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Mapa 2- Área urbana do município de Bagre-Pará

2 FATORES DE MIGRAÇÃO E TENDÊNCIAS NO

2.3 Tendências da mobilidade demográfica no

No Brasil, um dos fatores que historicamente exerceu maior influência nos fluxos migratórios é o fator econômico, uma vez que o modelo de produção capitalista cria espaços privilegiados para instalação de indústrias, forçando indivíduos a se deslocarem de um lugar para outro em busca de melhores condições de vida e à procura de emprego para suprir suas necessidades básicas de sobrevivência.

A região Sudeste do país, até o final do século XX, recebeu a maior quantidade de

fluxos migratórios (principalmente o estado de São Paulo), pelo fato de oferecer, maiores oportunidades de emprego em razão do processo de industrialização desenvolvido. No entanto, nas últimas décadas, as regiões Centro-Oeste e Norte têm sido bastante atrativas para os migrantes, pois, após a década de 1970 a estagnação econômica que atingiu e ainda atinge a indústria brasileira afetou negativamente o nível de emprego nas grandes cidades do Sudeste, gerando pouca procura de mão de obra, ocasionando a retração desses fluxos

migratórios. Assim, as regiões Norte e Centro-Oeste, que já captavam alguma parcela desse movimento, tornaram-se destinos da migração interna no Brasil.

As políticas públicas para a ocupação do Centro-Oeste brasileiro foram determinantes para esse redirecionamento dos fluxos migratórios. A construção de Brasília, os investimentos em infraestrutura, novas fronteiras agrícolas, entre outros fatores, contribuíram para essa nova distribuição. O Sudeste continua captando boa parte dos migrantes brasileiros. A região recebe muito mais gente do que perde. O Centro-Oeste também recebe mais migrantes do que perde, sendo, atualmente, o principal destino dos fluxos migratórios no Brasil.

O Sul e o Norte são regiões onde o volume de entrada e saída de migrantes é mais equilibrado. A Região Nordeste tem recebido cada vez mais migrante, sendo a maioria proveniente do Sudeste (retorno), porém, continua sendo a região que mais perde população para as demais.

Analisar o fenômeno migratório atual no Brasil, implica acompanhar as especificidades que indicam tanto a complexidade advinda do processo de restruturação urbana e econômica quanto seu importante papel na conformação de espaços regionais e locais. (BAENINGER, 2012).

A dinâmica dos movimentos migratórios no Brasil historicamente é relacionada ao processo de urbanização e redistribuição espacial da população, marcados fortemente pela mobilidade populacional inseridos nas distintas etapas econômicas, políticas e sociais experimentadas pelo país ao longo de seu processo histórico. (BAENINGER, 2012, p. 79):

Ao longo dos últimos cinquenta anos do século 20, as migrações internas reorganizaram a população no território nacional, onde as vertentes da industrialização e das fronteiras agrícolas constituíram os eixos da dinâmica da distribuição espacial da população no âmbito interestadual, muito embora a primeira vertente detivesse o fluxo mais volumoso. Nesse sentido, as análises a respeito do processo de distribuição espacial da população nos anos 70, e até mesmo durante a década de 80, estiveram baseadas e preocupadas em apontar o crescente e intenso movimento de concentração: da migração, com predominância do fluxo para o sudeste; do processo de urbanização, com enorme transferência de população do campo para cidade, quando cerca 15,6 milhões deixaram as áreas rurais nesse período e a concentração da população, manifestada no processo de metropolização.

As mudanças no processo migratório nacional tiveram a partir da década de 70 o emergir de suas transformações apontando para movimentos de refluxo populacional para os estados de origem e um considerável aumento no número de trocas populacionais entre os estados, no entanto, os efeitos da desconcentração relativas às atividades econômicas iniciadas no decorrer dos anos 70 não tiveram reflexos imediatos nos deslocamentos populacionais. Somente no censo demográfico de 1981-1991 é que o processo tornou-se evidente sugerindo

uma defasagem entre os deslocamentos das atividades econômicas e os deslocamentos da população. (BAENINGER, 2012).

Nos anos 80 a tendência foi à expansão dos espaços de migração que se confirmaram nos anos 90 apontando para as seguintes características, Baeninger (2012, p. 81):

a) Os fluxos migratórios de longa distância reduziram-se consideravelmente, em particular aqueles que se dirigiam as fronteiras agrícolas;

b) Mantiveram-se como área de absorção de fluxos de longa distância, os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Distrito Federal, que canalizaram os fluxos do Nordeste;

c) Houve a recuperação migratória no âmbito intrarregional de espaços “perdedores” no âmbito nacional, especialmente os Estados nordestinos. d) Houve o surgimento e consolidação de polos de absorção migratória no âmbito

inter-regional e intrarregional, com maior parte dos Estados tornando-se “ganhadores” de população – mesmos que esses ganhos estejam circunscritos a contextos específicos.

Os estudos de Cunha e Baeninger (2000) demonstram que os movimentos migratórios no Brasil, a partir dos anos 80, trouxeram novas características, sobretudo, uma grande diversificação de modalidades. Segundo esses autores, pode-se pensar que tais mudanças dizem respeito muito menos ao surgimento de novos processos migratórios e mais ao incremento da complexidade das relações existentes entre a migração e o desenvolvimento social e regional, frente às enormes transformações observadas no Brasil, no que se refere aos seus processos produtivos e sua repercussão no mercado de trabalho, à ação do Estado etc.

Ao considerar os diversos fatores que modificaram através do tempo a dinâmica migratória no Brasil, estudos demonstram que em apenas três décadas o país experimentou mudanças em suas modalidades de migração que, mesmo delineando boa parte das tendências históricas, contribuíram para o surgimento de novas direções e sentidos e até mesmo intensificação (ou arrefecimento) de certas modalidades. São exemplos dessas transformações o aumento da intensidade da migração intrarregional e intraestadual; a alternância de situações no que se refere às áreas de atração e expulsão demográfica no país; e a redução do processo de ocupação das fronteiras; a intensificação – ao menos nos anos 90 – da migração de retorno, assim como a alteração do padrão tradicional da migração de tipo rural-urbana. (BAENINGER, 2011).

Ao mesmo tempo em que tais tendências refletem novos processos em curso, como, por exemplo, a reestruturação produtiva nos grandes centros urbanos, a opção por um modelo exportador que muda a forma de ocupação das antigas (e novas) áreas de fronteira etc., elas também sugerem um aumento da complexidade das estratégias dos migrantes para enfrentarem as novas contingências, o que implica a necessidade de se pensar e dar conteúdo

a novas categorias analíticas como a da “circularidade”, ou repensar o papel de antigas como as redes sociais, a migração de retorno etc., ou seja, outras dimensões daquelas já estudadas e que formam as teorias clássicas devem ser incorporadas ao fenômeno, conforme estudos de Baeninger (2011, p. 39):

A complexidade do fenômeno requer que se considere muito mais que fluxos de imigração, emigração e suas trocas migratórias; é preciso que sejam incorporadas dimensões – dentre outras, a reversibilidade da migração, quer sejam como áreas de retenção de população, de perda migratória ou ainda, e talvez a maior novidade do século 21, de rotatividade migratória para a maioria dos estados brasileiros.

A migração como responsável por modificar território e reorganizar populações tem uma origem histórica no país e se configurou dessa forma ao longo dos últimos cinquenta anos do século XX (BAENINGER, 2011). Todas as regiões têm em suas histórias as marcas de um povo migrante, que faziam da migração estratégia de sobrevivência adotada na tentativa de obter melhores condições de vida.