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tempos de refrigério e restauração

No documento Dias Venturosos_francisco de Assis (páginas 79-82)

Dias Venturosos

Divaldo Franco /Amélia Rodrigues

que os segurava, até chegarem ao pórtico de Salomão, uma das entradas principais.

E porque o tumulto se avolumasse, inspirado e audaz, Pedro esclareceu:

– Israelitas! Por que vos maravilhais deste homem, ou por que fitais os olhos em nós, como se por nosso poder ou pie- dade o tivéssemos feito andar?! (*)

Pedro conhecia os seus compatriotas, que passavam do júbilo à revolta, da crença exagerada à dúvida cruel, do apoio à pedrada.

Quanto eles viram Jesus fazer!

Aclamaram-no ao entrar na cidade, fazia pouco tempo, e O apuparam logo depois, pedindo para Ele a crucificação.

Mentes ao vento do interesse mais chão, mudavam de direção conforme a força predominante.

Assim, prosseguia com firmeza, os olhos fulgurantes, a voz vigorosa:

– O Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, o Deus dos nossos antepassados, glorificou seu servo Jesus, a quem vós en- tregastes e negastes perante Pilatos, quando este havia resolvido soltá-lO, mas vós negastes o Santo e Justo, pedindo que se vos desse um homicida.

Era um discurso forte para despertar as consciências anestesiadas pelo mal, para direcionar o pensamento, arran- cando-o da vileza moral.

Sem temor, o apóstolo prosseguiu, enquanto todos pararam para escutá-lo.

Pairava no ar a doce vibração de paz e o suave enlevo da esperança.

– Matastes o autor da vida, a quem Deus ressuscitou en- tre os mortos, do que nós somos testemunhas. Pela fé em seu nome fortaleceu o seu nome a este homem, a quem vedes e co- nheceis. Sim, a fé, que vem por meio de Jesus, deu a este homem saúde perfeita na presença de todos vós.

A verdade, que é luz, apunhalava-os, rasgando-lhes a treva interior para ajudá-los no discernimento.

Atenuando as acusações, explicou com suavidade:

– Agora, irmãos – a palavra era dúlcida e meiga – eu sei que o fizestes por ignorância, como também as vossas autorida- des; mas Deus assim cumpriu o que já dantes anunciara pela boca de todos os profetas: que seu Cristo havia de padecer.

Agora, como o majestoso de uma sinfonia ímpar, Pe- dro propôs:

– Arrependei-vos e convertei-vos, para serem apaga- dos os vossos pecados, de sorte que da presença do Senhor ve- nham tempos de refrigério... tempos de restauração de todas as coisas...

O arrependimento é indispensável para o real desper- tamento do ser. Medida de análise dos atos pelo árbitro da razão que discerne, aponta as falhas e demonstra a gravidade do equívoco, falando à consciência a respeito da insensatez do delito. É o começo da transformação moral, convidando o indivíduo a sair da teimosa atitude de desequilíbrio para alcançar o patamar da harmonia.

Mas não basta por si mesmo; porquanto os danos per- petrados devem ser reparados, e o terreno perdido necessita de ser reconquistado.

O passo imediato já se encontra no ato de arrepen- der-se, que é o sofrer pelo mal que se praticou.

Dias Venturosos

Divaldo Franco /Amélia Rodrigues

Despertar para a conscientização íntima gera dor e amargura pelo desperdício de tempo gasto e pelos prejuí- zos causados a si mesmo e ao próximo. Tal sofrimento, no entanto, é benefício, pois consolida o arrepender-se. Entre- tanto, faz-se urgente a etapa final, que é reparar o mal pro- duzido, recompor o que foi danificado, refazer o caminho percorrido.

Esse esforço exige maior dose de abnegação e de des- prendimento.

O erro é uma experiência malsucedida, natural no processo de crescimento moral das criaturas.

Reabilitar-se é impositivo da evolução, que não pode nem deve ser desconsiderado.

Provavelmente acontecerá que o outro, a vítima, não desculpe, ou não deseje aceitar a justificativa, o pedido de perdão.

Essa postura, porém, somente é negativa para quem a toma, porquanto, o arrependido se desobriga do dever e o outro assume agora o lugar infeliz.

Seguir adiante quem se deseja recuperar, fazendo o bem e reparando o mal onde este se apresente é conquista libertadora.

Isto posto, dá-se a conversão ao bem real, à verdade, ao amor.

Converter-se é aceitar a proposta que antes lhe foi oferecida e esteve recusada com acrimônia, com ferocidade, tornando-se-lhe adversária naquele momento.

É também eficaz metodologia para a reparação. Jesus havia sido negado, traído, abandonado e cruci- ficado pelos que se beneficiaram do seu amor e o desdenha- ram depois.

Havendo retornado da sepultura, prosseguiu aman- do-os, amando-nos a todos, e o demonstrou mediante a ação de caridade, que fere os sentidos físicos e reconforta a alma dorida, curando as mazelas e deformidades do corpo e do Espírito.

Ante a evidência dos fatos, Pedro conclamou os cri- minosos e comparsas do hediondo drama consumado ao arrependimento e à aceitação dos ensinamentos de Jesus, que já os perdoara, pois que volvera para os socorrer e liber- tá-los deles mesmos.

... Para que venham os tempos de refrigério e de res- tauração.

A mensagem-luz voltava à noite das almas. O amor-ação despertava os adormecidos. O calor da alucinação ardia nos seres.

Eram necessários tempos de refrigério, porque novas dores chegariam – preço cruel que o mundo dos sentidos cobra aos Espíritos da emoção.

Logo mais, recomeçariam os tempos de ardência, fa- zendo-se necessário refrigerar aqueles próximos dias, a fim de suportar os outros, os futuros períodos de testemunhos, que precedem os de restauração.

Nota da autora espiritual: (*) Atos – 3:11 a 19

A

igreja dos corações reunia-se todos os dias e todas as noites para comentar os feitos e as palavras do doce e enérgico Rabi, assim como para orar e amar. Os seus membros criaram a primeira comunidade fra- ternal da Humanidade sob a inspiração do Primeiro man-

damento.

Os que possuíam algo vendiam, oferecendo o valor aos apóstolos do Mestre, para que fosse repartido entre to- dos os participantes da irmandade.

A pobreza dos bens materiais enriquecia-os com os tesouros da solidariedade e da legítima compreensão dos deveres, que os reuniam no serviço de iluminação de cons- ciências, como de socorro moral e material à viuvez, à or- fandade, às necessidades de toda ordem.

Repartia-se o pão entre todos igualitariamente e com- partia-se a luz que jorrava do Alto em forma de inspiração e amor.

A presença psíquica do Mestre não permitia que O sentissem ausente, o que os vitalizava sobremaneira.

Respirava-se o odor da pureza e da abnegação.

A ampla casa, no caminho entre e Jerusalém e Jope, tornara-se o santuário que acolhia a dor e alçava o indiví-

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