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A Teoria da Atividade

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CAPÍTULO I- SOCIEDADE, HISTÓRIA E ADMINISTRAÇÃO ENTRE

1.3 ENTRE A TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL E A TEORIA DA ATIVIDADE

1.3.1 A Teoria da Atividade

Considerada como um novo estágio no desenvolvimento da escola histórico-cultural, a teoria psicológica da atividade constitui-se como uma explicação teórica da atividade e da consciência humana. Tal explicação se fundamenta na filosofia materialista dialética da atividade e da consciência. O conceito de atividade humana é central, tanto para Vygotsky (1983) quanto para Leontiev (1983), e a atividade psicológica é um tipo particular da atividade humana.

Engeström (1997), ao realizar análise acerca do desenvolvimento da teoria da atividade, identifica três gerações que, em seu entendimento, representam três momentos distintos. O primeiro momento é marcado pela formulação teórica de Vygotsky (1983) e pelo surgimento do conceito de mediação. Por meio desse conceito, o autor explicou que, para se relacionar com o mundo que a cerca e tudo o que ele contém, a pessoa necessita de ferramentas mediadoras. Tais ferramentas são de dois tipos: técnicas e culturais (ou semióticas). As ferramentas técnicas funcionam como mediadores externos, orientados para ações práticas com objetos no mundo material. As ferramentas semióticas funcionam como mediadoras das ações internas, dos processos mentais.

Leontiev (1992), na segunda geração da teoria da atividade, acrescentou sua contribuição aos estudos de Vygostsky (1983). Explicitar a estrutura da atividade humana foi o objetivo de Leontiev (1992) em seus estudos. Ele verificou a existência da atividade externa e da atividade interna (psicológica) que possuem a mesma estrutura, embora sejam distintas entre si.

A continuidade dos estudos da teoria da atividade foi objeto de estudo de Engeström (1997) que, como dissemos, situa-se na terceira geração dessa teoria. Ele procurou dar continuidade à proposta inicial de Vygotsky (1983) para explicar a ação mediada do sujeito em relações sociais. Para tanto, ele apresentou o conceito de Sistemas de Atividade que se influenciam reciprocamente, formando uma rede de sistemas. O autor teve como objetivo explicar que uma rede de Sistema de Atividades se interconecta com um ou mais sistemas. Por esse motivo, ele compreendeu a necessidade de analisar a atividade humana tanto de forma interna quanto nas interações e interdependências que se estabelecem entre os sistemas de atividade (Engeström, 2002 apud Carelli, 2003).

O desenvolvimento e a ampliação da teoria da atividade produziram como resultado a ampliação do triângulo vygotskyano básico, em que foi dada ênfase à ideia central de que é necessário identificar todos os seus elementos e a relação dinâmica entre eles para

compreender a ação humana. A comunidade em que a atividade ocorre se situa no nível macro (coletivo), com suas regras e divisão de trabalho; já no nível micro se encontra o agente individual que opera por meio de ferramentas.

Sujeito Regras Objeto Divisão do trabalho Comunidade Instrumentos Resultados

Estrutura do Sistema de Atividade

Figura 7: Estrutura do Sistema de Atividade Humana Fonte: Engeström (2002, p.36)

Engeström (2002, p.36) definiu que o subtriângulo superior representa a “ponta do iceberg”, no qual, em determinado sistema coletivo de atividades, as ações de indivíduos e grupos se integram. Estando explícita ou não nas ações, a busca de sentido e potencial para a mudança está contida nas ações que se orientam para o objeto que, por sua vez, se caracterizam por ambiguidade, surpresa, interpretação. Ele explica que isso pode estar explícito ou não nas ações.

Como exemplo de um Sistema de Atividades, pode-se citar uma universidade, uma vez que nela se entrecruzam diversas atividades humanas, entre elas a atividade de gestão em geral da universidade, além de gestão pedagógica e de atividade de ensino. Na universidade existe uma estrutura organizacional básica composta por reitorias, departamentos, diretorias, coordenações, colegiados e outros elementos estruturais da organização. São as ações dos sujeitos responsáveis diretamente pelas práticas de gestão e também dos sujeitos não envolvidos diretamente na gestão que concretizam essas estruturas. E isso ocorre numa relação de divisão do trabalho. O trabalho dividido se realiza sob a orientação de regras, princípios, normas, acordos. Tais regras são compostas pelos documentos oficiais (estatutos,

regimentos, regulamentos, resoluções, acordos etc.) e pelas chamadas regras tácitas que, semelhantes às explícitas, servem como referências na operacionalização das ações dos sujeitos.

A universidade, como um sistema, possui as ações dos sujeitos envolvidos em sua gestão e tais ações visam a objetivos comuns. De uma perspectiva racional e burocrática, na gestão universitária, a comunidade chamada universidade é composta de diversas estruturas que materializam a divisão de trabalho universitário. Nesse sistema, as regras são definidas a partir dos diversos dispositivos orientadores das ações dos sujeitos, que visam o alcance dos objetivos comuns.

Desse modo, os objetivos comuns visam a atender a necessidade que a universidade tem de ser administrada. Para atingir tais objetivos, os sujeitos ou agentes exercem suas atividades por meio de (instrumentos/artefatos mediadores). Tais atividades devem ser planejadas para que se alcance a gestão eficaz. Para isso, criam-se as ações necessárias que correspondem ao objetivo estabelecido: essas ações, por sua vez, dependerão das condições reais, concretas para operacionalizá-las visando atingir os resultados esperados.

Assim a gênese da administração até a sociedade moderna, é perceptível a importância da administração uma vez que esta sociedade depende das organizações que são heterogêneas e diversificadas no que tange às suas especificidades e objetivos, oferecendo produtos, serviços e condições básicas de subsistência para a sociedade.

Portanto, o surgimento, sobrevivência, crescimento, sucesso e/ou fracasso das mesmas estão atrelados à prática administrativa. Nesse sentido a Teoria da Atividade se torna relevante uma vez que a atividade prática da administração é de suma importância e crucial no cotidiano de nossas vidas e das organizações por estabelecer sua relação com a natureza e, consequentemente, se fazendo presente e atuante em toda relação e organização social.

A prática da Administração/Gestão perante as organizações nesta perspectiva da Teoria Histórico Cultural, desmembrada pela Teoria da Atividade, sendo compreendida como uma atividade realizada pelo ser humano, que conforme a figura citada anteriormente do sistema de estrutura de atividade se inicia a partir da necessidade, onde, na era da informação a qual nos encontramos, é marcada pela sociedade capitalista que gerou transformações no cenário político e econômico, sendo necessário então pensar em novas formas de administrar e gerir as organizações como mostrado na evolução das teorias administrativas, permeando também no campo da educação, em especial nas universidades brasileiras.

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