está em voga atualmente com grande apoio dos governos, sociedade e Agências das Nações Unidas (ITS, 2007). Singer e Kruppa (2004) conceituam tecnologia social como: técnicas e metodologias transformadoras desenvolvidas na interação com a população, que representam soluções para inclusão social. Otero e Jardim (2004, p. 117) definem tecnologia social “[...] como um conjunto de técnicas desenvolvidas e/ou aplicadas na população que proporciona soluções para a melhoria das condições de vida”.

Dias e Novaes (2009) enfatizam na imprecisão semântica do termo tecnologia social no Brasil. Além disso, discutem sobre como pode ser tratado este conceito a partir de uma perspectiva mais ampla, sendo que a expressão tecnologia social diz respeito à tecnologia voltada principalmente para a inclusão social, ou mais precisamente para a construção de uma forma de desenvolvimento. Os autores defendem que a expressão precisa seria tecnologia

Otero e Jardim (2004) destacam três elementos importantes para o desenvolvimento das tecnologias sociais, quais sejam: desenvolvidas na interação, aplicadas na interação social e apropriadas pela população. Ainda no contexto dos elementos que categoriza a tecnologia social, o Quadro 5 descreve as dimensões da tecnologia social no contexto brasileiro, segundo o ITS.

Quadro 5 - Dimensões da tecnologia social no contexto brasileiro

Fonte: ITS (2009), adaptado pelo Autor.

Dagnino, Brandão e Novaes (2004) consideram que o produto e processo se tornaram inseparáveis. A tecnologia social como inovação social que, permite atuar de forma complementar entre apropriabilidade pelos atores sociais e a sua replicabilidade pela rede social. A apropriabilidade está vinculada ao ato de incorporação da inovacão pelo sujeito social, da qual ele se considera criador coletivo. Por outro lado a replicabilidade, é o processo desenvolvido entre os mediadores e extensionistas e o sujeito social.

Uma das propostas da tecnologia social é inverter a ordem da incessante busca de um resultado econômico para a busca de um resultado social, em que o plano coletivo seja influenciado de forma positiva. É importante salientar que a TS não é antagônica aos

1ª Dimensão

Conhecimento, ciência, tecnologia

 A tecnologia social tem como ponto de partida os problemas sociais  A tecnologia social é feita com organização e sistematização  A tecnologia social introduz ou gera inovação nas comunidades

2ª Dimensão

Participação, cidadania e democracia

 A tecnologia social promove a democracia e cidadania  A tecnologia social se vale de metodologias participativas

 A tecnologia social busca a inclusão e a acessibilidade, para atingir o máximo de pessoas

3ª Dimensão

Educação

 A tecnologia social realiza um processo que é pedagógico por inteiro

 A tecnologia social se desenvolve num diálogo entre saberes populares e científicos  A tecnologia social é apropriada pelas comunidades, que ganham autonomia

4ª Dimensão

Relevância social

 A tecnologia social é eficaz na solução de problemas sociais  A tecnologia social tem sustentabilidade ambiental

interesses de resultados econômicos, nem mesmo restrita ao ambiente de atuação empresarial, mas atuante no espaço sócio-econômico de forma que os benefícios possam ser apropriados coletivamente.

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