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Tendências da Avaliação em Educação Física Escolar

CAPÍTULO 2 CONFIGURANDO O CAMPO E OS CAMINHOS DA

2.4 Tendências da Avaliação em Educação Física Escolar

As tendências contemporâneas da educação colocam o trabalho didático onde muitos educadores, como a própria escola, ficam presos às forças do passado, sentem-se pouco à vontade quanto a sua forma de avaliar. A resistência passiva é muito difundida, mas ocorre, também, muitas vezes, de postulações como as aventadas serem denunciadas como delirantes ou inviáveis, pois implicariam em grandes dispêndios. Contra esses equívocos, muitas vozes tem reforçado o coro que reclama por mudanças profundas na instituição educacional e no trabalho didático, principalmente quanto à forma de avaliarmos.

A avaliação em Educação Física no Brasil também incorporou algumas tendências na medida em que ela foi ocupando seu lugar na história. Iremos abordar algumas,

sem defendermos essa ou aquela, mas a título de expormos o que encontramos nos referenciais teóricos. Mencionamos aqui o período em que essas tendências tiveram mais profusão. Não pretendemos mostrar datas específicas, apesar de ter época em que uma determinada tendência imperou, não temos uma ordem cronológica real, pois algumas delas, apesar de não ter mais espaço na sociedade contemporânea, ainda continuam sendo usadas. Muitos professores afirmam categoricamente que seguem teorias construtivistas, interacionista, critico-dialético, mas na realidade essas abordagens só aparecem em seu discurso teórico, na prática muitos ainda usam as abordagens tradicionais.

A tendência Higienista marcou o início na da história da Educação Física no Brasil. Ela começou na época do Império e atuou até o ano de 1930. Nesse período a Educação Física seguia o modelo que se baseava no agente de saneamento público, procurando auxiliar a sociedade para que ficasse livre das doenças infecciosas, assegurando benefícios morais educativos e higiênicos aos alunos. A avaliação também seguia o mesmo princípio, sendo elaborada nos moldes da saúde higienista.

A tendência que seguiu o período higienista da Educação Física foi denominada de Militarista (SOARES, 1994; PEREZ GALLARDO, 2004) e compreendeu os anos de 1930 a 1945. Em seu foco de atuação ela visava formar indivíduos prontos para defender a Pátria. O professor era visto como sendo o modelo que deveria conduzir o processo de formação desses indivíduos que deveria servir e defender os interesses da Pátria. A avaliação seguia os mesmos padrões estabelecidos para quem seguia carreira militar.

A tendência seguinte estava voltada para uma Educação Física Pedagogicista e atuou de 1945 a 1964 (FOUCAUT, 1979; PEREZ GALLARDO, 2004). A Educação Física passa para uma nova fase, pois começa a trabalhar a educação do movimento como sendo a única forma capaz de promover uma educação integral, com o foco voltado para a educação do ser humano. (GUIRALDELLI JR., 1991).

Em seguida encontramos a tendência da Educação Física que ficou conhecida como Competitivista e correspondeu ao período que foi de 1964 a 1970 e tinha como principal

foco de atuação a caracterização da competição e da superação individual. De acordo com Giraldelli Jr. (1991), ela visava a hierarquização e a e elitização da sociedade.

Alguns autores mencionam a tendência Competitivista como sendo a “Escola Tecnicista”, que colocava a Educação Física como base de treinamento esportivo, sendo para eles a tendência que imperou nessa época, tendo como objetivo a prática esportiva de alto nível. Nesses moldes o aluno era visto como um atleta e o professor ocupava a posição de um técnico.

Nas décadas de 1970 e 1980 imperou a concepção da Educação Física Popular, nome que emergia da prática social dos trabalhadores. Essa concepção tinha como objetivo privilegiar a ludicidade, a solidariedade, a organização e a mobilização dos trabalhadores. (GUIRALDELLI JR, 1991; MUNHOZ PALAFOX, 1990).

A avaliação tradicional (BLOOM et al., 1983; GOLDBERG, 1979), imperou até 1980, assegurando que o diagnóstico vem acompanhado de uma ação coerente, pois deve informar ao professor e ao aluno a aquisição positiva ou negativa do conhecimento, funcionado como se fosse um termômetro. A avaliação tradicional usa os objetivos como causa/efeito, sendo vista como quem há de controlar o planejamento.

