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Essa teoria é o norte e o berço da responsabilidade objetiva, que por sua vez surgiu

pela insatisfação, inadequação e dificuldade em provar todos os elementos relativos à

responsabilidade subjetiva (conduta, dano, nexo, dolo ou culpa), visto que nem sempre a parte

prejudicada conseguia comprová-los.

A insatisfação com a teoria subjetiva tornou-se cada vez maior, e evidenciou-se a sua incompatibilidade com o impulso desenvolvimentista de nosso tempo. A multiplicação das oportunidades e das causas de danos evidenciaram que a responsabilidade subjetiva mostrou-se inadequada para cobrir todos os casos de reparação. Esta, com efeito, dentro na doutrina da culpa, resulta da vulneração de norma preexistente, e comprovação de nexo causal entre o dano e a antijuridicidade da conduta do agente. Verificou-se, como já ficou esclarecido, que nem sempre o lesado consegue provar estes elementos. Especialmente a desigualdade econômica, a capacidade organizacional da empresa, as cautelas do juiz na aferição dos meios de prova trazidos ao processo nem sempre logram convencer da existência da culpa, e em consequência a vítima remanesce não indenizada, posto se admita que foi efetivamente lesada. (PEREIRA, 2018, p.337).

Além de sua principal justificativa para seu surgimento era a de impossibilidade da

parte conseguir produzir provas. Foi também o motivo ensejado a alta freqüência de acidentes

no ambiente do trabalho, cujo quais eram de alto risco para o empregado, e com essa teoria, a

possibilidade de provar o dano ficaria mais fácil.

Essa teoria se justifica plenamente, porquanto a ordem jurídica não pode conformar- se com a injusta situação daquele que, tendo sofrido um dano, em razão de atividade previsivelmente perigosa, fique na miséria em face de sua impossibilidade de fazer a prova contra o agente responsável pela atividade que, em última análise, foi a causadora da lesão. [...]. A teoria do risco foi desenvolvida a partir da constatação de que a responsabilidade fundada na culpa se mostrava insuficiente para que o lesado obtivesse a plena satisfação de seus prejuízos. Essa constatação, que ocorreu inicialmente no campo dos acidentes do trabalho (o aumento dos riscos causados pelas máquinas, associado à sucessão de acidentes ocorridos, exigia uma solução que protegesse o trabalhador), foi se alargando para contemplar as atividades ditas perigosas, tais como as de transportes, de exploração de minas, de produção de gás e a de exploração de energia nuclear. Nessas situações, a obrigação de reparar o dano surge tão somente do simples exercício da atividade que, em vindo a causar danos a terceiros, fará surgir, para o agente que detenha o controle da atividade, o dever de indenizar. Dessa forma, constatado que determinadas atividades geridas pelo homem oferecem uma probabilidade de riscos a terceiros, vindo a representar um perigo de dano, justifica-se que no campo da responsabilidade civil seja dado um tratamento jurídico diferenciado para essas atividades. Assim, atividades potencialmente perigosas, tais como manuseio de armas e explosivos, energia nuclear, exploração de minas, enfim, atividades que oferecem grandes probabilidades de risco para a saúde e para a integridade físico-psíquica das pessoas, em especial dos operários que nelas trabalham, devem ter tratamento diferenciado no que diz respeito ao campo da responsabilidade civil. Nessas circunstâncias, aqueles que desenvolvem atividades potencialmente perigosas devem acautelar-se para que a atividade não venha a causar danos a outrem, porquanto se ocorrente, não poderão se escusar do dever indenizatório, argumentando simplesmente a inexistência de culpa, pois, conforme tese esposada acima, sua responsabilidade será objetiva. (MELO, 2015, p. 142-143).

Assim, de modo a tentar igualar a possibilidade de reparação do dano cujo qual estava

sendo ineficaz e por sua vez, dando o ordenamento jurídico brasileiro um tratamento de forma

diferenciada para as atividades mais peculiares e perigosas, sendo que estas não estavam

causando risco e prejuízos somente ao trabalhador (quem executava o serviço), mas sim aos

terceiros, devido ao alto teor de complexidade no seu desenvolvimento.

No Brasil tornou-se tratamento de previsão constitucional devido sua importância a

cerca da possibilidade de produção de provas para ambas as partes, disposta em seu artigo 37

parágrafo 6º:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...] § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. (BRASIL, 1988, disponível em: https://bit.ly/1bIJ9XW).

Somente em 2002 com o advento do código civil atualmente vigente, houve então a

adoção da teoria do risco pautada na responsabilidade objetiva, com previsão nos artigos 927

parágrafo único e 931, ambos do mesmo dispositivo legal.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. [...] Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação. (SARAIVA, 2014, p. 210)

Equiparando a teoria do risco em outras atividades além daquelas desenvolvidas pela

administração pública ao que refere-se a Carta Magna, tais como nos casos especificados em

lei, bem como aos empresários individuais e as empresas, pelos danos causados por produtos

postos em circulação.

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