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A TEORIA DO PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÃO: UMA BREVE DESCRIÇÃO.

CONTRIBUIÇOES DA PSICOLOGIA COGNITIVA PARA A APRENDIZAGEM

1. A TEORIA DO PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÃO: UMA BREVE DESCRIÇÃO.

Segundo Almeida (1992), existe um conjunto de componentes mentais envolvidos na execução de tarefas cognitivas e na resolução de problemas. De um lado os processos de apreensão, codificação, comparação e organização da informação (input); de outro, os processos de retenção, evocação, categorização e relacionamento (processamento), além dos processos de avaliação, decisão e resposta (out put). São também importantes os chamados metacomponentes: a consciência das tarefas, a seqüencialização das fases, o controle que o sujeito exerce ao longo da realização cognitiva.

O modelo de processamento de informação inclui o adquirir, armazenar e utilizar conhecimentos e tem como metáfora o modelo de computador. Nesse primeiro estágio ocorre a apreensão de uma porção limitada de informações, que, por um momento e num determinado contexto, é objeto da atenção seletiva, atenção focal e percepção. Não se trata de um processo de fora para dentro porque as informações são filtradas, isto é, cada sujeito seleciona, busca o interessante e o que lhe importa, ou rejeita o não essencial e irrelevante. O papel da memória é muito importante e inclui a memória sensorial para as informações visuais, a memória imediata, também chamada de memória de curto prazo

ou de curta duração, e a memória de longo prazo. Alguns autores consideram também a memória de trabalho, que se situaria entre a memória de curto e a de longo prazo, e desempenha papel ativo na codificação, organização e transferência das informações (STERNBERG, 2000). Uma vez recebidos pelos milhares de receptores sensoriais relacionados aos órgãos de visão, audição, tato, paladar, olfato, os estímulos do ambiente são codificados no registro sensorial e a percepção determina o que irá para a memória de trabalho (PFROMM NETTO, 1987; RIBEIRO, 1997; BORUCHOVITCH, 1999; STERNBERG, 2000; WOOLFOLK, 2000; POZO, 2002). A partir daí, a mente humana funciona como uma central de informações. Os dados recebidos continuamente não são considerados isoladamente, mas se integram de forma dinâmica aos conhecimentos preexistentes na estrutura mental.

Embora a literatura freqüentemente dê grande ênfase ao papel da memória, o processo cognitivo inclui um grande número de operações mentais responsáveis pela interpretação e transformação das informações, porque apenas a representação na memória não basta como suporte do pensamento e para a resolução de problemas, que caracterizam o comportamento inteligente (PFROMM NETTO, 1987).

A memória pode ser considerada como um conjunto de estruturas e processos, entre os quais o armazenamento de informações, em diferentes níveis. Uma vez processada, a informação passa para a memória de longo prazo, onde permanecerá até ser acessada, isto é, recuperada pela memória de trabalho. Ao contrário da memória sensorial, que retém um número limitado de informações e apenas brevemente - dois a três segundos, apenas o tempo suficiente para ser lida e reconhecida, as informações que chegam à memória de longo prazo aí podem permanecer quase que indefinidamente. Conforme foi descrito em Ribeiro (1997), Boruchovitch (1999), Sternberg (2000) a informação que não entrar no sistema de memória de curta duração, também chamada de memória de funcionamento, é perdida.

A memória sensorial é pré-categórica, embora o seu processamento seja extremamente complexo, como pode ser exemplificado no reconhecimento das palavras na atividade de leitura, na qual intervêm não apenas as impressões visuais das letras, mas a informação contextual contida no suporte de leitura, tais como tipo de texto,

tabelas e ilustrações, bem como os conhecimentos prévios do leitor (ALLIENDE; CONDEMARÍN; CHADWICK e MILICIC, 1994; SOLÉ, 1998). A capacidade da memória de curto prazo é limitada (cinco a nove elementos novos de uma vez), durante aproximadamente cinco a vinte segundos e, ao mesmo tempo, um registro temporário, porém sensivelmente maior, dependendo das estratégias utilizadas pelo sujeito (PFROMM NETTO, 1987). A memória de trabalho é como a tela do computador que pode acessar informações anteriormente arquivadas para recombiná-las com novos dados que estão sendo processados.