Para Darido (1999), na avaliação tradicional o professor é visto como um ser onipotente, ditador de regras, desvinculado da realidade, autoritário, enfim, inatingível. Na avaliação tradicional os conteúdos e os objetivos estão pautados no rendimento escolar, atuando como medida do conhecimento (POPHAM, 1983; TYLER, 1949, 1969 e 1976), trabalhando na quantificação, tendo caráter somativo e classificatório. A psicomotricidade tem destaque na avaliação (DAOLIO, 1998). O aluno é avaliado na sua totalidade (DARIDO, 1999), em seus aspectos cognitivos, afetivos e psicomotores, através da comparação.

A Educação Física também incorporou da Educação a tendência Histórico- crítica, apesar de não ser aceita por todos os professores, pois muitos ainda embasam suas aulas nas tendências já citadas.

Várias tendências liberais e renovadoras tiveram grande destaque na Educação Física, ao longo de sua história. Destacamos três que tiveram mais proeminência. A primeira ficou conhecida como Critico-superadora e sua metodologia visa a dinâmica em sala de aula e a

forma como o aluno apreende a realidade no cotidiano escolar. Nessa tendência os conteúdos devem partir da realidade concreta do aluno. O professor é visto como um orientador que proporcionará aos alunos literatura que possam criar um ambiente de ações pedagógicas que lhes permitam pensar sobre as leituras propostas. (OLIVEIRA, 1997). Nessa tendência a avaliação se baseia no processo ensino-aprendizagem e os conteúdos na cultura corporal e sua importância se fixa no fato de que o aluno possa conhecer a realidade social da sociedade em que vive. (DEPRESBITERIS, 1989; HOFFMANN, 1998; LUCKESI, 2002). Para Depresbiteris (1989), o valor real da avaliação não está diretamente ligado aos valores atribuídos e à precisão de resultados, mas ao fato de que esta avaliação possa vir a conscientizar melhor os envolvidos, pois nessa concepção o aluno também pode se auto-avaliar.

A segunda tendência liberal e renovadora que teve realce na Educação Física foi a Construtivista, ou humanista-reformista (SOUZA, 1990) apresentada por Freire (1994). Libâneo (1989) chama essa tendência de Renovada-progressista. O construtivismo de Freire se baseia em métodos qualitativos, onde o professor deve criar situações de desequilíbrio em relação ao saber que o aluno tem, criando um conflito entre o conhecimento novo e o que ele já conhecia, de tal forma que ele possa assimilar esses novos conteúdos incorporando-os aos que já possuía. A avaliação também abrange os aspectos qualitativos, pois privilegia as relações interpessoais e o crescimento do indivíduo de modo geral.

A terceira tendência que ocupou lugar de destaque em Educação Física foi a crítico-emancipadora, que visa conhecer e aplicar o movimento conscientemente, coercitivo, ou de repressão. (LIBÂNEO, 1989, SOARES et. al., 1992). Seu conteúdo se baseia no movimento humano por meio do esporte, da dança e das atividades lúdicas. (OLIVEIRA, 1997). Nessa tendência a avaliação privilegia o processo ensino-aprendizagem e o professor é responsável pela ação problematizadora, visando uma interação responsável e produtiva. Na tendência crítico- emancipadora o professor permite que o aluno participe na definição de critérios de avaliação, das mudanças a serem realizadas e dos resultados obtidos. (DARIDO, 1999).

A avaliação também evoluiu neste período. Mas na prática vemos que muitas dessas tendências ainda imperam na organização escolar. Veja no quadro a seguir as principais tendências da Educação:

Alguns autores apresentam a tendência emergente (GARDNER, 1995; PERRENOUD, 1999), embasada nas Inteligências Múltiplas, procurando mostrar que as habilidades que os indivíduos têm envolvem uma combinação de sete inteligências propostas por Gardner (1995): lingüística, lógico-matemática, musical, espacial, corporal, interpessoal e intrapessoal. A avaliação nessa tendência permite focalizar as competências mais desenvolvidas do aluno e refletir sobre elas, com o fim de melhorar outras menos desenvolvidas.

Como a Escola Tradicional, a Escola Nova, a Escola Tecnicista e a Escola Crítica, tem se comportado através dos componentes curriculares?

