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1.4. TEORIA DOS PÓLOS DE CRESCIMENTO E A TEORIA DA BASE ECONÔMICA

1.4.2. Teoria da Base Econômica

Também conhecida com teoria da base exportadora, esta teoria parte do pressuposto de que, além das exportações, existem outras variáveis exógenas a uma região que podem explicar o crescimento econômico. Destacam-se os investimentos no setor voltado ao mercado interno, o afluxo de capital externo atraído pela propensão ao crescimento etc.

Assim, a idéia fundamental é a de que o crescimento das atividades destinadas à exportação tende a gerar efeitos de multiplicação e de aceleração no setor do mercado interno não-exportador, produzidos pelos efeitos de encadeamento para frente e para trás no processo produtivo.

Tais efeitos originariamente refletiríam a ampliação de outras atividades cujo destino seria o atendimento da demanda por serviços, como transportes, comunicações, financiamentos, além da demanda de insumos domésticos destinados ao atendimento do crescimento industrial, agrícola e setor terciário, originando atividades secundárias de processamento.

15 Exemplo típico dessa afirmação é a caracterização do Vale do Ruhr, na Alemanha, em que indústrias foram constituídas em torno das minas de carvão e da siderurgia.

Os impactos das exportações sobre a produção interna ampliam-se através de maior consumo doméstico, repercutindo mais sobre a renda e o emprego.

Ampliando-se a base econômica, o poder de inserção de uma região também se amplia e a economia regional como um todo passa a não mais depender de um universo pequeno de mercados, permitindo a interação em diversos setores de atividades.

Segundo Guimarães (1987: 73-74), ao se incorporar à diversificação da base econômica, mediante os pressupostos da ampliação do vetor externo, a fragilidade do mercado interno tende a ser redirecionada à participação no mercado mundial, que tende a ser a nova conceituação do mercado corrente da firma.

Historicamente, essa ampliação pode ser avaliada em dois aspectos: de um lado, por políticas de promoção de exportações; de outro, por políticas de substituições de importações.

Dessa forma, a fragilidade das regiões frente às flutuações do mercado internacional tende a ser mais administrável, o que denotará a possibilidade de inserção com maior sustentabilidade de suas atividades.

Todavia, segundo Souza (1995: 215), esse processo de diversificação da base exportadora e seus impactos no mercado interno-regional dependem:

i) da existência de um certo nível mínimo de capacidade ociosa na economia que permita a ampliação das novas atividades a fim de evitar déficits sucessivos, apesar do crescimento das exportações e do afluxo de capitais externos;

ii) do estoque de mão-de-obra, que não pode ser avaliado apenas em termos quantitativos, mas também sob o aspecto da capacitação técnica que exigirá o novo rol de atividades;

iü) da disponibilidade de capacitação empresarial, principalmente no que se refere ao prisma da tendência empreendedora capaz de garantir o atendimento das novas demandas sociais;

iv) da dotação de infra-estruturas regionais que permitam a manutenção operacional, com diminuição dos custos médios de produção, aumentando o poder de competição dos produtos destinados à exportação, e permitindo o acesso de uma maior parcela da população aos produtos vinculados ao mercado interno;

v) do envolvimento de insumo-produto do mercado exportador com o setor de mercado interno.

Em resumo, deficiências no mecanismo de escoamento das exportações, elevando custos de transporte, reduzem a competitividade das exportações. Estoque insuficiente de mão-de-obra especializada dificulta o crescimento de atividades de mercado interno, reduzindo o poder de indução das exportações.

Desse modo, a diversificação da base econômica exige uma atenção especial, não apenas em relação às atividades motoras do crescimento das exportações, mas também em relação ao planejamento das atividades polarizadas e constituintes dos efeitos de encadeamento.

Segundo essa teoria, à medida que o parque produtivo interno se amplia, fruto do impacto do setor exportador sobre o setor não-exportador, novas atividades emergem, caracterizando um crescimento mais diversificado, aumentando a eficiência dos investimentos, liberando capital para promover um crescimento mais intenso.

Um grande risco que se corre, baseando-se nesse vetor de análise, é que como o aumento das exportações causa efeitos multiplicadores e substitutos de emprego, renda e atividades sobre o mercado interno, uma crise externa, traduzida em queda de preços e/ou redução da quantidade exportada, exerce um efeito multiplicador depressivo sobre as atividades de mercado interno, o que pode revelar de forma contundente a fragilidade com que a inserção regional se dá quanto seu destino é unicamente promover as garantias do mercado exportador.

