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A trama do malAs sombras, no entanto, se adensavam sobre o céu das

No documento Dias Venturosos_francisco de Assis (páginas 85-89)

alegrias ingênuas, e os corvos do medo e do terror começa- vam a esvoaçar em volta do grupo heterogêneo de convida- dos para a Era Nova. Não obstante, a voz do jovem Estêvão arrebatava e a sua melodia tornou-se acusação indireta à hi- pocrisia farisaica, às aspirações do ambicioso doutor da Lei, o aclamado Saulo de Tarso.

As trevas tombaram então, sem aviso, e Estêvão foi preso...

Morreu sob pedradas depois de um vergonhoso simu- lacro de julgamento, contemplando, em êxtase, o seu Mes- tre amado.

Seria o primeiro mártir depois dEle, que iria iniciar os tempos gloriosos das perseguições que se arrastariam por trezentos anos...

A Casa do Caminho permaneceria, porém, como sím- bolo indestrutível do amor e da caridade para todo o sem- pre, invencível e imaculada, em luz permanente.

Nota da autora espiritual: (*) Atos – 5:15,16

Dias Venturosos

Divaldo Franco /Amélia Rodrigues

Uns diziam-se espoliados dos haveres; outros asseve- ravam que foram ludibriados na boa-fé e mais outros acu- savam os trabalhadores de Jesus de feitiçaria e intercâmbio nefasto com Satanás...

As dificuldades surgiam com frequência, embora o ânimo dos companheiros do Mestre não se abalasse. Como efeito, porém, a cooperação diminuía, enquanto aumenta- vam as necessidades urgentes.

As horas transcorriam rápidas e eram preenchidas pela ação contínua e estafante. Nas noturnas, dedicadas à reflexão, eles davam-se conta de que era chegado o momen- to do testemunho.

As alegrias, que haviam sido os estímulos para o pros- seguimento do labor, estavam sombreadas pelas expectati- vas de sofrimentos próximos.

Num desses memoráveis encontros, sob a inspiração do mártir apedrejado, João considerou que o instante gra- ve chegava e que o cerco do Mal se fazia mais rude, exi- gindo-lhes vigilância redobrada, paciência irreprochável e amor sem limite...

Celene velava no alto, cercada pelos pingentes estela- res, enquanto suave brisa perpassava pelo grupo reunido ao abrigo de veneranda figueira.

Havia algo de especial que os fortalecia, brindando- lhes resistência e entusiasmo para o grande enfrentamento.

Cessado o comentário-advertência, o silêncio se aba- teu sobre eles, quebrado somente pelos sons da noite, os gemidos dos enfermos e alguns gritos de obsessos que se encontravam amparados.

João, rico de juventude, exteriorizava um semblante pulcro, que gerava simpatia, infundia ternura, convidava ao amor sem mesclas de paixão.

Quando se punha a falar, nas assembléias públicas, fascinante, arrebatava. Seu rosto irradiava mirífica luz que o adornava de claridade incomum.

Não obstante as primeiras agruras experimentadas pela igreja nascente, as palestras prosseguiam sem interrupção.

Numa tarde morna, a sala se encontrava repleta e algo especial envolvia o público, que aguardava o verbo canoro do discípulo amado.

Iniciada a atividade por Simão Pedro, que lhe passou a palavra para os comentários sob a inspiração do Santo Es-

pírito, o jovem narrou o seu encontro com Jesus na doce e

inesquecível Galiléia.

Referiu-se às emoções que o tomaram desde então e à sua entrega total ao amigo que o arrebatara.

Evocando cada momento, deixava-se arrastar pela onda mansa dos júbilos, assinalando cada sentença com de- licada referência à felicidade de O amar.

Quando terminou, sutil aroma invadiu o recinto, sen- sibilizando a todos, que mais se deixaram comover.

V

A sua presença havia sido notada, e uma certa repulsa perturbara algumas frequentadoras de atividade espiritual.

Era conhecida em Jerusalém, na sua infeliz conduta de vendedora de perfumes e de ilusões.

Lares se haviam desfeito por sua causa, e muitos ho- mens se degradaram para conseguir-lhe as carícias de altos estipêndios e participarem do seu leito de luxúria.

Dias Venturosos

Divaldo Franco /Amélia Rodrigues

Os homens também, por a conhecerem, sentiam-se indignados, ao vê-la naquele recinto.

Ali, porém, era o lar dos deserdados e o hospital dos desenganados.

Ela pareceu acompanhar os comentários do jovem evangelizador com certa dose de interesse.

Quando ele terminou, sem preâmbulos e audaciosa- mente, ela acercou-se e pediu ao servo do Cristo uma entre- vista de urgência.

João encaminhou-a a um cômodo contíguo, deixan- do por momentos aqueles com os quais repartia seu afeto em cuidadosos diálogos após as palestras.

Mal se adentraram, a infeliz atirou-se-lhe aos braços e, lasciva, começou a declarar-se:

– Todos que aqui vêm, são vítimas do destino. Também eu o sou. Os outros têm doenças e fome, mas eu trago a dor do amor insaciado...

O apóstolo recuou, tentando desvencilhar-se dos bra- ços adereçados e do corpo enleante, mas ela insistiu, procu- rando retê-lo, e disse:

– Eu vos amo!

Sem titubear, o jovem fiel redarguiu com energia: – Afasta-te, Espírito do Mal, e não penses em pertur- bar o discípulo de Jesus.

Tomado pela inspiração do Mestre, prosseguia irre- dutível:

– Deixa essa infeliz em paz, ela que te acolhe com a sua enfermidade moral. Esta é a Casa do amor, em espírito e verdade. Ela necessita de ser amada, sim, mas de outra forma; e eu, em nome de Jesus, te digo: liberta-te da loucura e liberta-a!

A pobre mulher foi tomada por peculiar tremor, e quase tombou no solo, caso João não a houvesse amparado.

Momento após, ainda ofegante, com evidentes sinais de arrependimento, narrou ao discípulo admirado e com- pungido:

– Sou infeliz! Perdoai-me! Venho aqui a soldo de Mata- tias, o fariseu do Sinédrio, para tentar-vos. Ele incumbiu-me de seduzir-vos, para ter motivo de levar-vos a julgamento e apedrejar-vos.

A sofredora chorava, cobrindo a face enrubescida com as mãos espalmadas, enquanto continuou:

– Comprou-me, o miserável, que também me explora. Perdoai-me! E agora que fracassei, para onde eu irei? Ele me matará.

– Se queres mudar de vida e entregar-te ao Senhor, esta Casa também é tua. Podes elegê-la como teu lar, numa vida nova.

A mulher, porém, ainda atônita, recompôs-se e saiu, quase a correr.

As pessoas que se encontravam no salão ouviram algo, mas não perceberam toda a ocorrência, quando a viram passar em desespero...

Uma semana depois de vencida a trama do Mal, nos arredores da cidade, uma mulher equivocada e infeliz foi apedrejada até a morte.

Entre os seus sicários encontrava-se o fariseu Matatias... O ódio que teima em dominar as criaturas, levando- as a lutar contra o Bem, somente será diluído pelo solvente do amor, quando este dominar os corações.

Este livro foi composto em fonte Adobe Garamond Pro, Garamond corpo 12.5 e 18

Papel Off set 75g - miolo Papel Cartão supremo 250g - capa.

Impressão e acabamento

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