O professor, o aluno, os objetivos educacionais, a metodologia, a avaliação, o aluno como educando, a escola e a organização escolar sempre tiveram participação especial nesse aspecto. É interessante verificarmos que o professor, nesta evolução da escola, passou por

COMPONENTES CURRICULARES PROFESSOR ALUNO OBJETIVOS EDUCACIONAIS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS METODOLOGIA AVALIAÇÃO ALUNO EDUCANDO ESCOLA ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA A ESCOLA TRADICIONAL A ESCOLA NOVA A ESCOLA TECNICISTA A ESCOLA CRÍTICA É o transmissor dos conteúdos aos alunos.

Professor.

Um ser “passivo” que deve assimilar os conteúdos

transmitidos pelo professor. Obedecem à sequência lógi-

ca dos conteúdos. Não são muito explicitados. Basea- dos em documentos legais.

Selecionados a partir da cultura universal acumu- lada. Organizados em disci-

plinas. Quantidade de

conhecimentos.

Aulas centradas no profes- sor (expositivas). Exercícios Fixação (leituras-cópias)

Valorização dos aspectos cognitivos com ênfase na memorização. Avaliação

para o professor.

Domina o conteúdo cultural Universal transmitido pela

Escola. Privilégio das camadas mais

favorecidas. “Autoritária” Funções claramente definidas

e hierarquizadas. Normas

disciplinares rígidas.

É o facilitador da aprendizagem.

Orientador.

Um ser “ativo”, centro do processo ensino-aprendizagem

Obedecem ao desenvolvimento psicológico do aluno.

Auto-realização.

Selecionados a partir dos interesses dos alunos.

Desenvolvimento Psicológico.

Atividades centradas no aluno. Trabalhos em grupos/pesquisas. Jogos/criatividade e Experiência

Valorização dos aspectos afetivos (atitudes) com ênfase na

Auto-avaliação. Avaliação para

o desenvolvimento do aluno.

Escola proclamada para todos.

“Democrática”.

Funções se confundem (autorida- dade disfarçada. Afrouxamento

das normas disciplinares.

Aluno criativo, que “aprendeu a aprender “. Paticipativo.

É o técnico que seleciona, Organiza e aplica um conjunto de meios que garantem a eficiência e

eficácia do ensino. Técnico. Um elemento para quem o

Material é preparado.

Operacionalizados e categorizados a partir de classificações: gerais

(educacional) e específicas (instrucionais). Verbos Precisos.

Qualquer conteúdo.

Estruturados segundo os Objetivos.

Ênfase muito grande nos meios. Recursos audiovisuais, lustração programada, tecnologias de ensino. Ensino individualizado (módulos instrucionais), máquinas de ensinar.

Dos objetivos propostos com ênfase na produtividade do aluno sob forma

de um sistema de avaliação.

Comportamento de entrada e saída.

O aluno eficiente – produtivo – que lida “cientificamente” com os

problemas da realidade.

Sociedade sem escola. Teleducação. Ensino à distância. Ensino não formal.

Modelo empresarial aplicado à esco- la. Divisão entre planejamento (quem planeja) e execução (quem executa).

É o educador que direciona e conduz o processo ensino-aprendizagem.

Autoridade competente.

Educador

Uma pessoa concreta, objetiva, que determina e é determinada pelo social/político/econômico/individual

(pela história). Definidos a partir das necessidades

concretas do contexto histórico- social ao qual se encontram

os sujeitos.

Selecionados a partir das culturas dominantes (ciência, filosofia, arte, história...).

Apropriação para superação.

Distingue claramente os papéis de professor e aluno para fazer a articu- lação entre eles – utiliza-se de todos os meios que possibilitem a apreen- são crítica dos conteúdos. Estará preocupada com a superação do estágio do senso comum (desor- ganizado do conteúdo) para a cons- Ciência crítica (sistematização dos conteúdos

O aluno que domina solidamente os conteúdos e, portanto, percebe-se determinado e capaz de operar cons- cientemente – mudanças na realidade.

É muito importante, deve ser de boa qualidade e igual para todos. A organização é um meio para que a escola funcione bem nos seus múltiplos aspéctos.

Quadro 1: TENDÊNCIAS DA EDUCAÇÃO E COMPONENTES CURRICULARES

várias fases de adaptação como profissional da educação. O ensino já foi centrado nele (escola tradicional) e ele já foi visto como um facilitador (escola nova). O aluno também ocupa papel preponderante nesse contexto durante o processo de ensino aprendizagem como um todo.