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CAPÍTULO 4: SISTEMAS AUMENTATIVOS E ALTERNATIVOS DE COMUNICAÇÃO

4.5. Tecnologia de Apoio para a Comunicação: O Software Boardmaker

4.5.2. Tecnologias de Apoio para a Comunicação

O termo Tecnologias de Apoio é aplicado às “tecnologias que visam facilitar as actividades e participação, promovendo a autonomia, a inserção social e possibilitando para que a pessoa com deficiência manifeste as suas potencialidades.” (Rocha, 2003:7). Esta terminologia surge da junção do conceito de acessibilidade (adaptação do ambiente às pessoas para facilitar a

realização de determinadas tarefas) ao de ajudas técnicas (adaptação das pessoas ao ambiente para facilitar a realização de determinadas tarefas) (Queirós, 2001). O termo Tecnologias de Apoio para a Comunicação é frequentemente utilizado para designar o conjunto de equipamentos e dispositivos que auxiliam o utilizador a expressar-se (Tetzchner e Martisen, 2000). As tecnologias de apoio para a comunicação podem ir desde equipamentos de tecnologia simples – como é exemplo as tabelas de comunicação simples, luzes e ponteiros –, até equipamentos de alta tecnologia, como os programas computacionais, sensores, fala artificial, etc. (op cit).

O conceito de Tecnologias de Apoio para a Comunicação evidenciou-se com o aparecimento de soluções tecnológicas baseadas no computador (op cit). O desenvolvimento tecnológico a nível da electrónica, informática e telemática (Queirós, 2001) tem permitido a concepção de soluções inovadoras que potencializam as capacidades de comunicação e de autonomia dos indivíduos com deficiência ou com incapacidade física. As novas tecnologias da comunicação e da

informação aplicadas a tecnologias de apoio têm possibilitado (Santarosa, 1997, cit in Damasco e Filho, 2002):

- O desenvolvimento de sistemas de comunicação mais eficazes, que em muitos casos são os únicos meios pelos quais estas pessoas podem comunicar e expressar-se;

- A concepção de ambientes computacionais enquanto ambientes de aprendizagem. A característica de flexibilidade e a capacidade de personalização de ambientes computacionais possibilitam a sua utilização enquanto ferramenta pedagógica adaptável às necessidades dos utilizadores, podendo minimizar as dificuldades que estes possam vir a ter devido à sua deficiência (Valente, 2001, cit in Tanaka, 2004). Por outro lado, o desenvolvimento de recursos didácticos/pedagógicos computacionais para pessoas com problemas motores graves pode fomentar o seu interesse para a aprendizagem de conteúdos, assim como pode promover a partilha de experiências e de ideias (Schlünzen, 2000 cit in Tanaka, 2004);

- O aparecimento de soluções de controlo do ambiente que possibilitam que indivíduos com funções motoras seriamente comprometidas comandem remotamente o seu ambiente doméstico, conseguindo maior controlo e independência nas suas vidas diárias;

- A inserção de indivíduos com deficiência ou incapacidade física na vida profissional. Não existem dúvidas de que as tecnologias da informação e da comunicação podem fazer a diferença na vida de pessoas com deficiência ou com incapacidades físicas. Estas tecnologias não só aumentam as possibilidades de comunicação, como também facilitam o acesso à informação. Um simples movimento do pescoço ou movimento ocular pode ser o suficiente para controlar o ambiente computacional (Souza, 2003). No entanto, o acesso às tecnologias, principalmente às computacionais, não pode ser visto como um fim, mas como uma ferramenta capaz de enriquecer o processo de ensino/aprendizagem na tentativa de promover o desenvolvimento cognitivo e humano, a motivação e a auto-estima (Tanaka, 2004) em indivíduos nas condições já referidas.

Para a presente dissertação interessa-nos abordar as tecnologias de apoio enquanto meios para o desenvolvimento de recursos pedo-didácticos, principalmente no que diz respeito a tabelas e tabuleiros de comunicação (que abordaremos de seguida), enquanto ajudas técnicas para pessoas com deficiência ou incapacidade física.

As tecnologias de apoio para a comunicação podem ser baseadas em alta tecnologia ou em tecnologias de apoio tradicionais (Tetzchner e Martisen, 2000).