No caso dos bens básicos, essa fragilidade é, ainda, maior, pois uma característica marcante de seu mercado é trabalhar com ganhos diferenciais reduzidos, marcados por preço baixo e ínfimo processo de transformação industrial, denotando aspectos de baixo valor agregado, exigindo montantes físicos extremamente elevados a serem exportados, para compensar o alto montante de investimentos.

Nesse contexto, encontram-se subsídios suficientes que permitem associar a teoria da base econômica/exportadora ao crescimento de atividades oligopolizadas, normalmente relacionadas a empresas multinacionais. Tais atividades tendem a assegurar menores riscos, frente a flutuações de mercado, pois além de apresentarem maior experiência no mercado global, a vantagem da comercialização em grande escala tende a diminuir os riscos quanto à inserção desigual de atividades que se caracterizam de forma isolada.

1.5. CONCLUSÃO

Em caráter conclusivo parcial, mediante aspectos discorridos neste capítulo, algumas referências podem ser destacadas:

i) a dinâmica do mercado mundial tende a conceber avaliações generalistas, porém a forma como regiões foram e são incorporadas ao circuito produtivo passou a exigir necessidade premente de rediscussão e reafirmação do vetor analítico vinculado à economia regional, no sentido de possibilitar entendimentos de cunho mais realistas e menos superficiais, quanto aos impactos diferenciados e advindos da forma desigual como a incorporação se

ü)

iii)

iv)

articula;

instrumentos meramente quantitativos e matemáticos mantêm sua importância científica, porém necessitam de complementação obtida por avaliações de caráter qualitativo que possam avaliar os impactos também nos aspectos sociais e culturais;

o método dialético se apresenta como o mais apropriado para que as avaliações sugeridas sejam obtidas de forma coerente e apreciativa, permitindo a relação destruição/construção/destruição, incorporando e relevando os aspectos da sustentabilidade ambiental;

quanto ao suporte teórico, atividades produtivas relacionadas a bens básicos, como a mineração, tendem a não se enquadrar às teorias sobre concentração ou desconcentração espacial, dada a não mobilidade das plantas produtivas, porém a espacialização existe, mesmo que vinculada à dádiva natural, o que exige, não o abandono, e sim uma forma diferenciada de avaliação;

ao se buscar subsídios nas teorias de pólos de crescimento ou da base econômica, verifica-se que, no sentido geral, não há embate entre elas, pois a polarização pode se dar mediante incremento de atividades relacionadas à diversificação de setores destinados ao mercado externo, atraindo atividades de suporte, nos mais variados aspectos sócio-produtivos.

CAPITULO2

ASPECTOS

HISTÓRICOSDA FORMAÇÃO

ECONÔMICA

DO

BRASIL

E

DO

CENTRO-OESTE BRASILEIRO

2.1. INTRODUÇÃO

Um sobrevoo crítico e atualizado sobre a história econômico-social do Brasil permite o entendimento de que a relação entre problemas de desenvolvimento e suas diversidades regionais, não é tão contemporânea como possa parecer, trazendo, em si, os reflexos das opções políticas engendradas em séculos e décadas anteriores.

Talvez, a contemporaneidade esteja vinculada à necessidade latente de se buscar alternativas que superem tanto a dependência do país frente ao cenário internacional, como a dependência interna de algumas regiões frente as consideradas mais desenvolvidas: Sul e Sudeste.

A superação dos desequilíbrios regionais tem sido objeto de debates de longa data, porém as ações efetivamente articuladas, tanto no passado como agora, não têm dado respostas satisfatórias à resolução do problema.

Assim, a problemática do desenvolvimento, e seus impactos regionais no que tangem ao cenário econômico-social, são reaquecidos no bojo do entendimento crítico de que é crucial rediscutir o papel que o país desempenhará frente â Globalização, e como as regiões, através de suas especificidades, podem contribuir no sentido da busca de alternativas a este, pretenso, único caminho a ser perseguido rumo ao desenvolvimento e à modernidade.

É aceitável reconhecer de que a inserção competitiva é necessária, porém não precisa ser tão excludente, externa e interna, como se tem visto em toda trajetória histórica da economia brasileira.

Há que se entender que as diversidades regionais surgem muito mais do que simples obstáculos a serem superados, mas também como fonte de diversificação produtiva e de garantias futuras, desde que sejam consideradas, de forma relevante, em suas amplitudes sócio-econômico-ambientais.