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Temas fundamentais e estruturantes

No documento Download/Open (páginas 68-71)

Em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, Freud (1905) apresentou a questão da sexualidade infantil, na qual afirma que a criança, ao longo da construção de seu psiquismo, tem como objetivo maior a satisfação de suas pulsões.

Diante disso, define pulsão como sendo um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como representante psíquico dos estímulos que se originam no corpo – dentro do organismo – e alcança a mente, como uma medida da exigência feita à mente no sentido de trabalhar em consequência de sua ligação com o corpo (FREUD, 1916).

É o prazer, representante psíquico de estimulações constantes de fonte endógena, com alvo sexual, não para reprodução, mas para o prazer. O bebê, por exemplo, vai eleger partes do corpo para experimentar e ter experiências de prazer em resposta a suas pulsões. Conforme explica Freud (1932), o corpo precisa ser herogenizado, ele precisa ser libidinizado. Este

[...] estado absoluto é chamado de narcisismo primário. Ele perdura até o ego começar a catexizar as idéias dos objetos com a libido, a transformar a libido narcísica em libido objetal. Durante toda a vida o ego permanece sendo o grande reservatório, do qual as catexias libidinais são enviadas aos objetos e para o qual elas são também mais uma vez recolhidas [...]. (FREUD,1932, p. 18).

Sobre a noção de pulsões ligadas a zonas erógenas, na teoria da sexualidade infantil, Freud (1905) introduz as quatro fases distintas pelas quais a criança passa. Cada uma, marcada por uma região do corpo na qual as pulsões se concentram e são satisfeitas. A essas fases, deu-se o nome de estágios psicossexuais do desenvolvimento.

A teoria freudiana sugere que a criança se desenvolve por meio de uma organização de sua sexualidade que, nesse primeiro momento, se assemelha a uma demanda (termo utilizado por Lacan) por satisfação e prazer. Essa busca, a cada

estágio, irá se concentrar em uma parte do corpo, conforme apresentado na perspectiva acerca do desenvolvimento psicossexual da criança.

No estágio Oral, a busca pela satisfação dos desejos concentra-se na boca. Para Freud (1905), este momento se inicia no nascimento e tem seu fim no desmame da criança. No início, ela associa prazer e redução da tensão ao processo de alimentação. A boca é a primeira área do corpo que o bebê pode controlar; a maior parte da energia libidinal disponível é direcionada ou focalizada para esta área.

[...] quando vemos um bebê saciado deixar o seio e cair para trás adormecido, com um sorriso de satisfação nas faces rosadas, não podemos deixar de dizer que esta imagem é o protótipo da expressão da satisfação sexual na existência posterior. (FREUD, 1905/1976ª apud ZORNING, 2008, p. 47).

A pulsão básica do bebê não é social ou interpessoal, tem como intuito apenas receber o alimento para atenuar as tensões de fome e sede. Enquanto alimentada, a criança é também confortada, aninhada, acalentada e acariciada. Conforme cresce, outras áreas do corpo desenvolvem-se e se tornam importantes regiões de gratificação. Entretanto, alguma energia é permanentemente fixada ou catexizada nos meios de gratificação oral.

A segunda seria a Pulsão Anal, quando as energias libidinais estão focadas no ânus. Na teoria freudiana, vai se de um prazer na expulsão a um prazer na retenção. Isso significaria um controle da criança no conceder ou não conceder ao outro um presente. Freud (1905) também aborda o controle dessa musculatura que também ajuda nesse processo.

[...] Um dos melhores presságios de excentricidade e nervosismo posteriores é a recusa obstinada do bebê a esvaziar o intestino ao ser posto no troninho, ou seja, quando isso é desejado pela pessoa que cuida dele, ficando essa função reservada para quando aprouver a ele próprio. Naturalmente, não é que lhe interesse sujar a cama; ele está apenas providenciando para que não lhe escape o dividendo de prazer que vem junto com a defecação. (FREUD, 1905, p. 175).

Por exemplo, quando a criança vai para o “troninho”, os pais batem palma, beijam. Freud diz que a criança vê esta fase como uma forma de se orgulhar das “criações”, o que a leva à personalidade “anal expulsiva”. A criança pode também

propositadamente reter seu sistema digestivo como forma de destituir os pais, o que leva à personalidade “anal retentiva”. Freud (1905) afirma que esta fase tem uma duração de um a dois anos.

De acordo com Freud (1905), a Fase Fálica, é a mais importante e crucial fase para o desenvolvimento sexual na vida da criança, pois concentra sua energia libidinal nos órgãos genitais, a menina na ausência e o menino na presença do pênis. Para os meninos, o que fica é o amor à mãe e a repulsa pelo pai na disputa pela atenção dada a ela – complexo de Édipo. Nessa fase a criança sente-se atraída pelo próprio pai, disputando com a mãe a sua atenção. O que se inverte neste caso, com o tempo, é a identificação da menina com a mãe. Essa etapa pode durar cerca de três a quatro anos.

[...] os diferentes componentes das pulsões empenham-se na busca de prazer independentemente uns dos outros, na fase fálica, há os primórdios de uma organização que subordina os outros impulsos à primazia dos órgãos genitais e determina o começo de uma coordenação do impulso geral em direção ao prazer na função sexual. (FREUD, 1932 apud FENICHEL, 2005, p. 31).

Quando chega esse estágio, o Édipo, a criança passa a querer chamar a atenção do pai. A menina, por exemplo, começa a imitar os comportamentos da mãe. Suas brincadeiras envolvem se maquiar, usar os sapatos, as roupas e os acessórios da mãe. Inconscientemente, segundo Freud (1905), a criança anseia atrair a atenção do pai para si.

Para Freud (1905) existe um quarto momento que apesar de não denominar como uma fase do período psicossexual é muito importante, Fase de Latência. É nesse momento que a busca pela satisfação de impulsos inconscientemente, são reprimidos. A criança vai passar um longo tempo sem a manifestação de desejos. E as zonas erógenas, antes fontes de prazer, não são mais seu foco. Ao explicar esse período, o teórico fala de a necessidade da criança construir diques, uma forma de repressão da energia sexual. Durante esse período de latência total ou parcial, erigem-se as forças anímicas que, mais tarde, surgirão como entraves no caminho da pulsão sexual e estreitarão seu curso em forma de diques.

O papel da mãe e a importância do pai são cruciais para formação saudável da mente. Constitui-se, assim, um processo identificatório em duas vertentes: uma

marcada pela fase pré-edípica, na qual a mãe é tomada como primeiro objeto de amor, e outra, advinda do complexo de Édipo, em que a mesma mãe será vista como uma rival a ser eliminada para que a menina possa ocupar o lugar junto ao pai.

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