As tecnologias de apoio tradicionais também podem ser entendidas como instrumentos de baixa tecnologia que são úteis para o desenvolvimento de funções comunicativas breves. O mesmo acontece em relação ao desenvolvimento de actividades didácticas/pedagógicas (Ferreira, 2005), baseando-se em tabelas de comunicação ou tabuleiros de comunicação, brinquedos adaptados, relógios indicadores, digitalizadores de fala, entre outros (Tetzchner e Martisen, op cit). As tabelas ou tabuleiros de comunicação são recursos didácticos/pedagógicos que funcionam como suporte dos signos gráficos. Consistem em superfícies sobre as quais são dispostos os signos gráficos,

que se colocam diante do utilizador, sendo que este poderá, através de métodos de selecção (gesto, apontador luminoso, varrimento), seleccionar os signos que pretende (Basil, Soro-Camats e Bultó, 2004). Os tabuleiros de comunicação podem ser compostos por diferentes materiais e possuir diversas dimensões, dependendo da actividade e das necessidades do utilizador. As tabelas e tabuleiros de comunicação têm a vantagem de poderem ser elaborados manualmente, tornando-se assim extremamente económicos e de grande portabilidade. Contudo, o tempo dispendido na sua elaboração é considerável, visto que cada utilizador tem o seu próprio vocabulário de signos e o espaço de que dispõe para a colocação dos signos é limitado. As altas tecnologias de apoio para a comunicação compreendem o conjunto de recursos baseados nas tecnologias – os recursos baseados em sistemas electrónicos e informáticos que podem potenciar a autonomia, comunicação e interacção em pessoas com deficiência ou incapacidade física. As tecnologias de apoio para a comunicação mais recentes baseiam-se em dispositivos que utilizam sistemas informáticos, ou seja a “tecnologia dos computadores” (Tetzchner e Martisen, op cit).

Com o grande desenvolvimento tecnológico que se tem verificado nas últimas décadas, temos assistido ao aparecimento de soluções inovadoras na área da informação e comunicação. O crescimento tecnológico tem promovido o aparecimento de novas soluções de equipamento de ajudas técnicas para pessoas com incapacidades ou deficiência (Queirós, 2001). Estas

tecnologias de apoio baseadas nas novas tecnologias de informação e comunicação podem fazer a diferença para que pessoas que padeçam dos problemas acima descritos consigam desenvolver competências que lhes permitam desempenhar papéis mais activos e autónomos na sua vida quotidiana e em sociedade.

Actualmente tem-se verificado que o crescimento a nível tecnológico está a ser cada vez mais direccionado para o desenvolvimento de soluções centradas na rapidez, portabilidade e acessibilidade da informação e comunicação, como é exemplo a Internet “wireless” (sem fios), telemóveis de terceira geração, entre outros. Este desenvolvimento tem potenciado a propagação de ajudas técnicas mais eficazes. Actualmente, e com a generalização de computadores portáteis, relativamente baratos e com performances cada vez mais elevadas, muitos dos indivíduos com deficiência e incapacidade física têm a oportunidade de aceder a informação e comunicação, mas também aceder a recursos e a estratégias de ensino/aprendizagem que adoptam o computador enquanto ferramenta capaz de promover o desenvolvimento cognitivo, a motivação e a auto- estima.

A adopção do computador pessoal enquanto ferramenta de ensino e formação pode possibilitar que a pessoa com deficiência adquira independência através da realização de actividades

construtivas, tendo em conta as aplicações e os dispositivos computacionais (Afonso, 1997). Estas ferramentas promovem um alargamento da ocupação do tempo, desenvolvem e reforçam

reacções de adaptação, reduzem comportamentos desviantes, aumentam o estímulo sensorial e promovem a motivação e auto-satisfação. As tecnologias de apoio para a comunicação baseadas nas tecnologias dividem-se em hardware e software. Entende-se por hardware todos os

dispositivos físicos computacionais que fazem parte da ajuda técnica, como por exemplo o teclado especial, sensores, apontadores, ecrã táctil, impressora, vários tipos de manípulos, sintetizadores de voz, dispositivos aúdio, entre outros. Por software compreendem-se todas as aplicações possíveis em ambientes computacionais, desde bibliotecas digitais de signos gráficos a plataformas de comunicação a distância. Muitos dos utilizadores de signos gráficos de SAAC nunca conseguiram escrever uma carta. Porém, um programa de computador especializado pode dar-lhes a oportunidade de o fazer (Tetzchner e Martisen, 2000). As pessoas com deficiência neuromotora grave têm muitas dificuldades a nível motor e nem sempre têm acesso a todas as tecnologias de apoio. Contudo, as tecnologias de apoio baseadas em alta tecnologia têm maior flexibilidade de adaptação às necessidades e especificidades do seu utilizador do que as tecnologias de apoio tradicionais. No entanto, e para que os recursos tecnológicos funcionem enquanto alternativa de acesso a portadores de deficiência, devem abranger as necessidades informáticas estabelecidas; permitir que o utilizador interaja de forma autónoma e sem riscos de saúde e oferecer uma estratégia mais eficiente de acesso; ou seja, devem permitir maior velocidade e precisão nas acções desempenhadas pelo utilizador, exigindo-lhe o mínimo de esforço num tempo mais alargado da sessão de trabalho (Queirós, 2001).

Apesar das diversas vantagens dos equipamentos informáticos, nem todas as pessoas têm a possibilidade de os adquirir, seja por falta de recursos, seja por falta de informação adequada (op cit).