A atenção é importante para manter a informação ativada e não se perder. De fato, o sujeito pode ter um controle efetivamente consciente a partir dessa etapa do processamento da informação. Mais que o estímulo sensorial, o que determina a codificação das informações recebidas é o significado a elas atribuído. São os conhecimentos prévios, as expectativas do aprendiz, que determinarão esses significados. Dessa forma, os signos - I3 - podem ser percebidos como treze, como a letra B ou não fazerem sentido, dependendo da situação. O grau de atenção necessário para que se processe a informação também depende do conhecimento prévio. Quando se trata da aprendizagem de algo novo, a atenção concentrada é muito mais importante. Para informações já familiares, o processamento é quase automático, isso é, requer um mínimo de atenção. Nessas situações pode-se conseguir aprender e prestar atenção em outro estímulo, simultaneamente (BORUCHOVITCH, 1999; WOOLFOLK, 2000; SIERRA e CARRETERO, 1996).

A memória de longo prazo é praticamente ilimitada quanto ao tempo e ao volume de informações, embora o esquecimento seja real, isto é, poderá haver um declínio ou interferências na sua recuperação. Conceitos e eventos armazenados fazem parte de uma imensa e intrincada rede semântica de informações. Interconexão ilimitada se torna possível, o que explica informações derivadas e absolutamente diversas das originais (PFROMM NETTO, 1987).

A lembrança é, também, um processo ativo de recuperação e reconstrução das informações, que depende em grande parte de como estas foram elaboradas, organizadas e inseridas em contextos significativos. A informação recuperada por esse processo

poderá ser precisa e completa, imprecisa ou parcialmente precisa. O sujeito que aprende mantém-se em um processo ativo durante o processamento. A intencionalidade e atividade do sujeito podem intervir utilizando estratégias para dirigir e manter a atenção, focando as informações que ele considera relevantes e quer memorizar. A estratégia de repetição é a mais comum. Pode ser apenas de manutenção, como, por exemplo, a repetição de um número de telefone, ou de elaboração, quando há o esforço de integrar a nova informação a outras preexistentes, como, por exemplo, associar o número de telefone a alguma data significativa - no todo ou subdividindo-o em partes.

O esquecimento é um processo que enfraquece a informação ativada por interferência ou declínio e é útil para não sobrecarregar a memória de trabalho. Os conhecimentos são armazenados de diferentes formas: como imagens, como esquemas, como proposições ou redes proposicionais, como produções ou processos, entre outras. Diz-se que a memória é semântica, processual, episódica, ou outras, dependendo dos conteúdos de informação que foram retidos. O processo de armazenamento não é, pois, automático. A intencionalidade do sujeito e os procedimentos que ele utiliza para elaborar, organizar e integrar os conhecimentos, e, ainda, o contexto físico, emocional e social vão determinar o nível de processamento das informações: mais superficial ou mais profundo. As informações armazenadas na memória de longo prazo podem ser acessadas por um processo de busca intencional do sujeito, através da disseminação de ativação, responsável pela ativação de informações associadas e pela reconstrução (PFROMM NETTO, 1987; BORUCHOVITCH, 1999; WOOLFOLK, 2000, STERNBERG, 2000; POZO, 2002).

Embora todos os indivíduos disponham da estrutura e dos processos cognitivos, é através do sistema de controle executivo que esses diferentes processos se potencializam. O sistema de controle executivo dispõe de diferentes recursos e exerce diversas funções, influenciando todas as fases do processamento: supervisiona a recepção dos dados e o funcionamento da memória através da atenção, ativa e atualiza o conhecimento necessário, decide sobre a transferência das informações da memória de curto prazo para a memória de longo prazo, seleciona procedimentos para a elaboração e organização das informações (RIBEIRO,1997).

A aprendizagem significativa, que pressupõe a compreensão e que permite melhor memorização e aplicação do aprendido, depende da forma como ocorre a aprendizagem. De fato, entre o processamento superficial e o processamento profundo das informações, o mais efetivo é, sem dúvida, o segundo. O aprendiz cognitivamente engajado no aprender é capaz de focalizar a atenção em aspectos mais relevantes do conteúdo a ser aprendido, procura investir esforço, faz associações, elabora, traduz, organiza e reorganiza esse conteúdo. Pfromm Netto (1987) considera que a organização da informação, assim que é recebida, conduz à aprendizagem mais rápida, à melhor memorização e posterior recuperação. Além da atenção e esforço durante o estudo, são igualmente importantes a compreensão, através da paráfrase, a organização, através da divisão do material em partes, com a apreensão da estrutura do conteúdo e a utilização de mnemônicas quando necessário. Essas são algumas das estratégias de aprendizagem utilizadas pelos sujeitos e serão objeto de consideração no item a seguir.

2. ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM E O PROCESSAMENTO DA